sábado, 28 de março de 2020

Reflexão Litúrgica do 5º Domingo da Quaresma – SIM, SENHOR, EU CREIO!



Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

N
este Tempo Quaresmal, a Liturgia da Palavra tem nos apresentado Jesus como a Água viva (3º Domingo) e a Luz do mundo (4º Domingo).  Neste 5º Domingo da Quaresma, a catequese batismal em preparação para a Páscoa se completa com a passagem da “ressurreição de Lázaro”, apresentando-nos Jesus como “a Ressurreição e a Vida”.  No centro da narrativa joanina, está a palavra de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais” (Jo 11,25-26). A pergunta de Jesus à Marta, irmã de Lázaro, se dirige também a nós: “Crês isto?” Nós somos chamados a repetir com ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (Jo 11,27).  Esta profissão de fé, manifestada por Marta, deve estar no coração e nos lábios de cada discípulo de Cristo, especialmente nos momentos mais difíceis, como aquele da morte de Lázaro.

Na cena da ressurreição de Lázaro, destacam-se a ação de Jesus e a colaboração das pessoas. Lázaro recebe a vida por meio de Jesus, que o chama: “Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43). Ninguém sai sozinho do “sepulcro”! Somos libertados do pecado e da morte por Cristo.  Entretanto, Jesus quis contar com a colaboração das pessoas, conforme as suas palavras: “tirai a pedra!” (Jo 11,39) e “desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11,44). Hoje, há muitos “Lázaros” necessitados da “Ressurreição e a Vida”. E Jesus continua a dizer: “vem para fora”, sai do túmulo! Contudo, faltam, muitas vezes, pessoas dispostas a “tirar a pedra” e a desatar as amarras para que “Lázaro” possa voltar à vida e caminhar. É preciso mais amor fraterno, misericórdia e solidariedade. O cristão, ao dizer “Sim, Senhor, eu creio!”, se torna portador da esperança ancorada na fé e traduzida em gestos concretos de compaixão e serviço, conforme o lema da Campanha da Fraternidade deste ano: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”.

Estamos chegando ao final do Tempo da Quaresma. O próximo domingo será o Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Procure refletir sobre como tem transcorrido a sua Quaresma e aproveite bem o tempo que resta para preparar-se melhor para a Páscoa, através da oração, da penitência e do amor fraterno. Procure reconciliar-se com Deus e com os irmãos para poder celebrar bem a Páscoa. No Domingo de Ramos, ocorre a Coleta da Campanha da Fraternidade, que é um gesto concreto de comunhão e partilha de toda a Igreja no Brasil. Participe!

Bom dia... 28/03/2020


quarta-feira, 25 de março de 2020

EM QUEM ACREDITAR?



O
 cenário político brasileiro anda tão confuso e enfraquecido nos últimos dias, que se alguém disser que sabe o que vai acontecer até o final do ano, estará fazendo um exercício de adivinhação.

Depois que apareceu o Corona Vírus, se degenerou a qualidade da informação, da opinião, das atitudes de todos os que compõem o chamado poder público e é pouco provável que se encontre alguém, que estejam falando a mesma língua. Buscam, quase regra geral, direcionamento para seu favorecimento e proteção.

Em meio ao descrédito geral, ao desparecimento da fé pública, flutua igualmente comprometida a posição dos grandes veículos de comunicação de massa. De desejo de faturamento a ideologia misturada com nostalgia de faturamento fácil, as grandes redes de comunicação do nosso País, não conseguem se firmar mais como instrumentos formadores de opinião, passando a ser propagadores de tendências de formação ideológica.

Não bastasse as grandes redes de comunicação, ainda existem agora as chamadas mídias sociais, aplicativos de comunicação onde cada cidadão ganhou espaço para também ser um crítico, um comentarista de forma pública, e passou a destilar fel em observações de outros, caso as mesmas não estejam conforme seu pensamento. São tantas as diferenças nas informações que não há em quem acreditar na atualidade.

Se não bastasse, estamos num ano eleitoral e ainda não se sabe se o calendário eleitoral se manterá ou será alterado em virtude do Corona Vírus. Uma provável prorrogação de mandato pode acontecer, beneficiando prefeitos e vereadores de todo o Brasil. Mas será que a população vai querer que os atuais gestores municipais permaneçam nos cargos por mais um ou dois anos? O povo precisa ser consultado, provavelmente através de um plebiscito.

E me pergunto: aonde isso tudo vai parar? E a resposta é que não tenho a mínima ideia. Uma coisa é certa: não será coisa boa.

