A busca de uma
paternidade e maternidade responsável,
é um processo lento e gradativo.
Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
A
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família verdadeiramente cristã busca viver
intensamente os preceitos evangélicos e a doutrina da Igreja. Por isso, quando
a Igreja propõe a paternidade e maternidade responsável não está impondo uma
nova lei, ou algo arbitrário. Está na linha do que lhe é próprio e devido, como
ideal inerente à vocação familiar.
É o plano de Deus e está na ordem natural a
realização humana. Mas, o que se vê nos dias de hoje é uma espécie de inversão
dessa ordem e um afastamento, por parte das pessoas, desse desejo de Deus.
Parece que existe, especialmente nos jovens, um temor em assumir as
responsabilidades do matrimônio, um medo ou uma insegurança quanto ao futuro. O
matrimônio parece assustar.
Logicamente há causas fáceis a serem
determinadas: a instabilidade econômica, a dificuldade em se conseguir emprego
estável, desarmonia familiar e tantas outras. Chega-se a duvidar do amor, a
questionar a vida, a desacreditar da liberdade. De onde vem esse estado de
coisas?
De uns tempos para cá, o número de separações
tem aumentado e cada vez mais os jovens preferem experiências sexuais
temporárias, provisórias a relacionamentos efetivos. Nem mesmo ao namoro estão
dispostos, preferindo ficar, o que é pior. Por não se ter perspectiva de
futuro, nem o presente é valorizado. Como consequência muitas vezes ainda mais
terrível, sobrevém uma gravidez indesejada que acaba sendo interrompida por
abortamento. Onde estaria a solução? Qual o caminho certo?
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente,
que a vida familiar faz parte do Plano de Deus.
Já em 2002, o Papa nos exortava a construir a
base da Humanidade e da Igreja sobre a família (João Paulo II, Familiaris Consortio conclusão). Por isso, é
preciso lutar pela família não apenas enquanto realidade social, mas como Plano
de Deus e considerar suas consequências, como: visão clara de Igreja, aceitação
de suas exigências morais e espirituais. Isto se realiza com séria preparação
para a vida familiar, visão exata da sexualidade, fecundidade, aceitação livre
e consciente dos filhos como o dom mais excelente do Matrimônio (Gaudium et Spes, nº 50; Humanae Vitae, nº9),
a educação dos mesmos e o acompanhamento nas diversas etapas da vida.
A busca de uma paternidade e maternidade
responsável é um processo lento e gradativo e deve acompanhar os jovens
mediante catequese adequada que favoreça o crescimento em idade e conhecimento
do mundo e da realidade. No momento decisivo de preparação imediata para o
Matrimônio, essa responsabilidade receberá grande impulso. Aos jovens que
buscam, com sinceridade, essa preparação, a Igreja está sempre pronta a
oferecer ajuda. A paternidade e maternidade responsável liberta decidida e
definitivamente o jovem casal de toda insegurança, perplexidade, medo,
permissividade, amor livre. Liberta para o amor, pois revela todo o valor, o preço
da pessoa humana em si mesma e no seu relacionamento familiar.
Com essa visão de fé, será bem mais fácil
superar as dificuldades, as limitações, enfrentar corajosamente as pressões
sociais. Uma vida a dois e a bênção dos filhos é sinal da grande responsabilidade,
dada por Deus. Porém, Ele mesmo fortalece o casal cristão com as virtudes
necessárias para viver o dever de estado. Isto, mediante o Sacramento do
Matrimônio.
Diz a Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira (citação de nosso livro: Preparação para o
Casamento e para a Vida Familiar, já em sua oitava edição): Não podemos
falar de paternidade responsável, no sentido restrito e amplo da palavra,
tomando por base valores transitórios. O valor da criatura gerada não pode
estar subordinado a restrições e distorções do ambiente social ou submetido a
uma lei contingente. A única analise possível é pela Fé. De nada servem outros
raciocínios. O homem deve ser homem em absoluto e basta. (cf. p. 68).
O Papa Paulo VI, em sua Encíclica Humanae
Vitae, falava aos casais cristãos nestes termos: Foi a eles (aos casais cristãos) que o Senhor
confiou a missão de tornarem visível aos homens a santidade e a suavidade da
lei que une o amor mútuo dos esposos com a sua cooperação com o amor de Deus,
autor da vida humana. Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades,
por vezes graves, inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para
todos, de resto, é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida (Mt 7,14; Hb 12,11). Mas, a esperança
dessa vida, precisamente, deve iluminar o seu caminho, enquanto eles
corajosamente se esforçam por viver com sabedoria, justiça e piedade no tempo
presente (Tt 2,12), sabendo que a
figura desse mundo passa (1 Cor 7,31).
Que Deus nos conceda, cada vez mais, famílias
bem estruturadas, jovens ardorosos e cheios de grandes ideais e sonhos, jovens
que se entusiasmem pelo Evangelho da vida, pelos valores da Comunidade de amor
e vida, qual exemplo do amor de Cristo pela sua santa Igreja! As Pastorais da Família
entrarão em cena como grande auxiliar para jovens nubentes, jovens neo-casados
e para casais adentrados em sua vida e experiência familiar.
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