sábado, 26 de dezembro de 2020

Reflexão Litúrgica da Solenidade da Sagrada Família: Jesus, Maria e José - 27/12/2020


Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R.

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 Sagrada Família, Jesus, Maria e José, celebrada no contexto do Natal do Senhor, reafirma mais uma vez o caráter da humanidade de Deus que se encarnou e, como os demais seres humanos, nasceu e viveu no seio de uma família. Para além de sua teologia própria, esta celebração tem muito a nos dizer hoje, especialmente em um contexto em que a vida familiar passa por um momento muito conturbado e muitas famílias vivem dilaceradas por causa de tantos fatores, entre eles a falta de diálogo, violência, crise no trabalho, drogas, falta de fé, crise nas relações e a intolerância ao outro. As leituras de hoje merecem ser retomadas e rezadas em família, pois trazem uma verdadeira lição para o convívio humano e para as relações fraternas: "amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição" (Cl 3,14).

O Evangelho narra a apresentação que Maria e José fazem do Menino no templo. Como praticantes, vão cumprir os rituais religiosos prescritos pela lei judaica e agradecer a Deus por tudo que realizou em suas vidas. Simeão deslumbra-se ao ver Jesus porque pode ver com seus próprios olhos a salvação na figura terna do menino, que será sinal de contradição e glória para Israel (v.29ss). A profetiza Ana coloca-se em atitude de louvor a Deus e de anúncio ao "falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém" (v. 38). Continua o texto afirmando que o menino crescia, tornava-se forte e cheio de sabedoria e de graça (v. 40).

Maria e José põem Deus como o centro de suas vidas e como pais cuidam da educação do menino Jesus. Muitas vezes, estes dois elementos faltam nos lares cristãos atualmente. Não há o cultivo de uma vida oracional e espiritual em casa e os pais delegam somente à escola, à Igreja e ao Estado a educação de seus filhos, eximindo-se de tal responsabilidade. A educação que os filhos recebem no seio familiar é o único tesouro que ninguém lhes pode roubar e nem a ferrugem corroer. É a maior herança que os pais podem deixar a seus filhos.

A bela lição que Paulo deixa é muito propícia nesse contexto de relações humanas e de convívio familiar: as esposas serem solícitas aos maridos; os maridos amá-las; os filhos serem obedientes aos pais e os pais não intimidarem os filhos (Cl 3,18-21). São regras aparentemente simples, mas muito exigentes. Eis aí alguns passos para que esse santuário escolhido e amado por Deus, a família, continue subsistindo às crises de nossa sociedade.

Bom dia... 26/12/2020

 


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Como preparar-se para a Comunhão?


A

 Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra”, por isso devemos nos preparar para recebê-la.

 Jesus, na noite de Sua Paixão, instituiu o sacramento da Eucaristia, a comunhão. Este é o sacramento dos sacramentos, por meio do qual estamos sempre em profunda comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo.

    Para meditar sobre esse grande mistério da fé [a Eucaristia] e saber como podemos nos preparar para recebê-Lo, gostaria de apresentar alguns textos do Magistério da Igreja que nos serão de grande proveito:

    A Eucaristia é “fonte e ápice de toda a vida cristã”. “Os demais sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e todas as tarefas apostólicas ligam-se à Sagrada Eucaristia e a ela se ordenam, pois, a Santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa” (Catecismo da Igreja Católica, 1324).

    “A Eucaristia é verdadeiramente um pedaço de céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória da Jerusalém celeste, que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho” (Ecclesia de Eucharistia, João Paulo II, § 19).

     O Senhor nos convida, insistentemente, a recebê-Lo no sacramento da Eucaristia: “Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a Carne do Filho do homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Para responder o convite, devemos nos preparar para este momento tão grande e tão santo. São Paulo nos exorta a um exame de consciência: “Todo aquele que comer do pão ou beber do cálice do Senhor, indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Por conseguinte, que cada um examine a si mesmo antes de comer desse pão e beber desse cálice, pois aquele que come e bebe sem discernir o Corpo, come e bebe a própria condenação (1Cor 11,27-29). Quem está consciente de um pecado grave deve receber o sacramento da reconciliação antes de receber a comunhão” (Catecismo, 1384-1385).

