sábado, 29 de abril de 2023

REFLEXÃO LITÚRGICA DO 4º DOMINGO DA PÁSCOA – 30/04/2023

Pe. Paulo Sérgio Silva - Diocese de Crato – CE.

N

a estrada pascal que percorremos em direção ao Pentecostes, depois de apresentar Jesus Cristo como a Misericórdia Divina encarnada, a liturgia da Palavra o apresenta agora como Bom Pastor. Este título messiânico nos indica que Ele é o modelo de sacerdote e guia para toda a humanidade. Significa reconhecer que Ele nos ama de forma incondicional a ponto de ser capaz de dar vida por nós. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus propõe hoje à nossa reflexão. Assim sendo, somos convidados a refletir sobre a identidade de Jesus enquanto pastor e ao mesmo tempo refletirmos sobre a nossa própria identidade uma vez que reconhecendo-o como Messias Ressuscitado, nos tornamos seu rebanho e respondemos ao Seu chamado para anunciar o Evangelho a todas as criaturas e perseverar na vida comunitária dando testemunho ao mundo da partilha, do serviço e da caridade.

Na primeira leitura (At. 2,14a.26-41) continuamos acompanhando a catequese missionária em forma de pregação do Apóstolo Pedro. Pelas suas palavras compreendemos qual é o itinerário catequético da Igreja desde o início de sua missão: O Apóstolo proclama o “querigma cristão”; este primeiro anúncio produz a conscientização e o arrependimento que leva ao desejo de conversão (Metanoia). Como ovelhas que buscam o pastor, os ouvintes, na sinceridade do seu coração, indagam aos Apóstolos: “irmãos, o que devemos fazer?” (At. 2,37). Como fora realizado nos livros sapienciais, a eles é apresentado dois caminhos: conversão e batismo para toda a humanidade. Os ouvintes do Apóstolo Pedro devem escolher por uma verdadeira adesão à Cristo, por isto a necessidade do Batismo e da acolhida do Espírito Santo. Todavia, eles devem também aceitar o fato de que o chamado a conversão a Cristo é para todos os povos, não apenas para Israel, porque Ele veio para que “todos” tenham vida. Atualmente o processo catequético teve uma pequena mudança. Primeiro somos batizados e à medida que vamos crescendo devem despertar para a conversão que leva a verdadeira e consciente adesão a Cristo. Esta conversão e adesão deve ser expressada em nossa vida pelos valores que vivemos como cristãos. Acostumados à mentalidade permissiva e relativista do mundo, temos que crescer na consciência de que os valores que devem alimentar nosso coração são aqueles que foram ensinados e vividos por Cristo e anunciados pela Igreja. Pois, a verdadeira metanoia se realiza quando ouvimos o chamado e escolhemos passar pela “Porta” que é Cristo.

A comunidade cristã, através do testemunho de Pedro, ao afirmar Jesus Cristo como único salvador, o reconhece como seu pastor e guia que nos conduz em direção à vida verdadeira.  Mas tarde, no futuro, a comunidade cristã irá afirmar pela regra de São Bento: “nihil amori christi praeponere” (nada antepor ao amor de Cristo).

Na segunda leitura (1Pd. 2,20b-25) continuamos do mesmo modo acompanhando a correspondência pastoral entre Pedro e suas Comunidades localizadas no interior da Ásia dos anos 80 d.C. E aqui também se vislumbra a apresentação de Cristo como “o Pastor” que guarda e conduz as suas ovelhas. Se as ovelhas devem obedecer e se deixar guiar pelo pastor, da mesma maneira os cristãos devem buscar imitar em suas vidas o exemplo de Jesus Cristo. O cristão deve viver em sua vida o todo da imitação de Cristo, não apenas as partes de sua missão que lhe são agradáveis. Como o servo sofredor (Is. 52-53), Cristo deu-nos o exemplo da paciência. Ele sofreu com resignação e morreu com amor e por amor, antes de chegar à ressurreição. Eis à esperança para as pequenas comunidades cristãs que como Jesus Cristo recém-nascido, já são perseguidas e ameaçadas: apesar dos sofrimentos que têm de suportar, pela fidelidade, estão destinadas a viver com Cristo em sua glória. Por isso, devem permanecer em obediência a Ele, vivendo com alegria e coragem o seu compromisso batismal.

