quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Não deixe a profecia morrer

Dom Hélder Câmara

NÃO DEIXE A PROFECIA MORRER

Padre Manoel Henrique de Melo Santana
Vigário Episcopal de Maceió

E
ra Dom Hélder Câmara quem nos lembrava desta meta. Foi muito boa a noite de estudos sobre o profetismo em Israel. Num clima muito agradável, de forma muito atenciosa e interessada, a noite transcorreu com muitas informações históricas, mas sobretudo contextualizadas, existencializadas. Assim, podemos examinar a importância dos profetas na vida do povo. Eles foram os guias do povo, faróis de longo alcance na caminhada do Povo de Deus.

Suas primeiras experiências aconteciam em transe, quando possuídos pela divindade, recebiam as predições esperadas. Impressiona-nos a sua consciência de falarem em nome do Senhor. Esta Palavra era brasa acesa, que queima, que é doce quando ingerida, mas amarga quando mastigada. Tem a fortaleza da rocha, e a brandura do amor. Reveste-se de coragem, ao se indignar contra a maldade humana. Com segurança e determinação, anuncia os desígnios de Deus.

Por força de seu ministério profético nem sempre se faz compreender pelos sacerdotes do Rei. Ai de mim se não ouvir a Palavra que disser; ai de mim, se eu me calar, quando Deus me mandar falar. Muitos foram expulsos de seus lugares, como fez o Sacerdote Amasias, em nome de seu Rei. Alguns confessaram como nasceu sua vocação para profeta, como fizeram Jeremias, Isaías, Amós. Alguns nomes são fictícios, criados com algum propósito, com uma mensagem específica integrada na história. Assim foi Jonas, o profeta rebelde, que fugiu e termina fazendo profecia sem acreditar. Arrependido porque o Senhor realizou sua profecia junto a Nínive, o profeta Jonas pede para morrer, porque não aceita que Deus tenha misericórdia dos pecadores. Como Elias, Jonas prefere morrer, desanima, mas o Senhor diz a Elias que o caminho é longo, longo demais. São amantes de Deus e se consideram persuadidos por Ele, mesmo que em algum dia, tenha confessado sua grande decepção e se arrependido de ter nascido, tamanho era seu sofrimento ao ser profeta. Rejeitados, consideram-se, porém, seguros no Senhor. Amorosamente reconstroem as relações do povo com Javé, segundo alguns por experiência própria, compreendendo que Javé ama seu povo e prefere a misericórdia aos sacrifícios. Oséias é o profeta do amor. Dele Jesus haverá de dizer que prefere antes a misericórdia aos sacrifícios. Isaías imagina o sofrimento do Povo como um servo sofredor, que ao longe vai compor o imaginário sofredor do Messias na hora de sua morte. Jeremias e Ezequiel apostam numa Nova Aliança, feita no coração do homem, não mais num coração de pedra, mas num coração de carne, profundamente humano. Ezequiel ainda acredita na ressureição de seu Povo, ao ter a visão do Vale de Ossos Secos.

Outros profetas nos acompanharam em vários momentos. Ultimamente tem falado e agido como profeta o Papa Francisco, contestando, denunciando e apontando os novos e tão velhos caminhos do Evangelho de Jesus. O Profeta Jesus foi expulso de sua Cidade e Igreja, não simplesmente porque era pobre, mas certamente porque contrariava a visão de Deus e o perfil diferenciado do Senhor, num ambiente marcado pelas concepções farisaicas, legalistas e manipuladas, segundo sua visão religiosa. Profeticamente, Jesus lança um veredicto: Ninguém é bom profeta em sua própria terra. E na chamada Parábola do Filho Pródigo, Jesus será condenado porque o Pai ama e protege os pecadores, se senta e come com os pecadores. Enquanto isso o filho mais velho, na Parábola em foco, representa o filho certo e correto, o fariseu, e até hoje Jesus espera que ele se arrependa e perdoe seu irmão e seu Pai, e, assim, entre em casa. Esses filhos mais velhos ainda existem. São aqueles que hoje somente concebem uma igreja santa.

Os profetas incomodam e são perseguidos. João Batista era filho de sacerdote. Seu lugar deveria ter sido Jerusalém, mas escolheu o Rio Jordão. Jerusalém perdeu a sua vez, tornou-se infiel. Fez Jesus chorar sobre ela, lamentando os profetas que ela matou. Aliás, nem sempre o profeta se deu bem com o sacerdote. Ninguém mata sacerdote simplesmente por ele rezar no altar, ou o leigo em suas lutas, mas por eles terem assumido a dimensão profética de sua missão. Assim foi Dom Oscar Romero, Padre Luiz Pinal, da Bolívia, Padre Josimo Tavares, Margarida Alves, Santo Dias, Padre Ezequiel Ramin, Irmã Dorothy Stang e tantos outros.

Francisco Torres, Ângela Lopes, Raquel, Jorge Lemos e os demais acolheram esta ideia de não deixar a profecia morrer. No final de tudo, Brancildes leu as últimas linhas do Profeta Jonas: Foi por isso que eu corri... pois tu és um Deus compassivo e clemente, lento para a ira e cheio de amor...Se é assim... eu acho melhor morrer do que ficar vivo (4, 2 e 3).

                                                                                                                                                    

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