     “Conforme o mandamento da Igreja, ‘todo fiel, depois de ter chegado à idade da discrição, é obrigado a confessar seus pecados graves, dos quais tem consciência, pelo menos uma vez por ano’. Aquele que tem consciência de ter cometido um pecado mortal não deve receber a Sagrada Comunhão, mesmo que esteja profundamente contrito, sem receber previamente a absolvição sacramental, a menos que tenha um motivo grave para comungar e lhe seja impossível chegar a um confessor” (Catecismo, 1457).

     “Diante da grandeza desse sacramento, o fiel só pode repetir humildemente e com fé ardente a palavra do centurião: ‘Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo’ (Mt 8,8)” (Catecismo, 1386).

     “A Igreja obriga os fiéis ‘a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias festivos’ e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas recomenda vivamente aos fiéis que recebam a Santa Eucaristia nos domingos e dias festivos, ou ainda com maior frequência, e até todos os dias” (Catecismo, 1389).

     “A fim de se preparar convenientemente para receber esse sacramento, os fiéis observarão o jejum prescrito em sua Igreja” (Catecismo, 1387). “Quem vai receber a Santíssima Eucaristia abstenha-se de qualquer comida ou bebida, excetuando-se somente água e remédio, no espaço de, ao menos, uma hora antes da sagrada comunhão” (Cân. 919, § 1). “Pessoas idosas e enfermas, bem como as que cuidam delas, podem receber a Santíssima Eucaristia, mesmo que tenham tomado alguma coisa na hora que antecede” (Cân. 919, § 3).

     Com relação aos divorciados novamente casados, o Magistério da Igreja afirma que “são numerosos, hoje, em muitos países, os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e contraem civilmente uma nova união. A Igreja, por fidelidade à Palavra de Jesus Cristo (‘Todo aquele que repudiar sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar seu marido e desposar outro comete adultério’: Mc 10,11-12), afirma que não pode reconhecer como válida uma nova união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística enquanto perdurar essa situação” (Catecismo, 1650). Esses cristãos, no entanto, mesmo não tendo acesso aos sacramentos, não devem se considerar separados da Igreja, “pois, como batizados, podem e devem participar da vida dela” (cf. Catecismo, 1651).

     “A atitude corporal (gestos e roupas) há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede” (Catecismo, 1387).

     Outro conselho de grande valor é chegarmos à Santa Missa com alguns minutos de antecedência, para depositarmos aos pés de Nosso Senhor as nossas intenções e preocupações, e, assim, estar mais atentos e participar com maior fruto da Liturgia da Palavra e da Liturgia Eucarística. Após a comunhão, é importante também termos um tempo de ação de graças, para agradecermos a Jesus por Seu Corpo e Sangue, que recebemos, e por todas as graças que nos são dadas por meio dessa comunhão. A cada Eucaristia, Jesus vem habitar em nós para nos santificar, curar e salvar. Temos, pois, muito para agradecer cada vez que O recebemos.

     Não existe sobre a terra momento mais intenso de comunhão com Jesus do que quando recebemos Seu Corpo e Seu Sangue. Por isso, cada vez que vamos participar da Santa Missa, queremos nos preparar para esse encontro com Cristo, para que Ele nos conduza a uma amizade cada vez mais íntima e intensa com Ele. O nosso amor por Jesus e a observância de tudo aquilo que o Magistério da Igreja nos pede será sempre a melhor maneira de nos prepararmos para receber Cristo com dignidade. Procuremos, pois, fortalecer, cada vez mais, os nossos laços de amizade com Jesus, pois é Ele quem nos conduz com alegria em meio às muitas provações da nossa vida.

 Fonte: Formação - Canção Nova

Bom dia... 22/12/2020


domingo, 20 de dezembro de 2020

Qual é a melhor forma de se vestir para participar do Santo Sacrifício da Missa



Mas o que dizem os documentos oficiais da nossa santa mãe igreja a respeito disso?

O
 Catecismo da Igreja Católica (nº 1387) afirma sobre o momento da Sagrada Comunhão: "A atitude corporal - gestos, roupa - há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede”.

