Por Emílio Portugal Coutinho,
em Gaudiumpress
A VIGÍLIA PASCAL
N
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o
sábado santo honra-se a sepultura de Jesus Cristo e a sua descida ao Limbo, e,
depois do sinal do Glória, começa-se a honrar a sua gloriosa ressurreição.
A
noite do sábado santo é especial e solene, é denominada também como Vigília
Pascal. A Vigília Pascal, era antigamente à meia-noite, mas depois foi mudada
para ser a partir das 20 horas, no entanto, ela não pode começar antes do
início da noite e deve terminar antes da aurora do domingo.
É
considerada "a mãe de todas as santas Vigílias"1. Pois, nela, a
Igreja mantém-se de vigia à espera da Ressurreição do Senhor, e celebra-a com
os sacramentos da Iniciação cristã.
Esta
noite é "uma vigília em honra do Senhor" (Ex 12,42). Assim ouvindo a
advertência de Nosso Senhor no Evangelho (Lc 12, 35), aguardamos o retorno do
Senhor, tendo nas mãos lâmpadas acesas, para que ao voltar nos encontre
vigilantes e nos faça sentar à sua mesa.
A
vigília desta noite é dividida do seguinte modo:
1º
- A celebração da luz;
2º
- A meditação sobre as maravilhas que Deus realizou desde o início pelo seu
povo, que confiou em sua palavra e sua promessa;
3º
- O nascimento espiritual de novos filhos de Deus através do sacramento do
batismo;
4º
- E por fim a tão esperada comunhão pascal, na qual rendemos ação de graças à
Nosso Senhor por sua gloriosa ressurreição, na esperança de que possamos também
nós ressurgir como Ele para a vida eterna.
BENÇÃO DO LUME NOVO
As
luzes da igreja estão todas apagadas. Do lado de fora está um fogareiro
preparado pelo sacristão antes do início das funções, com a faísca tirada de
uma pedra. Junto está uma colher para recolher as brasas e colocá-las dentro do
turíbulo. Então o celebrante abençoa o fogo e o turiferário recolhe algumas
brasas bentas e as coloca no turíbulo.
A
benção se originou na Gália (França) e pretendia ser um sacramental
substitutivo das fogueiras pagãs que se acendiam no início da primavera, em
louvor da divindade Votan, com a finalidade de se obter uma rica colheita dos
frutos da terra.
O
costume de extrair fogo golpeando uma pedra provém da antiguidade germânica
pagã. A pedra representa Cristo, "a pedra angular" que, sob os golpes
da cruz, jorrou sobre nós o Espírito Santo.
O
fogo novo, representativo da Ressurreição de Nosso Senhor, luz Divina apagada
por três dias, que há de aparecer ao pé do túmulo de Cristo, que se imagina
exterior ao recinto da igreja, e resplandecerá no dia da ressurreição.
Deve
ser novo este fogo, porque Nosso Senhor, simbolizado por ele, acaba de sair do
túmulo.
Essa
cerimônia era já conhecida nos primeiros séculos. Tem sua origem no costume
romano de iluminar a noite com muitas lâmpadas. Essas lâmpadas passam a ser
símbolo do Senhor Ressuscitado dentro da noite da morte.
A PROCISSÃO FEITA COM
O CÍRIO PASCAL
Após
a cerimônia de preparação do Círio Pascal, é ele solenemente introduzido no
templo por um diácono que por três vezes, ao longo do cortejo pela nave
central, canta elevando sucessivamente o tom: "Lumen Christi" (Eis a
luz de Cristo). O coro responde: "Deo gratias". (Graças a Deus). Em
cada parada vão se acendendo aos poucos as velas, na primeira vez é acesa a
vela do celebrante; na segunda parada, feita no meio do corredor central, são
acesas as velas dos clérigos; na terceira vez por fim, se acendem as velas dos
assistentes que comunicam as chamas do círio bento até toda a igreja estar
iluminada.
