sábado, 25 de abril de 2020

Reflexão Litúrgica do III Domingo da Páscoa - FICA CONOSCO, SENHOR!



Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Brasília

T
emos vivido tempos muito difíceis, no contexto da pandemia que assola o país e o mundo. Não podemos perder a esperança e o rumo a seguir. Juntamente com os cuidados que têm sido recomendados para preservar a saúde, nós necessitamos cuidar bem da vida espiritual. É muito importante continuar a dedicar-se à oração e à meditação da Palavra de Deus, em nossas casas, redobrando os esforços para tratar, de modo fraterno e respeitoso, as pessoas com as quais convivemos e sendo solidários com os que mais sofrem com a pandemia. Em Jesus Cristo Ressuscitado, nós encontramos a esperança, “o caminho, a verdade e a vida”.

A bela passagem sobre os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), hoje proclamada, nos ensina a encontrar Jesus Ressuscitado nas Escrituras e no Pão eucarístico.  A Palavra faz compreender o sentido dos acontecimentos e aquecer o coração, especialmente quando o caminhar se torna difícil, pelo cansaço, pela tristeza e perplexidade. Em tempos de provação, é preciso, ainda mais, deixar-se iluminar e aquecer o coração pela Palavra de Jesus. Infelizmente, mesmo quando estão sem trabalhar, muitas pessoas não dão a devida importância à oração, ao silêncio e à escuta da Palavra. Por isso, não conseguem discernir o sentido da vida e dos acontecimentos, especialmente da cruz, e o caminho a seguir. A Páscoa é tempo de vida nova. Jesus vem nos oferecer a oportunidade de recomeçar a vida, conduzidos por ele e iluminados pela sua Palavra. Leia todos os dias ao menos uma breve passagem da Bíblia. Reze os Salmos saboreando a sua beleza e suavidade.

Emaús nos mostra que Jesus se revela ao partir o pão, na “fração” do Pão eucarístico e na partilha do pão de cada dia. Como discípulos, nós continuamos a reconhecer e a encontrar Jesus no pão eucarístico, assim como no pão repartido em sinal de partilha fraterna e solidariedade. A “fração do pão”, narrada por Lucas na passagem de Emaús, se renova e se prolonga na vida da comunidade dos discípulos, que é a Igreja, conforme nos mostra o mesmo evangelista, ao escrever os Atos dos Apóstolos.  A partilha do pão de cada dia, que é consequência da partilha do pão eucarístico, também se torna ocasião para a experiência da presença do Ressuscitado em nosso meio.

Bom dia... 25/04/2020


sábado, 18 de abril de 2020

Reflexão Litúrgica do II Domingo da Páscoa - DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

“Daí graças ao Senhor porque ele é bom! Eterna é a sua misericórdia”.

A
ssim rezamos, hoje, com o Salmo 117, continuando a expressar o nosso louvor pela Páscoa da Ressurreição do Senhor. A Igreja nos pede que “os cinquenta dias entre o Domingo da Ressurreição e o Domingo de Pentecostes sejam celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa”.

O segundo Domingo da Páscoa é denominado “Domingo da Divina Misericórdia”, conforme estabeleceu São João Paulo II. O Papa Francisco afirmou que “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai”. O Evangelho segundo João (Jo 20,19-31) nos apresenta o primeiro encontro de Jesus com os seus discípulos, após a paixão e a morte na cruz. Apenas o “discípulo amado” havia permanecido aos pés da cruz, com as santas mulheres, conforme o relato joanino da Paixão. Contudo, depois de ter sido traído e abandonado, Jesus Ressuscitado reencontra os seus discípulos, desejando-lhes a paz, transmitindo-lhes o dom do Espírito e a missão de perdoar. Ao invés de cobrar explicações ou de condenar, Jesus lhes oferece a paz e propõe o perdão.