Evangelho (Jo. 10,1-10) ao invés de apresentar a tradicional parábola do Bom Pastor, o evangelho escolhe fazer uso da alegoria da “porta do redil” que abre caminho para anunciar a parábola do bom pastor. Ao enxergar Jesus como a porta do redil que dá acesso ao Reino de Deus compreendemos que somente vivendo como ele poderemos entrar neste Reino. Somos nós que temos que nos adequar para poder passar pela porta, não é a porta que deve ser alargada para que passemos comodamente.

Sabemos como a figura do “pastor” é emblemática para a fé do povo de Israel.  Sendo assim, somos convidados a recordar o primeiro mandamento dado a Israel: a escuta. (Dt. 6,4). É através do ato de ouvir que as ovelhas identificarão o Pastor e é por meio do testemunho/vivência das ovelhas que Ele será identificado como Bom Pastor. Com o discurso que ouvimos hoje, os discípulos contemporâneos a Jesus puderam entender que fazer parte da comunidade cristã, isto é, do rebanho de Cristo é antes de tudo, escutar e se comprometer fielmente com sua proposta de nova humanidade. Proposta esta que se realiza com a doação da própria vida através do amor e do serviço.

         A missão de Jesus é trazer a vida plena a todos os seres humanos (Jo. 10,10). Em nossa sociedade atual a figura do pastor já não atrai a nossa sensibilidade como fazia com as primeiras comunidades. Hoje se fala muito na palavra “líder”, função que muitas vezes transparece a presença de alguém que se impõe, que domina, que exige e que manda nos outros. Por isto, se faz tão necessário retornarmos à espiritualidade das primeiras comunidades cristãs que contemplavam o ícone de um jovem portando nos ombros uma ovelha resgatada como recordação de Jesus Cristo cuja vida revelou ação de um Deus que assumiu para si a responsabilidade de cuidar de todos tornando-se o verdadeiro Pastor da humanidade através da coragem, serenidade, doação, simplicidade, serviço e amor gratuito.

Cientes de nossas debilidades, precisamos confiar nossa vida e história aos cuidados Daquele que é capaz de nos proteger e guiar, a ponto de “se entregar a si mesmo para dar a vida às suas ovelhas”. Eis o que distingue o bom e verdadeiro Pastor do pastor mercenário. É a atitude diante do “lobo” (aqui o lobo, simboliza tudo o que põe em perigo a vida das ovelhas: a corrupção, a injustiça, a violência, o pecado, o ódio do mundo). O pastor mercenário é contratado por dinheiro. O rebanho não é dele. Ele ama o dinheiro, não as ovelhas que lhe foram confiadas. Apenas cumpre o seu contrato. Foge quando percebe o perigo que ameaça a ele e aos seus interesses pessoais. O verdadeiro pastor é aquele cuja fonte do serviço é o Amor, não o dinheiro. Ele não veio cumprir um contrato, mas fazer com que as ovelhas tenham vida em abundância. O bem das ovelhas é a sua prioridade vital. Por isso, ele arrisca tudo em favor do rebanho e está disposto a dar a própria vida por essas ovelhas que ama.

Estamos verdadeiramente seguindo o Bom Pastor? Ou estamos seguindo pretensos líderes por estradas que ao invés de pastagens abundantes tem-nos levado a abismos e a terra árida? Como as primeiras comunidades cristãs fizeram com Pedro e os Onze, ainda escutamos o Papa e nossos Bispos que são sinal da Tradição e do Magistério que fizeram chegar até nós a presença de Cristo? Quais sãos as vozes que estamos escutando e deixando conduzir nosso coração? Será de um político corrupto, ganancioso e manipulador? Será de um artista narcisista? De um influenciador digital egocêntrico? De algum líder religioso que adultera e manipula a Palavra de Deus para impor seus devaneios anticristãos?

Busquemos conhecer e aderir a Cristo. Somente Ele pode preencher as nossas mais íntimas aspirações de Paz, de Verdade e de Vida plena.

