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eus o chamou para ser o
"grande patriarca do monaquismo ocidental". A ordem por ele fundada
fez nascer das ruínas do Império Romano a cultura e a civilização europeias.
Vejamos neste 11 de julho o que nos traz a "Revista Arautos do Evangelho" sobre o Grande São Bento no dia a ele dedicado pela Igreja.
O
orgulhoso e outrora invicto Império Romano dissolvia-se devastado pelas hordas
avassaladoras dos invasores bárbaros. Tudo cedia diante deles: exércitos,
muralhas, instituições e costumes eram varridos pela maré montante dos novos
dominadores.
"O
navio afunda!" - Exclamava São Jerônimo, que escreveu com tristeza ao
receber a notícia da queda de Roma: "A minha voz se extingue; os soluços
embargam-me as palavras. Está tomada a ilustre Capital do Império!" A
civilização parecia se desfazer num dramático ocaso sem esperança.
Entretanto,
uma estrela luzia nessa escuridão desconcertante, indicando o verdadeiro rumo
dos acontecimentos: na cidade de Hipona cercada pelos vândalos, Santo Agostinho
escrevia "A Cidade de Deus", proclamando que o mundo nascido do
paganismo soçobrava irremediavelmente, e a Cidade de Deus - a Santa Igreja
Católica - não apenas jamais seria destruída, mas sempre triunfaria sobre
qualquer adversidade. Que meios, porém, e que homens utilizaria Deus para desse
caos fazer emergir a ordem e o esplendor?
VOCAÇÃO
DO VARÃO PROVIDENCIAL
Nos
tempos evangélicos, o Divino Mestre chamara obscuros pescadores para serem as
colunas de sua Igreja. Agora o Espírito Santo escolhia um jovem para renovar
essa sociedade convulsionada e instaurar uma nova civilização. No entanto - oh,
paradoxo! - esse rapaz, cujo nome era Bento, nascido de nobre família da
Núrsia, em 480, sentiu em si o apelo do Senhor para O seguir no silêncio e na
solidão.
Seus
pais o enviaram a Roma para estudar. Mas logo percebeu ele que, para
corresponder ao sobrenatural desejo que ardia em seu coração, não podia
permanecer naquele mare magnum, misto de barbárie e cultura romana decadente.
Assim, na flor da juventude e sem nunca ter manchado sua inocência batismal,
abandonou casa, haveres e estudos, e partiu à procura dum lugar ermo onde
pudesse adquirir o conhecimento e o amor de Deus.
"DESEJAVA
MAIS OS DESPREZOS QUE OS LOUVORES DO MUNDO"
A
cidade de Enfide (atual Affile), a cerca de 50 quilômetros de Roma, foi o local
escolhido para o seu recolhimento. Ali se instalou com sua antiga governanta,
que lhe prestava os serviços domésticos.
Um
pequeno incidente caseiro foi ocasião para o seu primeiro milagre. Encontrou
certo dia a governanta chorando porque, por descuido, deixara quebrar um crivo
de argila que havia pedido emprestado a uma vizinha para limpar trigo.
Compadecendo-se dela, Bento tomou os pedaços do crivo, pôs-se em oração e ele
se reconstituiu de forma tão perfeita que nem se notava sinal algum de fratura.
Logo
se espalhou a notícia desse milagre, trazendo-lhe muita fama. Ele que, segundo
relata o Papa São Gregório Magno, "desejava mais os desprezos que os
louvores deste mundo", fugiu da casa de Enfide, indo procurar refúgio num
lugar solitário chamado Subiaco, onde se alojou numa minúscula gruta.
UMA
GRANDE TENTAÇÃO, UMA VITÓRIA DEFINITIVA
A
caminho de Subiaco, ele encontrou- se com Romano, monge que vivia num mosteiro
próximo dali. Em determinados dias, Romano fazia descer por uma corda um pedaço
de pão até a gruta de Bento. Durante certo tempo, foi esta a única fonte de
alimentação do jovem ermitão. Em breve, porém, tornou-se ele conhecido na
região, e muitas pessoas, vindo procurar nutrimento para suas almas,
traziam-lhe alimento para seu corpo.
