sábado, 30 de novembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 1º Domingo do Advento – Ano A



Advento:
Jesus que vem, mas que também é presença viva em nosso meio.

Pe. Leomar Antonio Montagna
Arquidiocese de Maringá

I
niciaremos, neste domingo, o ano litúrgico. Ano litúrgico é a celebração do mistério, vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, em quatro tempos: Advento, Quaresma, Páscoa e Comum.

Na Liturgia deste domingo, celebramos o primeiro domingo do Advento. Advento é tempo de espera, espera de Jesus que chega a qualquer hora. Jesus é o Reino e o Reino é uma vida melhor, dias melhores, paz, alegria, liberdade...

Advento é tempo de preparar a chegada de Jesus, não só pelo ambiente externo: comidas, bebidas, luzes, festas..., mas é tempo de arrumar o coração. Como? Onde? Pela prática das virtudes, principalmente a caridade, a partilha, participação na Novena de Natal com os vizinhos, visitas aos doentes e necessitados, buscar o sacramento da confissão, frequentar a missa e a vida de comunidade.

Um dos símbolos do Advento é Maria grávida, após o anúncio do anjo. Isso nos indica que devemos gestar, em nós, o “Verbo”. Devemos nos encarnar no Projeto de Deus. Em Maria, o Projeto de Deus se cumpriu. “Feliz aquela que acreditou que iria acontecer o que o Senhor prometeu”. Acreditar é, a cada dia, permitir o faça-se: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”. É produzir não só obras da carne, mas obras do espírito: “Concebeu pelo Espírito Santo”. Enfim, Maria viveu o bem e pode sentir a grandeza de Deus agindo por seu intermédio: “O Senhor fez em mim maravilhas”.

Penso que a liturgia deste domingo, e de todo o Advento, quer chamar a atenção e nos dizer que este é um tempo de graça, ‘kairós’, tempo de nossa salvação. Portanto, cabe a cada um de nós apressar a vinda do Senhor, Ele se manifestará plenamente quando for “tudo em todos”, por isso devemos despertar para o essencial, despojarmo-nos de ações de trevas, não ficar adormecidos, “pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra”.

Quando Jesus voltará, não sabemos, mas o evangelho responde como nos comportarmos enquanto Ele não chega: vigilância constante – Deus nos visita a todo momento.

Os que estão absorvidos pelos desejos da carne podem correr o risco de reduzir-se a uma vida instintiva (os animais comem, bebem, dormem, se reproduzem e não passam disso). Sem alimentar a vida espiritual, isto é, com a falta de Deus no coração humano, tudo poderá vir a ser permitido e ser normal, perde-se o senso da ética, do limite e da responsabilidade. Mas viver a vigilância é cuidar de si, cuidar das pessoas e da casa de Deus; ser vigilante é construir a esperança não só para si, mas também para os outros. Ser vigilante é uma questão de sensibilidade: pelo presente vemos o futuro. Exemplo: o Faraó, no Egito, não percebeu os sinais diante da realidade, enquanto Moisés viu os sinais dos tempos e, com a ajuda de Deus, libertou todo o povo da escravidão.

Enfim, ser vigilante é viver em comunhão com Deus para vencer todos os obstáculos, os problemas não devem nos derrotar, pois “em Cristo somos mais que vencedores”. Acolhamos a palavra do Evangelho deste domingo e reforcemos nossa experiência com Deus por meio da oração: “Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem”.

Concluo esta reflexão com as palavras do Salmo (24/25): “Vem, Senhor, nos salvar, vem, sem demora, nos dar a paz!”

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

Bom dia... 30/11/2019


sábado, 23 de novembro de 2019

Reflexão Litúrgica da Solenidade de CRISTO REI




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

C
elebramos, com toda a Igreja, a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Na oração do Pai Nosso, ensinada por Jesus, nós suplicamos ao Pai: “venha a nós o vosso Reino”. Contudo, nem sempre prestamos a devida atenção às palavras que repetimos tantas vezes. A Liturgia da Palavra desta solenidade nos mostra como é este Rei em quem nós cremos e como é o seu Reino. O Evangelho nos revela o rosto deste Rei do Universo, ao narrar a sua paixão e morte na cruz. Somos convidados a contemplar Jesus coroado de espinhos para entender bem o significado de sua realeza, que não pode ser entendia segundo os parâmetros dos reis e dos reinos presentes na história. Na cruz, Jesus se revela o verdadeiro rei, o Senhor, que vem para dar a vida pela salvação do seu povo. Ao invés de cercar-se de honrarias, Jesus é o rei que se faz servo, doando a sua vida por nós. A narrativa da paixão, segundo Lucas (Lc 23,35-43), ressalta a misericórdia de Jesus. Na cruz, ele oferece o perdão ao malfeitor arrependido, prometendo-lhe o paraíso. Além disso, em outra passagem, Lucas narra que Jesus rezou, na cruz, suplicando ao Pai o perdão àqueles que o crucificavam. Jesus não é apresentado como um rei dominador, mas como o rei-servo que constrói o seu Reino sobre o perdão e a doação.

