sábado, 26 de março de 2022

Reflexão Litúrgica do IV Domingo da Quaresma – 27/03/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília

“O PAI MISERICORDIOSO”

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 Palavra de Deus deste quarto Domingo da Quaresma coloca diante de nós, no Evangelho, a imagem do Filho pródigo e do Pai misericordioso (Lc 15, 1-3. 11-32). Jesus conta esta parábola para justificar a sua atitude para com os publicanos e pecadores. Os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus. Os fariseus e mestres da Lei criticavam Jesus: “Esse homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15, 2). Jesus é criticado porque come com os pecadores, porque os acolhe. Os mestres da Lei e fariseus têm uma atitude legalística: se escoram nos preceitos da Lei judaica e na sua observância. Fazendo isso, se fecham àqueles que estão afastados de Deus, que estão longe de Deus, que eram tidos como pecadores diante dos preceitos da Lei mosaica. Jesus, ao contrário, tem uma atitude de proximidade com os pecadores. Jesus codivide a mesa com eles. Essa atitude de Jesus escandalizava esses observantes rigorosos da Lei mosaica.

Por isso, no centro da parábola está o filho mais novo, que sai de casa, gasta a sua herança com uma vida desenfreada e quando perde tudo, quando se encontra no fundo do poço, relembra que os empregados na casa do Pai, tem pão com fartura e decide voltar para casa. Sair de casa implica abandonar o Pai e a vida da comunidade, que poderia ser aqui o judaísmo e para a comunidade cristã, a Igreja. Mas este filho volta, ele ensaia o discurso de pedido de perdão ao Pai. Quando retorna é desarmado pela atitude do Pai, que o avista, corre abraça-o e o cobre de beijos. Depois lhe manda colocar a melhor túnica, um anel no dedo e sandálias nos pés e manda matar um novilho gordo para fazer festa. Festa porque recuperou o seu filho que estava morto e voltou à vida. Esta é a atitude de Deus para com aqueles que se encontram mortos pelo pecado, que abandonaram a casa do Pai, a Igreja. Deus é um Pai misericordioso que sempre quer seus filhos e filhas ao redor da sua mesa.

Papa Francisco comenta: “A figura do pai da parábola revela o coração de Deus. Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama além de qualquer medida, espera sempre a nossa conversão todas as vezes que erramos; aguarda a nossa volta quando nos afastamos d’Ele pensando que O podemos dispensar; está sempre pronto a abrir-nos os seus braços independentemente do que tiver acontecido. Como o pai do Evangelho, também Deus continua a considerar-nos seus filhos quando nos perdemos, e vem ao nosso encontro com ternura quando voltamos para Ele. E fala-nos com tanta bondade quando nós pensamos que somos justos. Os erros que cometemos, mesmo se forem grandes, não afetam a fidelidade do seu amor. Que no sacramento da Reconciliação possamos voltar a partir sempre de novo: Ele acolhe-nos, restitui-nos a dignidade de seus filhos e diz-nos: «Vai em frente! Fica em paz! Levanta-te, vai em frente!»”. (Angelus, IV domingo da quaresma de 2016).

Que o encontro com este Evangelho, neste tempo da Quaresma, nos ajude a percebermos que a misericórdia deve fazer parte da nossa vida. Quem experimenta o amor misericordioso de Deus deve se tornar também, homem e mulher da misericórdia.

Bom dia... 26/03/2022

 


sábado, 19 de março de 2022

Reflexão Litúrgica do III Domingo da Quaresma – 20/03/2022

 

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília

“A FIGUEIRA ESTÉRIL”

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este terceiro domingo da Quaresma, o texto de Lc 13, 1-9 narra a parábola da figueira estéril. Na primeira parte (Lc 13, 1-5), por meio de dois fatos trágicos, Jesus nos exorta à conversão. Na segunda parte do Evangelho, Jesus conta a parábola da figueira estéril. O que esta parábola quer nos dizer? Papa Francisco, comentando esta parábola, ensina: “O dono representa Deus Pai e o vinhateiro é a imagem de Jesus, enquanto a figueira é o símbolo da humanidade indiferente e árida. Jesus intercede junto ao Pai em favor da humanidade — e o faz sempre — pedindo-Lhe para aguardar e conceder ainda mais tempo, a fim de que ela possa produzir os frutos de amor e justiça. A figueira que o dono da parábola quer extirpar representa uma existência estéril, incapaz de doar, incapaz de praticar o bem. É símbolo de quem vive para si mesmo, satisfeito e tranquilo, instalado nas próprias comodidades, incapaz de dirigir o olhar e o coração para quantos estão ao seu lado em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade. A esta atitude de egoísmo e de esterilidade espiritual, contrapõe-se o grande amor do vinhateiro em relação à figueira: pede ao dono que espere, que tenha paciência para que ele dedique a esta figueira o seu tempo e o seu trabalho. Promete ao dono que terá um cuidado especial para com a árvore infeliz.

