Prof. Felipe Aquino |
Prof. Felipe Aquino
Do livro: Família,
Santuário da Vida
U
|
ma
equipe de psicólogos e especialistas americanos, que trabalhava com terapia
conjugal, elaborou os 'dez mandamentos do casal'.
Gostaria
de analisá-los, já que trazem muita sabedoria para a vida e a felicidade dos
casais. É mais fácil aprender com o erro dos outros do que com os nossos
próprios.
1. Nunca irritar-se ao mesmo tempo.
A
todo custo, evitar a explosão. Quanto mais a situação é complicada, mais a
calma é necessária. Então, será preciso que um dos dois acione o mecanismo que
assegura a calma de ambos diante da situação conflitante. É preciso nos
convencermos de que, na explosão, nada será feito de bom. Todos sabemos bem
quais são os frutos de uma explosão: destroços, mortes e tristezas; portanto,
jamais podemos permitir que a explosão chegue a acontecer. Dom Helder Câmara,
arcebispo emérito de Olinda (PE), tem um belo pensamento que diz: "Há
criaturas que são como a cana, mesmo postas na moenda, esmagadas de todo,
reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura"
2. Nunca gritar um com o outro.
A
não ser que a casa esteja pegando fogo. Quem tem bons argumentos não precisa
gritar. Quanto mais alguém grita, menos é ouvido. Alguém me disse certa vez que
se gritar resolvesse alguma coisa, porco nenhum morreria. Gritar é próprio
daquele que é fraco moralmente e, por isso, precisa impor, pelos gritos, aquilo
que não consegue pelos argumentos e pela razão.
3. Se alguém deve ganhar na discussão, deixar que
seja o outro
Perder
uma discussão pode ser um ato de inteligência e de amor. Dialogar jamais será
discutir, pela simples razão de que a discussão pressupõe um vencedor e um
derrotado, mas no diálogo não. Portanto, se, por descuido nosso, o diálogo se
transformar em discussão, permita que o outro “vença” para que, mais
rapidamente, ela termine. Discussão no casamento é sinônimo de “guerra”, uma
luta inglória. “A vitória na guerra deveria ser comemorada com um funeral”,
dizia Lao Tsé. Que vantagem há em se ganhar uma disputa contra aquele que é a
nossa própria carne? É preciso que o casal tenha a determinação de não provocar
brigas. Não podemos nos esquecer de que basta uma pequena nuvem para esconder o
sol. Às vezes, uma pequena discussão esconde, por muitos dias, o sol da alegria
no lar.
4. Se for inevitável chamar à atenção, fazê-lo com
amor.
A
outra parte tem de entender que a crítica tem o objetivo de somar e não de
dividir. Só tem sentido a crítica que for construtiva, pois esta é amorosa, sem
acusações nem condenações. Antes de apontarmos um defeito, é sempre
aconselhável apresentar duas qualidades do outro. Isso funciona como um
anestésico para que se possa fazer o curativo sem dor. Reze pelo outro antes de
abordá-lo em um problema difícil. Peça ao Senhor e a Nossa Senhora que preparem
o coração dele para receber bem o que você precisa lhe dizer. Deus é o primeiro
interessado na harmonia do casal.
5. Nunca jogar no rosto do outro os erros do
passado.
A
pessoa é sempre maior que seus erros, e ninguém gosta de ser caracterizado por
seus defeitos. Toda vez que acusamos alguém por seus erros passados, estamos trazendo-os
de volta e dificultando que ela se livre deles. Certamente, não é isto que
queremos para a pessoa amada. É preciso todo o cuidado para que este mal não
ocorra nos momentos de discussão. Nessas horas, o melhor é manter a boca
fechada. Aquele que estiver mais calmo, que for mais controlado, deve ficar
quieto e deixar o outro falar até que se acalme. Não revidar em palavras, senão
a discussão aumenta e tudo de mau pode acontecer em termos de ressentimentos,
mágoas e dolorosas feridas.
Nos
tempos horríveis da Guerra Fria, quando pairava sobre o mundo todo o perigo de
uma guerra nuclear, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, o Papa
Paulo VI avisou ao mundo: "A paz impõe-se somente com a paz, pela
clemência, pela misericórdia, pela caridade”. Ora, se isso é válido para o
mundo encontrar a paz, muito mais é válido para todos os casais viverem bem.
Portanto, como ensina Thomás de Kemphis, na Imitação de Cristo, “primeiro
conserva-te em paz, depois poderás pacificar os outros”. E Paulo VI, ardoroso
defensor da paz, dizia: “Se a guerra é o outro nome da morte, a vida é o outro
nome da paz”. Portanto, para haver vida no casamento, é preciso haver a paz, e
ela tem um preço: a nossa maturidade.
