segunda-feira, 28 de julho de 2014

O COMPROMISSO COM O OUTRO: UM EXERCÍCIO DE CIDADANIA E FÉ NA VIDA

Rita e Luiz Carlos Torres Martins
MFC Juiz de Fora – MG

A
 vida humana diferencia-se da vida animal em inúmeros aspectos bio-físico-sociais. Entretanto, nossa singularidade, o que nos faz realmente humano, são os diversos símbolos e significados simbólicos que atribuímos a nós mesmos, aos outros e a tudo o que nos cerca e que povoa o nosso universo moral, constituído de elementos tirados da materialidade e espiritualidade das nossas vidas.

O nosso universo moral é, então, aquilo que elegemos sozinhos, em família, em grupo ou em sociedade, e que nos faz sentir verdadeiramente humanos, dotados de um sentido de vida ao qual atribuímos valor e significado. Ao longo da nossa existência terrena elegemos o outro como o portador desses valores e significados. Depositamos nesse outro aquilo que acreditamos ser a nossa própria essência de vida. Porém, uma série de acontecimentos cotidianos e extraordinários, muitas vezes nos coloca em conflito com esse outro e, portanto, com a nossa própria essência humana.

Superar esses conflitos é, por seu lado, um desafio muitas vezes maior que a nossa própria capacidade de discernimento e enfrentamento do problema. Diante disso estamos sempre a nos perguntar: preocupar-se e querer cuidar do outro faz sentido e significa alguma coisa para a nossa vida? A resposta, ainda que cultural e socialmente deva ser sim, do ponto de vista da nossa individualidade, das nossas motivações pessoais pode, muitas vezes, não ser tão óbvia assim.

Esse conflito que nos desvia do caminho solidário encontro e cuidado com o outro acaba por abalar a nossa própria essência fundadora: não existe vida humana que não tenha sido estabelecida em comunhão com o intensamente humano e com o supremo divino. Construímos verdadeiramente nossa humanidade na exata medida que compartilhamos experiência, significado e sentido de vida entre humanos. Não há caminho que nos faça ser diferente.

O MFC - Movimento Familiar Cristão acredita, piamente, que não há caminho em sentido diverso da solidariedade e do cuidado com o outro para que possamos realizar plenamente a nossa humanidade. Esse é o verdadeiro dom divino: a comunhão humana na terra. Mas esse dom só se efetiva enquanto ação de homens e mulheres que fazem à opção pelo outro. Quanto a isto, a forma de caminhar que nos faz percorrer nosso destino é aquela que nos permite conciliar fé e política: o mundo espiritual e o mundo material que, enquanto instrumentos do supremo divino e do intensamente humano, nos permite uma militância de valor em prol do outro, o nosso próximo, o incrivelmente nosso semelhante.

Mas não nos basta comungar a crença no outro para a afirmação da nossa humanidade. É preciso agir em prol do outro. Nossa ação, enquanto cidadãos cristãos devem ser profundamente marcados pela fé que nos move e pelas estratégias que adotamos para alcançar e cuidar do outro. A nossa estratégia militante consiste em ocupar e transformar os cenários público-políticos desonrados e sem valor em cenários de efetivação do bem e do interesse público pelas coisas verdadeiramente humanas. Nossa militância, portanto, tem que ser exemplar e estar assentada naquela outra qualidade fundamental que nos separa dos animais: o trabalho transformador da nossa própria natureza. Para isso é imprescindível uma prática política transformadora e educadora dos homens e mulheres para o bem comum. E isso, acreditamos nós do MFC, se faz com o nosso trabalho abnegado porque coroado com o dom do Espírito Santo. Venha militar conosco e cuidar do outro com a determinação de quem quer construir uma nação digna do seu povo.


domingo, 27 de julho de 2014

LITURGIA DO 17º DOMINGO COMUM - 27/07/2014



17º DOMINGO COMUM
27/07/2014

  

PRIMEIRA LEITURA (1Rs 3,5.7-12)


Leitura do Primeiro Livro dos Reis:
Naqueles dias, 5em Gabaon, o Senhor apareceu a Salomão, em sonho, e lhe disse: “Pede o que desejas, e eu te darei”.

