sábado, 29 de janeiro de 2022

Reflexão Litúrgica do IV Domingo do Tempo Comum - 30/01/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília

“A ABSOLUTA LIBERDADE DE JESUS”

S

ão Lucas nos apresenta, neste quarto domingo comum, a rejeição que Jesus sofre, na vila de Nazaré, onde tinha sido criado (Lc 4, 21-30). A atitude com relação a Ele vai da admiração por parte dos presentes na sinagoga (Lc 4, 20) até a atitude de rejeição, de endurecimento.

Jesus estava na sinagoga da sua vila. A primeira parte da narrativa mostra a admiração que Jesus causa, na sinagoga, quando lê o profeta Isaías. Ao término, “todos tinham os olhos fixos Nele” (Lc 4, 20). Porém, a cena passa da admiração à rejeição. Jesus é o derradeiro profeta que participa da sorte dos antigos profetas que, também, foram rejeitados: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4, 24). Jesus cita, na sinagoga da sua cidade, o exemplo de Elias e Eliseu, que não foram enviados à casa de Israel, mas a estrangeiros: Elias a uma viúva, em Sarepta, na região da Sidônia; e Eliseu purificou a Naamã, que era um sírio. Diante destas palavras, todos na sinagoga se enfurecem e O conduzem a uma colina, com a intenção de precipitá-Lo lá de cima.

O povo de Nazaré espera muito de Jesus, tenta quase prendê-Lo. Todos estão ali ouvindo e procurando envolvê-Lo em suas expectativas.  São as expectativas que o quadro restrito de uma vila – um pouco de trabalho, um pouco de comércio – podia oferecer. Lendo estas expectativas, à luz da história da Igreja primitiva, pode-se entrever a ânsia de apoderar-se do profeta, de fazer dele objeto de glória do povoado e, talvez, até de um pouco de ganho material: no fundo, se começar a fazer alguns milagres, o povo virá, e se vai ganhar algum dinheiro. Talvez haja um pouco de raiva, pois Ele não começou os milagres ali, mas em Cafarnaum. “As coisas que fizeste em Cafarnaum faze-o também em tua pátria” (v. 23). Jesus está sob a ameaça de uma captura, de uma tentativa de adaptar o que Ele diz às expectativas, às necessidades, para ter sucesso e, depois, ser rapidamente encaixado em toda aquela pequena série de interesses que formam o tecido social da pequena aldeia.

De outro lado, emerge a extrema liberdade de Jesus que, sem se preocupar com o sucesso, com o que lhe poderia acontecer, com a má fama que aquele primeiro encontro poderia espalhar pelos povoados vizinhos, sem se preocupar com as pessoas que não irão mais procurá-Lo, fala livremente. Mais ainda: parece até provocar as pessoas de Nazaré lembrando-lhes que existem outros confins, outros horizontes, outros interesses do Reino de Deus muito mais vastos.

“Ele, porém, passando pelo meio deles, prosseguia o seu caminho” (Lc 4, 30). Jesus aparece aqui como o Evangelizador dotado de absoluta liberdade de espírito. Esta liberdade Lhe dá uma estatura profética totalmente fora daquela de um pequeno pregador de aldeia. Ele tem a estatura de quem conduz a Si mesmo e Sua liberdade para o mundo, porque tem diante de si os horizontes de Deus.

Esta absoluta liberdade de Jesus, o Filho de Deus, deve nos questionar hoje: o seguimento a Jesus Cristo, o encontro com a Sua Palavra, está nos tornando verdadeiramente livres?

Bom dia... 29/01/2022

 


sábado, 22 de janeiro de 2022

Reflexão do III Domingo do Tempo Comum - 23/01/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília

Jesus e a Escritura de Israel

A

 palavra de Deus, deste terceiro Domingo do Tempo Comum, coloca diante de nós, a centralidade da Palavra de Deus. Na primeira leitura, a Lei é lida diante do povo e este renova a sua aliança com Deus (Ne 8, 2-4. 5-6. 8-10). No Evangelho, tem- se a introdução do Evangelho de São Lucas (Lc 1, 1-4), onde o evangelista mostra que o Evangelho nasce da pesquisa, da averiguação dos fatos. A idéia de iniciar a sua obra com um prólogo é sugestiva. O autor quer colocar o seu escrito no mesmo nível dos outros escritos literários da época e mostrar que o seu conteúdo não é reservado a um pequeno grupo de iniciados, mas possui um valor universal: a história de Jesus pertence à história do mundo e tem algo a dizer aos homens do mundo greco–romano (G. Rossé, Il vangelo di Luca, 33).  O Evangelho nasce de fatos históricos, da verdade sobre Jesus Cristo.