Mensagem do dia... 29/04/2023

 


quarta-feira, 26 de abril de 2023

DOMINGO É O DIA DO SENHOR!

S

ão João Maria Vianey dizia: "UM DOMINGO SEM MISSA É UMA SEMANA SEM DEUS". A nossa fé nos agrega numa grande família que é a Igreja, onde colocamos em prática a nossa fé. Na Missa, recebemos o suporte necessário para crescer na formação humana, na espiritualidade e em todos os tesouros sacramentais para nossa salvação. A Igreja é nossa casa, é o nosso núcleo de fé e vida.

Tomemos por modelo os cristãos das primeiras comunidades: "Os que receberam a sua palavra foram batizados. Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações" (cf. Atos 2, 41-42).

Assim como precisamos fazer uma experiência com Cristo para segui-lo, também precisamos fazer uma experiência com a comunidade de fé, que é a Igreja, a portadora do depósito da fé, a extensão do grande corpo de Cristo e da qual somos membro. A comunidade é necessária para que a nossa fé não seja estéril, morta, sem obras. Na comunidade paroquial, fazemos uma experiência de vida fraterna que faz toda a diferença no mundo de hoje. Na experiência dos apóstolos, o Domingo tem lugar especial por se tratar do dia da ressurreição do Senhor. No início, quando eles não tinham igrejas e eram perseguidos, eles celebravam em suas próprias casas. É isso que nós cristãos, hoje, somos chamados a resgatar: o sentido de casa de nossas paróquias, casa de comunhão e fé, ressurreição e vida.

A celebração dominical do Dia do Senhor e da Eucaristia está no coração da vida da Igreja. O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como a festa de preceito por excelência. Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus; de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos.

Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, chamado, com razão, o Dia do Senhor ou domingo. O dia da ressurreição de Cristo é, ao mesmo tempo, o primeiro dia da semana, memorial do primeiro dia da criação, e o oitavo dia em que Cristo, depois de seu repouso do grande sábado, inaugura o dia que O Senhor fez, o dia que não conhece ocaso. A Ceia do Senhor é seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Ressuscitado, que Os convida a seu banquete: O dia do Senhor, o dia da ressurreição, o dia dos cristãos, é o nosso dia, pois foi, nesse dia, que o Senhor subiu vitorioso para junto do Pai. Se os pagãos o denominam dia do sol, também nós o confessamos de bom grado, pois, hoje, levantou-se a luz do mundo; hoje, apareceu o sol de justiça, cujos raios trazem a salvação.

O domingo é o dia, por excelência, da assembleia litúrgica em que os fiéis se reúnem para, ouvindo a Palavra de Deus e participando da Eucaristia, lembrarem-se da Paixão, Ressurreição e Glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os regenerou para a viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos.

O domingo é o dia principal da celebração da Eucaristia por ser o dia da ressurreição. É o dia da assembleia litúrgica por excelência, da família cristã, da alegria e do descanso do trabalho. O domingo é o fundamento e o núcleo do ano litúrgico.

A Igreja obriga os fiéis a participar da divina liturgia aos domingos e nos dias festivos e a receber a Eucaristia pelo menos uma vez ao ano, se possível no tempo pascal, preparados pelo sacramento da reconciliação. Mas comenda, vivamente, aos fiéis que recebam a santa Eucaristia nos domingos e dias festivos ou ainda com maior frequência, e até todos os dias.

O primeiro mandamento da Igreja - Participar da Missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho - ordena aos fiéis que santifiquem o dia em que se comemora a ressurreição do Senhor e as festas litúrgicas em honra dos mistérios do Senhor, da santíssima Virgem Maria e dos santos. Em primeiro lugar, participando da celebração eucarística, em que se reúne a comunidade cristã, e abstendo-se de trabalhos e negócios que possam impedir tal santificação desses dias.

Antes de qualquer obrigação, o nosso relacionamento com Deus deve ser por amor e o nosso compromisso concreto exige tempo e espaço para se atualizar, por isso, a nossa paróquia é lugar de encontro com Ele e com os nossos irmãos na fé, onde nós nos alimentamos da experiência e vida com Nosso Senhor. Não existe uma experiência autêntica de Jesus Cristo fora da comunidade, nela somos formados na Palavra, no Altar, no testemunho e na doação de nossas vidas.