7E Salomão disse: “Senhor meu Deus, tu fizeste reinar o teu servo em lugar de Davi, meu pai. Mas eu não passo de um adolescente, que não sabe ainda como governar. 8Além disso, teu servo está no meio do teu povo eleito, povo tão numeroso que não se pode contar ou calcular. 9Dá, pois, ao teu servo, um coração compreensivo, capaz de governar o teu povo e de discernir entre o bem e o mal. Do contrário, quem poderá governar este teu povo tão numeroso?”

10Esta oração de Salomão agradou ao Senhor. 11E Deus disse a Salomão: “Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte de teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, 12vou satisfazer o teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente, como nunca houve outro igual antes de ti nem haverá depois de ti”.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


RESPONSÓRIO (Sl 118)


— Como eu amo, Senhor, a vossa lei, vossa palavra!

— É esta a parte que escolhi por minha herança:/ observar vossas palavras, ó Senhor!/ A lei de vossa boca, para mim,/ vale mais do que milhões em ouro e prata.

— Vosso amor seja um consolo para mim,/ conforme a vosso servo prometestes. Venha a mim o vosso amor e viverei,/ porque tenho em vossa lei o meu prazer!

— Por isso amo os mandamentos que nos destes,/ mais que o ouro, muito mais que o ouro fino!/ Por isso eu sigo bem direito as vossas leis,/ detesto todos os caminhos da mentira.

— Maravilhosos são os vossos testemunhos,/ eis por que meu coração os observa!/ Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina,/ ela dá sabedoria aos pequeninos.


SEGUNDA LEITURA (Rm 8,28-30)


Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:
Irmãos: 28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes a imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos.

30E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


EVANGELHO (Mt 13,44-52)


— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 44“O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo.

45O Reino dos Céus é também como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.

47O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam.

49Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes.

51Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”.

52Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor!


HOMILIA
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília


Concluímos hoje a leitura do capítulo treze do Evangelho segundo Mateus, que narra as parábolas do Reino. A Liturgia nos apresenta mais um conjunto de três parábolas contadas por Jesus: o tesouro escondido, a pérola preciosa e a rede lançada ao mar. Nelas, ressalta-se a atitude do homem diante do Reino de Deus: a) a alegria e a disposição de desfazer-se de “todos os seus bens” para ficar com o bem maior encontrado; b) a prática da justiça segundo os critérios do Reino.

O Reino de Deus é a pérola preciosa, o verdadeiro tesouro escondido a ser buscado em primeiro lugar, com alegria. Quem o encontra, tem tudo, ainda que não tivesse mais outros bens. Embora revelado em Cristo, o Reino continua um tesouro a ser descoberto, a ser compreendido, acolhido e vivido no mundo de hoje, de tal modo que possamos suplicar ao Pai, de coração sincero e confiante: “venha a nós o vosso Reino!”.

A parábola da rede lançada ao mar nos mostra a universalidade do Reino, aberto a todos, mas, ao mesmo tempo, baseado na justiça. Todos são chamados ao Reino de Deus; porém, a resposta exige a prática da justiça, da santidade querida por Deus. Os que praticam a maldade e a injustiça, nele não permanecem.

Quem segue a Cristo, não pode viver de qualquer jeito, mas “de acordo com o projeto de Deus” (Rm 8,28). A Carta de São Paulo aos Romanos nos recorda o chamado que Deus nos faz a sermos “conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8,29), recordando-nos que, por meio dele, Deus “nos tornou justos” (Rm 8,30).

Para tanto, é fundamental não perder a capacidade de discernir o que é justo e agradável a Deus. Conforme a primeira leitura da Liturgia de hoje, na sua belíssima oração, Salomão suplica, com humildade, “um coração compreensivo”, “capaz de discernir entre o bem e o mal”. Em resposta, Deus lhe concede a “sabedoria para praticar a justiça” e “um coração sábio e inteligente” (1Rs 3,7-12). Na tradição sapiencial bíblica, as imagens do tesouro e da pérola serviam justamente para designar o valor incomparável da sabedoria que vem de Deus.

Em resposta, nós rezamos o Salmo 118, expressando o nosso amor pela Palavra de Deus e a nossa disposição em “escolher por herança”, isto é, como tesouro, “observar as palavras do Senhor”, a “lei do Senhor”, pois “vale mais do que milhões em ouro e prata”. Procure redescobrir o valor desse tesouro, durante a semana, dedicando-se mais a oração e a meditação da Palavra de Deus e, de modo especial, participando da Eucaristia.


ORAÇÃO

                             
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que passam, que possamos abraçar os que não passam. Amém!