Na segunda parte, tem-se Jesus na sinagoga de Nazaré (Lc 4, 14-21). Nazaré é sua terra natal, lugar onde todos o conhecem, o viram crescer, tem relação com a sua família. A sinagoga é o lugar da leitura da Palavra de Deus. Os Judeus se reuniam na sinagoga todos os sábados para ouvirem a leitura da Palavra. A sinagoga era casa da Palavra. Em tantos outros momentos encontramos Jesus na sinagoga. O texto salienta: “segundo o seu costume”. Em Nazaré, Jesus desde a sua Juventude tinha frequentado regularmente o serviço litúrgico sinagogal todos os sábados e dias festivos. Jesus tinha uma grande familiaridade com as Escrituras do seu Povo. Jesus conhece as Escrituras, as cita, as manda colocar em prática. “Segundo o seu costume” coloca em luz a fidelidade de Jesus a religião do seu povo, nos mostra que a fé cristã não nasceu de um aventureiro, mas de um representante do autêntico Israel, no qual o fruto chegou à maturidade.

Esta familiaridade de Jesus com as Escrituras de Israel, deve inspirar o nosso caminho de discípulos missionários hoje. É fundamental este contato diário com a Palavra de Deus. A Constituição sobre a Revelação do Vat. II, Dei Verbum, n. 25 nos alerta: “… é necessário que nos consagremos ao ministério da Palavra, nos apegarmos às Escrituras por meio de assídua leitura sacra e diligente estudo, para que não venha a ser “vão pregador da Palavra de Deus externamente quem não a escuta interiormente”. A Escritura é Deus presente que me interpela. Escutando a sua Palavra “é como se víssemos a sua própria boca” (São Gregório Magno). “A Escritura é a mesa de Cristo… a qual nos alimentamos, compreendemos aquilo que devemos amar, desejar e em que ter os olhos fixos” (Alcuino). Não existe verdadeiro discipulado de Jesus sem um verdadeiro e autêntico contato com a Palavra de Deus.

Na sinagoga de Nazaré, Jesus proclama o profeta Isaias: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com uma unção para anunciar a Boa Nova aos pobres; para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Jesus é o grande Evangelizador, O Pai o Ungiu com o Espírito Santo e o enviou para Evangelizar, para proclamar a Boa Nova. Todos os membros da Igreja participam, a seu modo, na missão evangelizadora de Cristo. Daqui nasce a corresponsabilidade de cada batizado em assumir a ação Evangelizadora, o anúncio e o testemunho de Jesus Cristo.

Bom dia... 22/01/2022

 


sábado, 15 de janeiro de 2022

Reflexão do II Domingo do Tempo Comum - 16/01/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília

“FAZEI TUDO O QUE

ELE VOS DISSER”

A

 Palavra de Deus, no Evangelho deste domingo, nos faz olhar para o mistério de Maria, nesta bela narrativa das Bodas de Caná (Jo 2, 1-11). Uma festa de casamento onde está presente a Mãe de Jesus, Jesus e seus discípulos. Nesta festa, o vinho vem a faltar. O vinho significa os tempos messiânicos, os bens messiânicos. A mãe de Jesus lhe diz: “Eles não têm mais vinho”. Jesus responde: “Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou”. A hora de Jesus é o momento da sua morte, da sua entrega na cruz. O Evangelho de São João é voltado para essa hora. É o momento da glorificação do Filho do Homem. Maria diz aos servos: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Ela aponta para os servos a vontade do Filho. Os servos, nesta cena, são descritos com a palavra grega diakonos. Diakonos significa o discípulo. Ela, nesta cena, nos aponta a vontade do Filho, mas onde está contida a vontade do Filho? Onde encontrar a vontade do Filho? A vontade do Filho se encontra nas Escrituras, na Palavra de Deus, principalmente nos Evangelhos.