Sabendo de todas essas maravilhas e chamados a renovar o nosso compromisso com Jesus Cristo e com a Igreja Paroquial, como tem sido a sua participação na sua paróquia? Qual tem sido a sua experiência paroquial? VOCÊ VAI À MISSA TODOS OS DOMINGOS?

Lembre-se, nunca é tarde para recomeçar!

Mensagem do dia... 26/04/2023

 


sábado, 22 de abril de 2023

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA O 3º DOMINGO DA PÁSCOA – 23/04/2023

Pe. Paulo Sérgio Silva – Diocese de Crato-Ceará.

S

e na Quaresma realizamos uma peregrinação em direção a Jerusalém, na Páscoa somos convidados a nos congregar/reunir em comunhão com o Cristo ressuscitado à espera do Espírito Santo prometido à Igreja. A liturgia da Palavra de hoje, continuando a catequese iniciada no domingo anterior, reafirma a essência da missão da Comunidade eclesial (Igreja)anunciar Cristo ressuscitado com palavras, testemunhá-lo concretamente pela vivência do Evangelho para assim concretizar o projeto do Reino de Deus que Ele iniciou. À luz desta afirmação compreendemos que Jesus, vivo e ressuscitado, permanecerá sempre acompanhando a sua Igreja em missão, vivificando e rejuvenescendo-a com força do Espírito Santo e orientando-a com a sua Palavra. E esta mesma Palavra que nos foi proclamada hoje desperta algumas questões cruciais e ao mesmo tempo em que oferece caminhos para responder tais questões: Como é podemos fazer uma experiência de encontro com Jesus ressuscitado? Como podemos revelar ao mundo que Jesus está vivo e continua a oferecer-nos a salvação? Resposta: Encontro e anúncio. E é a partir desse “encontro”, que os discípulos são convidados a dar testemunho de Jesus diante de toda a humanidade.

A primeira leitura (At. 2, 14.22-33)Atos dos Apóstolos, apresenta-nos, a Igreja nascente, simbolizada por Pedro e os Onze Apóstolos, na sua missão de dar o testemunho sobre Jesus. Depois de terem anunciado, em palavras e em gestos concretos (At. 3,1-10), que Jesus está vivo e permanece oferecendo a salvação (At. 3,11-26), os apóstolos convidam a multidão que os ouve a acolher a proposta de vida plena que Jesus lhes faz (At. 2,36-41).

Se trata do início do anúncio e testemunho da comunidade apostólica e simultaneamente também o início das perseguições aos cristãos. Pedro, como outrora fizera tantas vezes diante de Jesus Cristo, professa a sua Fé. No entanto, agora o faz corajosamente diante de uma vasta multidão composta por todos os grupos que compõem a sociedade israelita e realiza o “Querigma”. Aqui vislumbramos nas palavras de Pedro, a semente do que mais tarde se tornará a arvore frondosa e firme que conhecemos como “Credo” ou “Símbolo Apostólico” (que rezamos aos domingos). Ao falar diante dos perseguidores, Pedro e os demais Apóstolos e Discípulos cumprem os pedidos que Jesus lhes fez na terceira vez que apareceu a eles como ressuscitado.  Mesmo que o mundo se oponha ao nosso testemunho, o cristão deve antes obedecer a Deus do que aos homens (At. 5,27-33).

Na segunda leitura (1Pd. 1,17-21) continuamos ouvindo a catequese e exortação do Apóstolo Pedro endereçadas as comunidades cristãs no final dos anos 80 d.C. que começavam a padecer as violentas perseguições do imperador Domiciano. Como pai e pastor, Pedro os aconselha a manter a fidelidade à sua fé, apesar dos sofrimentos e perseguições. Novamente os recorda o exemplo de Cristo, que em sua missão passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à glória da ressurreição. Deste modo exorta-os a manter viva a chama da esperança, da fé, do amor, por meio da solidariedade, vivendo com alegria, coragem, coerência e fidelidade a sua vocação batismal.

