sábado, 31 de agosto de 2019

Reflexão Litúrgica do 22º Domingo do Tempo Comum - QUEM SE HUMILHA, SERÁ ELEVADO!




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 mensagem do Evangelho deste 22º Domingo do Tempo Comum pode ser resumida em duas palavras que devem nortear a vida dos discípulos de Cristo: humildade e gratuidade. A parábola do banquete se conclui com um convite à humildade e um alerta: “quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será exaltado” (Lc 14,11). Para entender bem esta afirmação e compreender o sentido da verdadeira humildade é preciso olhar para o próprio Cristo “manso e humilde de coração”. Dentre outras passagens, podemos destacar o gesto de Jesus que se abaixou para lavar os pés dos discípulos, comportando-se como “aquele que serve”, e a doação da sua vida na cruz. A humildade não se reduz a um bonito sentimento, mas se expressa de modo concreto em atitudes como o desapego de si mesmo, o abaixar-se para servir e doar-se pelo próximo, sem vangloriar-se ou buscar vantagens. Esta atitude torna-se cada vez mais importante no mundo de hoje, pois há muitos que querem ser mais do que os outros, menosprezando e humilhando o próximo. É preciso ser humilde para não humilhar. Quem se faz humilde, como Jesus, jamais humilhará os outros, pois a humildade cristã é acompanhada de uma justa autoestima e do respeito ao próximo.

A segunda parte do Evangelho proclamado refere-se à gratuidade. O convite para o banquete, dirigido àqueles que não têm como retribuir, é sinal da gratuidade a ser vivida, hoje, pelos cristãos numa época marcada pela lógica da recompensa imediata e pelo interesse próprio. É preciso amar e servir aqueles que não podem retribuir o bem que fazemos. A gratuidade é um traço genuíno do amor cristão, pois os discípulos de Cristo são chamados a amar de graça, a amar antes de serem amados e a amar mais do que serem amados. Quem vive assim é feliz. “Então, tu serás feliz!”, afirma Jesus (Lc 14,14), que conclui afirmando que a recompensa pelo bem que fazemos será recebida na ressurreição dos justos. Deus nos recompensará pelo bem que tivermos praticado, especialmente, por aquilo que não recebemos a recompensa neste mundo. Por isso, ao invés de cobrar dos outros o reconhecimento ou a retribuição, façamos a experiência de amar e servir de graça, como sinal de amor gratuito, como é o amor de Deus por nós. A gratuidade, assim entendida, pressupõe a humildade.

Estamos iniciando o mês especialmente dedicado à Bíblia. Por isso, procuremos refletir sobre como temos escutado, acolhido e praticado a Palavra de Deus. Qual é o tempo que dedicamos à leitura e meditação da Bíblia? Aproveite este novo mês para organizar melhor o seu tempo, de modo a fazer a leitura orante da Bíblia e pôr em prática a Palavra de Deus.

Bom dia... 31/08/2019


sábado, 24 de agosto de 2019

Reflexão Litúrgica do 21º Domingo do Tempo Comum - QUEM SE SALVA?



Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

C
ontinuamos a percorrer o caminho para Jerusalém, com Jesus e os apóstolos, conforme o início do Evangelho proclamado (Lc 13,22). S. Lucas continua a narrar a longa viagem de Jesus para Jerusalém, onde consumará a sua missão. A passagem de hoje apresenta a resposta de Jesus a uma curiosa pergunta: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23).

Ao invés de responder à curiosidade sobre “quantos” se salvam, Jesus mostra como viver para entrar no Reino, destacando a universalidade da salvação e as suas exigências. A resposta ocorre em dois momentos principais. No final do texto, ao afirmar que “virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa do reino de Deus”. Todos são chamados a serem salvos. Não basta pertencer a determinado povo, grupo ou instituição para assegurar-se da salvação, pois “há últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos” (Lc 13,30).

No contexto do Evangelho de hoje, a palavra dirigida por Jesus pode ser aplicada primeiramente aos membros do povo eleito, questionando, especialmente, os fariseus que tinham visão exclusivista da salvação, restringindo-a aos membros do seu povo. Contudo, a afirmação de Jesus interpela também os seus discípulos, ao se referir àqueles que comeram e beberam com ele, mas não praticaram a justiça do Reino.

A salvação é dom de Deus ofertado a todos; não se baseia em privilégios ou exclusivismo. Em Jesus Cristo, realiza-se plenamente a profecia de Isaías, conforme a primeira leitura: “virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória” (Is 66,18).