No prefácio da missa desta solenidade, louvamos ao Pai porque o Reino de Jesus é um “reino eterno e universal: reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça, do amor e da paz”. É este o Reino que pedimos ao Pai, todas as vezes que rezamos o Pai Nosso. Com o belo hino de louvor da Carta de S. Paulo aos Colossenses, nós damos graças ao Pai que “nos recebeu no reino de seu Filho amado” (Cl 1,13) e porque quis “por ele reconciliar consigo todos os seres, os que estão na terra e no céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz” (Cl 1,20).

Em todo o Brasil celebramos hoje o dia nacional dos cristãos leigos e leigas, chamados a participarem ativamente da vida e da missão evangelizadora da Igreja, especialmente, pelo testemunho cristão nos diversos ambientes da sociedade. Nós bendizemos a Deus e agradecemos os fiéis leigos que se dedicam generosamente ao serviço da Igreja nas diversas pastorais, movimentos e serviços, bem como, pela participação responsável na construção da sociedade. Torna-se cada vez mais necessária a atuação dos cristãos leigos nos diversos campos da vida social, como “sal da terra” e “luz do mundo”. Nossas comunidades paroquiais necessitam também de um número maior de leigos e leigas para as diversas pastorais, movimentos e serviços. Somos todos “batizados e enviados” em missão!

Bom dia... 23/11/2019


sábado, 16 de novembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 33º Domingo do Tempo Comum - PERMANECER FIRMES




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 liturgia da Palavra deste penúltimo Domingo do Tempo Comum leva-nos a olhar para o futuro que Deus prepara para nós, com esperança, mas vivendo o presente com responsabilidade e firmeza na fé.

O profeta Malaquias anuncia o “Dia” do Senhor, o dia do julgamento, que será de condenação para “os soberbos e ímpios”, enquanto para os que temem o Senhor “nascerá o sol da justiça trazendo salvação em suas asas” (Ml 3,20). Trata-se de um forte apelo à esperança dirigido, especialmente, aos que duvidavam da justiça e do amor de Deus na história. O profeta mostra que Deus não abandonou o seu povo e irá estabelecer o seu reino de justiça. Em resposta, rezamos o Salmo 97, proclamando que “o Senhor virá julgar a terra inteira, com justiça julgará”. De fato, nós rezamos o Creio afirmando que Jesus Cristo “há de vir a julgar os vivos e os mortos”.

Conforme o Evangelho segundo S. Lucas, a preocupação dos discípulos era saber “quando” e “como” isso aconteceria. Ao invés de satisfazer a curiosidade deles a respeito do futuro, Jesus lhes mostra como proceder no presente, destacando três atitudes que deveriam cultivar. A primeira é: “cuidado para não serdes enganados” (Lc 21,8), alertando para que não se deixem levar por rumores a respeito do fim. A segunda é: “não fiqueis apavorados” (21,9); ao contrário, é preciso confiar em Deus. A terceira atitude encontra-se resumida na frase conclusiva do texto proclamado: “é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (21,19), mostrando a importância da perseverança e do testemunho. O tempo de grandes dificuldades, perseguição e morte, será ocasião para os discípulos testemunharem a fé, segundo as palavras de Jesus (21,13), prometendo-lhes “dar palavras acertadas” para se defenderem.

Na comunidade dos tessalonicenses, a preocupação com a vinda do Senhor levou alguns a viverem de maneira errada. São Paulo refere-se a “alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada” (2Ts 3,11). Para estarem bem preparados para o dia do julgamento, os tessalonicenses são exortados a trabalhar e a agir com responsabilidade. Ao invés do medo ou da acomodação, é necessário agir.  Diante da figura deste mundo que passa e do julgamento que virá, a fé move os discípulos de Cristo para agirem com esperança e responsabilidade, dando testemunho e permanecendo firmes.

O Papa Francisco instituiu o 33º Domingo do Tempo Comum como o dia mundial dos pobres, por meio da Carta Apostólica Misericórdia et Misera (n. 21), como fruto e prolongamento do Ano Santo da Misericórdia (2016). Seja este dia uma ocasião especial para expressar o amor aos pobres, a solidariedade, através de ações pessoais e comunitárias.

Bom dia... 16/11/2019


sábado, 9 de novembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 32º Domingo do Tempo Comum - DEUS DOS VIVOS




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
o rezar o Credo nós afirmamos que cremos na “ressurreição da carne e na vida eterna”. A fé na ressurreição de Jesus e na ressurreição dos mortos ocupa lugar central na vida cristã.