O papa Bento XVI, na Verbum Domini, n. 27 afirma que o mistério de Maria está intimamente ligado à Palavra de Deus.  “No nosso tempo, é preciso que os fiéis sejam ajudados a descobrir melhor a ligação entre Maria de Nazaré e a escuta crente da Palavra divina”. Maria foi a mulher que acolheu a Palavra, gerou a Palavra, viveu da Palavra de Deus. Olhando para ela, nossa Igreja Arquidiocesana quer ser uma Igreja fiel a este mandato de Maria. Para isso, o nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral se centra na Palavra de Deus.

Queremos que a palavra de Deus esteja no centro da vida de cada católico, de cada pastoral, de cada movimento, como já nos exorta a Verbum Domini, n. 73: “Nesta linha, o sínodo convidou a um esforço Pastoral particular para que a Palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que «se incremente a “pastoral bíblica”, não em justaposição com outras formas da pastoral, mas como animação bíblica da pastoral inteira». Não se trata simplesmente de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que Se comunica a nós na sua Palavra. Dado que «a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo», então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da Pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina”.

Parte-se da firme convicção de que a Palavra de Deus ouvida, acolhida, meditada, rezada formou no decorrer da história da salvação, homens e mulheres livres e operantes e que ela continuará a realizar esta mesma realidade hoje. Por isso, trabalhamos por uma Igreja centrada na Palavra, uma Igreja que escute a Palavra, a medite, a reze. Queremos que a Palavra de Deus continue a formar, hoje, o discípulo missionário, a comunidade eclesial missionária.

Bom dia... 15/01/2022

 


sábado, 8 de janeiro de 2022

BATISMO DO SENHOR

 Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília

JESUS, UNGIDO PELO ESPÍRITO

Hoje, celebramos a solenidade do batismo de Jesus. Jesus se submeteu ao rito batismal de João Batista e o Espírito desceu sobre Ele (Lc 3, 21-22). João Batista batizava no Jordão. O seu era um batismo para pecadores, aonde as pessoas iam a João Batista, confessavam seus pecados e eram submetidas a este rito penitencial. São Lucas apresenta o povo que recebeu o batismo e Jesus, também, foi batizado e achava-se em oração. É típico do Evangelho de São Lucas, nos momentos centrais do seu ministério, apresentar Jesus rezando.

O céu se abriu. O céu fechado simbolizava a separação entre Deus e os homens. Israel vivia uma secura de profetas, isto é, a falta da voz de Deus, do falar de Deus, da revelação de Deus. Agora, no Batismo de Jesus, o céu se abriu e Deus ungiu com o Espírito Santo o seu Filho Jesus. O Filho encarnado é ungido com o Espírito Santo e desenvolverá toda a sua missão na força do Espírito. Na cruz, entregará o Espírito e ressuscitado será doador do Espírito para os seus, para a Igreja. São João Crisóstomo, fazendo uma comparação entre a pomba no dilúvio e o Espírito, em forma de pomba que desce sobre Jesus, no batismo, afirma: “… a pomba não leva mais aos homens, hoje, um ramo de oliva, mas mostra-nos Aquele que deve liberar-nos de todos os males e nos faz antever grandes esperanças. Essa não faz sair da arca um homem só, destinado a repovoar a terra, mas quando aparece, atrai toda a terra ao céu e, no lugar do ramo de oliva, trás para todos os homens a adoção filial.”

Mas o Pai manifesta, no batismo, quem é Jesus: “Tu és o meu Filho, eu, hoje, te gerei!”. Jesus é o Filho que está no meio dos homens, que se tornou verdadeiramente solidário com os seres humanos. Deus verdadeiramente passou da nossa parte. Se o céu fechado indicava a ausência da Palavra de Deus, agora, Deus está no meio dos homens, se tornou um de nós. Nele não se encontrava pecado, mas ao se submeteu a este rito de João Batista que era um rito para pecadores, ele se solidarizou com os pecadores, mostrou que era exatamente para eles que ele tinha vindo, como ele mesmo dirá: “Não são os sãos que precisam de médico, mas os doentes, eu não vim chamar justos, mas pecadores”.

