sábado, 28 de setembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 26º Domingo do Tempo Comum - PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 Liturgia da Palavra continua a nos interpelar a respeito da nossa relação com os bens materiais, levando-nos a pensar como administramos, utilizamos e partilhamos os bens deste mundo, perante Lázaro.  A parábola narrada por S. Lucas (Lc 16,19-31) nos apresenta dois personagens: um homem rico que vivia luxuosamente, em meio a festas, e um pobre chamado Lázaro, que estava doente e com fome, sem conseguir nada da mesa do rico. Após a morte, enquanto o rico foi condenado, Lázaro foi “levado pelos anjos junto de Abraão” (Lc 16,22), isto é, mereceu um lugar de honra no banquete do Reino, juntando-se aos patriarcas e profetas. O rico não ouviu a Palavra de Deus anunciada por Moisés e os Profetas (Lc 16,31); não teve compaixão de Lázaro que estava a sua porta, morrendo aos poucos.

Dentre esses Profetas que não foram ouvidos pelo homem rico, está Amós, que denunciou os que viviam no luxo e não se preocupavam com os sofrimentos dos pobres, conforme o texto proclamado na primeira leitura (Am 6,1-7). A parábola se conclui com a referência aos cinco irmãos que permaneciam neste mundo e necessitavam ser advertidos para mudarem de atitude, a fim de não terem o triste fim daquele homem rico. Como fazer isso? “Ele tem Moisés e os Profetas, que os escutem!” (Lc 16,9), é a resposta dada.

Por isso, é preciso refletir sobre a nossa conduta diante dos bens materiais e, de modo especial, perante Lázaro, que representa os que sofrem com a miséria. Necessitamos de simplicidade de vida, ao invés do luxo e do consumismo; necessitamos da partilha e da justiça social, ao invés da acumulação egoísta de bens; necessitamos de compaixão e solidariedade, ao invés da indiferença perante os que mais sofrem. Os discípulos de Cristo devem testemunhar o amor ao próximo em ações concretas de compaixão e partilha. Lázaro interpela a todos nós!

Entretanto, devemos ser cristãos por inteiro. A atitude justa diante dos bens materiais não acontece isoladamente; depende do modo como vivemos o Evangelho. Trata-se de um fruto de uma vida de “homem de Deus”. S. Paulo, escrevendo a Timóteo (1Tm 6,11-16), traça um retrato do “homem de Deus” que cada discípulo de Cristo é chamado a ser. Dentre os seus traços, estão “a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza e mansidão”. O texto se conclui com um belo hino litúrgico apresentando Deus como o verdadeiro soberano, em contraste com os falsos deuses e com os títulos atribuídos aos reis e senhores deste mundo.

Neste Dia Nacional da Bíblia, escutemos mais atentamente a Palavra de Deus, recebendo-a como “Palavra da Salvação” e procurando discernir o que Deus quer de nós.

Bom dia... 28/09/2019


sábado, 21 de setembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 25º Domingo do Tempo Comum - DEUS OU O DINHEIRO?




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 parábola do administrador infiel (Lc 16,1-13) necessita ser bem compreendida para não se cair no erro de interpretá-la como favorável à desonestidade. O administrador é chamado a prestar contas da sua administração, pois estava sendo acusado de esbanjar os bens do proprietário. Ao final, ele foi elogiado, não por ser desonesto, mas “porque agiu com esperteza”. A sua atitude faz pensar que “os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz” (Lc 16,8). Diante dos problemas, não se pode ficar acomodado como mero expectador, mas agir com prontidão para superá-los. Diante dos bens materiais, a atitude deve ser a de administração prudente e responsável, ao invés de querer possuir sempre mais ou de obter bens de modo desonesto.

A parábola se completa com uma exortação a ser “fiel nas pequenas coisas” para ser “fiel também nas grandes”, pois quem é injusto nas pequenas coisas, será injusto também nas grandes. É comum as pessoas acharem que pequenas faltas não têm importância no dia a dia. Quando alguém se deixa levar pela infidelidade nas pequenas coisas, acabará caindo em infidelidades maiores, provocando sofrimento para si e para os outros.

A conclusão da parábola não deixa dúvidas sobre a condenação da desonestidade e da ganância na administração dos bens: “vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13), afirma Jesus. Nesta perspectiva, encontra-se a profecia de Amós (Am 8,4-7). Ele condena severamente a desonestidade e as injustiças, ressaltando que Deus não se esquecerá do que estão fazendo contra os pobres: “maltratam os humildes”, “causam a prostração dos pobres da terra”, “dominam os pobres”.

Na Primeira Carta a Timóteo (1Tm 2,1-8), proclamada na segunda leitura, S. Paulo nos recorda a necessidade da oração para a vida pessoal e social, recomendando “que em todo lugar os homens façam orações, erguendo mãos santas, sem ira e sem discussões” (2,8). A oração deve ser acompanhada do esforço para viver na santidade, especialmente, o amor ao próximo, o que inclui a honestidade. As mãos erguidas em oração devem ser também mãos estendidas aos irmãos. Na liturgia eucarística, erguemos as mãos para o Pai, em oração, para logo depois estendê-las aos irmãos, desejando-lhes a paz.

A Palavra de Deus deve ser acolhida e vivida para que possamos servir a Deus e não ao dinheiro. É preciso deixar-se interpelar por ela, procurando discernir o que Deus quer de nós, a cada dia.  Não se esqueça de continuar a ler e a meditar a Palavra durante a semana, especialmente, neste mês dedicado à Bíblia.