As
velas são acesas no Círio Pascal, pois nossa luz vem de Cristo. O diácono, que
vem vindo, é, portanto, mensageiro e arauto da nova auspiciosa. Anuncia ao povo
a Ressurreição de Cristo, como outrora o Anjo às santas mulheres.
As
palavras "Lumen Christi", significam que Jesus Cristo é a única luz
do mundo.
A
procissão, que se forma atrás do Círio Pascal é repleta de símbolos. É alusão
às palavras de Nosso Senhor: "Eu Sou a Luz do mundo. Quem me segue não
anda nas trevas, mas terá a luz da vida" (Jo 8,12; cf. Jo 9,5; 12,46). O
círio, conduzido à frente, recorda a coluna de fogo pela qual Javé precedia na
escuridão da noite ao povo de Israel ao sair da escravidão do Egito e lhe
mostrava o caminho (Ex 13, 21).
O
cristão é aquele que, para iluminar, se deixa consumir, que em sua luz acende
outras, dando sua própria, vida, como ensinou e o fez Nosso Senhor Jesus Cristo
(cf. Jo 15,13).
O PRECÔNIO PASCAL
Ao
término da procissão, na qual se introduz o Círio no Templo, é ele colocado em
local apropriado. Com a vela acesa na mão renovamos nossa fé, proclamando Jesus
Cristo, Luz do mundo que ressurgiu das trevas para iluminar nosso caminho. E
lembramos o que que por vocação todo cristão é chamado a ser também luz, como
ele mesmo nos diz: "Vós sois a luz do mundo. Que, portanto, brilhe vossa
luz diante dos homens, para que as pessoas vejam vossas boas obras, e
glorifiquem vosso Pai que está nos céus!" (Mt 5,14.16).
O
diácono, após incensar o círio e o livro, canta o Precônio Pascal (Praeconium
pascale, anunciação da páscoa), em que se exaltam os benefícios da Redenção, e
que é um belo poema, a partir da vela, sobre o trabalho das abelhas e o
material para a confecção da vela, o significado da luz ao longo da história de
Israel e, de modo especial, sobre Jesus, a Luz do mundo. As magníficas palavras
deste hino são atribuídas a Santo Ambrósio e Santo Agostinho. É esse canto o
antigo lucernário da vigília pascal. O nome lucernário foi dado às orações que
se diziam na reunião litúrgica ao acenderem-se as luzes ao anoitecer.
Arderá
daí em diante o círio pascal, em todas as funções, durante quarenta dias,
recordando a permanência na terra de Cristo ressuscitado. Retirar-se-á no dia
da Ascensão, isto é, no momento em que Jesus Cristo ressuscitado sobe ao céu.
LEITURA DAS PROFECIAS
Nos
primórdios da Igreja, colocavam nesta altura o rito dominante e como que o
centro da Vigília. Nesta hora, aproximavam-se os catecúmenos, para receberem o
Batismo. A fim de ocupar a atenção dos fiéis e para maior instrução dos
catecúmenos, liam-se na tribuna passos da Sagrada Escritura apropriados ao ato.
Eram as doze profecias, um como resumo histórico da religião: criação, dilúvio,
libertação dos israelitas, oráculos messiânicos.
Atualmente
são feitas apenas nove leituras, sete do Antigo Testamento e duas do Novo. Para
cada leitura, há uma oração, com cântico ou salmo responsorial. Após a sétima
leitura, são acessas as velas do altar a partir do Círio Pascal e o sacerdote
entoa o canto do Glória in excelsis, com acompanhamento de instrumentos
musicais e de sinos, que ficaram calados durante todo o tríduo sagrado. A
Igreja, portanto, entra inteira na alegria pascal. Logo em seguida é feita a
primeira leitura, do Novo Testamento (Rm 6,3-11), que é sobre o Batismo.
Após
o término das leituras, o sacerdote entoa o canto solene do
"Aleluia", quebrando o clima de tristeza que acompanhava o tempo da
quaresma. Esse canto solene, repetido gradativamente três vezes em tom cada vez
mais alto, representa a saída de Cristo da sepultura e expressa o crescente
júbilo pela vitória do Senhor. Por fim, proclama-se um trecho do evangelho
sobre a Ressurreição de Jesus, levando-se em consideração o ciclo anual de A, B
e C.