Ao mesmo tempo, aos quem o acompanhavam, Jesus indicou o caminho da “porta estreita” para entrar no Reino. Os que estavam ouvindo e vendo Jesus não poderiam se acomodar ou simplesmente alegar isso para serem salvos. Por isso, ele adverte: “fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24). A porta estreita não significa que a vida cristã seja penosa ou triste.  Através dela, experimenta-se a alegria e a beleza da vida cristã, que não é vida fácil, pois exige esforço pessoal, fidelidade, vivência da justiça e santidade. Para isso, como verdadeiro Pai que ama seus filhos, Deus nos educa e corrige, conforme a Carta aos Hebreus (Hb 12,5), animando-nos a caminhar sempre sem desanimar e acertando os nossos passos.

Neste Dia Nacional do Catequista, com profunda gratidão, nós bendizemos a Deus e suplicamos as suas bênçãos para todos os que se dedicam à Catequese. Procuremos valorizar e apoiar, sempre mais, o valioso trabalho pastoral dos catequistas!

Bom dia... 24/08/2019


sábado, 17 de agosto de 2019

Reflexão Liturgica do 20º Domingo do Tempo Comum - Ano C – 18 de Agosto de 2019


Comunidade Dehoniana

A
 Palavra de Deus que neste 20º Domingo do Tempo Comum nos é servida, convida-nos a tomar consciência da radicalidade e da exigência da missão que Deus nos confia. Não há meios-termos: Deus convida-nos a um compromisso, corajoso e coerente, com a construção do "novo céu" e da "nova terra". É essa a nossa missão profética.

A primeira leitura apresenta-nos a figura do profeta Jeremias. O profeta recebe de Deus uma missão que lhe vai trazer o ódio dos chefes e a desconfiança do Povo de Jerusalém: anunciar o fim do reino de Judá. Jeremias vai cumprir a missão que Deus lhe confiou, doa a quem doer. Ele sabe que a missão profética não é um concurso de popularidade, mas um testemunhar, com verdade e coerência, os projetos de Deus.

O Evangelho reflete sobre a missão de Jesus e as suas implicações. Define a missão de Jesus como um "lançar fogo à terra", a fim de que desapareçam o egoísmo, a escravidão, o pecado e nasça o mundo novo - o "Reino". A proposta de Jesus trará, no entanto, divisão, pois é uma proposta exigente e radical, que provocará a oposição de muitos; mas Jesus aceita mesmo enfrentar a morte, para que se realize o plano do Pai e o mundo novo se torne uma realidade palpável.

A segunda leitura convida o cristão a correr de forma decidida ao encontro da vida plena - como os atletas que não olham a esforços para chegar à meta e alcançar a vitória. Cristo - que nunca cedeu ao mais fácil ou ao mais agradável, mas enfrentou a morte para realizar o projeto do Pai - deve ser o modelo que o cristão tem à frente e que orienta a sua caminhada.

Bom dia... 17/08/2019


sábado, 10 de agosto de 2019

19º Domingo do Tempo Comum – “ADMINISTRADOR FIEL”




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 Liturgia da Palavra deste 19º Domingo do Tempo Comum nos convida a atitude de vigilância, mostrando-nos o seu sentido e o que fazer para concretizá-la. Por que estar vigilantes? Por que estar “com os rins cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,38)? É preciso estar bem preparado para o encontro com o Senhor, a qualquer hora em que ele vier. Somos administradores dos seus bens. Ele espera que o administrador seja “fiel e prudente”. A expressão “rins cingidos” faz pensar em alguém preparado para uma viagem ou para a luta, sendo, portanto, sinal de prontidão e de vigilância. Todos nós recebemos de Deus bens para serem administrados com responsabilidade. A última frase do texto proclamado se dirige a todos, mas principalmente a quem mais recebeu. “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12,48). Neste dia em que rezamos pelos pais, com especial afeto e gratidão, o Evangelho oferece ocasião privilegiada para os pais refletirem sobre como estão administrando a casa que o Senhor lhes confiou.