O texto meditado ressalta a figura do apóstolo Tomé. Ele não estava na comunidade dos discípulos, quando o Senhor se colocou no meio deles, e nem acreditou no testemunho dado por eles. Por isso, não foi capaz de fazer a experiência do encontro com o Ressuscitado. Num segundo momento, estando novamente com os discípulos, ele encontrou Jesus. Numa atitude de fé, Tomé se prostrou diante dele, proclamando: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). O Evangelho nos mostra, assim, a importância de estar na comunidade dos discípulos, a Igreja, para encontrar Jesus Ressuscitado e alimentar a fé.

Os Atos dos Apóstolos (At 2,42-47) nos descreve como era a vida da primeira comunidade cristã. “Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações”, e partilhavam os seus bens.  Hoje, cada comunidade é chamada a viver assim, para ser reconhecida, de fato, como comunidade cristã.

Continuemos a rezar pela superação da pandemia no Brasil e no mundo, lembrando-nos, de modo especial, dos enfermos e das pessoas falecidas, dos seus familiares e de todos os que estão a serviço dos doentes nas casas e nos hospitais, aos quais expressamos a nossa profunda gratidão. Sejamos testemunhas da esperança e da caridade, sendo mais fraternos e solidários com os que mais sofrem.

Bom dia... 18/04/2020


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Igreja e fiéis em tempos de Covid-19.




N
os momentos de dificuldades, os fiéis católicos procuram uma orientação espiritual com o padre de sua paróquia, mas a pandemia do corona vírus obrigou a Igreja Católica  a suspender as celebrações e atendimentos ao público, evitando aglomerações que possam propagar o vírus.

Na doutrina da Igreja Católica, postula-se que o ser humano possui duas luzes que orientam a inteligência: a luz natural da razão e a luz sobrenatural da fé, de tal forma que uma não pode contradizer a outra.

Muitos fiéis que questionam o fechamento das igrejas, alegando que em outros períodos de doenças infecciosas, a Igreja não fechou suas portas, ignoram que as formas de contágio dessas doenças eram desconhecidas. Hoje, com a pandemia do Covid-19, as autoridades eclesiásticas reconhecem que manter as igrejas abertas, pode expor os fiéis a um contágio desnecessário.

Mas, apesar de não realizar celebrações abertas ao público, a Igreja Católica realiza, através das emissoras de rádio e televisão católicas e das redes sociais de suas Pastorais de Comunicação (PASCOM), transmissões das Missas e programas religiosos, como formas de não perder o contato com os fiéis.

As Paróquias tem procurado manter seus fiéis atualizados com o que acontece na Igreja através de suas redes sociais e acolhido os pedidos de orações de seus fiéis. Isso ficou evidente pelo próprio Papa Francisco, que rezou sozinho, na praça da Basílica de São Pedro, pelo fim da epidemia corona vírus. O ato foi transmitido ao vivo pelas redes católicas de televisão e retransmitido pela internet através das redes sociais das Pastorais de Comunicação (PASCOM) das Arquidioceses, Dioceses e Paróquias.

Mesmo nesse tempo da pandemia a Igreja Católica continua a administrar os sacramentos, principalmente para aquelas pessoas que estão em risco de morte. Quanto às outras, as autoridades eclesiásticas pedem cautela, e orientam os fiéis para intensificarem as orações em família e aumentem a confiança em Deus. Nas Paróquias, os padres - que não estão inseridos nos grupos de riscos - se mantêm disponíveis para atender à população, quando for estritamente indispensável, mas tomando os cuidados necessários, já que devido ao atendimento pastoral, também podem se contagiar e transmitir a Covid-19 aos outros.

Esse período de pandemia deve ser entendido como uma forma de recolhimento espiritual, mesmo sem padres, os fiéis devem viver a vida cristã, deixando o Espírito Santo suscitar no fundo da sua alma e vivenciar Jesus Cristo Ressuscitado, orando em família e aproveitar para reaproximar seus lares de uma forma mais presente e concreta na fé.

Bom dia... 15/04/2020


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Domingo de Páscoa de alegria e tristeza!




E
ste Domingo de Páscoa foi um misto de alegria e tristeza para mim, e certamente para muitos fiéis católicos. Alegria pela Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, do triunfo da graça sobre o pecado, da luz sobre as trevas, da vida sobre a morte. Mas do outro lado, triste por não poder participar fisicamente das Celebrações das últimas semanas da Quaresma (quando as igrejas fecharam) até a Ressurreição do Senhor, devido ao distanciamento social ordenado pelas autoridades públicas, em virtude da pandemia do Covid-19.