Para compreender o porquê o Catecismo afirma isto a respeito das vestes, é importante compreender o que é a Santa Missa: ela é a renovação do Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, pagou pelos nossos pecados na cruz. Tal Sacrifício se torna presente na Santa Missa no momento em que o pão e vinho tornam-se verdadeiramente o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor (Catecismo da Igreja Católica, 1373-1381). O Santo Sacrifício da Missa é incruento (ou seja, sem sofrimento nem derramamento de sangue), pois não se repete, ou seja, é o mesmo e único Sacrifício do Calvário, porém, torna-se verdadeiramente presente na Santa Missa para que possamos receber os seus frutos e nos alimentar da Carne e do Sangue de Nosso Senhor. Por isso o Sagrado Magistério nos ensina que "o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício." (Catecismo da Igreja Católica, 1367)

É preciso evitar, então, primeiramente as roupas que expõe o corpo de forma escandalosa, como decotes profundos, shorts curtos ou blusas que mostrem a barriga. Mas convém que se evite também tudo o que contraria, como afirma o Catecismo, a alegria, a solenidade e o respeito - isto é, banaliza o momento sagrado.

O bom senso nos mostra, por exemplo, que partindo do princípio da solenidade, é melhor que se use uma calça do que uma bermuda. Ora, na nossa cultura, não se vai a um encontro social solene usando uma bermuda!

O bom senso nos mostra também que, partindo do princípio do respeito e da não banalização do sagrado, é melhor que se evitem roupas que chamam atenção para o corpo ou para elementos não relacionados com a Sagrada Liturgia. É melhor que uma mulher, por exemplo, utilize uma blusa com mangas do que uma blusa de alcinha; é melhor que utilize uma calça discreta, saia ou vestido do que uma calça apertadíssima; também é melhor que se utilize, por exemplo, uma camisa ou camiseta discreta do que uma camiseta de um time de futebol.

Jamais se deve ir à Missa com roupas justas, com o colo de fora, mostrando partes dos seios, ou com os ombros, as costas, a barriga e as pernas de fora ou expostas sob-roupas colantes. Além de ser vulgar e indecoroso, é desrespeitoso para com Deus e para com o Sacerdote que celebra a Santa Missa.

Os homens jamais devem ir à Missa de regatas e bermudas! Além de ser sinal de desleixo (pois Igreja não é ambiente praiano nem barzinho), é falta de respeito para com Deus.

A questão se reveste de uma seriedade ainda maior quando se trata daqueles que exercem funções litúrgicas, tais como os que fazem parte da equipe de liturgia, leitores e músicos. Pois estes, além de normalmente estarem mais expostos ao público que os demais, acabam por serem também modelos.

A não aplicação deste princípio implicaria colocar-se em contraposição com grande parte das normas litúrgicas da Santa Igreja, bem como com os diversos sinais e símbolos litúrgicos (paramentos, velas, incenso, gestos do corpo, etc.), que partem da necessidade de se manifestar com sinais externos a fé católica a respeito que acontece no Santo Sacrifício da Missa, bem como manifestar externamente a honra devida a Deus. A atitude interna é fundamental, mas desprezar as atitudes externas é um erro.

A este respeito, escreveu o saudoso Papa João Paulo II: "De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da Presença Real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. (...) Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo." (Mane Nobiscum Domine, 18)

Concluo com as palavras de São Josemaria Escrivá em uma de suas fantásticas homilias, recordando seus tempos de infância: "Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor." Afirma ainda: "Quando na terra se recebem pessoas investidas em autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira não devemos preparar-nos?" (Homilias sobre a Eucaristia, Ed. Quadrante).

Devemos ser zelosos e procurar imitar e chegar o mais próximo das virtudes e da modéstia de Nossa Senhora [para as mulheres] e de São José [para os homens]. Claro que não é a roupa em si que confere a um católico o título de “bom” ou de “ruim”, mas todo um conjunto de práticas interiores e exteriores. Neste sentido, Portanto, podemos dizer que a veste é um pequeno detalhe, é uma exteriorização da alma de certa forma, porém não é menos importante do que as virtudes interiores. Tudo é um conjunto, o interior e o exterior. À medida que crescemos na Fé e nas Virtudes Cristãs, nosso amadurecimento espiritual vai ficando evidente em nosso exterior, na maneira de nos portarmos, agirmos e vestirmos. Portanto não há desculpa para nos comportarmos mal ou nos vestirmos impudicamente, pois o exterior reflete o interior.


Bom dia... 20/12/2020


 

sábado, 19 de dezembro de 2020

Reflexão Litúrgica do IV Domingo do Advento - 20/12/2020


Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R.