HOJE, 251ª MISSA DO MFC NO ALDEBARAN


sábado, 26 de julho de 2014

DIA DOS AVÓS

Santa Ana, São Joaquim e Maria Santíssima
C
omemora-se o DIA DOS AVÓS em 26 de julho, e esse dia foi escolhido para a comemoração porque é o dia de SANTA ANA E SÃO JOAQUIM, pais de MARIA e avós de JESUS CRISTO.

Conta a história que Ana e seu marido, Joaquim, viviam em Nazaré e não tinham filhos, mas sempre rezavam pedindo que o Senhor lhes enviasse uma criança. Apesar da idade avançada do casal, um anjo do Senhor apareceu e comunicou que Ana estava grávida, e eles tiveram a graça de ter uma menina abençoada a quem batizaram de Maria.

Santa Ana morreu quando Maria tinha apenas 3 anos. Devido a sua história, Santa Ana é considerada a padroeira das mulheres grávidas e dos que desejam ter filhos. Maria cresceu conhecendo e amando a Deus e foi por Ele a escolhida para ser Mãe de Seu Filho. São Joaquim e Santa Ana são os padroeiros dos avós.

O papel dos avós na família vai muito além dos mimos dados aos netos, e muitas vezes eles são o suporte afetivo e financeiro de pais e filhos. Por isso, se diz que os avós são pais duas vezes.

As avós são também chamadas de "segunda mãe", e muitas vezes estão ao lado e mesmo à frente da educação de seus netos, com sua sabedoria, experiência e com certeza um sentimento maravilhoso de estar vivenciando os frutos de seu fruto, ou seja, a continuidade das gerações.

Celebrar o DIA DOS AVÓS significa celebrar a experiência de vida, reconhecer o valor da sabedoria adquirida, não apenas nos livros, nem nas escolas, mas no convívio com as pessoas e com a própria natureza.


PROGRAMA CAMINHANDO COM MARIA 22 JUL PARTE 2

PROGRAMA CAMINHANDO COM MARIA 22 JUL PARTE 1

quinta-feira, 24 de julho de 2014

ONDE MORAS? - Artigo para Reflexão

Gustavo Covarrubias Rodríguez

“A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”, dizia o poeta Vinícius de Moraes. Lendo e meditando o Evangelho, poderíamos dizer, parafraseando esse grande compositor, que a “vocação cristã é a arte do encontro com a/nossa humanidade, embora haja tantos ‘desencontros’ na Igreja”...

A
 passagem de referência, na qual fundamos – evitando, na medida do possível, o ‘fundamentalismo’ – a afirmação anterior, são os versículos 35-42, do capítulo I do Evangelho da Comunidade de João. Ela situa-se entre o testemunho de João Batista e as bodas de Canaã, em meio a uma série de buscas e encontros, pautados pelas palavras dos envolvidos nessa dinâmica:

- “Eis o Cordeiro de Deus”. Cordeiro é também servo. João, que encontrara o Nazareno fazendo fila no Jordão, aponta para Jesus, reconhecendo nele o servo sofredor e provocando a reação de dois discípulos seus. Estes, aceitando o testemunho-provocação do precursor, por própria iniciativa, vão trás Jesus.

- “O que vocês estão procurando?”. Acontece outro encontro: os discípulos vão em frente e Jesus olha pra trás. Convergência: eles vão, Ele vem. O motor que dinamiza e possibilita a experiência é a busca, a inquietação, o honesto e sincero desejo de encontrar, a permanente abertura... As primeiras palavras de Jesus, no Evangelho de João, são uma pergunta radical, sem cuja resposta a vida carece de sentido!

- “Mestre, onde moras?” Surpreendentemente, os discípulos parecem não estar interessados em doutrinas ou teologias. Não perguntam quem é Jesus, mas onde ele mora, donde ele aprendeu a ser mestre. Interessa-lhes a vida, com suas riquezas e condicionamentos.

- “Venham, e vocês verão”. Jesus não indica um lugar fixo, estático, fechado. Nem cátedras nem catedrais. Exige uma atitude dinâmica, de permanente atenção e de promessa cumprida no fim de um processo. Ele é o Mestre peregrino, que não tem onde reclinar a cabeça. É a Palavra que “se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14). Sua morada é a humanidade! Só se descobre o “lugar” onde Deus mora humanizando-se!

