Dom Carmo João Rhoden
Bispo Emérito de Taubaté (SP)
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er o
livro Coração de Pastor, de Dom João Bosco Óliver de Faria, é
mergulhar na tensão fecunda que sustenta todo ministério episcopal: a cruz e a
esperança. O autor não esconde as dores, as solidões e os pesos do episcopado.
Mas, ao mesmo tempo, deixa transparecer a esperança inabalável que vem de
Cristo, o verdadeiro Pastor.
Uma
das frases mais impactantes é: “O Domingo de Ramos dura pouco na vida de um
Bispo”. Essa constatação, nascida da experiência concreta, sintetiza a
realidade de quem assume o pastoreio. O bispo, em alguns momentos, é aclamado,
reconhecido, aplaudido. Mas logo chegam as incompreensões, as críticas, a cruz.
E é nessa travessia que se prova a fidelidade.
Não
se trata de pessimismo, mas de realismo evangélico. O episcopado não é carreira
de prestígio, mas seguimento de Cristo crucificado. O báculo, insígnia de guia,
só encontra sentido quando unido à cruz. O bispo que deseja apenas aplausos
perde o essencial: sua missão é conduzir o povo não ao sucesso humano, mas ao
encontro com Deus.
Dom
João Bosco insiste que o bispo não pertence a si, mas ao povo. Essa entrega é
fonte de cruz, porque exige renúncia. Mas é também fonte de esperança, porque
revela a fecundidade do ministério. Quantos padres foram ordenados, quantas
comunidades foram animadas, quantas vidas foram tocadas por um pastor que se
deixou consumir pela missão!
Ao
refletir sobre essas páginas, recordei-me das palavras de São João Paulo II: “O
bispo deve ser testemunha da esperança, mesmo quando as circunstâncias parecem
obscurecê-la”. Essa dimensão aparece fortemente no livro. A cruz não apaga a
esperança; ao contrário, é nela que a esperança se purifica.
O
episcopado, visto sob essa luz, não é uma função de prestígio, mas um caminho
pascal. O bispo é chamado a viver o mistério da cruz e da ressurreição em sua
própria carne, para que o povo de Deus possa reconhecer nele o rosto de
Cristo.
Ao concluir a leitura, senti-me convidado a renovar minha própria entrega. Coração de Pastor nos recorda que, em meio às cruzes, a esperança permanece. O bispo é homem da cruz, mas também profeta da esperança. E essa tensão, longe de ser contradição, é a essência mesma do ministério episcopal.
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