6. A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos
com o cônjuge
Na
vida a dois, tudo pode e deve ser importante, pois a felicidade nasce das
pequenas coisas. A falta de atenção para com o cônjuge é triste na vida do
casal e demonstra desprezo para com o outro. Seja atento ao que ele diz, aos
seus problemas e aspirações.
7. Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo.
Se
isso não acontecer, no dia seguinte o problema poderá ser bem maior. Não se
pode deixar acumular problema sobre problema sem solução. Já pensou se você
usasse a mesma leiteira que já usou, no dia anterior, para ferver o leite sem
antes lavá-la? O leite certamente azedaria. O mesmo acontece quando acordamos
sem resolver os conflitos de ontem. Os problemas da vida conjugal são normais e
exigem de nós atenção e coragem para enfrentá-los, até que sejam solucionados,
com o nosso trabalho e com a graça de Deus. A atitude da avestruz, da fuga, é a
pior que existe. Com paz e perseverança busquemos a solução.
8. Pelo menos uma vez ao dia, dizer ao outro uma
palavra carinhosa.
Muitos
têm reservas enormes de ternura, mas se esquecem de expressá-las em voz alta. Não
basta amar o outro, é preciso dizer isso também com palavras. Especialmente
para as mulheres, pois nelas isso tem um efeito quase mágico. É um tônico que
muda completamente o seu estado de ânimo, humor e bem estar. Muitos homens têm
dificuldade neste ponto; alguns por problemas de educação, mas a maioria porque
ainda não se deu conta da sua importância.
Como
são importantes essas expressões de carinho que fazem o outro crescer! "Eu
te amo”, “você é muito importante para mim”, “sem você eu não teria conseguido
vencer este problema”, “a sua presença é importante para mim”, “suas palavras
me ajudam a viver”… Diga isso ao outro, com toda sinceridade, toda vez que
experimentar o auxílio edificante dele.
9. Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir
desculpas.
Admitir
um erro não é humilhação. A pessoa que admite o seu erro demonstra ser honesta
consigo mesma e com o outro. Quando erramos, não temos duas alternativas
honestas, apenas uma: reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que
fizemos de errado, com o propósito de não repeti-lo. Isso é ser humilde. Agindo
assim, mesmo os nossos erros e quedas serão alavancas para o nosso
amadurecimento e crescimento. Quando temos a coragem de pedir perdão, vencendo
o nosso orgulho, eliminamos de vez o motivo do conflito no relacionamento, e a
paz retorna aos corações. É nobre pedir perdão!
10. Quando um não quer, dois não brigam.
É
a sabedoria popular que ensina isso. Será preciso então que alguém tome a
iniciativa de quebrar o ciclo pernicioso que leva à briga. Tomar esta
iniciativa será sempre um gesto de grandeza, maturidade e amor. E a melhor
maneira será “não por lenha na fogueira”, isto é, não alimentar a discussão.
Muitas vezes, é pelo silêncio de um que a calma retorna ao coração do outro.
Outras vezes, será por um abraço carinhoso ou por uma palavra amiga. Todos nós
temos a necessidade de um “bode expiatório” quando algo adverso nos ocorre.
Quase inconscientemente, queremos, como se diz, “pegar alguém para Cristo”, a
fim de desabafar as nossas mágoas e tensões. Isto é um mecanismo de compensação
psicológica que age em todos nós nas horas amargas, mas é um grande perigo na
vida familiar.
Quantas
e quantas vezes acabam “pagando o pato” as pessoas que nada têm a ver com o
problema que nos afetou. Às vezes, são os filhos que apanham do pai que chega
em casa nervoso e cansado; outras, é a esposa ou o marido que recebe do outro
uma enxurrada de lamentações, reclamações e ofensas, sem quase nada ter a ver
com o problema em si.
Temos
de nos vigiar e policiar nestas horas para não permitir que o sangue quente nas
veias gere uma série de injustiças com os outros. E temos de tomar redobrada
atenção com os familiares, pois, normalmente, são eles que sofrem as
consequências de nossos desatinos. No serviço, e fora de casa, respeitamos as
pessoas, o chefe, a secretária etc, mas, em casa, onde somos “familiares”, o
desrespeito acaba acontecendo. É preciso toda a atenção e vigilância para que
isso não aconteça. Os filhos, a esposa, o esposo, são aqueles que merecem o
nosso primeiro amor e tudo de bom que trazemos no coração. Portanto, antes de
entrarmos no recinto sagrado do lar, é preciso deixar lá fora as mágoas, os
problemas e as tensões. Essas até podem ser tratadas na família, buscando-se
uma solução para os problemas, mas, com delicadeza, diálogo, fé e otimismo.
Prof. Felipe Aquino, é casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Pergunte e Responderemos".
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