sábado, 27 de março de 2021

Reflexão para o Domingo de Ramos – 28/03/2021

 


Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Anunciamos Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!”, aclamamos a cada consagração do pão e do vinho.

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este domingo, que abre a Semana Santa, a Liturgia nos propõe refletirmos sobre a entrada de Jesus em Jerusalém, para ser aclamado como Filho de Davi e para, alguns dias depois, ser julgado e condenado como um grande malfeitor, um bandido que subleva o povo.

         Estamos chegando no auge, no pico do Ano Litúrgico, com a solenidade das solenidades que é a Páscoa da Ressurreição do Senhor, no domingo próximo.

         Nesta Semana, vamos refletir sobre a entrega de Jesus na Nova e Eterna Aliança, na quinta-feira e na paixão e morte de Jesus, na sexta. Tendo o sábado como um dia de esperança, aguardando a realização da promessa do Senhor, de que ressuscitaria, passamos estes dias ao lado da Virgem Maria, a Nossa Senhora das Dores, a Mãe da Esperança, em casa, no aguardo da Vida Nova.

         Esta Semana Santa, de 2021, como a do ano passado, de 2020, terá suas celebrações diferentes, em muitas cidades serão transmitidas online, com todos os fiéis leigos em casa, protegendo-se da pandemia. Isso nos afervora o sentimento de meditação e contemplação, já que nada será motivo de distração, mas sim, de união com o Cristo que sofre sua paixão, também nos irmãos que estão enfermos e, muitos, agonizantes, além de estar presente naqueles que fazem o papel de cireneu, os médicos e enfermeiros e todos da área da saúde, que lidam direta ou indiretamente a favor daqueles que sofrem.

         Veremos a Virgem Dolorosa também nas pessoas que, aflitas, acompanham, de longe, o sofrimento dos amados, dos queridos, daqueles que importam em suas vidas. Por que não citar aquelas pessoas que como Maria, outras mulheres, João Evangelista e José de Arimatéia fazem um cortejo fúnebre, mesmo apenas com o coração, e sepultam ou cremam os corpos de seus entes queridos?

         Esta semana será Santa em todos os sentidos. Vamos vivê-la na dimensão unitiva com todos os que padecem em nosso mundo.

         A primeira leitura da missa deste domingo, extraída de Isaías 50, 4-7, inicia dizendo que o Senhor deu ao personagem principal do texto, capacidade de confortar pessoa abatida e para ouvir, como discípulo. Ao mesmo tempo, o personagem principal sofre agressões e afrontas, mas não perde o ânimo porque sabe que o Senhor é o seu auxílio e não sairá humilhado dessa situação de ultrajes. A cena pode ser aplicada ao Cristo, em sua paixão, e a nós, em situações de profundo sofrimento. A esperança em Deus permanece. O Senhor pode não nos livrar de vexames e afrontas, mas Ele nos liberta dentro dessa situação e nos mantem, apesar das humilhações, com nossa dignidade intocável. O salmo responsorial, Sl 21 (22) descreve com tragicidade o que acontece com o Servo do Senhor, mas será o Sl 23(22), o que nos falará do sentimento mais profundo durante a experiência de atroz sofrimento: “Ainda que eu caminhe por vale tenebroso nenhum mal temerei, pois estás junto a mim ... minha morada é a casa do Senhor por dias sem fim.”

         Na segunda leitura, tirada de Filipenses 2, 6-11, São Paulo nos fala explicitamente de Jesus Cristo ao fazer a kenosis de si mesmo, isto é, ao se esvaziar da postura de Filho de Deus para se preencher com a condição de escravo e se igualar aos seres humanos.

         Vivemos essa entrega do Senhor a cada Eucaristia, onde ele assume nosso lugar e sendo homem e Deus, faz a aliança nova e eterna com o Pai, renovada a cada sim dado ao Pai, quando saímos de nós mesmos e aceitamos morrer e abraçar a vida nova.

         A Quinta-Feira Santa e a Sexta-Feira Santa celebram especialmente essa entrega do Senhor, que também pode, aos poucos, ir se tornando a nossa, quando conscientes no dia de nosso Batismo, demos o Sim radical ao Senhor da Vida, a cada dificuldade o vamos repetindo, até o Sim absoluto dado na hora de nossa morte.

         “Anunciamos Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição, vinde Senhor Jesus!”, aclamamos a cada consagração do pão e do vinho. Aí, jaz a esperança, ou melhor, a certeza de que a vida dará sua palavra final com a ressurreição. A do Senhor já aclamada, e a nossa, imbricada na Dele.

Bom dia... 27/03/2021


sábado, 20 de março de 2021

Reflexão para o 5º Domingo da Quaresma – 21/03/2021

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

 “O grão de trigo cai na terra, morre e dá frutos maravilhosos, ele ressuscita! Com sua ressureição, todos nós também ressuscitamos, usufruímos da aliança realizada pelo Senhor com o Pai.” 