O

 Natal aproxima-se! Qual é o espírito que podemos captar das leituras que ouvimos neste dia, especialmente do Evangelho? O quadro cênico é o de uma Anunciação: nascimento de Jesus e de João Batista. Portanto, trata-se de um texto de cunho jubilar, enquanto alegria, no sentido mais profundo do termo, e também enquanto tempo novo para a humanidade. Está aí a essência da mensagem e, por isso, preparação para celebrar o Sol Nascente que nos veio visitar.

Se o texto do Evangelho nos fala de tanta vida e a anuncia de forma tão contundente, ao romper a esterilidade dos homens e mulheres novos, renovando-os na vida nascente de conversão (João Batista) e do amor divino que se materializa no humano (Jesus), comunicando-nos, assim, uma boa notícia, a indagação que nos vem é: como nós, cristãos, estamos sendo comunicadores de boa notícia? O que temos para comunicar de diferente em tempos tão obscuros, de tantas inverdades e de tanta superficialidade? Como vamos comunicar aos outros nosso Natal?

A impressão é que nós cristãos estamos cansados e, em meio a tantas vozes, não escutamos a nossa própria ecoar e, muitas vezes, essa é marginalizada, pois não traz nenhum atrativo à sociedade atual. Vamos nos tornando um pequeno rebanho, desunido e desnutrido, com medo, e vendo pouco a pouco o Natal ser apenas uma data em que as pessoas realizam seus bons propósitos, recordam de seu próximo e, no dia seguinte, esquecem-se de tudo. Este modo esquizofrênico de sermos (ou não sermos) cristãos vai nos afastando do centro do mistério que devemos celebrar e isso é muito perigoso para nossa fé.

O encorajamento para superar os tempos difíceis, sem horizontes claros, vem do próprio anjo a Maria que nos repete as mesmas palavras: "Não tenhas medo porque encontraste graça diante de Deus" (v. 30). A graça de Deus nos dá a ousadia para romper com o cansaço, com o pessimismo, que nos tiram a criatividade de pensar horizontes cheios de luz. "O povo que andava nas trevas viu uma grande luz" (Is 9,2). Essa alegria de ver a luz deve-nos fazer mensageiros de uma boa notícia, portadora de esperança para a humanidade. A fonte na qual bebemos, o Evangelho, é rica e, mesmo naqueles contextos onde não é possível seu anúncio explícito, é possível chegar por meio do agir ético que dele aprendemos e pelo respeito ao outro, sob o fundamento do amor ao próximo.

Usemos nossa criatividade para fazer chegar essa boa noticia aos corações humanos e, ao mesmo tempo, fecundar os ventres estéreis da humanidade, para que essa gere valores que promovam o ser humano para que tenha vida em abundância (Jo 10,10). Esse anúncio não é fake news, e é sempre novidade.

A tempestade vai passar...


Bom dia... 19/12/2020


sábado, 12 de dezembro de 2020

Reflexão Litúrgica do III Domingo do Advento - 13/12/2020

João Batista, Profeta do Advento!

Dom Paulo Cezar Costa - Arcebispo de Brasília–DF.

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 Palavra de Deus, no Evangelho de hoje, continua a falar da figura de João Batista. Ele, como profeta da espera, encarna em si o espírito do Advento. Hoje, João Batista, dando testemunho de si, afirma: “Eu sou a voz que clama no deserto; endireitai os caminhos do Senhor” (Jo 1, 23).

Em todas as culturas o deserto assumiu a idéia de lugar do vagar humano sem rumo, lugar de isolamento e de perda das condições de vida, mas os desertos são também aqueles criados pela nossa civilização, que habitam nossas cidades e casas. O deserto recorda a Israel e a cada um de nós, a situação de precariedade da existência humana, de fragilidade dos projetos e construções históricas. Ele é um convite àquilo que verdadeiramente faz viver a pessoa humana, porque conduz ao essencial, àquela pergunta de sentido que fazemos do início ao fim da existência. Para quem deseja uma vida cheia de significados, buscando uma resposta às interrogações profundas, a boa notícia do Evangelho é a voz: “Eu sou a voz que clama no deserto; endireitai os caminhos do Senhor” (Jo 1, 23).