E nesta similitude do vinhateiro se manifesta a misericórdia de Deus, que nos concede um tempo para a conversão. Todos temos necessidade de nos converter, de dar um passo em frente. E a paciência de Deus, a misericórdia, acompanha-nos nisto. Não obstante a esterilidade, que às vezes marca a nossa existência, Deus tem paciência e oferece-nos a possibilidade de mudar e fazer progressos no caminho do bem. Mas a dilação implorada e concedida na expectativa de que a árvore finalmente frutifique indica também a urgência da conversão. O vinhateiro diz ao dono: ‘Senhor, deixa-a mais este ano’ (v. 8). A possibilidade da conversão não é ilimitada. Por conseguinte, é necessário colhê-la imediatamente, caso contrário, perde-se para sempre.

Podemos pensar nesta Quaresma: o que devo fazer para me aproximar mais do Senhor, para me converter, e ‘cortar’ o que não está bem? (…) Pensemos, hoje, cada um de nós: o que devo fazer face esta misericórdia de Deus que me espera e me perdoa sempre? O que devo fazer? Podemos confiar infinitamente na misericórdia de Deus, mas sem abusar dela. Não devemos justificar a preguiça espiritual, mas aumentar o nosso esforço para corresponder prontamente a esta misericórdia com sinceridade de coração” (Papa Francisco, Angelus do III domingo da Quaresma, 24 de março de 2019).

A conversão é sempre um imperativo na nossa vida. Ela é uma exigência do nosso ser, pois o ser humano é um ser em caminho, em contínuo progresso. Isso acontece em todos os aspectos da nossa vida, e deve acontecer, também, na nossa vida espiritual. O ser humano é um todo, e a dimensão espiritual é constitutiva deste todo. É preciso olhar o todo do humano e trabalhar o todo. Quando a Campanha da Fraternidade propõe uma educação que olhe a pessoa na sua totalidade, é porque a educação deve trabalhar o ser humano na sua totalidade. Que não sejamos figueiras estéreis, mas, por meio da conversão, produzamos muitos frutos.

Bom dia... 19/03/2022


 

sábado, 12 de março de 2022

Reflexão Litúrgica do II DOMINGO DA QUARESMA - 13/03/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília

CONTEMPLADORES DA BELEZA QUE SALVA

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oje, neste II DOMINGO DA QUARESMA, contemplamos a cena da transfiguração (Lc 9, 28-36). Na montanha, com Pedro, Tiago e João, contemplamos a beleza do Senhor. Contemplamos uma beleza que salva, que dá sentido à nossa vida pessoal e ao nosso caminho de Igreja. Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e sobe à montanha para orar. Lucas nos apresenta Jesus rezando, significando, para o evangelista, que este é um momento importante do ministério de Jesus.  “Enquanto orava, o aspecto do seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura”. O rosto de Jesus se torna bonito, radioso. É a beleza de Jesus que contemplamos.

São João Paulo II, na Novo Millenium Ineunte pergunta: “Não é porventura, papel da Igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história, fazer resplandecer o seu rosto diante das novas gerações do novo milênio?” A cena que contemplamos apresenta um rosto radiante e bonito de Cristo. Cabe aqui a pergunta: Que face de Cristo estamos apresentando? São João Paulo II diz que “o nosso testemunho será pobre se não formos, antes, contempladores do rosto de Cristo”. Sermos contempladores do rosto de Cristo: aqui está o segredo para o nosso caminho de Igreja, para o nosso caminho pessoal.  Contemplando a beleza de Cristo, encontramos Nele o verdadeiro sentido da vida humana. Nele, o ser humano encontra o seu caminho, pois o mistério de Cristo revela ao homem o que é ser homem, pois Cristo é o homem segundo o projeto de Deus. A um homem que corre o risco de perder o sentido do que é ser homem, pois vai perdendo a sua origem e o seu destino, a Igreja lhe apresenta Cristo, ele é o sentido do homem. Somente Nele encontramos a nossa verdadeira vocação.