Em suma, as palavras de Pedro são um apaixonado convite à santidade.  Uma vez que ao apresentar o exemplo de Jesus Cristo, o Cordeiro sem mancha, suplica aos cristãos que vivam na obediência, na confiança e na entrega a Deus, testemunhando aquilo são verdadeiramente: um povo consagrado ao Senhor.

No Evangelho (Lc. 24,13-35)Lucas nos apresenta um relato exclusivo do seu evangelho que não aparece em nenhum outro escrito cristão. Longe de ser um relato histórico e científico, se trata de uma catequese que deseja ensinar aos cristãos perseguidos da década de 80d.C como podem realizar a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. Por isto, nos é relatado um dos primeiros encontros de Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, com a sua comunidade.

Acompanhamos dois discípulos que depois de abandonar a comunidade de Jerusalém estão retornando à sua aldeia. Eles estão desolados. E não é para menos, afinal, seus sonhos jazem sepultados depois de padecer numa cruz. Jesus de Nazaré que se apresentara tão grandioso em prodígios e portentos e que eles pensaram ser o Messias triunfalista, fora julgado, condenado, crucificado e morto.  São estes os fatos que eles informam a um desavisado peregrino que surge naquele caminho pesaroso e que apesar de estar vindo de Jerusalém, não sabia de nada que acontecera. O peregrino se torna companheiro na estrada e escuta atentamente o seu relato cheio de queixas e amargas decepções e se espanta com sua falta de fé (Lc. 24,25). Então, calmamente, com destreza de um Mestre, lhes revela tudo que fora predito pelos profetas sobre o Messias e sua paixão. Sim. Os dois discípulos guardaram vivamente tudo que acontecera nos últimos dias na cidade de Jerusalém. No entanto, seu relato encontrava-se ainda incompleto, pois ele se encerrava na cruz e na falta de fé naquilo que fora testemunhado pelas mulheres da comunidade. Faltava a eles a fé no Cristo ressuscitado.

Como e onde os discípulos podem fazer a experiência do encontro com Jesus ressuscitado? Na segunda parte da viagem, quando o peregrino é convidado a pernoitar com eles, no momento da refeição abençoada, eles descobrem a resposta. É no encontro fraterno com aqueles que partilham da mesma fé e da mesma mesa eucarística, escutando a Palavra de Deus, compartilhando esta vivência através do amor experimentado em gestos de fraternidade e de serviço. Os discípulos, alimentados pela Palavra e encorajados pela sua Paz que faz arder o coração, recebem de Jesus a missão de dar testemunho a toda humanidade das ações salvadoras de Deus. A essência da missão da Igreja (os discípulos de Jesus Cristo) é pregar a conversão a todos os homens e mulheres, indicando que a vida nova que Deus oferece, ou seja, a salvação, a vida eterna, se realiza quando acolhemos a pessoa de Jesus Cristo e a Ele confiamos nossa vida e nossa história.

Os fatos narrados nos revelam que Jesus ressuscitado permanece sendo o alicerce sobre o qual se funda e se constrói a comunidade dos discípulos. E a catequese narrada por Lucas se revela para nós uma alegoria da celebração eucarística. Pois, as palavras utilizadas para descrever os gestos de Jesus evocam a celebração eucarística da Igreja primitiva. Dessa forma, nós recordamos como ainda hoje é possível encontrar Jesus vivo e ressuscitado.  Esse Jesus que por amor enfrentou a cruz, continua a fazer-Se companheiro de nossa peregrinação nos caminhos da história. É preciso estar atento, pois em meio as perseguições que ainda hoje sofrem os anunciadores do Evangelho, enquanto padecemos sofrimentos e enfrentamos a tentação de desistir e voltar atrás, o Senhor a cada domingo nos acompanha para pegar nosso coração descrente e frio e fazê-lo novamente arder de compaixão, fé e misericórdia. Não esqueçamos: sempre que nos reunimos em nome de Jesus para “partir o pão”, Ele lá estará, vivo e atuante, em nosso meio.

