Dom Henrique Soares da Costa |
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo Auxiliar de Aracaju - Sergipe
E
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stava
pensando nos cristãos da Igreja dos inícios: de fora, perseguições do Império
Romano; de dentro, as divisões e as decepções com irmãos que, perseguidos,
renegavam a fé...
Isto
mesmo: a Igreja sempre viverá em meio a tribulações, a fracassos, a
perseguições e escândalos. Nunca será na terra o que terá somente no Céu: a paz
da fidelidade perene de seus filhos e do gozo eterno da Glória... Mesmo que
seja verdadeiramente a Igreja de Cristo, a família de Deus, a semente do Reino
que se manifestará plenamente na Glória, ela caminha neste mundo ainda sob a
marca da ambiguidade, das ambiguidades... Será assim até o fim!
Os
verdadeiros católicos não são católicos por causa da Igreja, mas por causa do
Cristo fidelíssimo, que nos amou até a cruz e nos deu a Sua Igreja, nascida do
Seu lado aberto e do Seu Espírito entregue, como Mãe e canal de Sua graça.
Certamente que os escândalos, a crise de fé de tantos filhos da Igreja, o mau
exemplo de quem deveria ser presença viva de Cristo – tudo isto nos entristece
e pode nos trazer a tentação do desânimo; no entanto, se compreendermos bem o
que é a Igreja, se tivermos os olhos e o coração fixos no Cristo, então todas
essas realidades negativas em nada tirarão a nossa paz.
Precisamos
– isto sim – compreender que a Igreja não existe por si mesma e não é santa por
si mesma, mas tudo recebe do Cristo. Precisamos levar a sério que é Cristo quem
atrai os Seus e agindo por Sua graça operosa os congrega e os mantém firmes na
fé. Não somos nós, ministros sagrados, quem seguramos o povo e não somos os
astros “pop stars” e interessantes, que mantêm o povo na Igreja... Tudo isto é
um grosseiro e triste erro, é bobagem e presunção humana! Por que alguns
ministros sagrados se sentem na obrigação de serem astros, de serem adaptáveis
a tudo quanto é mundano, na ilusão de que isso atrai? É Cristo o Astro único, é
Cristo Quem atrai, é Cristo a novidade, é Cristo Quem nos mantém fieis, é
Cristo – e só Cristo – a alegria perene do nosso coração. Aliás é bom ter bem
presente: quem entra na Igreja ou nela permanece por outro motivo que não
Cristo, perde tempo e não está verdadeiramente na Igreja! A pergunta, a
questão, o definitivo é e será sempre aquela pergunta: “Tu Me amas?”
Entristece-me
muito – mais que qualquer escândalo – ver tantos membros do clero e tantos
teólogos preocupados em ser agradáveis às pessoas, atraentes e simpáticos ao
mundo, gente de “boa pinta”, interessante e simpática... Recordo de Pedro, de
Paulo, de João, de Madre Teresa, de Frei Damião, da Irmã Dulce, do Padre Pio...
Certamente nunca procuraram ser atraentes, mas docemente, benignamente fieis!
Não somos nós quem atraímos! Não temos de ser boa gente e engraçadinhos para
atrair! É Cristo Quem atrai, é Cristo o centro! A nós, basta deixar que Cristo
de tal modo impregne a nossa vida que quem nos vir, veja Cristo em nós: como
exigente bondade, como amor que se dá, como responsabilidade que não esconde
nem omite o essencial!
Tantos
pregam a secularização para atrair o povo e a mundanização da Igreja, na ilusão
de se fazerem simpáticos e compreendidos... Desprezam tudo aquilo que ajuda a
mostrar a identidade católica, a alegria da consagração e o gosto de ser
diferente do mundo... Pensam que com isso estão aproximando as pessoas e se
fazendo compreender pelo mundo atual... Pura distorção ideológica e
ultrapassada! O mundo grita por sinais de Deus, por marcas do eterno, por
reflexos do sagrado, por gente que não tenha medo de crer, viver e testemunhar
o infinito que renova esta terra!
O
que afasta o povo é uma Igreja que não dá Cristo; o que esmorece a fé são
padres e religiosos ou leigos que querem ser protagonistas, ao invés de darem
lugar ao Cristo, único Senhor e Astro; o que cansa as pessoas são homilias que
falam de tudo, mas não falam pura e simplesmente de Cristo, de Seu amor, de Sua
beleza, de Seu perdão e salvação; o que torna a Igreja sem graça é o moralismo
ideológico, que confunde o Reino com sociedade socialista, que só sabe falar em
questões sociais. A Igreja não existe para si, mas para um Outro! Não deve se
colocar no centro, mas deixar que Cristo seja o centro! A função da Igreja, sua
razão de ser é pura e simplesmente provocar o encontro das pessoas com Jesus,
trazer-lhes Jesus, cheio de Espírito Santo e, assim, inundar o coração das
pessoas e do mundo com o Reinado de Deus – onde está o Espírito de Cristo, aí
está o Reinado do Pai que Jesus trouxe com Sua morte e ressurreição!
Nossa
questão não é pensar no que atrai o povo, mas anunciar Jesus, pura e
simplesmente, com toda fidelidade, simplicidade, amor e mansidão... O resto é
graça, é ação do Senhor, é misericórdia de Deus...
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