Apesar do excelente trabalho realizado pelas emissoras católicas e da PASCOM da Arquidiocese de Maceió e das diversas Paroquias, que não mediram esforços para nos levar, através das redes sociais, as celebrações realizadas com as igrejas vazias, a nossa ausência das celebrações na igreja, nos deixou carente, principalmente nós, que participamos ativamente das celebrações, servindo ao Senhor através da Equipe de Liturgia da nossa Paróquia.

Nosso arcebispo metropolitano de Maceió, Dom Antônio Muniz Fernandes, acolhendo orientações das autoridades-sanitárias e do Governo do Estado de Alagoas e da Prefeitura de Maceió, acatou a suspensão das celebrações presenciais, recomendando o fechamento das igrejas. A partir daí, as igrejas e a própria arquidiocese começaram a utilizar os sites e as redes sociais para se comunicarem com os fiéis durante o isolamento.

A igreja é um serviço essencial pelo apoio religioso que oferece num momento tão delicado e é durante as crises que as pessoas mais precisam de aconselhamento e apoio espiritual e as igrejas fazem esse papel melhor do que o Estado, mas diante da proibição de realizar missas, os fiéis que necessitar de atendimento espiritual, terá dificuldades em ser atendido.

Não se enganem, os que mais sofrem com esse distanciamento social são os padres. Acostumados as celebrações com assembleia, a maioria lotada e os constantes atendimentos aos fiéis, hoje, os que ainda possuem os recursos necessários para uma transmissão pelas redes sociais, tem que se contentar com o contato virtual, que convenhamos, não é a mesma coisa, não tem o calor humano como se tem no atendimento presencial.

Com as igrejas fechadas nessa pandemia de Covid-19, as doações diminuíram, mas os compromissos financeiros mensais fixos, não foram reduzidos e as igrejas precisam honrar com os pagamentos de água, energia, telefonia, internet, funcionários, manutenção predial, etc. Daí a necessidade de os fiéis procurarem o pároco ou administrador paroquial da sua Paróquia e ajudar financeiramente, pois quem ama sua igreja, contribui financeiramente, dentro das suas possibilidades.

Peço a Deus que essa pandemia termine logo, que as igrejas sejam reabertas e que possamos estar fisicamente participando da Missa e recebendo presencialmente a Santa Eucaristia. Imagino que os nossos padres vão ter que aumentar o número de Missas, pois depois de tanto tempo sem poder participar presencialmente da Santa Eucaristia na igreja, os fiéis certamente irão, numa demanda maior que a capacidade de acolhimento da igreja.

Enquanto as igrejas não reabrem para seus fiéis participarem das celebrações, façamos de nossas casas uma igreja viva, com a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, e acompanhemos as emissoras de rádio e televisão católica e as redes sociais da PASCOM da nossa Arquidiocese e das paróquias.

Bom dia... 13/04/2020


sábado, 11 de abril de 2020

Reflexão Litúrgica do Domingo de Páscoa - Ressurreição do Senhor.




Dom Fernando Antônio Figueiredo
Bispo Emérito de Santo Amaro - SP

E
ntre os Apóstolos e discípulos do Mestre reinava o desalento. Teria sido Ele abandonado por Deus? Por que, tão jovem e portador de esperança para tantas pessoas, teria Ele sido submetido a uma morte tão desonrosa? Alguns deles, desiludidos, deixavam a cidade de Jerusalém, retornando às suas vilas. Seria Ele de fato o Messias esperado? O que fazer? A derrota era irremediável, seus sonhos de glória caíam por terra e um profundo amargor buscava dominar seus corações.