Eis
as leituras todas: 1ª leitura: Gn 1,1-2,2 (ou 1,1.26-31a); 2ª leitura: Gn
22,1-18 (ou 22,1-2.9a.10-13.15-18); 3ª leitura: Ex 14,15-15,1; 4ª leitura: Is
54,5-14; 5ª leitura: Is 55,1-11; 6ª leitura: Br 3,9-15.32-4,4; 7ª leitura: Ez
36,16-17a.18-28; 8ª leitura: Rm 6,3-11; Evangelhos (9º texto): a) Ano A: Mt
28,1-10; b) Ano B: Mc 16,1-12; c) Ano C: Lc 24,1-12.
BENÇÃO DA PIA
BATISMAL
Terminada
a leitura das Profecias, vai o Clero para a pia batismal. Na frente do cortejo,
a cruz e o círio pascal, símbolos de Cristo que deve alumiar a nossa
peregrinação terrena, como em outras eras a nuvem luminosa norteava o rumo dos
israelitas no deserto.
O
celebrante abençoa a água num magnífico prefácio em que são lembradas as
maravilhas que Deus quis operar por meio da água; depois, com a mão divide em
quatro partes a água já purificada, e derrama algumas gotas nos quatro pontos
cardeais. Enfim, nessa pia batismal, mergulha por três vezes o Círio Pascal,
simbolizando o poder regenerador que Jesus Ressuscitado dá a essa água e,
também, nossa participação em seu mistério pascal, no qual morremos ao pecado e
ressuscitamos para a vida da graça. E ainda deita nela um pouco do óleo dos
catecúmenos e do santo crisma. Essa água será usada nos batizados ao longo do
ano e na aspersão do povo.
Quando
não há batismo-confirmação, sempre se benze a água, que é levada solenemente
até a pia batismal.
Antigamente,
após os ritos preparatórios, era administrado o batismo solene aos catecúmenos (os que se iniciavam na fé cristã) e
que, durante três anos, estavam, num processo intenso de preparação para
ingressar na Igreja, com um rigor maior na Quaresma e na Semana Santa. E findos
os ritos preparatórios, os catecúmenos eram levados ao lugar onde tinham de
receber o Batismo. Recorda esta cerimônia a aspersão dos fiéis que o celebrante
faz através da igreja, com a água acabada de benzer.
Depois
da benção da Pia Batismal, volta o préstito ao coro, cantando a "Ladainha
de todos os Santos", recordando os que viveram com fidelidade a graça
batismal. Chegados ao pé do altar, o celebrante e seus ministros prostram-se
para meditar ainda na morte e sepultura de Nosso Senhor.
A
apresentação dos candidatos à comunidade e o canto da ladainha de Todos os
Santos mostram a universalidade da Igreja.
O
final do Sábado Santo, com seus três aspectos do mesmo e único mistério pascal,
morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, está no ápice do Tríduo Pascal.
Primeiro está a morte na Sexta-feira; depois Jesus no túmulo, no sábado; e, em
seguida, a ressurreição, no Domingo, iniciada, porém, na noite de sábado, na
Vigília Pascal.
MISSA SOLENE
A
missa é a primeira das duas cantadas na páscoa. Esta celebração ostenta o
caráter de extremo júbilo e magnificência, em forte contraste com a mágoa
intensa da sexta-feira santa. Vemos agora os altares e os dignatários
paramentados de grande gala. Reboam as notas alegres do Gloria in excelsis,
unidas ao bimbalhar dos sinos festivos. O aleluia, não mais ouvido desde o
início da quaresma, ressurge após a epístola.
Essa
é na realidade a missa da madrugada da Páscoa. Ela termina com a Pós-comunhão e
o Ite Missa est, a que se juntam dois aleluias (também se juntam ao Deo
gratias), como expressão de regozijo. É por assim dizer, a aurora da
ressurreição.
Por Emílio Portugal Coutinho,
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