É tempo, pois, de voltar para o seio da comunidade. Se nossa fé fraquejou por motivos diversos a ponto de nos fazer abandonar a comunidade na qual fomos gerados no Batismo, voltemos. Retornemos, pois é lá que o Senhor espera para novamente partilhar Seu Corpo, Seu Sangue e Sua Vida. E com esta partilha permanente haveremos de edificar o Reino de Deus Pai que foi e permanece sendo o centro da vida e da missão de Jesus Cristo.

Mensagem do dia... 22/04/2023

 


quarta-feira, 19 de abril de 2023

PAI, MÃE, SOGRO, SOGRA... E O NOVO CASAL!

Deonira Viganó La Rosa - Terapeuta de Casal e Família

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os Encontros com Noivos é comum ouvirmos: “Chamem nossos pais para um encontro como este”. Noivos sentem que seus pais não estão preparados para deixá-los formar uma nova família, sem interferir excessivamente.

No fracasso conjugal, parece que os casais não costumam considerar como importantes os problemas com a família ampliada (a família dele + a família dela). Este tema merece análise.

DEBAIXO DO VÉU DA NOIVA E DA CASACA DO NOIVO...

O casamento tende a ser erroneamente entendido como a união de dois indivíduos. O que ele realmente representa é “a união de duas famílias”, sistemas extremamente complexos. Cada nubente carrega ao altar seu “kit familiar”. A afirmação de que existem seis no leito conjugal é até suave em relação à realidade.

Às vezes, a incapacidade de estabelecer um relacionamento de casal indica que os pretendentes ainda estão muito emaranhados com suas próprias famílias e se tornam incapazes de definir um novo sistema e aceitar as implicações desse realinhamento. Os parentes por afinidade podem ser intrusivos demais e o novo casal ter medo de colocar limites.

ESTABELECENDO FRONTEIRAS E LIMITES

Como o novo casal vai estabelecer um território com alguma independência da influência dos pais dele e dela? O ideal para o novo casal seria manter independência em relação à família e ao mesmo tempo manter laços carinhosos com ela.

Um grande número de problemas conjugais deriva de problemas não resolvidos com a família dele e dela. É possível que um homem escolha uma esposa totalmente inaceitável para seus pais e então deixe que ela lute com eles a batalha que ele mesmo não foi capaz de travar, tornando-se assim um inocente espectador. Em vésperas de casar-se, uma noiva lamentava que sua futura sogra ainda fazia jantares para a ex-namorada do filho, agora seu noivo.

Um recém-casado, ou até casado a mais tempo, pode estar sentindo que seus pais não lhe deram "permissão" para ter um bom casamento e então “cumpre a vontade deles” tornando-se um desastre na relação com a mulher (o homem). E pode ser mais fácil para uma nora odiar sua sogra por ser "intrusiva" do que enfrentar o marido por ele não se comprometer inteiramente com o casamento e não querer colocar limites em relação aos de fora e da sua família. Uma noiva se queixava que a sogra a recriminava porque não comia cebola e o noivo nada dizia. Ele respondeu que esperava o momento adequado. Ela contestou: Faz CINCO ANOS que você espera!

No tempo de noivado e primeiros meses de casamento fica muito mais fácil esclarecer as dificuldades e aceitar os membros da família ampliada do que durante outros estágios posteriores do ciclo de vida. Esta é a hora de listar o que incomoda, o que está bom, o que os dois vão conservar de suas famílias e quais padrões não serão adotados de jeito nenhum.

A falta de negociação antes e no começo do casamento será um problema para o futuro desse casamento: o cônjuge deixará de representar quem ele é, e passará mais vezes a representar o pai, a mãe, o irmão e a irmã.

OS PAIS TAMBÉM PRECISAM MUDAR

Os pais precisam modificar a maneira de lidar com os filhos depois do casamento. Uma cisão pode ser criada num casamento recente devido à intromissão dos pais, em geral sem muita percepção do que está causando mal-estar.

Muita ajuda benevolente pode ser tão danosa para o jovem casal quanto a censura destrutiva.

Quando os pais continuam a prover apoio financeiro, há uma barganha implícita ou explícita sobre o direito que eles terão de ditar o modo de vida em troca daquele apoio.