Eis que no primeiro dia da semana, bem cedo, Maria Madalena vai ao túmulo de Jesus. O sol não tinha ainda raiado. Mas sua luz bruxuleante permitia-lhes notar que algo tinha acontecido: a pedra tinha sido removida. Ela e as mulheres, que a acompanhavam, buscam ver dentro do sepulcro e notam que ele estava vazio. Admirada, talvez assustada, Maria corre até Simão Pedro e ao outro discípulo, que céleres se dirigem ao túmulo. João vai mais rápido, por causa de sua juventude, também, segundo alguns S. Padres, “pelo zelo de seu amor”. Eles fariam a verificação “oficial” do túmulo vazio. João chegou ao sepulcro por primeiro. Como as mulheres, ele olhou para dentro do sepulcro, mas não entrou. Espera por Pedro, sinal de notável deferência, sinal de reconhecimento do primado do Apóstolo Pedro. Este ao chegar, levado por seu temperamento impetuoso, entra imediatamente, “vê os panos de linho por terra e o sudário que cobrira a cabeça de Jesus”.

“Então, entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: e viu e creu”. A Pedro, cabe a precedência, a João, o discípulo amado, a fé. É o despontar da fé na ressurreição do Senhor, não como simples retomada da vida anterior, assim foi a de Lázaro, mas como a entrada definitiva do Senhor na Vida, onde a morte não encontra lugar. Diante das palavras de Jesus ressuscitado: “Sou eu mesmo”, as dúvidas dos Apóstolos desaparecem, mas também pelo fato de eles estarem reunidos e Ele, aparecendo, pede-lhes do que comer, e a Tomé Ele manda tocar as chagas de suas mãos e de seu peito. A fé não é fruto de sensações subjetivas, pois perante os Apóstolos está Jesus ressuscitado, que os conduz ao reconhecimento de sua forma mais elevada de existência. Ele aparecia e desaparecia de modo repentino, algumas vezes estando eles reunidos com as portas fechadas. Admirados, contemplavam sua corporeidade transfigurada, melhor, contemplavam-no em sua realidade divina. Não mais sujeita aos limites e barreiras da natureza humana.

Também nós, felizes e admirados, louvamos essa sua presença, pois o que não é possível a Deus, a morte, foi ela assumida por Cristo, o Filho de Deus e o que não é possível a nós, a vida eterna, foi-nos concedida por Cristo em sua Ressurreição. Proclama S. João Crisóstomo: “Ninguém se aflija com a própria nulidade, porque se estabeleceu um reino aberto a todos. Ninguém chore pelos próprios pecados, porque o perdão emergiu do túmulo. Ninguém mais tenha medo da morte, porque dela nos livrou a morte do Salvador: prisioneiro da morte, Ele a sufocou, tendo descido aos infernos, submeteu os infernos. Morte, onde está o teu aguilhão? Infernos, onde está a vossa vitória? Cristo ressuscitou, e vós estais revoltos; Cristo ressuscitou, e os demônios estão aniquilados, Cristo ressuscitou, e os anjos rejubilam; Cristo ressuscitou, e a vida está coroada”.

Bom dia... 11/04/2020


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Sexta-feira Santa - Paixão e Morte do Salvador.




N
a Sexta-feira Santa, recorda-se a Paixão e morte do Salvador. Todas as funções deste dia estão repassadas de luto pesado, pois é dia consagrado ao memorial da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Os paramentos negros. A omissão do Dominus vobiscum. A falta de instrumentos de música. Nenhum toque de sinos. O altar, frio e despido. Desocupado e aberto, o tabernáculo. Na frente dele, uma cruz com véu negro. Nos candelabros, há velas de cera amarela como nos dias de funerais. Em tudo reina a tristeza, a desolação profunda.

Para a Igreja, é um dia de grande silêncio, oração, penitência, sobretudo jejum e abstinência de carne. Nesse dia não há ofertório e nem consagração, mas faz-se a comunhão eucarística.

A celebração da Paixão do Senhor é constituída de três partes: A liturgia da palavra, a adoração da cruz e a comunhão eucarística.