Um segundo aspecto é a transformação da veste de Jesus que se tornou de fulgurante brancura.  A veste de Jesus, para os Padres da Igreja, simbolizava a Igreja, veste de um tecido só, como se lê em Jo 19, 23. Diz São Cipriano, falando da Igreja: “Este sacramento da unidade, este vínculo de concórdia inviolada e sem rachadura, é figurado também pela túnica do Senhor Jesus Cristo. Os apóstolos contemplam esta veste bonita, resplandecente. É a Igreja na sua santidade, que será mais radiante ou não de acordo com o nosso testemunho, com a nossa doação”.

Moisés e Elias conversam com Jesus. Moisés e Elias significam a Lei e os Profetas. Significa o Antigo Testamento que se cumpre em Jesus. Jesus é o centro das Escrituras.  Jesus só pode ser entendido no contexto das Escrituras. São Lucas narra sobre o que conversavam: falavam da sua partida que iria se consumar em Jerusalém”, isto é, falavam da morte de Jesus que se daria em Jerusalém. A morte é descrita com a palavra êxodos, termo único no Novo Testamento. Jesus é apresentado como o novo Moisés que através do mar da morte, leva o novo Israel, ao reino dos céus, para a glória do Pai. O seu êxodo se realiza através da cruz. A cruz é central no cristianismo.

Que este Evangelho nos ajude, nesta preparação para a Páscoa, a subimos a montanha na companhia de Pedro, Tiago e João e contemplamos a cena da transfiguração. Tomemos consciência de que esta glória da transfiguração resplandece também em nós, seus filhos adotivos.

Bom dia... 12/03/2022

 


sábado, 5 de março de 2022

Reflexão Litúrgica do I Domingo da Quaresma - 06/03/2022

Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília

“TENTAÇÃO DE JESUS,

TENTAÇÃO DO DISCÍPULO”

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stamos iniciando a Quaresma, período de quarenta dias em que somos chamados a entrar no deserto da nossa vida, da nossa existência com Jesus, sob a condução do Espírito Santo. Diante de Jesus e seu projeto salvífico, somos chamados a olharmos para a nossa vida, a da sociedade, a da educação de nossas crianças e respondermos à pergunta: quais as grande tentações do nosso tempo?  O texto do Evangelho (Lc 4, 1-13) nos ajuda neste exame de consciência quaresmal.

Jesus tinha se submetido ao rito batismal de João Batista e tinha sido ungido pelo Espírito (Lc 3, 21-22). O Evangelista sublinha grandemente este fato: “Jesus, pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo” (Lc 4, 1-2). O deserto rememorava a experiência de Israel que passou quarenta anos no deserto e foi tentado. O deserto é memória, faz-nos reviver o passado e, ao mesmo tempo, projeta-nos para o futuro, pois o Filho de Deus venceu o tentador no deserto e na cruz. Jesus, no deserto, superou as tentações e a Sua vitória tornou-se, para o cristão, certeza de que, conduzido pelo Espírito, nós podemos vencer também as tentações no deserto da  vida e da história. A Quaresma deve ser este tempo forte de deixar-se conduzir pelo Espírito.

Jesus sofre três tentações, e nelas estão resumidas as grandes possibilidades de tentação de cada ser humano. Jesus é tentado a um messianismo fácil, a usar de seus poderes messiânicos em benefício próprio: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Seu messianismo é para ser dom, Ele é o Messias servo, que deverá servir a ponto de doar a própria vida. Jesus rebate o diabo mostrando que o homem não vive só do pão material, das coisas materiais, que a referência última da vida de cada ser humano deve ser a vontade de Deus.

Na segunda tentação, Jesus é tentado quanto ao poder: “… te darei todo este poder com a glória destes reinos (…) se te prostrares diante de mim…”. É a tentação do poder e da idolatria, adorando alguém que não é Deus.  A resposta de Jesus será: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto”. Tudo aquilo que colocamos no centro da nossa vida que não seja Deus é idolatria, que pode ser dinheiro, ídolos, ideologias etc. A idolatria é um perigo real na vida humana e na nossa sociedade.