Contudo, a vigilância não pode ser confundida com o medo. Não é com o medo que nos preparamos para encontrar o Senhor, mas com a fidelidade e a confiança. “Não tenha medo, pequeno rebanho” (Lc 12,32) são as primeiras palavras de Jesus no texto proclamado. A confiança não deve ser colocada nos bens materiais. Ao contrário, Jesus propõe o despojamento e a busca do verdadeiro tesouro que se encontra em Deus. Por isso, trata-se da confiança que brota da fé. O servo vigilante não é medroso ou acomodado; é dedicado e responsável; vive da fé. A Carta aos Hebreus nos recorda de Abraão e Sara como modelos de fé, destacando a relação entre a fé e a esperança. No trecho proclamado, encontra-se uma das mais belas definições de fé: “é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1).

O livro da Sabedoria (Sab 18,6-9), ao recordar a noite do êxodo, nos faz pensar na importância da oração, referindo-se aos sacrifícios oferecidos a Deus, naquela ocasião. Ao mesmo tempo, nos motiva a viver a solidariedade “nos bens e nos perigos”, isto é, a caminhar juntos, como povo de Deus. A fé cresce e se fortalece pela oração e pela vida comunitária.

Estamos iniciando, hoje, a Semana da Família, tempo especial de oração, reflexão e evangelização. Como vai a sua família e o que você tem feito por ela? Procure valorizar a família, a começar da sua. Na família, juntamente com a mãe, o pai ocupa lugar de especial importância.  Neste Dia dos Pais, rezemos agradecidos a Deus Pai, suplicando pelos pais que continuam a sua missão, assim como, pelos pais falecidos. Ao Pai nosso, confiamos nossos pais e famílias!

Bom dia... 10/08/2019


sábado, 3 de agosto de 2019

18º Domingo do Tempo Comum – “CUIDADO CONTRA A GANÂNCIA”




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 Evangelho proclamado neste 18º Domingo do Tempo Comum, inicia-se e termina com uma advertência a respeito da ganância e da acumulação de bens materiais. “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância”, afirma Jesus (Lc 12,15). A parábola sobre o homem que acumulava bens materiais, pensando em ter segurança e felicidade, leva-nos a refletir sobre a posse e o consumo de bens. Infelizmente, a parábola do homem que acumulava bens retrata o que se passa no mundo de hoje. Difunde-se, sempre mais, que para ser feliz e ter um futuro tranquilo é necessário ter muitos bens e consumir sempre mais, ao contrário do que afirma a Palavra de Deus.   “A vida do homem não consiste na abundancia de bens”, como muitos pensam e agem em nossos dias. É preciso cuidar para não “ajuntar tesouros para si mesmo”, ao invés de ser “rico diante de Deus” (Lc 12,13-21). Quando isso ocorre, a vida fica sem seu sentido maior.

O Eclesiastes expressa bem a incapacidade do homem de encontrar sentido da vida, por si mesmo, fechado neste mundo. A constatação de que “tudo é vaidade” (Ecl 1,2) revela a fragilidade da condição humana e a provisoriedade da vida presente, assim como a importância de se encontrar em Deus o sentido da vida. Quando o dinheiro passa a ocupar o lugar de Deus, transforma-se num ídolo que escraviza e torna o homem insensível à palavra de Deus e ao próximo

Perante os bens materiais é preciso ter uma postura de sobriedade e justiça. De fato, cada pessoa humana e cada família têm direito aos bens necessários para viverem dignamente. Inúmeras pessoas, em condições precárias de vida, se veem obrigadas a redobrarem os esforços para o digno sustento de sua família. Entretanto, há muitos que se deixam levar pela ganância, acumulação e consumo desenfreado de bens materiais, ignorando as exigências do Evangelho.

São Paulo nos convida a uma vida nova, à imagem de Deus, “pois pelo batismo ressuscitamos com Cristo, morrendo para o pecado e nascendo de novo. Para tanto, é preciso esforçar-nos para corresponder à graça recebida. Para cada cristão, é tarefa permanente despojar-se do “homem velho” e “revestir-se do “homem novo”, que “se renova segundo a imagem do seu Criador (Col 3,10), com as consequências práticas indicadas por São Paulo.

Assim fazendo, possamos glorificar a Deus na Eucaristia e na vida cotidiana, encontrando sempre em Deus o refúgio nas provações, conforme rezamos com o salmista (Sl 89): “Vós fostes, ó Senhor, um refúgio para nós”.

Neste Mês Vocacional, procuremos refletir sobre o modo como estamos vivendo a nossa vocação cristã.  Neste primeiro domingo do mês, rezemos, de modo especial, pelas vocações sacerdotais, agradecendo e suplicando a Deus pelos nossos sacerdotes.

Bom dia... 03/08/2019