LITURGIA DA PALAVRA
Às três horas da tarde inicia-se a celebração da Paixão do Senhor. O celebrante e os ministros sagrados são paramentados de preto em sinal de grande luto. Chegando ao pé do altar, prostram-se, e rezam em silêncio por alguns instantes. Esta atitude humilde é a expressão da mágoa imensa que lhes acabrunha a alma com a evocação do grande mistério do Calvário. Durante este tempo, estende-se no altar uma só toalha, recordando o Sudário que serviu para envolver o Corpo de Nosso Senhor. Então, o sacerdote sobe os degraus do altar e oscula-o. Estando todos sentados, são feitas as duas primeiras leituras com o respectivo salmo. Logo a seguir, é cantada a Paixão segundo São João, da mesma forma que foi feito no domingo de Ramos. Quando chega na parte em que diz que Nosso Senhor entregou o seu espírito, todos ajoelham-se, e ficam assim por alguns instantes.

Canta-se a Paixão de Jesus Cristo segundo o evangelho de São João, porque ele é o quarto evangelista e porque, ficando debaixo da cruz, foi testemunha ocular da crucificação. Por isso convém que seja ouvido neste dia.

Durante muitos séculos, os fiéis procuravam, nesse dia, não fazer barulho e, especialmente, evitavam bater em algo, evitando a sensação daquele ruído terrível do martelo cravando Jesus na Cruz. Nada de canto, de música, de sinais de alegria, de recreação. Trabalhava-se o mínimo possível, só naquilo que era de extrema necessidade. O tempo era para oração, leitura, meditação, avaliação da vida, partilha do sofrimento de Jesus.

ORAÇÃO UNIVERSAL
Acabado o canto da paixão, começa o celebrante as Orações conhecidas por Admoestações porque o prelúdio consta, para cada uma, de advertência, a modo de prefácio em que o sacerdote diz o objeto da prece a seguir. São nove estas orações, e alguns julgam ser de origem apostólica. O celebrante reza:

1º - Pela Santa Igreja;
2º - Pelo papa;
3º - Por todas as ordens e categorias de fiéis;
4º - Pelos catecúmenos;
5º - Pela unidade dos cristãos;
6º - Pelos judeus;
7º - Pelos que não creem em Cristo;
8º - Pelos que não creem em Deus;
9º - Pelos poderes públicos;
10º - Por todos os que sofrem provações.

A Igreja reza nessas rogações, pelos que nunca pertenceram ou já não pertencem ao seu grêmio. O motivo é para não esquecermos que o Salvador morreu por todos os homens, e para implorar em benefício de todos, os frutos da sua Paixão.

Entre cada uma das orações que são feitas, o diácono diz: Flectamus genua. Então todos se ajoelham por alguns instantes, e rezam em silêncio, até que o mesmo diácono diz: Levate, então todos se levantam.

ADORAÇÃO DA SANTA CRUZ
Na sexta-feira santa adora-se solenemente a Cruz, porque, tendo sido Jesus Cristo pregado na Cruz, e tendo morrido nela naquele dia, a santificou com o seu Sangue.

A cerimônia da adoração da cruz tem a sua origem na veneração da verdadeira cruz conservada em Jerusalém, por volta do século IV. A cruz se colocava numa mesa coberta com um pano branco. Os fiéis veneram-na, tocam-na com a fronte e os olhos; não o podiam fazer com a mão nem com a boca. Pois um devoto arrancou com os dentes uma relíquia da Santa Cruz. Agora a imagem do Crucificado é colocada sobre um pano roxo estendido nos degraus do altar ou do coro.

EIS O RITO: O celebrante tira a casula e, ficando ao pé do altar, descobre o alto da cruz e canta: "Ecce lignum Crucis" (Eis o lenho da Cruz, - do qual pendeu a salvação do mundo). Os ministros que lhe assistem, continuam com ele: "Venite, adoremus" (Vinde adoremo-lo). Ao mesmo tempo, prostram-se todos. O celebrante, não. Este, depois, vai para o lado direito do altar; descobre o braço direito da cruz, mostrando-o, e repete em tom mais elevado: "Ecce lignum Crucis", etc. Enfim, alcançou o meio do altar. Descobre completamente a cruz, e, ergue-a e canta, terceira vez, em tom ainda mais alto: "Ecce lignum Crucis", etc. Então, o oficiante deposita a cruz nos degraus do altar, para que seja adorada por todos os clérigos e fiéis presentes. O canto: Ecce lignum Crucis é usado desde o século IX-X.