O novo casal precisa aprender o poder da sua própria força como casal, e também a força dos pais ou outros familiares. Deve conhecer o poder manipulativo da família de origem.

O casamento requer que o casal negocie novos relacionamentos com irmãos, avós, sobrinhos e amigos. Com frequência, as mulheres se aproximam mais da sua família de origem e os homens se afastam mais, mudando seu vínculo primário para a nova família nuclear (ciúmes).

O aumento da tensão dos pais em relação ao filho ou filha, ao genro ou nora, provavelmente seja uma manifestação do sentimento de perda do filho ou filha e não precisa ser tomada como algo pessoal.

Quando os pais ou familiares interferem demais na nova família, um sinal vermelho está aceso: indica que o novo casal está fragilizado e ainda não estabeleceu limites claros para sua família e, portanto, torna-se corresponsável pela invasão dos pais. Precisa fortalecer-se e conquistar o respeito.

Mensagem do dia... 19/04/2023

 


sábado, 15 de abril de 2023

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA O 2º DOMINGO DE PÁSCOA – 16/04/2023

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A

 primeira leitura deste domingo nos relata a vida dos primeiros cristãos. Ela está estruturada sobre quatro colunas: o ensinamento dos apóstolos, a partilha dos bens, a partilha do pão ou Eucaristia e as orações em comum.

O ensinamento dos apóstolos ou catequese provocava nos discípulos uma mudança de vida. A fé na palavra de Deus, revelada por e em Jesus Cristo, agora era explicada pelos apóstolos, e os cristãos deixavam de ser simples cidadãos, para com suas vidas, testemunharem Jesus Cristo. Esse testemunho veremos concretamente nas outras três colunas.

Se acreditavam em Jesus Cristo, elas criam que Deus era Pai de todos e isso os levava a um sentimento de radical fraternidade, daí a partilha de bens, a renúncia à propriedade particular, onde tudo é, livremente, colocado em comum e distribuído de acordo com as necessidades pessoais. Com isso não existe mais pobres.

A partilha do pão celebrava a memória de Jesus que partilhou sua vida. Assim, se reuniram para realizar o gesto e o mandamento de Jesus: “Fazei isso em memória de mim”.

O Senhor estava presente no meio deles de modo eucarístico e era partilhado como alimento, como sustento para o dia a dia.

Finalmente a Comunidade também se reunia para louvar o Senhor e, certamente, rezar o Pai-Nosso.

O autor dos Atos nos fala ainda que esse estilo de vida simples, fraterno e temente a Deus, suscitava a adesão de outras pessoas a fazerem parte do grupo dos amigos de Jesus.

Peçamos ao Senhor que nossa vida de batizados, de homens e mulheres que creem em Jesus, seja fiel à nossa profissão de fé.

Para isso vale que cada noite nossa consciência diante do Senhor nos diga até onde vivemos nossa fé, se fomos capazes de partilhar nossos bens, nosso tempo, nossa atenção, nossa capacidade de ajudar o outro.

A partilha do pão eucarístico da vida que é Jesus deverá refletir o meu dia, meu ato de partilhar os bens que geram vida, com aquele irmão ou irmã, aquele próximo que é carente deles.

Feliz Páscoa!

Mensagem do dia... 15/04/2023

 


quarta-feira, 12 de abril de 2023

É TEMPO DE PÁSCOA!

A

 

Carta aos Colossenses afirma que a pessoa cristã já vive como ressuscitada e, como tal, é convidada a comprometer-se com ações que expressem o essencial dessa condição que é a prática do amor ao próximo (Cl 3,1-17).

    Isso nos autoriza a dizer que a celebração da Páscoa cristã, enquanto memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus, precisa ser traduzida em atos e gestos concretos de amor ao próximo, distintivo único e fundamental da identidade do discípulo e da discípula de Jesus (Jo 13,15).

