sábado, 24 de maio de 2025

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA O 6º DOMINGO DA PÁSCOA – 25/05/2025

 

Pe. Paulo Sérgio Silva - Diocese de Crato-CE

A

o longo do tempo pascal temos acompanhado Jesus ressuscitado se fazendo presente na caminhada de sua comunidade apostólica. Estes encontros com o Senhor ressuscitado além de fortalecer a fé dos discípulos, serviram para consolidar em seus corações os valores do Reino, essenciais para a fidelidade ao anúncio do Evangelho. Jesus inicia sua despedida física e prepara os discípulos para vivenciar um novo tipo de presença permanente. As nossas próximas celebrações litúrgicas – Ascenção e Pentecostes, anunciam novas etapas de crescimento para a fé cristã. A comunidade deverá manter-se em Unidade para permanecer sendo promovedora da Paz.

A primeira leitura (At 15,1-2.22-29) nos coloca diante da Igreja nascente buscando resolver os desafios nascidos do encontro das diferentes culturas nas quais foi semeado o Evangelho. A questão apresentada é de suma importância e por isto se fez necessário realizar o primeiro “Concílio Apostólico” ou “Concílio de Jerusalém”: “Qual a condição essencial para ser discípulo de Jesus Cristo”? Depois de rezarem e dialogarem, conduzidos pelo Espírito Santo, os apóstolos e anciãos aprenderam a distinguir o essencial do que é secundário, atualizaram e reafirmaram a proposta central do Evangelho para todos os povos. Esta atitude revela um discernimento que característico da espiritualidade das primeiras comunidades cristãs: se deixar conduzir pelo Espírito Santo para discernir a vontade de Deus (Rm 12,2; Ef 5,10). Esta decisão conciliadora permanecerá na Igreja ao longo dos séculos, tanto que Santo Agostinho a resumirá em sua célebre frase: “Nas coisas essenciais, a unidade; nas coisas não essenciais, a liberdade; em todas as coisas, a caridade”.

A situação narrada é bem semelhante aos nossos dias atuais onde diferentes grupos dentro da Igreja tentam tomar para si a responsabilidade de afirmar o que é a fé cristã enquanto negam a Unidade na Caridade que é presidida e garantida pelo Santo Padre, atualmente o Papa Leão XIV. O que era o essencial para a fé nos tempos apostólicos continua o sendo, pois o essencial não muda, é algo permanente. No era dos Apóstolos quiseram afirmar a necessidade de circuncisão para a salvação. No tempo atual tentam também afirmar certos fatos para “cercar” e condicionar a salvação. O que foi, é e sempre será o essencial de nossa fé? O que é necessário para ser verdadeiramente cristão? É uma língua ou idioma? Um rito celebrativo? Uma cultura? Ainda estamos deixando que o Espírito Santo continue nos apontando como anunciar o Evangelho ao invés impor nossos gostos e preferências sobre a unidade da Igreja?

Na segunda leitura (Ap 21,10-14.22-23), apresenta-nos novamente a “Jerusalém messiânica”, cidade da plena comunhão com Deus, manifestação da nova terra e do novo céu onde habita a justiça (2Pe 3,13). Este é o lugar do encontro definitivo entre Deus e o seu Povo; e está fundada sobre os doze Apóstolos (testemunhas do Cordeiro) que representam as 12 tribos de Israel. Eis a totalidade do Povo de Deus (Antigo e Novo Testamento). Assim compreendemos que o cristianismo se compõe de várias tradições religiosas, tanto de judeus como de pagão/gentios. A humanidade unida e reunida não mais necessitará de astros que produzam luz. Sua luz perpétua é a vida de Deus e do seu Cordeiro. Aquilo que a Igreja busca viver enquanto peregrina “neste vale de lágrimas”, é vislumbrada em sua plenitude: a unidade na diversidade.

No Evangelho (Jo 14,23-29), Jesus, no contexto de despedida na Última Ceia, indica aos discípulos como poderão permanecer em comunhão com Ele mediante sua assistência através do “paráclito” – o Espírito Santo. Se trata da conclusão do chamado “discurso da consolação”, onde Jesus, sabendo que se aproximava a sua “hora”, prepara sua comunidade para viver sua presença de outra forma. No coração dos discípulos parece surgir inquietações e dúvidas: eles poderão continuar no “caminho” do Reino, se Jesus não caminhar fisicamente ao lado deles?

Jesus promete uma morada permanente Dele e do Pai, no coração humano. A condição para que esta promessa se realize é que o discípulo ame verdadeiramente a Jesus e acolha sua Palavra. Em seguida lhe oferece o dom da paz. Aqui não se trata de uma paz sangrenta advinda do poder devastador de um exército cuja força vem das armas – como a pax romana imposta pelo império romano no tempo de Jesus. A paz que pregamos hoje – seja como leigos ou sacerdotes – é a paz de Jesus Cristo ou a “paz” de um império político? Nossos planos são fundamentados na oração e no discernimento da voz do Espírito Santo ou no dinheiro e nas armas manchadas de sangue?

A comunidade precisa confiar na ação de Deus, por isto não deve se deixar intimidar pelas ameaças nem se desesperar diante dos obstáculos. E muito menos devemos construir muros para separar os cristãos dos demais povos. Se fizermos isto negaremos a essência da missão da Igreja. Devemos nos reunir para meditar a Palavra e fazer Oração tendo como luz e guia o Espírito Santo, para que Ele outra vez nos conduza ao discernimento do que é a vontade do Pai do mesmo modo como Jesus fez e viveu.

Deus em sua divina sabedoria e compaixão nos torna os realizadores da nossa própria história, no entanto não nos abandona, permanece caminhando conosco. De maneira sucinta e discreta, respeitando a nossa liberdade e nos auxiliando com sua Graça, Ele encontrou formas de permanecer conosco. Nós, os cristãos – a Igreja, continuadora da missão de Jesus e que possui como fundamento os apóstolos e a Tradição advinda deles, devemos permanecer atentos e dóceis aos apelos do Espírito Santo para continuarmos caminhando em direção às portas da Jerusalém celeste, a morada definitiva de Deus e nossa.

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