É desnudada a cruz lembrando que os judeus desnudaram o Filho de Deus. Esta impressionante cerimônia se faz em três atos para significar três atos principais de irrisão cruel da vítima da sanha judaica:

1º Quando, no átrio do sumo sacerdote, cobriram a santa face de Nosso Senhor, e lhe deram bofetadas. Por isso a primeira vez não se descobre a santa face do crucifixo (Lc 23, 64).

2º Quando o Rei da glória, coroado de espinhos, foi escarnecido pelos soldados com genuflexão e as palavras: "Ave, rei dos Judeus". Por isso na segunda vez se mostra a santa cabeça e a santa face do Rei do universo (Mt 27, 27-30).

3º Quando o Filho do Todo-poderoso, despojado dos seus vestidos, estava crucificado e foi insultado com a blasfêmia: "Ah! Tu podes destruir o templo e outra vez o edificar; salva-te!" Por isso, na terceira vez o crucifixo se mostra todo descoberto (Mt 27, 40).

Durante a adoração da Cruz, cantam-se as antífonas chamadas "Impropérios" (do latim improperium, que quer dizer "censura"), porque encerram repreensões dirigidas aos judeus pela voz dos profetas. Cada antífona destas enumera um determinado benefício de Deus, a favor do povo judaico, e põe em face a correspondente ingratidão do mesmo povo.

MISSA DOS PRESSANTIFICADOS
Antigamente chamava-se essa terceira parte da celebração da Paixão do Senhor, "Missa dos Pressantificados":

1 - Missa. Na verdade, não é muito próprio o termo, pois não há consagração e, portanto, sacrifício. Deram-lhe, no entanto, este nome, porque repete certo número dos ritos da missa.

2 - Dos Pressantificados. Por causa da Santíssima Hóstia, consagrada na Missa da Quinta-Feira Santa. O vocábulo Pressantificados significa, pois, dons santificados, consagrados previamente.

Estando a acabar a Adoração da Cruz, acendem-se as velas do altar e vai-se, em silêncio, em procissão, à capela aonde se encontram as hóstias consagradas. Voltam, trazendo a Santa Reserva, com o canto, não já do Pange língua que é hino de júbilo, mas do Vexilla Regis, que é o hino da Cruz.

Quando a procissão regressou, o Celebrante coloca sobre o altar o Santíssimo Sacramento. Depois, diz Orate frates, etc.; mas ninguém responde, e logo vem o Pater com o respectivo prefácio. Então, ergue na patena a Sagrada Hóstia, para os assistentes adorarem. Faz a fração como na missa ordinária, diz a terceira oração antes da comunhão e o "Domine non sum dignus". Finalmente, comunga, toma as abluções e retira-se em silêncio. Recitam-se agora as Vésperas, sem canto, sem luzes, querendo mostrar, com isso, que se apagou, morrendo na cruz, a luz do mundo, Nosso Senhor Jesus Cristo.

O celebrante diz: In spiritu humilitatis... et sic fiat sacrificium. Nesta oração a palavra "sacrificium" significa hoje o sacrifício espiritual da penitência (Sl 50). Por isso, o celebrante pode dizer: "Orate frates... ut meum sacrificium (de penitentia)..." Mas o povo não pode responder: "Suscipiat... de manibus tuis", porquanto estas palavras significam o sacrifício sacramental, o qual não se oferece.

O celebrante não diz: Pax Domini, nem a primeira oração antes da comunhão, porque não se dá a paz no dia em que Nosso Senhor foi repelido pelos judeus inimigos com o grito: "Não temos rei".

O celebrante não reza: "Haec commixtio", nem a segunda antes da comunhão, nem Quid retribuam, Corpus tuum, Placeat, porque nestas orações se menciona ou o Santíssimo Sangue, que não está no altar, ou o sacrifício eucarístico, que não se oferece.

O celebrante não diz: Dominus vobiscum, porque o único sacerdote, Jesus Cristo, foi morto e não pode mais falar, e não está mais conosco.