Só se pode ser discípulo de Jesus sendo cada vez mais “gente”... André (homem = humanidade) e o outro discípulo “permaneceram com ele”, a partir daquele encontro, quando o sol começava a declinar, nas proximidades da noite... Faz-se experiência do encontro na incerteza do futuro, na assunção do risco, quando as dificuldades batem à porta, quando o caminho se estreita e o horizonte parece sumir da vista. Permanência é fidelidade.

- “Nós encontramos o Messias”. Mais um encontro. A verificação da experiência pessoal passa pelo crisol da comunidade. Se o encontro é autêntico, outros encontros acontecerão. O exemplo arrasta!

- “Você é Simão, o filho de João. Você vai se chamar Cefas”. Encontrando Jesus, encontrando os outros, encontramo-nos a nós mesmos! Reconhecemos a nossa identidade e assumimos a nossa missão: inserir-nos na corrente do seguimento e do testemunho daquele que veio de encontro à nossa humanidade, assumindo-a, para que todos encontrem nele vida!

- “Siga-me”. Ai, sim! Depois de vários encontros, vem a confirmação de um chamado – mandamento que exige total disponibilidade a fazer caminho... caminhando.

- “Encontramos aquele de quem Moisés escreveu...”. De encontro em encontro, a fé nasce, se fortalece e se expressa com autenticidade. Só tem o legítimo direito de proclamar que o homem histórico chamado Jesus de Nazaré, o filho do carpinteiro José, é o Servo de Javé, o Mestre e o Senhor, quem percorreu com Ele o caminho da humanização e quem está disposto a abraçar, como o sentido da própria caminhada, a tarefa de fazer deste mundo de desencontros um mundo mais humano!

Muitas vezes o texto em questão foi e continua sendo alimentando certos fundamentalismos “vocacionais”. Vocação não é busca de privilégios nem alienação. Vocação, em João, não é fruto de uma simples experiência particular nem da revelação individual de Deus, mas processo comunitário. Ela nasce do testemunho daqueles que, buscando sinceramente, encontraram... E as nossas comunidades cristãs, propiciam realmente o encontro com a humanidade, o seguimento de Jesus e o testemunho-missão? Ou tornam-se, cada vez mais, guetos onde a comodidade, o intimismo e a fuga – camuflagem do desencontro – se refugiam?


segunda-feira, 21 de julho de 2014

A VALORIZAÇÃO DO LEIGO NA VIDA ECLESIAL

*Dom Eugênio de Araújo Sales 
A
ntes de falecer, dom Eugênio de Araújo Sales, afirmou que a valorização do leigo na vida eclesial foi uma das mais importantes contribuições do Concílio Vaticano II à vida religiosa.

Com a aprovação do documento "Apostolicam Actuositatem" na oitava sessão do Concílio Vaticano II, em 18 de novembro de 1965. Abriu-se grandes perspectivas, possibilitando maior e benéfica atuação do laicato. Entre inúmeras atividades e novos campos de trabalho, estão as pequenas comunidades de base. Nelas, o fiel, fundamentado na leitura e reflexão da Palavra de Deus, aperfeiçoa sua missão, decorrente do Batismo, da Confirmação e de contato mais vivo, frutuoso com os irmãos, pela facilidade de estabelecerem relações entre grupos menores. O anonimato dos maiores aglomerados, mesmo dentro de um mesmo templo e paróquia, cede espaço ao acolhimento e mútuo conhecimento. Disse o Santo Padre Bento XVI: "A paróquia é um lugar privilegiado (...) Por Isso, é oportuna a formação de comunidades e de grupos eclesiais de tal dimensão, que permitam estabelecer verdadeiras relações humanas".

Esses novos horizontes que foram criados, devem ser constantemente conferidos com a doutrina. As interpretações pessoais, particulares, mesmo oriundas de cristãos zelosos e de elevado nível, sempre estão sujeitas ao Magistério vivo, deixado por Cristo, para governar a obra que fundou. O entusiasmo pelo novo, a descoberta de outros horizontes, pode ser destrutivo quando insinua edificar uma Igreja sem claro reconhecimento da hierarquia.