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 tema desta liturgia é aliança de Deus para com o ser humano, sempre renovada para melhor, e o homem que deverá se entregar totalmente ao Senhor.

         Na primeira leitura extraída de Jeremias 31, 31-34, o Senhor promete nova aliança com a Casa de Israel e com a Casa de Judá. Será uma aliança arraigada nas entranhas e no coração do povo. Não será mais necessário procurar conhecer o Senhor, pois Ele será mais presente no íntimo da pessoa, que seu próprio eu; por outro lado o Senhor promete perdoar as maldades e não se lembrar mais dos pecados. De fato, parece uma nova criação, a ponto de o Salmo Responsorial ser o Salmo 50 (51), “criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido”!

         A repercussão de tal gesto do Senhor, veremos no Evangelho do dia, tirado de João 12,20-33, onde Jesus fala da necessidade de desapegar-se da própria vida para salvá-la, usando a metáfora do grão de trigo que precisa morrer para dar frutos.

         Ora, sabemos que o instinto de sobrevivência é o mais forte de todos os demais, logo será contra esse instinto, colocado em nós pelo próprio Senhor, que devo destruir? Não, não é isso que o Senhor nos pede, mas não absolutizar, mas inteligentemente relativizá-lo, sabendo que, na vida, existem elementos superiores a ele.

         Saber que a dignidade humana, o direito a uma vida com suas necessidades satisfeitas, está acima de qualquer valor, pois esse é o valor máximo! E a cada “decisão” vou abnegando valores secundários para servir e seguir o valor absoluto, Jesus Cristo, a verdadeira Vida, a eterna!

         O próprio Jesus deverá fazer seu discernimento e decidir. Ele sabe que a cruz é uma realidade e que está em seu horizonte. Sua vontade é pedir: ”Pai, livra-me desta hora!”, mas ele tem consciência de que “foi precisamente para esta hora que eu vim.” Portanto, o Senhor se abnega por um valor maior, fazer a nova e eterna aliança do povo com o Pai, mesmo sabendo que isso seria sua sentença de morte.

         O grão de trigo cai na terra, morre e dá frutos maravilhosos, ele ressuscita! Com sua ressureição, todos nós também ressuscitamos, usufruímos da aliança realizada pelo Senhor com o Pai.

         Quais são as renúncias que devemos fazer em nossa vida? Como seguirei e servirei o Senhor. “Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou, estará também o meu servo.”

         Aí entra a Carta aos Hebreus 5, 7-9, nossa segunda leitura. Ela nos fala da obediência, da obediência de Cristo ao Pai, que lhe pediu a entrega absoluta, em nosso favor, em favor da nova e eterna aliança.

         Diz o autor da Carta: “Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que obedecem”.

         Concluindo, os que aceitam a liderança de Cristo, aprenderam a fazer a “decisão”, abnegando sua vida em favor do Reino, em favor de outras pessoas, no seguimento do Senhor até sua doação extrema,  obedecem e participam da nova e eterna aliança do Pai, em Jesus Cristo, anunciando a misericórdia de Deus.

          Como está minha capacidade de entrega, de amar sem limites?

        Os “gregos” que buscam ver Jesus, podem encontrá-lo, visualizá-lo em mim?

Bom dia... 20/03/2021


sábado, 13 de março de 2021

Reflexão para o 4º Domingo da Quaresma – 14/03/2021

 


Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Deus é Pai, Deus é bom. Mesmo diante de um povo enraizado em fazer o mal, Ele tem misericórdia, e como Senhor da História, se serve de homens de valor para resgatar aqueles recalcitrantes e dar-lhes a dignidade desejada.”

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 Liturgia deste domingo transborda da misericórdia de Deus. Começamos nossa reflexão com a Carta de Paulo aos Efésios 2, 4-10, segunda leitura, onde o Apóstolo fala que “fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, que Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos.” Mesmo com o coração empedernido em praticar o mal, como nos fala a 1ª leitura, extraída de 2 Crônicas 36, 14-16.19-23, vemos no Evangelho de João 3, 14-21 que Deus não se deixa vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem. No deserto, após a desobediência do povo e da invasão de cobras venenosas, o Senhor se apiedou dele e misericordiosamente mandou colocar no centro do acampamento uma grande haste de madeira onde pendia uma cobra de bronze. Aquele que para ela olhava, ficava curado. Esse tronco com a cobra pendurada era prenúncio do Cristo, suspenso em uma cruz e salvação de todos os que a ele se dirigem com fé.

         Na conversa com Nicodemos, Jesus deixa claríssimo o objetivo de sua vinda, de sua missão: salvar os homens!  Se no Antigo Testamento era necessário olhar para a serpente, no novo, basta aproximar-se da luz, praticar o bem e crer no Filho do Homem!

         Por isso, na segunda leitura, Paulo fala que Deus nos ressuscitou com Cristo, em virtude de nossa união com Jesus Cristo. É de graça! Não por causa de méritos nossos, mas por pura graça de Deus. Não existe meritocracia. Nenhum de nós tem mérito algum, mesmo que só pratique o bem. Como vimos no final da segunda leitura, o bem que fazemos “foi preparado de antemão para que nós o praticássemos”. O único que tem mérito é Jesus Cristo, que em seu coração bondoso e generoso, aceitou morrer na cruz para nos dar a felicidade eterna.