Bom dia... 09/04/2020


quarta-feira, 8 de abril de 2020

MISSA CRISMAL - Missa do Crisma, Santos Óleos e da Renovação das Promessas Sacerdotais.




Pe. Henry Vargas Holguín
aleteia.org

A
 missa crismal, presidida pelo bispo e concelebrada pelos presbíteros da diocese, é a celebração na qual se consagra o santo crisma (daqui vem o nome de “missa crismal”) e se abençoa também os demais óleos (que serão usados nos enfermos e batismos).

A palavra “crisma” vem do latim “chrisma”, que significa “unção”. O crisma é a matéria sacramental com a qual são ungidos os novos batizados, os que recebem a Confirmação e os sacerdotes e bispos em sua ordenação, entre outras funções.

A consagração do crisma e a bênção dos outros óleos é considerada como uma das principais manifestações da plenitude sacerdotal do bispo.

Em geral, esta missa é celebrada na catedral de cada diocese, na Quinta-Feira Santa. Mas, por razões de conveniência pastoral, pode ser adiantada para outro dia da Semana Santa.

Tê-la fixado na Quinta-Feira Santa não se deve ao fato de esse ser o dia da instituição da Eucaristia, mas sobretudo a uma razão prática: poder dispor dos santos óleos, especialmente do óleo dos catecúmenos e do santo crisma, para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã durante a vigília pascal.

Então, o santo crisma, ou seja, o óleo fundamental que representa o próprio Espírito Santo, nos é dado, junto com seus carismas, no dia do nosso Batismo, da nossa Confirmação e na ordenação dos sacerdotes e bispos.

A matéria apta para o sacramento deve ser o azeite de oliva. O crisma é preparado com óleo e aromas ou matéria olorosa.

É conveniente recordar que o santo crisma não é o mesmo óleo dos catecúmenos e dos doentes (que são apenas abençoados, e isso pode ser feito por outros ministros, não sacerdotes, em alguns casos).

O rito da missa crismal inclui a renovação das promessas sacerdotais. Após a homilia, o bispo convida seus sacerdotes a renovar sua consagração e dedicação a Cristo e à Igreja. Juntos, prometem solenemente unir-se mais a Cristo, ser ministros fiéis dele, ensinar e oferecer o santo sacrifício em seu nome, bem como conduzir outros a Ele.

Portanto, outro tema importante da missa crismal é o sacerdócio. Ao entregar o mistério da Eucaristia à Igreja, Jesus também instituiu o sacerdócio.

Os textos da missa apresentam um conjunto catequético não somente sobre o sacerdócio ministerial, mas também no relativo ao sacerdócio geral dos fiéis. Desde a antífona de entrada, a assembleia aclama que Jesus Cristo nos tornou um reino e nos fez sacerdotes de Deus, seu Pai.

Na missa crismal, não se recita o Credo. Após a renovação das promessas sacerdotais, os óleos são levados em procissão ao altar, onde o bispo pode prepará-los, se já não estiverem prontos. Em último lugar, leva-se o santo crisma, portado por um diácono ou presbítero. Depois dos óleos, são levados o pão, o vinho e a água para a Eucaristia.

Depois do “Santo”, são abençoados o óleo dos doentes e, após a oração depois da comunhão, abençoa-se o óleo dos catecúmenos e se consagra o santo crisma.

Bom dia... 08/04/2020


sábado, 4 de abril de 2020

Reflexão Litúrgica do Domingo de Ramos – Entrada em Jerusalém!



Dom Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Bispo Emérito de Santo Amaro - SP

N
a abertura da Semana Santa, a entrada de Jesus na cidade santa constitui o ponto alto da sua subida à cidade de Jerusalém. Lá já se encontrava uma multidão, Judeus provenientes de todos os lugares, peregrinos da Diáspora, e os “tementes de Deus”, estrangeiros ainda não circuncidados; o vozerio era enorme e muitos, que tinham ouvido falar dele, queriam vê-lo. Interrogações e incertezas vinham à mente dos Apóstolos, que recordavam as palavras do Mestre, preparando-os para sua morte. Porém, aquele momento, deliberadamente, organizado por Jesus, que caminhava à frente da procissão dos “Ramos”, dava-lhes ocasião de confirmar ser Ele o Messias, ao menos, o Rei do reino iminente. Mesmo extasiados diante de sua glória, eles não deixavam de reconhecer a humildade de servo sofredor, manifestada na escolha de sua montaria, um simples asno, alusão ao texto de Zacarias (9,9s), símbolo de humildade e de paz. Evidencia-se o triunfo da misericórdia divina, mais do que a justiça.