Celebrar o Batismo de Jesus deve nos fazer recordar do nosso batismo. Na primeira coleta da missa, assim se expressa a oração da Igreja: “Deus eterno e todo-poderoso, que sendo o Cristo batizado no Jordão, e pairando sobre ele o Espírito Santo, o declarastes solenemente vosso Filho, concedei aos vossos filhos adotivos renascidos da água e do Espírito Santo, perseverar constantemente em vosso amor”. Nós, que celebramos o batismo do Senhor, pedimos a graça de perseverar na vivência da nossa vocação batismal. É um dia em que somos chamados a recordar, com a memória agradecida, aquele momento na nossa vida em que fomos inseridos no mistério de Deus, nos tornando filhos de Deus e nos tornando membros da grande família dos filhos e filhas de Deus, a Igreja. O batismo nos inseriu na comunhão com Deus, diante do qual somos filhos e filhas, esta é a nossa identidade. Ganhamos uma grande família, a Igreja.

Bom dia... 08/01/2022

 


sábado, 1 de janeiro de 2022

REZEMOS NAS INTENÇÕES DO SANTO PADRE PARA 2022


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odos os anos, a Rede Mundial de Oração do Papa apresenta quais foram as intenções pensadas pelo Sumo Pontífice para aquele ano. Para 2022, o Santo Padre deseja que os fiéis, sobretudo aqueles ligados ao Apostolado da Oração, rezem por diversas intenções que vão dos que sofrem perseguições, passando pelas famílias e chegando as organizações que dispensam seu tempo para fazer o bem.

Abaixo você pode conferir quais serão as intenções para cada mês do ano de 2022 e acompanhar o Papa Francisco nesta rede de oração que congrega milhões de pessoas ao redor do mundo. Uma dica é colocar um lembrete no início de cada mês, no celular, para lembrar-se da intenção daquele período. Uma outra forma simples é deixar um pequeno papel na cabeceira da cama, no marca-páginas da Bíblia, na porta da geladeira… para poder lembrar de rezar com o Santo Padre.

JANEIRO - Educar para a fraternidade

Rezemos para que todas as pessoas que sofrem discriminações e perseguições religiosas encontrem nas sociedades onde vivem o reconhecimento dos próprios direitos e da dignidade que nasce de ser irmãos.

FEVEREIRO - Pelas religiosas e consagradas

Rezemos pelas religiosas e consagradas, agradecendo-lhes a sua missão e a sua coragem, para que continuem a encontrar novas respostas diante dos desafios do nosso tempo.

MARÇO - Pela resposta cristã aos desafios da bioética

Rezemos para que nós, cristãos, diante dos novos desafios da bioética, promovamos sempre a defesa da vida com a oração e a ação social.

ABRIL - Pelo pessoal de saúde

Rezemos para que o compromisso do pessoal de saúde na assistência às pessoas doentes e aos idosos, sobretudo nos países pobres, seja apoiado pelos governos e pelas comunidades locais.

MAIO - Pela fé dos jovens

Rezemos para que os jovens, chamados a uma vida em plenitude, descubram em Maria o estilo da escuta, a profundidade do discernimento, a coragem da fé e a dedicação ao serviço.

JUNHO - Pelas famílias

Rezemos pelas famílias cristãs de todo o mundo, para que com gestos concretos vivam a gratuidade do amor e a santidade na vida quotidiana.

JULHO - Pelos idosos

Rezemos pelos idosos, que representam as raízes e a memória de um povo, para que a sua experiência e a sua sabedoria ajudem os mais jovens a olhar o futuro com esperança e responsabilidade.

AGOSTO - Pelos pequenos e médios empreendedores

Rezemos para que os pequenos e médios empreendedores, atingidos fortemente pela crise econômica e social, encontrem os meios necessários para prosseguir com a própria atividade, ao serviço das comunidades onde vivem.

SETEMBRO - Pela abolição da pena de morte

Rezemos para que a pena de morte, que atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa, seja abolida nas leis de todos os países do mundo.

OUTUBRO - Por uma Igreja aberta a todos

Rezemos para que a Igreja, fiel ao Evangelho e corajosa no anúncio, seja um lugar de solidariedade, de fraternidade e de acolhimento, vivendo cada vez mais a sinodalidade.

NOVEMBRO - Pelas crianças que sofrem

Rezemos para que as crianças que sofrem – as que vivem na rua, as vítimas das guerras, os órfãos – possam ter acesso à educação e possam redescobrir o afeto de uma família.

DEZEMBRO - Pelas organizações de voluntariado

Rezemos para que as organizações de voluntariado e promoção humana encontrem pessoas desejosas de empenhar-se pelo bem comum e procurem caminhos sempre novos de colaboração a nível internacional.


Bom dia... 01/01/2022