Os saduceus eram um grupo religioso que negava a ressurreição dos mortos. A pergunta que fazem a Jesus mostra que eles estavam entendendo a ressurreição apenas como um prolongamento da vida terrestre. Como os saduceus tinham se referido a Moisés, Jesus lhes responde recorrendo a passagem do Êxodo que trata da sarça ardente, dando a entender que a fé na ressurreição já se encontrava implícita no Antigo Testamento e concluindo que “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20,38).

A Bíblia não pretende explicar como será a vida eterna, como muita gente gostaria, em nossa época, marcada pela tendência de explicar e provar tudo racionalmente. A ressurreição é mistério a ser acolhido e vivido na fé. A Sagrada Escritura proclama a fé no Deus da vida, a fé em Cristo ressuscitado e, consequentemente, a fé na ressurreição da carne. Embora a plenitude da Revelação divina seja Jesus Cristo, a bela passagem do livro dos Macabeus, proclamada na primeira leitura, já testemunhava a fé na ressurreição. Num tempo de dura perseguição religiosa, os irmãos Macabeus dão testemunho de fidelidade e, ao mesmo tempo, de fé na vida eterna. “O Rei do universo nos ressuscitará para uma vida eterna,” afirma um dos sete irmãos condenados à morte por causa da sua fé (2Mc 7,9). Deus tem misericórdia dos que permanecem fiéis, dando-lhes a vida eterna, conforme afirma um deles ao rei que os condenava: “Prefiro ser morto pelos homens tendo em vista a esperança dada por Deus que um dia nos ressuscitará. Para ti, porém, ó rei, não haverá ressurreição para a vida” (2Mc 7,14).

Na 2ª Carta aos Tessalonicenses, S. Paulo também se refere a “consolação eterna e a feliz esperança” (2Ts 2,16), que Deus nos oferece, exortando a comunidade a permanecer fiel e a rezar sempre. Nós também vivemos da esperança em Deus. Diante dos desafios da vida e perante a própria morte, devemos permanecer firmes na fé, que nos anima a caminhar sempre, sem desanimar, e nos traz a esperança de alcançar a vitória com Cristo Ressuscitado. Que a celebração do mistério pascal, na Eucaristia, nos anime a viver sempre da fé em Jesus Cristo ressuscitado e da esperança na ressurreição!

Bom dia... 09/11/2019


sábado, 2 de novembro de 2019

Reflexão Litúrgica da SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

C
elebramos, neste domingo, a SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS, transferida do dia 1º de novembro, para que todos possam participar da Eucaristia. Os santos são nossos intercessores e modelos de vida cristã. Pela intercessão e méritos dos santos, nossas preces chegam a Jesus Cristo e por meio dos seus exemplos, somos motivados a segui-lo fielmente. A Liturgia da Palavra nos mostra quem são os santos e o que devemos fazer para viver na santidade.

O livro do Apocalipse se refere a uma “multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar”, pois a salvação em Cristo e a santidade são para todos. Eles “estavam de pé” diante do Cordeiro, “trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão” (Ap 7,9).  Nas imagens dos santos mártires, encontramos sempre uma palma na mão, recordando a palma do martírio, do testemunho, da fidelidade até a morte, palma da vitória conquistada por Cristo. Os santos são testemunhas e exemplos de fidelidade a Cristo na vida cotidiana e nas grandes ocasiões. Acima de tudo, “vieram da grande tribulação” e permaneceram fiéis. Contudo, não são santos por conta própria. Eles são santos porque foram redimidos por Cristo: “lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). A santidade é sempre dom de Deus e, por isso, é sempre vivida pela graça de Deus.

O Evangelho nos apresenta a belíssima passagem das Bem-aventuranças, recordando-nos, hoje, que os santos são “bem-aventurados”, isto é, “felizes” (Mt 5,1-12). Eles não foram pessoas tristes ou infelizes, embora tenham passado por provações, abraçando a cruz de cada dia. São santos e felizes os que vivem as bem-aventuranças: os pobres em espírito, os mansos, os misericordiosos, os puros de coração, os aflitos consolados por Deus, os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos por causa da justiça. Este é o caminho da santidade proposto por Jesus. Somos todos chamados a ser santos, trilhando o caminho das bem-aventuranças e, deste modo, experimentando a felicidade verdadeira e duradoura que vem de Deus.

Com a primeira carta de S. João, reconhecemos que o Pai nos deu um “grande presente”: “sermos chamados filhos de Deus!” (1Jo 3,1). Os santos, purificados por Cristo, se comportam como verdadeiros filhos de Deus e, por isso, como irmãos.

A santidade a ser vivida e testemunhada por cada um na vida cotidiana leva a amar a Igreja e dela participar. As pessoas santas evangelizam pelo seu testemunho de vida, incluindo a participação na Igreja, nas missas e atividades pastorais.

Sejamos santos, participando
ativamente da comunidade!

Bom dia... 02/11/2019