Parece paradoxal que a resposta à busca do homem seja a voz. A voz nos remete aos profetas, como João Batista, mas conduz antes de tudo à Aliança que une Deus e o seu povo no monte Horeb, quando Israel vem reconhecido como Povo de Deus: “do céu, Ele fez com que ouvisses a sua voz, para te instruir…” (Dt 4, 36). Aos que vivem no deserto, que buscam a Deus, Ele não deixa faltar a sua voz. Tanto na Judeia, como também no deserto de cada povo, de cada cidade, de cada pessoa, ressoa a voz divina que grita, chama, consola, coloca a caminho: Jesus Cristo. Ele é a voz de Deus que entra na história do mundo e que ressoa em meio às desolações humanas.

Mas Israel é o povo da escuta (Sl 95). A voz clama por escuta, como se percebe sempre na Bíblia. A escuta vem expressa pelo verbo (shama`), que diz ao mesmo tempo escuta e obediência. É uma escuta empenhativa, e é próprio a este empenho que se dirige o pedido: “Endireitai o caminho do Senhor…” (Jo 1, 23). A mesma ideia de João Batista como aquele que prepara o caminho do Senhor está presente no Benedictus: “Tu menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor para preparar-lhe os caminhos” (Lc 1, 76). Jesus, falando de João Batista, o relembra com este texto de Malaquias: “Eis que eu envio o meu mensageiro à tua frente, ele preparará o teu caminho diante de ti” (Lc 7, 27). Sabemos que no tempo de Jesus, os essênios tinham ido habitar no deserto para preparar-lhe a estrada. Jesus não pertencia aos essênios. Para Ele a estrada do Senhor se abre e se prepara no meio dos homens: no meio dos seus afazeres, tragédias, doenças, hipocrisia e pecados…

João não é o Messias, ele reconhece que o Messias é maior do que ele. O Messias vem depois, com mais autoridade e direito. Ele não é digno nem de desamarrar as suas sandálias. O profeta tem consciência clara de que o seu caminho é aquele de preparar e de apontar para o Messias.

        Como João Batista, ajudemos as pessoas no deserto da vida, entre pandemia e isolamento, a se encontrarem com Jesus, vivendo um tempo para apostas de confiança Naquele que é o Senhor da Vida. Juntos preparemos o Caminho do Senhor.

Bom dia... 12/12/2020


sábado, 5 de dezembro de 2020

Reflexão Litúrgica do II Domingo do Advento - 06/12/2020

PREPARAI OS CAMINHOS DO SENHOR!

Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida

Arquidiocese de Brasília – DF.

N

este II DOMINGO DO ADVENTO, a mesa da Palavra nos alimenta com a esperança do pleno cumprimento das profecias messiânicas. Ao mesmo tempo nos exorta a preparar os caminhos do Senhor que vem e a reconhecer na demora de Deus a Sua paciência misericordiosa.

A Primeira Leitura (Is. 40,1-5.9-11), tomada do chamado “Segundo Isaías”, dá à Palavra de Deus uma tonalidade comovedora ao anunciar aos Israelitas provados por décadas de amargo exílio na Babilônia que finalmente chegou o tempo da libertação: “Consolai o meu povo, consolai-o – diz o vosso Deus –. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação das culpas foi cumprida” (40,1-2). É isto que o Senhor quer também para nós neste tempo do Advento: falar ao coração do Seu Povo e, por seu intermédio, animar a humanidade inteira (cf. Bento XVI, 2008). A Sua Igreja, a nossa Igreja hoje também eleva a voz clamando: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus” (Is 40,3).

Marcos abre o seu Evangelho indicando em João Batista aquele que cumpre esta promessa de aplainar os caminhos do Senhor e endireitar no deserto as suas veredas, “pregando o batismo de conversão para o perdão dos pecados” (Mc 1,4). João prepara os caminhos da missão messiânica de Jesus, que batiza com o Espirito Santo e, “como um pastor, apascenta o rebanho, reúne com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo” (Is 40,11). Se por Isaías, Deus promete a volta à terra prometida, onde Ele mesmo apascenta o seu povo, no Evangelho Jesus inaugura uma nova humanidade, que faz elevar os olhos para a Jerusalém do alto.

