sábado, 30 de maio de 2020

Reflexão Litúrgica da SOLENIDADE DE PENTECOSTES - ENVIAI O VOSSO ESPÍRITO, SENHOR!




Cardeal Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

C
onforme narra os Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), quando era comemorada a antiga festa de Pentecostes, em Jerusalém, no início da pregação apostólica, aconteceu a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos reunidos no cenáculo. Por isso, Pentecostes recebeu um novo significado, passando a celebrar a vinda do Espírito Santo. Com esta solenidade, concluímos o Tempo Pascal, suplicando a presença do Espírito Santo em nossa vida e na vida da Igreja. “Enviai o vosso Espírito, Senhor, e renovai a face da terra”, rezamos com o Salmo 103. “Daí aos corações vossos sete dons”, pedimos através do hino litúrgico conhecido como “Sequência” de Pentecostes.

Nós cremos no Espírito Santo “que procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”, conforme rezamos no “Creio” (Credo Niceno-Constantinopolitano). Nós cremos no Espírito da Verdade, o Defensor, o Consolador (Jo 14,26), que nos ilumina e fortalece na vivência e no testemunho da Palavra de Jesus. Por isso, confiantes, suplicamos a sua presença, nesta solenidade, e a cada dia.

A Liturgia da Palavra nos fala da ação do Espírito Santo. Os Atos dos Apóstolos mostra o Espírito iluminando e animando os discípulos na missão, unindo os que falavam línguas diferentes e fazendo-os compreender a pregação dos Apóstolos, “pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (At 2,8). A unidade das diferentes línguas, dom do Espírito, se contrapõe à divisão ocorrida em Babel.  São Paulo também se refere à ação do Espírito, que se manifesta na diversidade de dons e ministérios, “em vista do bem comum” (1Cor 12, 5-6), motivando os cristãos a viverem unidos.  O Evangelho segundo João, ao relacionar o dom do Espírito ao Senhor Ressuscitado, destaca o perdão e a paz, assim como o envio missionário. “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20,21), afirma Jesus. O Espírito do perdão e da paz nos une para que possamos cumprir a missão de testemunhar o Evangelho.

Neste domingo, expresso o meu louvor a Deus por estes nove anos que estive a serviço da Arquidiocese de Brasília e a minha profunda gratidão a todos os irmãos e irmãs que me ajudaram a cumprir a missão de arcebispo pelas orações, fraterna estima e colaboração pastoral. Muito obrigado pela atenção à “Palavra do Pastor”. Rezem por mim! Recorrendo à intercessão de nossa Padroeira, suplico as bênçãos de Deus para todos.

Bom dia... 30/05/2020


sábado, 23 de maio de 2020

Reflexão Litúrgica da ASCENSÃO DO SENHOR - IDE E FAZEI DISCÍPULOS



Cardeal Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

N
a solenidade da ASCENSÃO DO SENHOR, celebramos o mistério da fé que professamos ao rezar o Creio: “Jesus subiu aos Céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”. Quem crê na ressurreição e na vida eterna, jamais se desespera diante da morte; ao contrário, permanece firme na esperança. O fundamento da nossa esperança é Cristo Ressuscitado, vencedor da morte.

Ao mesmo tempo, a esperança que brota da fé no Ressuscitado, se completa com a atitude de responsabilidade na vida presente. Na narrativa da Ascensão, conforme os Atos dos Apóstolos, os anjos perguntam aos apóstolos: “por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1,11). Os discípulos de Jesus não podem “ficar parados”, olhando para o céu. O olhar para o céu é necessário para nos levar a caminhar, cumprindo a missão que Jesus deixou, conforme o Evangelho: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei” (Mt 28, 19).

Em resposta ao mandato missionário, os discípulos saíram para anunciar o Evangelho por todo o mundo. Hoje, somos nós, os discípulos chamados a anunciar e a testemunhar Jesus Cristo, em casa, no trabalho, na escola e nos diversos ambientes. Nesta missão, não estamos sozinhos. Ele prometeu estar sempre com os discípulos enviados em missão: “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,20). As nossas comunidades devem estar em estado permanente de missão. Devemos ir ao encontro de todos, especialmente das ovelhas sofridas ou dispersas. Nesta tarefa, devemos valorizar, sempre mais, os meios de comunicação social. Celebra-se, a cada ano, neste domingo, o Dia mundial das Comunicações Sociais. Em sua mensagem para este dia, o Papa Francisco aborda o tema da “narração”: “Para que possas contar e fixar na memória” (Ex. 10,2). A vida faz-se história. Nela, o Santo Padre ressalta a necessidade de “histórias boas: histórias que edifiquem e não as que destruam; histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a força para prosseguirmos juntos”.