O mensageiro da paz avança, rodeado pelos habitantes de Betânia e pelos peregrinos de Jerusalém, que estendiam seus mantos e cobriam com ramos de oliveira o caminho por onde Ele devia passar. Todos exultavam de alegria e, como as crianças, corriam atrás dele, balouçando folhas de palmeiras. No seu silêncio, o burrico torna-se falante, adverte-os do orgulho e da ganância, e indica-lhes o caminho a ser trilhado para se chegar à paz e ao amor: a humildade e a simplicidade.

As dúvidas dos Apóstolos e dos seguidores de Jesus sobre quem é Ele desaparecem: Ele é o Messias, anunciado pelos profetas, preparado pelas Escrituras e desejado por todas as nações; Ele é o Mediador, em que se realiza “uma Aliança bem melhor” (Hb 8,6), a mais excelente e definitiva; Ele é o arauto do Reino, presente nele e por Ele, como jamais se tinha dado na história, pois, no dizer de S. Agostinho, “Ele não perde a divindade, quando nos ensina a humildade”.

O dia declina e, ao lado das muralhas, os Apóstolos se lembram das lágrimas do Mestre sobre a cidade de Jerusalém, ao dizer: “Se ao menos hoje também tu visses o caminho da paz”. Convite feito a todos os homens, convidando-os a imitar os que lhe foram fiéis, não para estenderem mantos aos seus pés, mas para acolhê-lo em seus corações. Unidos a eles, também nossos lábios se abrem e “aclamamos todos os dias, juntamente com as crianças, as santas palavras: Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor!” (S. André de Creta).

Bom dia... 04/04/2020


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Um "Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor" diferente!


E
stamos próximos da FESTA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR, data maior para todo cristão. No próximo domingo (05/abril), entraremos na SEMANA SANTA celebrando o DOMINGO DE RAMOS.

É o “DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR”. Nele, a liturgia nos relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se entregou ao Pai como vítima perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão do pecado e da morte.

Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele vivo e vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: “Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl 2, 11).

É importante que nos lembremos que ainda mais importante do que o Natal, é a Páscoa do Senhor, como nos fala São Paulo: “Se Cristo não tivesse ressuscitado, vã seria a nossa fé” (I Cor 15, 14). Portanto, devemos nos esforçar nesses últimos dias que antecedem à Páscoa a vivermos de uma forma mais contrita, procurando vivenciar os nossos valores, principalmente o da oração de casal.

Lamentavelmente, em virtude da pandemia do Covid-19 - das orientações das autoridades-sanitárias e do Governo do Estado, não vamos participar como de costume - na Igreja da nossa Paróquia, da SANTA MISSA DE RAMOS, mas a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, nos orienta a viver de forma especial o DOMINGO DE RAMOS em nossas casas, celebrando com fé e esperança, pedindo a graça de bem viver a SEMANA SANTA, participando das celebrações transmitidas pela televisão ou pelas redes sociais católicas.

A CNBB também nos orienta a colocar no portão ou na porta de casa (em lugar bem visível) alguns ramos. Marcar a casa é uma característica do povo de Deus. Devemos ainda, comprometer-se a, no futuro, participar ativamente da Coleta da Campanha da Fraternidade. Com ela, ajudamos os mais pobres. É preciso, motivar pelas redes sociais, telefonemas ou outros meios, outras pessoas a também celebrarem o DOMINGO DE RAMOS desse mesmo modo.

Será um DOMINGO DE RAMOS diferente, mas precisamos participar - mesmo em casa, mantendo a tradição litúrgica e colocar em nossas casas um ramo, para darmos "Hosana ao Filho de Davi".

Bom dia... 01/04/2020