         Do mesmo modo, a primeira leitura fala das infidelidades do povo; apesar disso tudo, o Senhor lhes enviava mensageiros para admoesta-los ao arrependimento e a praticarem o que era justo, mas a reação deles era zombar dos mensageiros divinos. A desgraça chegou através dos inimigos que atearam fogo a todas a construções fortificadas e ao Templo e derrubaram os muros da cidade, destruindo tudo o que havia de precioso. O rei inimigo levou os sobreviventes como escravos para sua pátria. Tudo ficou assim até que outro rei estrangeiro, de outro país, decidiu reconstruir o Templo em Jerusalém e resgatar Judá em sua própria terra.

         Deus é Pai, Deus é bom. Mesmo diante de um povo enraizado em fazer o mal, Ele tem misericórdia, e como Senhor da História, se serve de homens de valor para resgatar aqueles recalcitrantes e dar-lhes a dignidade desejada.

         Também a nós, Seu povo, resgatados pelo sangue de Seu Unigênito, o Senhor não vê nossos erros, mas deixa-se levar pelo seu coração paterno e nos apresenta Jesus Crucificado como nossa salvação, como nosso Redentor. Por isso, a liturgia deixa de lado a sisudez da quaresma e inicia a missa com o “Alegra-te, exultai de alegria”, retirado de Isaías 66, 10s e sugere ao celebrante trocar o roxo dos paramentos, usando os de cor rosa.

Bom dia... 13/03/2021


sábado, 6 de março de 2021

Reflexão Litúrgica do 3º Domingo da Quaresma – 07/03/2021

 


Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

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ão queiramos fazer Deus à nossa imagem e semelhança, nós é que fomos feitos à Sua imagem e semelhança e devemos nos amoldar a isso.

         As leituras da liturgia deste final de semana nos levam a buscar uma pureza de fé, de louvor a Deus, dentro do que Ele deseja.

         Deus é espírito, invisível e, por isso, não existe imagem para representá-lo, como entendemos na primeira leitura extraída de Êxodo 20, 1-7.

         Do mesmo modo, a transformação do espaço de culto em local de vendas e de câmbio, e a revolta de Jesus, expulsando os mercadores do Templo, como nos relata o Evangelho, tirado de João 2, 13-25, nos admoesta sobre o zelo que deveremos ter com esse espaço sagrado.

         A pureza também aparece na segunda leitura, 1ª Coríntios 1,22-25, quando Paulo é incisivo em dizer que nossa fé e religião pregam Jesus Cristo crucificado, poder de Deus e sabedoria de Deus. Portanto nada além disso deve ser pregado e tudo o mais dentro do Cristianismo deverá decorrer desse anúncio, Jesus, o Verbo Encarnado foi pregado na cruz, por amor a todos os homens e ressuscitou ao terceiro dia e está sentado à direita do Pai.

         A liturgia dá um salto ao não concordar dom a materialização de Deus e nem com a comercialização do relacionamento do homem com Ele.

         Quando Jesus fala para a samaritana que a adoração de Deus deve ser em espírito e verdade – Jo 4, 23c –, que não existe lugar para adorá-lo, o Senhor reafirma que Deus é onipresente, onisciente e onipotente está em toda parte e sabe de tudo e tudo pode.

         Não queiramos fazer Deus à nossa imagem e semelhança, nós é que fomos feitos à Sua imagem e semelhança e devemos nos amoldar a isso.

         Deus está em toda parte, em todo lugar para me dirigir a Ele, vê-Lo, senti-Lo, percebê-Lo nas pessoas, nas coisas, pois tudo foi criado por Ele, tudo possui sua marca registrada. Tudo deverá nos falar Dele. Tudo deverá nos levar ao Seu encontro.

         E tudo é de graça. A vida é de graça! Tudo deve me levar a gratuitamente falar de Deus e levar as pessoas a Deus. Amor com amor se paga! “De graça recebestes, de graça dai.” Mt 10, 8.

         Não se paga sacramentos e nem sacramentais, mas posso fazer e receber doações por ocasião de um momento muito importante de minha vida ou de minha família. Não estou pagando e nem cobrando, mas fazendo e recebendo uma doação. Amor com amor se paga!

         Minha relação com Deus é tão íntima que não precisa de imagem, eu O reconheço em suas palavras e gestos, em seu amor; nessa relação tudo é graça, tudo é relação afetiva, tudo é amor. Até no culto, tudo expressa a relação pai-filho; irmão-irmão e em tudo nos unimos para louvar nosso Deus, como fez Francisco de Assis com o Cântico das Criaturas e, mais tarde, Inácio de Loyola com a Contemplação para Amar, conclusão de seus Exercícios Espirituais.

Bom dia... 06/03/2021