A terceira tentação se coloca no plano do messianismo espetaculoso. No pináculo do templo, Jesus é tentado a se atirar para baixo, porque Deus mandará Seus anjos para segurá-lo. É a tentação ao abuso de Deus, de manipular Deus, de querer que Deus responda às nossas necessidades. Tanto que a resposta de Jesus é: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.

Ao contemplarmos o Salvador tentado, o ser humano entende que a tentação faz parte da vida humana, do caminho de fé, mas que o Salvador, Jesus Cristo, venceu o tentador e nos deu a possibilidade de vivermos na amizade de Deus e seguirmos o projeto de Deus. Que conduzidos pelo Espírito de Deus, vençamos as tentações, também aquela de uma educação parcial, que não leva em conta a grandeza do mistério da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus.

Bom dia... 05/03/2022

 


terça-feira, 1 de março de 2022

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022 será aberta oficialmente nesta Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, às 10h, em cerimônia virtual nas Redes Sociais da CNBB.

 

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 Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lança, nesta Quarta-feira de Cinzas, 2 de março, a CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2022, com o tema: “FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO” e o lema bíblico, extraído de Provérbios 31,26: “FALA COM SABEDORIA, ENSINA COM AMOR”.

A abertura oficial ocorrerá com a divulgação de um vídeo às 10h, com pronunciamentos dos membros da presidência da CNBB e convidados. Será possível acompanhar o vídeo por meio das redes sociais da entidade (Youtube e Facebook) e emissoras de televisão de inspiração católica. A abertura virtual, assim como a do ano passado, deve-se à escolha da CNBB, como forma de prevenção à Covid-19.

Para os veículos de comunicação, a Assessoria de Comunicação da CNBB organiza uma coletiva de imprensa, com representantes da direção da entidade, por meio da plataforma Zoom. A sala virtual, onde os jornalistas poderão assistir ao vídeo de lançamento da CF, será aberta às 9h50.

Atenderão à imprensa o secretário geral da CNBB e bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), dom Joel Portella; o secretário-executivo de Campanhas da CNBB, padre Patriky Samuel Batista e o padre Júlio César Rezende, membro da Pastoral da Educação e da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da CNBB.

A CF 2022 - Essa é a terceira vez que a temática da educação será abordada na Campanha da Fraternidade. O tema já foi objeto de reflexão e ação eclesial em 1982 e 1998. De acordo com a introdução do texto-base, foi “a realidade de nossos dias que fez com que o tema educação recebesse destaque, um tempo marcado pela pandemia da Covid-19 e por diversos conflitos, distanciamentos e polarizações”.

A presidência da CNBB justifica, na apresentação do texto-base da CF, que se trata de uma campanha que, mais do que abordar outro aspecto específico da problemática educacional, vai refletir sobre os fundamentos do ato de educar na perspectiva católico-cristã.

         Nessa perspectiva, a educação é compreendida não apenas com um ato escolar, com transmissão de conteúdo ou preparação técnica para o mundo do trabalho, mas de um processo que envolve uma “comunidade” ampliada que inclui todos os atores (família, Igreja, Estado e sociedade).

A CF 2022 é impulsionada pelo Pacto Educativo Global, convocado pelo Papa Francisco. Na carta convocação ao Pacto, o Santo Padre apresenta elementos constitutivos de uma educação humanizada que contribua na formação de pessoas abertas, integradas e interligadas, que também sejam capazes de cuidar da casa comum já que a “educação será ineficaz e os seus esforços estéreis se não se preocupar também em difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza”, conforme explicitado na Encíclica Laudato Si’, 2016, nº 215.

GESTO CONCRETO – A Campanha da Fraternidade tem como gesto concreto a Coleta Nacional da Solidariedade, realizada no Domingo de Ramos nas comunidades de todo o Brasil. Os recursos são destinados aos Fundos Diocesanos e Nacional da Solidariedade, os quais apoiam projetos sociais relacionados à temática da campanha. Em 2021, o Conselho Gestor do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), da CNBB, apoiou 80 projetos, nos quais as entidades que se candidataram se comprometeram, entre outros aspectos, a prestar contas periódicas de sua efetivação e resultados.

MAIS INFORMAÇÕES:  Outras informações sobre a Campanha poderão ser encontradas no portal da CNBB: https://www.cnbb.org.br/ e no site oficial das Campanhas da CNBB: https://campanhas.cnbb.org.br/ 

Fonte: CNBB

Bom dia... 01/03/2022