Caso nós não acordemos para a situação caótica que vive o Brasil na era Covid-19, e se os políticos e governantes, legisladores e até o Poder Judiciário, em geral, não acordarem para a realidade e continuarem barbarizando sempre a seu favor, ignorando e até tripudiando da população, vamos cair de vez no precipício, e sem volta.

O risco do Covid-19 contaminar a todos, é evidente e ninguém tem dúvida, mas é preciso que todos saibam que o vírus é um problema de todos, e não apenas do Governo. É preciso, acabar com os conflitos entre a direita e a esquerda, se unindo em prol da melhor solução para combater o Covid-19.

Diante da situação, hoje, fica a pergunta: Em quem acreditar? É difícil, mas como se apresenta, o quadro é de chorar.

Bom dia... 25/03/2020


domingo, 22 de março de 2020

Reflexão Litúrgica do 4º Domingo da Quaresma – ALEGRA-TE PELA LUZ DO MUNDO





Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 4º Domingo da Quaresma é denominado Laetare, palavra latina correspondente ao início da antífona de entrada da missa: “Alegra-te!”, conforme anuncia o profeta Isaías: “Alegra-te Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Sacia-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66,10s).

A cura do cego de nascença, narrada pelo Evangelho segundo João (9,1-41), ocorre no contexto da festa das Tendas ou dos Tabernáculos, uma das maiores festas em que o povo peregrinava para Jerusalém, recordando o modo como Israel viveu no deserto após a libertação da escravidão no Egito. Durante a festa, os sacerdotes tiravam a água da piscina de Siloé para derramá-la sobre o altar e durante a noite Jerusalém era iluminada por tochas acesas, especialmente no átrio do templo.

A narrativa joanina ressalta a água e a luz, que são símbolos batismais. O homem cego foi lavar-se nas águas da piscina de Siloé, cujo nome significa “Enviado”, um dos títulos messiânicos de Jesus. Na fonte batismal, somos lavados e recebemos a vida nova em Cristo. Para curar aquele homem, Jesus utiliza a terra e a saliva, formando o barro, que nos recorda a criação do ser humano, descrita pelo Gênesis. Mediante o batismo, somos recriados, pois nele ocorre um novo nascimento, uma nova criação.

Na figura do cego está representado cada um de nós. Somos levados à fonte batismal; nela, somos purificados e passamos a enxergar com a luz da fé, ao aceitar Jesus como “a luz do mundo” (Jo 8,12). O que foi curado da cegueira, ao encontrar-se com Jesus, exclamou: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9,38). O texto nos mostra que para chegar a esta atitude, ele percorreu um itinerário de crescimento e purificação na fé, que se repete na vida de quem é conduzido à fonte batismal. Quando questionado sobre quem o havia curado, ele se referiu primeiramente “àquele homem chamado Jesus”, chamando-o depois de “profeta”, para finalmente prostrar-se diante de Jesus, numa atitude de fé e adoração, reconhecendo-o como o “Senhor”.

O que se passa na celebração do batismo se estende ao longo da vida batismal. Renascidos pelo batismo e iluminados por Cristo, somos chamados a viver como “luz no Senhor”, como “filhos da luz”, renunciando às “obras das trevas” e produzindo os “frutos da luz” indicados por São Paulo: “bondade, justiça e verdade” (Ef 5,8-9).

Aproveite esta Quaresma para acolher a luz, que é Cristo, dedicando-se mais à oração e à escuta da Palavra. Busque o perdão e a reconciliação pelo sacramento da Penitência.

Bom dia... 22/03/2020


sábado, 14 de março de 2020

REFLEXÃO LITÚRGICA DO 3º DOMINGO DA QUARESMA – “SENHOR, DÁ-ME DESSA ÁGUA!”




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 Quaresma tem sido, desde as origens, um tempo batismal por excelência, marcado pela preparação dos catecúmenos para o Batismo e pela renovação das promessas batismais na Páscoa. A Liturgia da Palavra dos domingos da Quaresma serve de itinerário catequético para os que se preparam para o Batismo e para os que renovam a vida batismal. Por isso, o tema da água, proposto pela Liturgia deste domingo, adquire um sentido ainda maior pelo seu caráter batismal.

O Êxodo fala da água que Moisés fez brotar da rocha, na difícil travessia do povo pelo deserto rumo à nova terra. O povo purificou e amadureceu a sua fé atravessando o deserto. No deserto, chegou a duvidar da presença de Deus, conforme o final do texto proclamado: “O Senhor está no meio de nós ou não?” (Ex 17,7). Entretanto, no deserto, eles experimentaram a misericórdia e o poder de Deus, como demonstra o episódio da água que brota da rocha. Deus caminha com o seu povo na travessia do deserto, saciando a sua sede.