Ela é a expressão da estrutura divina da Igreja. Jesus Cristo, como homem, embora sendo Senhor, vive sob o olhar do Pai; quer fazer sempre a vontade de quem O enviou: "Pai, se é de teu agrado (...) Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua" (Lc 22,42). Seu último testemunho é a entrega obediente, aceitando a Cruz. Ele quer que sua obra seja o exemplo que nos legou. Devemos ser testemunhas do Senhor Jesus, no Espírito Santo (cfr Jo 15, 26s). Fiel a essa exigência, São Paulo assim se expressa: "Sede meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo" (1 Cor 11,1).

Essa estrutura hierárquica estabelecida por Cristo, como fundamento de sua Igreja, não se confunde com o conceito monárquico nem democrático. Qualquer paradigma sócio-político é inadequado. A autoridade da mesma não é fundada na convergência da vontade popular. Esta merece apreço, mas não se torna por si mesma, sinal de veracidade ou exigência a ser cumprida.

Acresce que a expressão "Povo de Deus" não é a única imagem a revelar a essência da instituição fundada por Jesus. Há diversas outras, de igual valor, que se completam para nos mostrar a riqueza do ensinamento divino. Ver a Igreja como Corpo Místico de Cristo é fundamental para entendê-la e nos ajuda a obedecer aos que foram chamados a governar esse mesmo Povo de Deus. Jesus a comparou a um rebanho com o pastor. Ela é um serviço à comunidade. Trata-se da presença amorosa do Divino Redentor. Conserva essa característica mesmo quando corrige ou pune. Isto, quando assim o exige o bem comum ou o proveito do próprio fiel. São Paulo, que tanto exalta a santidade dos leigos pela habitação do Espírito Santo, com não menor clareza propõe e impõe o dever que o Senhor lhe deu: "Em nome de Cristo, exercemos a função de embaixadores e, por nosso intermédio, é Deus mesmo que vos exorta" (2 Cor 5,20). No uso dessa autoridade, o Apóstolo chega a excluir alguém da comunidade dos fiéis (Cfr 1 Cor 5,2-12): O Sacerdócio ministerial , em nome e com o poder de Jesus Cristo, recebeu o encargo de "formar e reger o Povo de Deus" ("Lumen Gentium" 10,2).

O cristão batizado que recebeu o sacramento da Ordem desde que viva em comunhão com o Papa, Sucessor de Pedro, e o Colégio Episcopal, continuador dos Apóstolos dá à comunidade a chancela de autenticidade cristã. E leva ao Povo de Deus a graça divina, pelos sacramentos. Seus gestos e palavras sacramentais são realmente poder redentor de Cristo no meio do povo.

À luz dessa doutrina católica o verdadeiro fiel proclama a importância do leigo e das organizações laicais. Ela em nada diminui a vitalidade e o valor dos mesmos, pois somente pela inserção na árvore que é Cristo, poderá produzir frutos duradouros. Nós queremos a Igreja conforme Jesus a organizou e não segundo o parecer e interpretações dos homens. Todo ensino discordante do que vem do Senhor através do Magistério, deve ser corrigido. Calar-se diante dele é atraiçoar a missão confiada por Jesus aos pastores de seu rebanho. As afirmações, mesmo parcialmente inexatas são, talvez, mais danosas que o próprio erro integral, pela facilidade de serem aceitas, acobertadas em parcelas de verdade. Assim, cita-se o Concílio Ecumênico, mas seu espírito, nos pontos essenciais, é abandonado. Insinua-se, sob o título "Uma Igreja, Povo de Deus", sem uma autêntica hierarquia.

Ao proclamar o valor dado hoje ao laicato, que deve ser firmemente aceito e vivido, não devemos esquecer que, em nossos dias, não lhes foi outorgado algo de novo, pois sempre na Igreja o leigo ocupou espaço. Sua participação, isto sim, teve incentivada sua importância nos desafios dos nossos tempos. O mesmo se diga da posição da Bíblia no crescimento da vida de cada fiel.

Para nós, católicos, há um ponto de referência que nos assegura o caminho certo: estar em comunhão com o Magistério, obedecer às diretrizes do sucessor daquele a quem Cristo confiou a sua grei: "Pedro (...) apascenta minhas ovelhas" (Jo 21,17).

*Dom Eugênio de Araújo Cardeal Sales, nasceu em Acari, RN, em 8 de novembro de 1920. Faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 9 de julho de 2012. Foi um cardeal brasileiro e arcebispo católico do Rio de Janeiro.


domingo, 20 de julho de 2014

LITURGIA DO 16º DOMINGO COMUM - 20/07/2014

  


16º DOMINGO COMUM
20/07/2014




PRIMEIRA LEITURA (Sb 12,13.16-19)


Leitura do Livro da Sabedoria:
13Não há, além de ti, outro Deus que cuide de todas as coisas e a quem devas mostrar que teu julgamento não foi injusto.