Bom dia... 21/09/2019


sábado, 14 de setembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 24º Domingo do Tempo Comum - ENCONTREI MISERICÓRDIA



Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 belíssimo capítulo 15 do Evangelho segundo S. Lucas narra as parábolas da misericórdia. É importante considerar o que São Lucas declara no início: “os fariseus e os mestres da Lei criticavam Jesus” porque ele acolhia os pecadores e fazia refeição com eles. Em resposta, Jesus conta as parábolas da ovelha perdida, da mulher que encontra a moeda perdida e a célebre parábola conhecida como “filho pródigo”, mas que pode ser chamada parábola do “pai misericordioso”. A mensagem pode ser resumida em três pontos. 1º) A misericórdia de Deus para com os pecadores, ressaltada por Jesus. Deus é o Pai misericordioso com o coração e os braços sempre abertos para acolher o filho que erra e quer retornar à casa. Deus é Pastor que não desiste de encontrar a ovelha perdida. 2º) A alegria de encontrar o que estava perdido enfatizada nas três parábolas. 3º) A recusa em admitir o perdão e se alegrar com a volta do irmão que erra. A parábola do Pai misericordioso nos faz pensar no modo como tratamos os irmãos que erram. A recusa do filho mais velho retrata bem a atitude dos fariseus, muito diferente do modo misericordioso de agir de Jesus. Somos convidados a sermos misericordiosos para com os irmãos que erram.

As parábolas da misericórdia nos convidam também a reconhecer a nossa condição de ovelhas perdidas ou de filhos pródigos, quando pecamos. Contudo, mais importante é o reconhecimento do pecado e a disposição para recomeçar a vida, caminhando com confiança rumo à casa do Pai misericordioso, que vem ao nosso encontro com os braços abertos, alegrando-se conosco. O Salmo 50 nos ajuda a fazer a experiência da misericórdia de Deus, conforme o refrão proposto na liturgia da missa: “Vou agora levantar-me; volto à casa do meu pai”. Procuremos valorizar o sacramento da reconciliação pelo qual recebemos a graça do perdão.

Conforme a segunda leitura, São Paulo louva a Deus testemunhando a misericórdia divina em sua vida e missão. No trecho proclamado da carta a Timóteo, ele afirma duas vezes: “encontrei misericórdia” (1Tm 1,13.16). Proclamando que “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores”, Paulo humildemente se reconhece como “o primeiro deles”. O Livro do Êxodo, na primeira leitura, também testemunha a misericórdia de Deus para com seu povo.

Neste mês especialmente dedicado à Bíblia, procuremos redescobrir e acolher a misericórdia divina na própria vida, através da leitura e meditação da Palavra de Deus. Sejamos misericordiosos como o Pai Celeste é misericordioso!

Bom dia... 14/09/2019


sábado, 7 de setembro de 2019

Reflexão Litúrgica do 23º Domingo do Tempo Comum - CONDIÇÕES PARA SER DISCÍPULO



Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 Evangelho deste 23º Domingo do Tempo Comum (Lc 14,25-33) nos apresenta as condições para ser discípulo propostas por Jesus aos que o seguiam no caminho para Jerusalém. A expressão “não pode ser meu discípulo” aparece três vezes no relato de São Lucas. Não pode ser discípulo de Jesus, isto é, não pode seguir os seus passos, quem não for capaz de aceitar as renúncias e de carregar a cruz. É importante recordar-se que Jesus está caminhando para a paixão e a morte na cruz, em Jerusalém. O discípulo deve estar pronto para subir o calvário com Cristo e permanecer com ele na hora da cruz.

Quanto às renúncias, não basta deixar os pecados. É preciso renunciar também a coisas boas para seguir a Jesus. O Evangelho menciona o desapego à família, à própria vida e a renúncia aos bens materiais. O discípulo dever estar disposto a tais renúncias, ainda que elas não venham a ocorrer sempre de modo total. Isso que pode parecer demais para o mundo de hoje, ocorre frequentemente na vida cristã. Por exemplo, quem quiser participar da missa, servir a comunidade, atuar em alguma pastoral ou visitar um doente, deverá estar disposto a fazer alguma renúncia. Quem quiser viver para si ou unicamente para o trabalho ou a família, não terá tempo para estar na comunidade e servir os outros irmãos.

É preciso pensar no modo como seguimos a Cristo, conforme nos sugerem as imagens do construtor imprudente e do rei diante da batalha, utilizadas por Jesus no trecho meditado. Naquele tempo, assim como ocorre hoje, muita gente não tinha consciência da seriedade de ser discípulo, vivendo mais ou menos o Evangelho, sem dar a devida prioridade ao seguimento de Cristo.

Entretanto, qual é o homem que pode conhecer a vontade de Deus? (Sb 9,13). A esta pergunta, o próprio livro da Sabedoria nos responde, mostrando-nos que isso é possível somente pela sabedoria que Deus nos concede e pelo Santo Espírito que ele nos envia (Sab 9,17).   Com a sabedoria divina, podemos discernir retamente o valor dos bens deste mundo e perseverar no discipulado. Com ela, podemos tratar as pessoas com verdadeiro amor, tratando o próximo como “irmão querido” e não como “escravo”, conforme a expressão empregada por S. Paulo na Carta a Filemon, pedindo-lhe para receber Onésimo “como pessoa humana e irmão no Senhor”.

Sejamos reconhecidos, hoje, como discípulos pela vivência do amor ao próximo, assumindo as renúncias que se fizerem necessárias para tratar a todos como “irmãos queridos”, em Cristo.

Aproveite este mês especialmente dedicado à Bíblia, para ler e meditar mais a Palavra de Deus e com maior atenção. Faça a leitura orante da Bíblia! Procure por em prática a Palavra de Deus!

Bom dia... 07/09/2019