Nesse meio tempo a Igreja nos ensina a olhar para a imensa multidão de homens e nações que estão oprimidas pela fome e pela miséria, pelas incontáveis vítimas de sistemáticas violações dos próprios direitos. “A Igreja se coloca como sentinela sobre o monte elevado da fé e anuncia: «Aqui está o vosso Deus! O Senhor Deus vem com fortaleza» (Is 40,9-10)” (Bento XVI, Ibid.). É Jesus, o Deus Salvador, Aquele que vem!

Na segunda leitura (2Pd 3,8-14), São Pedro procura consolar os cristãos que não viam chegar aquele Senhor a quem suplicavam “Maranatá” – Vem, Senhor Jesus! Passavam os dias, vinham as perseguições, o Senhor parecia tardar retornar em glória (cf At 1,11). São Pedro os conforta asseverando que “o Senhor não tarda a cumprir a promessa, como pensam alguns, achando que demora. Ele está usando de paciência para convosco” (1Pd 3,9).

A liturgia deste domingo nos exorta com as palavras de Pedro: “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça. Vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha, e em paz” (1Pd 3,13-14).

Confiemos à intercessão da Virgem Maria a nossa esperança de paz e de salvação. VEM, SENHOR JESUS.

Bom dia... 05/12/2020


domingo, 29 de novembro de 2020

Advento, primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal.


H

oje começa oficialmente o advento. É um período em que as pessoas se preocupam em limpar e enfeitar suas casas para o Natal.

Mas é muito mais do que isso. É um período em que devemos fazer faxina também em nossas almas e nossos corações.

Tirar a poeira e teias de aranha da casa, enquanto tiramos os maus sentimentos de nossos corações: ódio, mágoa, ressentimento, inveja, egoísmo…

Afastar os móveis para fazer a limpeza e afastar atitudes negativas como pré-julgamento, rejeição, condenação, críticas, grosseria, mentiras, maledicência, avareza, cinismo…

Limpar as janelas e limpar também o olhar, para realmente ver as pessoas à sua volta e prestar atenção aos sentimentos delas e às suas necessidades.

Terminada a limpeza, aí sim iniciar a decoração.

Encher o coração de amor, ternura, respeito, compaixão e carinho. Encher-se de atitudes positivas como acolhimento, gentileza, generosidade…

Tentar transmitir às pessoas, próximas ou distantes, sentimentos como autoestima, confiança, paz.

Então, quando o dia de Natal chegar, estaremos preparados para dizer: pode entrar, seja bem-vindo, Senhor Jesus!

Bom dia... 29/11/2020


sábado, 28 de novembro de 2020

Reflexão Litúrgica do I Domingo do Advento - 29/11/2020

 


VIGIAI!

Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida

Arquidiocese de Brasília – DF.

 

C

om as primeiras Vésperas deste Domingo, começa o tempo do Advento e se abre o novo ano litúrgico. Neste ano, os nossos domingos serão iluminados pelo Evangelista Marcos. A Liturgia deste tempo nos coloca diante dos olhos os três adventos do Senhor. O primeiro advento – que celebramos como memorial e com ação de graças – é a sua vinda na humildade da carne como cumprimento de todas as promessas da Antiga Aliança. O segundo advento – que celebramos vigilantes na esperança da plena realização – é a parusia, o retorno de Jesus cercado da glória dos anjos. Mas também há um terceiro advento, uma vinda que acontece sem cessar entre o primeiro e o segundo: trata-se da quotidiana visita que o Senhor nos faz quando nos abrimos à Sua graça. Com esta nos tornamos capazes de celebrar a presença viva do Verbo de Deus humanado, vivendo na história como filhos da luz e aguardando vigilantes o Senhor que virá “como um ladrão” para julgar os vivos e os mortos.

A primeira leitura, extraída do Profeta Isaías (63,16–64,7), reconhecendo a triste situação em que se encontra Israel como justo castigo pelos pecados, o profeta explicita em forma de queixa coletiva a esperança do povo. Esta esperança tem fundamento na lembrança dos imensos benefícios realizados na história de Israel. Não foge ao profeta a impossibilidade de se voltar a Deus se Ele mesmo não tomar a iniciativa de se voltar para o Seu povo mediante o perdão e a misericórdia. Daí a súplica de Israel: “Ah! Se rompesses os céus e descesses!” (Is 63,19). E aqui a profecia aponta para a vinda do servo, do messias: “Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos!” (Is. 64,4).