    Assim sendo, a celebração da Páscoa deve ser uma verdadeira primavera que expulse todo e qualquer mofo e frieza da Igreja e a faça pulsar de vitalidade e de acolhida da vida. Não cabe celebrar a Páscoa num contexto de rigidez e de falta de misericórdia, num ambiente em que as leis e as normas estão acima da vida das pessoas (Mc 3,1-5). Não haverá Páscoa de Jesus numa Igreja que condena e discrimina certos filhos e certas filhas de Deus; que reserva os bancos de seus templos para aqueles que se autoproclamam perfeitos e merecedores do céu. Além disso, a Páscoa deve ser a festa da libertação dos pobres e dos oprimidos. E não se trata apenas de uma falsa libertação "espiritual”, cuja recompensa é uma vida futura, programada para depois da morte. Trata-se, como nos mostra a experiência do Êxodo, de uma libertação a ser realizada aqui nesta terra. Uma libertação que inclui terra, casa, comida, emprego, saúde, escola etc. E para celebrar esta Páscoa os cristãos e as cristãs precisam, como Javé, ver a opressão, descer até o submundo dos pobres, sentir o cheiro da pobreza, tocar com os pés e as mãos os sofrimentos dos injustiçados e excluídos e permanecer comprometidos com as suas lutas por dias melhores (Ex 3,7-10).

Artigo de JOSÉ LISBOA MOREIRA DE OLIVEIRA. Filósofo. Doutor em teologia. Ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB. Ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. Foi gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília.

Mensagem do dia... 12/04/2023

 


domingo, 9 de abril de 2023

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA O DOMINGO DA RESSURREIÇÃO – 09/04/2023

 
Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

O

 Evangelho de São João nos diz que no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de Jesus e o encontrou vazio. João faz questão de ressaltar que era de madrugada e ainda estava escuro. Podemos perceber que o evangelista ao registrar que o fato aconteceu no primeiro dia da semana, quer fazer alusão à nova criação. O que ele vai relatar é uma novidade radical, é a vida nova de um homem, não um fato como a denominada ressurreição de Lázaro, que volta à vida, mas continua submetido à necessidade de cuidar de sua saúde, de se alimentar e que voltará a morrer.

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Contudo, Maria Madalena, apesar de ter escutado várias vezes Jesus dizer que ressuscitaria, a dor da morte é tal que ela se esquece das palavras do Mestre.

Apesar do corpo de Jesus já ter sido ungido na sexta-feira por José de Arimatéia e por Nicodemos, ela não consegue ficar longe do corpo morto do Senhor. A escuridão enfatizada no texto é um símbolo do estado interior de Maria. Ela está com uma vida sem sentido, sem alegria. Seus grande libertador, seu grande amigo está morto. Ela vai ao sepulcro quando ainda está escuro, na natureza e no seu interior. Mas seu coração está iluminado pelo amor, por isso ela vai até ao sepulcro.

Ela o encontra vazio. Sente-se desapontada e mais desolada, perdida e impotente.

Maria Madalena busca o cadáver de Jesus. Ela esqueceu totalmente a promessa dele de que iria ressuscitar.

Ela olha para o sepulcro vazio e vê dois anjos, um na cabeceira e outro nos pés. O evangelista quer nos recordar os dois anjos que foram colocados, um à cabeceira e outro aos pés da arca da aliança. Jesus é a nova aliança. Por isso a aliança de Jesus Cristo é eterna, pois ele ressuscitou.

Mas Madalena, abalada pela dor não reconhece os sinais e só vê o sepulcro vazio. Somente após a segunda pergunta de Jesus, ao ouvi-lo pronunciar seu nome e deixar de olhar para o sepulcro e voltar-se para o lado contrário é que ela vê o ressuscitado.

Como Maria Madalena, também nós só veremos os sinais da ressurreição, quando levantarmos nossos olhos dos sinais de morte, e dirigirmos nosso coração para a VIDA. Enquanto estivermos afeiçoados àquilo que é egoísmo, ambição, ira, não perceberemos que a Vida está à nossa frente, e sofreremos as consequências da opção pelos atrativos mortais. Ao contrário, quando acreditarmos no poder de Deus e formos mais irmãos, adeptos da partilha e do serviço, perceberemos os sinais da Vida a todo momento, pois estaremos desde agora vivendo à luz de Deus.

Feliz Páscoa!

Mensagem do dia 09/04/2023