Nós somos o novo Povo de Deus que necessita de “água” para saciar a sede, especialmente quando passamos por situações de deserto representadas por provações, pelo cansaço e pela aridez. O diálogo de Jesus com a mulher samaritana ocorre à beira do poço, que foi do patriarca Jacó, por volta do meio dia, sob o sol forte e o calor. Jesus aproveita aquele momento para falar de outra sede e de outra água: “quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede” (Jo 4,14). No diálogo, ele se revela como a fonte da água viva. Mais tarde, ele dirá: “se alguém tiver sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37). Assim como a samaritana, nós também somos convidados a pedir a Jesus, nesta Quaresma: “Senhor, dá-me dessa água” (Jo 4,15).

Uma vez saciados, não podemos reter essa água. Quem a recebe deve ser portador dessa boa nova, a fim de que outros também possam abraçar a fé em Cristo, como ocorreu com a samaritana. “Muitos creram por causa da sua palavra”, afirma o texto joanino. Por isso, nesta Quaresma, beba da fonte da água que sacia a nossa sede de vida plena, que é Cristo, e ajude outros a fazerem a mesma experiência.

Há uma relação essencial entre água e vida. A CAMPANHA DA FRATERNIDADE, neste ano, nos convida a acolher a vida como “dom e compromisso”, fazendo-nos refletir e agir diante de tantas situações que destroem a vida. Necessitamos defender a vida e a dignidade de cada pessoa, em qualquer situação em que ela se encontrar, especialmente a vida mais indefesa ou fragilizada.  Saciados pela água viva, que é Cristo, possamos “ver, sentir compaixão e cuidar”, inspirados na parábola do Samaritano.

Bom dia... 14/03/2020


sábado, 7 de março de 2020

REFLEXÃO LITÚRGICA DO 2º DOMINGO DA QUARESMA – “LEVANTAI-VOS E NÃO TENHAIS MEDO”




Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

A
 passagem bíblica da Transfiguração do Senhor ilumina a nossa vivência quaresmal. Somos chamados a responder “sim” à voz do Pai que nos convida a escutar Jesus Cristo: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5).

Para compreender bem o sentido da Transfiguração, é preciso recordar-se de que os discípulos tinham ficado escandalizados com o anúncio da paixão feito por Jesus, pois eles não podiam admitir que o Messias pudesse sofrer e morrer na cruz. A contemplação de Cristo transfigurado anima a fé dos discípulos, preparando-os para abraçarem a cruz e participarem da paixão. Necessitamos, hoje, refazer a experiência de Pedro, Tiago e João para poder dizer: “Senhor, é bom ficarmos aqui!” (Mt 17.4). Fazemos isso, de modo especial, por meio da oração pessoal e comunitária, da escuta da Palavra e do encontro com Cristo na Eucaristia. Contudo, para isso, é preciso dispor-se a subir “a alta montanha” (Mt 17,1), conforme a expressão empregada por Mateus, o que exige esforço e perseverança. Esta tarefa não condiz com acomodação ou preguiça na vida espiritual.

Embora seja necessário o empenho de cada um, o discípulo não sobe a montanha da Transfiguração contando somente com suas forças. “Sobe”, primeiramente, porque o Senhor o “tomou consigo”, isto pela graça de Deus que precede e acompanha a subida. Além disso, é preciso subir juntos a alta montanha, aceitando os outros discípulos como companheiros de caminhada. Os discípulos que vivem da oração, da escuta da Palavra e da Eucaristia são discípulos em comunhão, pela vivência da unidade eclesial, a começar da comunidade local.

Aqueles que sobem a montanha, uma vez encontrando-se com o Senhor transfigurado, não podem se instalarem comodamente, ainda que seja sincero o desejo de construir tendas para permanecer com ele. É preciso descer a montanha para evangelizar, contando com o Senhor Ressuscitado que acompanha e sustenta os seus discípulos na missão. Por isso, Jesus afirma: “levantai-vos e não tenhais medo” (Mt 17,7). E eles desceram em direção à multidão, especialmente, ao encontro dos doentes e sofredores. Ao invés do desânimo ou do medo, quem reza encontra sempre esperança e forças para caminhar, para dar testemunho da fé, para amar e servir.

Nesta Quaresma, a oração e a meditação devem ocupar um lugar muito especial na nossa vida. Ao mesmo tempo, a oração deve ser sempre acompanhada do amor fraterno e da disposição em servir os irmãos, especialmente os que mais sofrem.

Bom dia... 07/03/2020