16A tua força é princípio da tua justiça, e o teu domínio sobre todos te faz para com todos indulgente.

17Mostras a tua força a quem não crê na perfeição do teu poder; e nos que te conhecem, castigas o seu atrevimento.

18No entanto, dominando tua própria força, julgas com clemência e nos governas com grande consideração; pois, quando quiseres, está ao teu alcance fazer uso do teu poder.

19Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


RESPONSÓRIO (Sl 85)


— Ó Senhor, vós sois bom, sois clemente e fiel!

— Ó Senhor, vós sois bom e clemente,/ sois perdão para quem vos invoca./ Escutai, ó Senhor, minha prece,/ o lamento da minha oração!

— As nações que criastes virão/ adorar e louvar vosso nome./ Sois tão grande e fazeis maravilhas;/ vós somente sois Deus e Senhor!

— Vós, porém, sois clemente e fiel,/ sois amor, paciência e perdão./ Tende pena e olhai para mim!/ Confirmai com vigor vosso servo!


SEGUNDA LEITURA (Rm 8,26-27)


Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:
Irmãos: 26O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis.

27E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos.

— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus!


EVANGELHO (Mt 13,24-43)


— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo, † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor!

Naquele tempo, 24Jesus contou outra parábola à multidão: “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. 26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’

28O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’

29O dono respondeu: ‘Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!’”

31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”.

33Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.

34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo”.

36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!”

37Jesus respondeu: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. 40Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes.

43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor!


HOMILIA
Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília


Neste 16º Domingo do Tempo Comum, continuamos a ler as parábolas do Reino que integram o capítulo treze do Evangelho segundo Mateus, iniciado com a parábola do semeador, proclamada no último domingo. A Liturgia nos apresenta hoje um conjunto de três parábolas contadas por Jesus. A mais longa é a parábola do trigo e do joio, narrada apenas por Mateus. As outras duas, sobre o grão da mostarda e o fermento, são narradas também por Marcos e Lucas.

A parábola do joio e do trigo ocupa a maior parte do trecho proclamado, sendo explicada pelo próprio Jesus. Os discípulos de Cristo vivem no mundo onde coexiste o joio e o trigo. O dono da plantação e da colheita é uma figura de Deus,  justo e paciente, que oferece oportunidade de conversão. Os servos que trabalhavam naquele campo achavam que o problema do joio poderia ser resolvido rapidamente, baseando-se estritamente na lógica da justiça sem a misericórdia, que gera impaciência e intolerância. Justiça e misericórdia andam juntas e se exigem mutuamente. No mundo de hoje, em meio a tantos males, é preciso cuidado para não perder o trigo ao querer arrancar o joio. Além disso, não se pode reduzir o "campo" onde vivemos ao "joio", nem se deve jamais desacreditar na força do "trigo", pois os justos "brilharão como o sol no reino de Deus" (Mt 13,43).

As outras duas parábolas falam do Reino ressaltando a força do que parece frágil como uma semente, ou insignificante como o fermento. A semente de mostarda, embora pequena, tem força para produzir uma árvore. O fermento, de modesta aparência, oculto em meio à farinha, tem força de fazer crescer a massa.

O livro da Sabedoria também nos mostra que a justiça e a misericórdia estão juntas em Deus, convidando o justo a "ser humano", isto é a praticar a justiça com a clemência. O autor assim se dirige a Deus:  "ensinaste que o justo deve ser humano e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores" (Sab 12, 19). Para ser justo, é preciso ser misericordioso; para ser misericordioso, é preciso ser justo.

Segundo a Carta de S. Paulo aos Romanos, Deus se mostra clemente vindo "em nosso socorro da nossa fraqueza" por meio do Espírito Santo. Sem ele, não sabemos orar de modo justo (Rm 8,26-27).

"Quem tem ouvidos ouça" (Mt 13,43), é a frase conclusiva do texto do Evangelho proclamado. Esta advertência, que já se encontrava na parábola do semeador, se repete como um refrão, convidando-nos a escutar com atenção e a acolher com fé a boa nova do Reino anunciada por Jesus.


ORAÇÃO

                             
Ó Deus, sede generoso para com vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Amém!