Estamos iniciando a preparação para Pentecostes a ser celebrado no próximo domingo e a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.  Preparando Pentecostes, somos convidados a superar as divisões, orando pela unidade dos cristãos segundo o desejo do próprio Jesus: “Que todos sejam um!” (Jo 17,21).

Bom dia... 23/05/2020


sábado, 16 de maio de 2020

Reflexão Litúrgica do VI Domingo da Páscoa - O ESPÍRITO DA VERDADE E DEFENSOR!




Cardeal Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

E
stamos para celebrar as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes nos próximos domingos do Tempo Pascal. O Evangelho, hoje proclamado, nos prepara para essas grandes celebrações pascais, recordando-nos a promessa de Jesus de não deixar “órfãos” os seus discípulos, ao retornar para o Pai, enviando-lhes o Espírito Santo, o “defensor” que permanece sempre com os discípulos, o “Espírito da verdade”, que estará “junto” dos discípulos e “dentro” deles (Jo 14,16-17). Para receber a manifestação de Jesus e acolher o dom do Espírito, somos convidados a acolher e observar os seus mandamentos.

Desde o início deste tempo litúrgico, temos sido motivados não apenas a celebrar, mas também a viver a Páscoa que celebramos. Por isso, a promessa de Jesus, já cumprida, se dirige também a nós. A nós, hoje, o Senhor promete não nos deixar sozinhos e nos oferece o dom do Espírito da verdade, o defensor. Nós somos agraciados com a presença do Ressuscitado e com o dom do seu Espírito. A esses dons respondemos com o louvor e com o cumprimento de sua Palavra.

Contudo, os mistérios pascais que celebramos não ficam apenas no interior dos templos ou da comunidade cristã. Toda a terra deve aclamar a Deus e cantar salmos a seu nome glorioso, conforme o Salmo 65. Para tanto, é preciso testemunhar o Evangelho a todos, como fez corajosamente Filipe, na Samaria (At 8,5).

A primeira carta de São Pedro nos alerta: “estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que pedir” (1Pd 3,15). A fé celebrada se transforma em fé vivida e testemunhada no mundo, também entre aqueles que não creem em Cristo. Entretanto, isso deve ser feito “com mansidão e respeito e com boa consciência”. Para que a missão evangelizadora da Igreja continue a se cumprir, no mundo de hoje, necessitamos de cristãos com o coração missionário e, acima de tudo, precisamos do Espírito de Deus para nos iluminar e tornar fecundo o trabalho evangelizador.

Neste tempo difícil de pandemia, nós somos convidados a testemunhar a fé, através do amor e da solidariedade com os que mais sofrem, sendo portadores da esperança que tem sua razão de ser em Cristo Ressuscitado.  A oração e a meditação da Palavra de Deus, tão necessárias o ano todo, tornam-se ainda mais importantes, neste momento. Por isso, organize a sua vida cotidiana para poder rezar mais e melhor.

Bom dia... 16/05/2020


sábado, 9 de maio de 2020

Reflexão Litúrgica do V Domingo da Páscoa - O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA!




Cardeal Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 Evangelho proclamado, neste domingo, situa-se no contexto da última ceia, véspera da morte de Jesus na cruz. O clima de despedida, com os discípulos inquietos e preocupados, se transforma com as palavras de Jesus portadoras de serenidade e de esperança: “não se perturbe o vosso coração”; “vou preparar um lugar para vós” (Jo 14,1.2). Contudo, não se trata de uma atitude passiva, de comodismo, conforme a resposta de Jesus a Tomé. O discípulo demonstra não saber qual caminho seguir para chegar à morada preparada por Jesus na casa do Pai, ao perguntar-lhe: “como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5). A resposta de Jesus está no centro da passagem meditada: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Não se trata apenas de uma bela afirmação, mas de um anúncio de validade permanente na vida e missão da Igreja. Os cristãos de hoje, assim como nos primórdios, necessitam fazer a experiência desta Palavra de Jesus. Hoje, há muita gente buscando o caminho a seguir, a verdade que dá sentido ao caminhar e a vida plena. Jesus é a resposta!