Nesse
período, sofreu o jovem as mais duras tentações diabólicas. Fortemente provado
em certa ocasião contra a virtude da pureza, viu-se a ponto de ceder e até
mesmo abandonar sua solidão.
Ajudado, porém, pela
graça divina, reagindo, despojou-se de sua vestimenta e se atirou numa moita de
espinhos e urtigas, na qual se revolveu durante longo tempo. Saiu com o corpo
todo ferido, mas com a alma livre da tentação.
TENTATIVA
DE ENVENENAMENTO
Nos
três anos em que passou nesse lugar em completo isolamento, espalhou- se a fama
de sua santidade. Tendo falecido o abade de um mosteiro existente por perto, os
monges vieram pedir-lhe para assumir esse cargo. De início, Bento recusou,
porém, ante a grande insistência dos religiosos, acabou por aceitar. Em pouco
tempo, contudo, esses tíbios monges - arrependidos de terem escolhido por
superior um homem que lhes exigia o caminho da perfeição - decidiram matá-lo,
pondo veneno no seu vinho. O Santo traçou um grande sinal-da-cruz sobre a jarra
de cristal que lhe foi apresentada e esta se despedaçou. Compreendendo bem o
que isso significava, Bento abandonou no mesmo dia o mosteiro de monges
relaxados e regressou à estimada solidão de sua gruta.
NASCE
A ORDEM BENEDITINA
Atraídos
pelo brilho de suas virtudes e a fama de seus milagres, muitos varões sedentos
de sobrenatural foram para junto da gruta para viverem sob sua direção.
Formaram-se, assim, sucessivas comunidades. Ao todo, São Bento erigiu ali doze
mosteiros, escolhendo um abade para cada casa. Estava fundada a Ordem
Beneditina.
Nessa
época, Subiaco começou a ser visitada por pessoas importantes de Roma que
traziam os filhos para serem educados segundo o espírito beneditino. Dentre
estes, o Santo abade recrutou dois de seus melhores discípulos: São Mauro e São
Plácido.
GRANDE
TAUMATURGO
Deus
concedeu com largueza a seu servo o dom dos milagres. O abastecimento de água
de três dos mosteiros construídos sobrealta montanha acarretava grandes
trabalhos aos monges. Estes foram pedir- lhe para se mudarem. Nessa noite,
Bento rezou nesse local durante bom tempo e, antes de descer, marcou um ponto
com três pedras. No dia seguinte disse àqueles monges:
-
Ide e cavai no rochedo onde encontrardes três pedras superpostas. Feito isso,
de lá brotou água que jorra em abundância até hoje.
Bento
havia aceitado como monge um homem godo "pobre de espírito". Certo
dia, deu-lhe por missão desbastar o mato à beira do lago para ali plantar uma
horta. O homem cortava com vigor o matagal quando a foice desprendeu-se do cabo
e caiu no lago, num lugar profundo. Aflito, foi ele confessar a São Mauro sua
"falta". Bento, posto a par do sucedido, foi ao local e enfiou na
água a ponta do cabo.
Nesse momento a foice
subiu do fundo do lago e prendeu-se de novo no cabo. - Toma, trabalha e não te
aflijas mais - disse o santo Abade ao monge. Muitos outros milagres operou Deus
por intermédio de seu fiel servidor. Ele curou doentes, salvou pessoas de
perigos, expulsou demônios, fez um monge andar sobre as águas, e até
ressuscitou um menino morto.
"EU
ESTAVA PRESENTE..."
Outro
dom singular que aprouve ao Senhor conceder-lhe é o de estar presente em
espírito junto a seus filhos espirituais, onde fosse necessária sua vigilância
de Pai e Fundador. Dois episódios ilustram bem esse prodigioso privilégio.
Prescrevia
a regra que os monges nada comessem nem bebessem quando saíssem do mosteiro
para cumprir alguma incumbência.
Um
dia dois monges, tendo ficado fora até muito tarde, aceitaram hospitalidade de
uma piedosa mulher que lhes serviu alimento e bebida. Voltando ao mosteiro, foram
pedir a bênção a São Bento, que os interpelou:
-
Onde comestes?
-
Em nenhum lugar - responderam eles.