A súplica do povo eleito aparece no salmo que invoca Deus como Pastor de Israel (Sl 79): “Ó Pastor de Israel, prestai ouvidos! Vós que sobre os querubins vos assentais, aparecei cheio de glória e esplendor!” (Sl 79,2).

Com a vinda de Jesus na humildade da carne, no ventre santíssimo da Virgem Maria, se realizam e superam as expectativas de Israel. Não apenas um enviado do Senhor, mas o próprio Verbo de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade entra na história e passa a vida fazendo o bem. Ao passar pelo mistério da Cruz e Ressurreição, Jesus vai ao Céu prometendo voltar cercado de glória e esplendor para julgar os vivos e os mortos. O convite da liturgia toda do advento é que vivamos a esperança na vigilância: “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer!” (Mc 13,35).

O Apóstolo dos gentios, escrevendo aos irmãos de Corinto, assegura-lhes a eles e a nós que da parte do Senhor nada nos falta para perseverarmos até a vinda do Senhor. “É ele que vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até ao fim, até ao dia de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 1,8).

Confiemos nossa peregrinação neste novo ano litúrgico àquela que diz: “Faça-se”, cumpra-se em mim segundo a tua palavra.

Bom dia... 28/11/2020


sábado, 21 de novembro de 2020

Reflexão Litúrgica do XXXIV Domingo do Tempo Comum - 22/11/2020

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO!

 Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida

Arquidiocese de Brasília – DF.

 

O

 Papa Pio XI, ao instituir a festa de Cristo Rei em 1925, com a Encíclica Quas primas, quis proclamar solenemente a realeza, o senhorio de nosso Senhor Jesus Cristo sobre o mundo, sobre a história. Este senhorio do Senhor se estende a todas as pessoas, às famílias e às cidades, aos povos e às nações, enfim sobre todo o universo. A proclamação da realeza de Cristo sobre a sociedade – sem prejuizo de reconhecer o valor da genuina laicidade do estado moderno –, é um remédio que se põe aos efeitos nefastos da ideologia laicista que pretende organizar a vida social como se Deus não existisse. Organizar a vida social sem reconhecer na natureza humana o anelo pela transcendência e o desejo de respostas para questões fundamentais da existência, tem levado ao aviltamento da dignidade humana, a muitas formas de pobreza, de escravidão, de corrupção e de abuso de poder de um homem sobre outro, de um povo sobre outro. O reino de Deus apregoado por Jesus, não apenas para a eternidade, começa na história, oferecendo remédio para os males presentes nas relações dos homens com a criação, dos homens entre si, bem como entre a humanidade e o Criador.

Ao declarar diante de Pilatos que o Seu reino não é deste mundo (Jo 18,36), o Senhor Jesus não se esquiva do compromisso histórico, mas rejeita as estratégias de poder, tomando a misericórdia e o serviço humilde aos irmãos como caminho para edificar a civilização do amor. Reivindica a realeza oferecendo a Sua vida em resgate por muitos.

Na primeira leitura, Ezequiel mostra que a majestade e a realeza de Deus se manifestam na imagem do pastor que cuida das ovelhas: “Como o pastor toma conta do rebanho… eu mesmo vou apascentar as minhas ovelhas e fazê-las repousar. Vou procurar a ovelha perdita, reconduzir a extraviada, enfaixar a da perna quebrada, fortalecer a doente, vigiar a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme o direito” (Ez 34, 12.15-16). O próprio Jesus aplica a Si e à Sua atuação a imagem do Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas. Na Sua vitória sobre o pecado e a morte, Ele destrói “todo o principado, todo poder e força” (1Cor 15,25), e submete tudo ao Pai “para que Deus seja tudo em todos” (v. 28).

A sua realeza não consiste em honrarias e de aparências, mas precisamente na “justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,17). Esta realeza, vêmo-la descrita na parábola do juizo final (Mt 25,31-46). O critério para decidir sobre a nossa participação na vida eterna é precisamente este: “o que fizestes a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).

“Se pomos em prática o amor ao nosso próximo, segundo a mensagem evangélica, então abrimos espaço para o Senhorio de Deus, e o Seu Reino se realiza entre nós” (Bento XVI) e nos tornamos todos irmãos conforme o ardente convite feito pelo Papa Francisco na sua última encíclica “Fratelli tutti”.

Bom dia... 21/11/2020