Os primeiros cristãos acreditaram na Palavra de Jesus, vivendo-a em comunidade, como devemos fazer, hoje. A comunidade cristã deve ser sinal e anúncio de Jesus, “o Caminho, a Verdade e a Vida”, no seu modo de viver e de se organizar. Por isso, os apóstolos organizaram melhor o serviço da caridade, para atender os mais pobres, representados pelas viúvas (At 6,1).

Por melhor que uma comunidade deva se organizar, ela jamais poderá ser equiparada a uma simples instituição. Permanecerá sempre uma comunidade de fé, um “edifício espiritual”, alicerçado em Cristo, a “pedra viva” ou a “pedra angular”, segundo os termos empregados pela Primeira Carta de Pedro (1Pd 2,4-6). A imagem da “pedra viva” é aplicada primeiramente a Cristo, a “pedra angular”, mas também aos seguidores de Jesus. Nós somos “pedras vivas” do templo espiritual que é a Igreja. Por isso, somos chamados a ser “sacerdócio santo” e “nação santa”. Ao invés de oferecer sacrifícios de animais, como ocorria no templo de Jerusalém, devemos “oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus”, através de uma vida santa. Entretanto, é preciso crescer e permanecer firmes na fé, pois a rejeição da “pedra angular”, que é Cristo, pode ser sofrida também pelas “pedras vivas” que são os cristãos.

Neste domingo, nós somos convidados a rezar pelas mães, demonstrando-lhes o nosso amor e gratidão por meio de gestos concretos. Obrigado às mães por tanto amor dedicado aos seus filhos. Rezemos pelas mães que mais sofrem, especialmente por causa da pandemia. Continuemos a cuidar, com amor e responsabilidade, da vida que é dom de Deus, recebida através de nossas mães.

Bom dia... 09/05/2020


sábado, 2 de maio de 2020

Reflexão Litúrgica do IV Domingo da Páscoa - BOM PASTOR E PORTA!




Cardeal Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília

O
 IV DOMINGO DA PÁSCOA é conhecido como “DOMINGO DO BOM PASTOR”. Nele, sempre se proclama um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, que apresenta Jesus como o Bom Pastor. No mesmo dia, somos convidados a rezar por aqueles que se dedicam ao cuidado pastoral do rebanho de Cristo. Por isso, o Domingo do Bom Pastor é também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

No início do capítulo 10 de João, encontramos ressaltada a imagem da “porta”, além da figura do “pastor”, ambas muito significativas no ambiente pastoril da época. Por duas vezes, neste breve trecho, Jesus afirma: “Eu sou a porta das ovelhas” (v. 7 e 9). Quem entrar no redil por meio da “porta”, que é Jesus, “será salvo” (v.9). É preciso passar por essa “porta” para chegar à pastagem que traz vida.

Quanto à imagem do “pastor”, neste ano, contemplamos Jesus como o Bom Pastor que: a) “chama cada uma de suas ovelhas pelo nome”, o que denota relacionamento pessoal e proximidade; b) “caminha à frente das ovelhas”, indicando-lhes o caminho a seguir; c) e que veio para que as suas ovelhas “tenham vida e a tenham em abundância”. Quanto às ovelhas, aquelas que lhe pertencem, o seguem e escutam a sua voz. Em contraposição à figura do pastor, está a do “ladrão” que não passa pela porta, mas sobe por outro lugar, e que vem para “roubar, matar e destruir”.

A segunda leitura também nos apresenta Jesus como “o Pastor e guarda” da vida de cada um de nós. Ao recordar os sofrimentos de Cristo, a Primeira Carta de Pedro nos exorta a seguir os seus passos, suportando os sofrimentos por fazer o bem, jamais retribuindo o mal com o mal. (1Pd 2,20-25).

A nossa reposta diante do Bom Pastor deve ser de escuta fiel de sua voz e de conversão sincera, conforme nos pede o livro dos Atos dos Apóstolos: “Convertei-vos!” (At 2,38). Ao mesmo tempo, nós somos chamados a colocar a nossa inteira confiança no Pastor que nos conduz e nos leva para as águas repousantes (Salmo 22).

Rezemos pelos que mais sofrem com a pandemia, de modo especial pelos enfermos e por suas famílias, pelos profissionais da saúde e por todos os que se dedicam ao cuidado dos doentes, pelos que faleceram e por seus familiares. Permaneça unido à Igreja, em oração, e procure ser solidário com os que mais sofrem.

Bom dia... 02/05/2020