-
Por que mentis? Acaso não entrastes na casa de tal mulher e ali comestes tal e
tal coisa, e bebestes tantas vezes?
Os
dois culpados prostraram-se a seus pés e lhe pediram perdão.
Havia
perto de Subiaco uma comunidade de virtuosas mulheres consagradas ao serviço do
Senhor, às quais o Santo enviava com frequência um monge para lhes dar
assistência espiritual. Certo dia, o monge encarregado dessa missão aceitou de
presente delas alguns lenços e os escondeu sob o hábito, em seu peito.
Regressando ao convento, foi severamente repreendido por São Bento e ficou
estupefato pois, tendo já se esquecido da falta cometida, não atinava com o
motivo da repreensão.
Então o santo Abade lhe
disse: "Acaso não estava eu presente quando recebeste das servas de Deus
os lenços e os guardaste em teu peito?"
ALVO
DE PERSEGUIÇÕES
Em
todos os tempos e lugares, é próprio dos Santos serem alvo da incompreensão e
do ódio dos asseclas do demônio. O sacerdote de uma igreja próxima de Subiaco,
tomado de inveja, começou a denegrir o gênero de vida de Bento, procurando
afastar de sua santa influência todos que podia.
Vendo frustrados seus
esforços, enviou de presente a Bento um pão envenenado, com o fito de matá-lo.
Fracassado também este intento, chegou ao cúmulo de introduzir no jardim do
mosteiro sete mulheres de má vida, com esperança de corromper os jovens monges.
Compreendendo
que tudo isso era feito com intuito de persegui-lo pessoalmente, Bento nomeou
prepostos seus em cada um dos doze mosteiros que havia fundado, e retirou-se de
Subiaco.
MONTE
CASSINO, O CAMINHO PARA A RESTAURAÇÃO
Dirigiu-se
então a Cassino, uma cidadezinha fortificada a meio caminho entre Roma e
Nápoles. Havia lá um templo pagão no qual camponeses da região rendiam culto a
Apolo. Ao redor do templo, mantinham eles cuidadosamente alguns bosques nos
quais ofereciam sacrifícios ao demônio. Ali chegando, o homem de Deus destruiu
o ídolo, abateu os bosques e transformou o edifício em igreja erguendo nela um
oratório a São João Batista e outro a São Martinho de Tours.
Em
seguida, deu início à construção do famoso mosteiro de Monte Cassino, o qual
teve por único arquiteto o santo Abade e como construtores os próprios monges.
O
mosteiro de Monte Cassino foi a resposta de Deus à decadência do mundo de sua
época. Exemplo de governo patriarcal e de sociedade verdadeiramente cristã, em
meio às nações bárbaras, exerceu enorme influência sobre os costumes privados e
públicos, tanto na ordem espiritual quanto na temporal. Bispos, abades,
príncipes e homens de todas as classes visitavam o Santo, seja para lhe pedir
um conselho, seja pela amizade e estima que tinham por ele. Potentados da
época, às vezes depois de conquistas e vitórias, iam com frequência refugiar-se
secretamente em Monte Cassino para se embeberem um pouco do espírito
beneditino.
Descobriu-se,
assim, após o desmoronamento do Império Romano, o caminho para a renovação.
A
REGRA DOS MONGES
Enquanto
erguia o edifício do novo mosteiro, São Bento erigia interiormente a Obra
beneditina sobre uma base mais firme que a rocha, escrevendo sua inspirada e
famosíssima Regra dos Monges. Tem ela por objetivo desprender o coração humano
das trivialidades, facilitando à alma elevar-se a Deus sem obstáculos, com um
proceder sempre sereno, tendo em vista a vida eterna.
Com
seu conhecido aforismo "Ora et labora" (Reza e trabalha), a Regra tem
o mérito de harmonizar no monge a oração e a ação, a ascese e a mística. A
Regra escrita por São Bento produziu benéficos frutos em toda a Cristandade.
Este sábio conjunto de normas vigorou quase com exclusividade nos mosteiros de
Ocidente durante oito séculos.
A
SANTIDADE E O ESPÍRITO VALEM MAIS QUE A REGRA
Entretanto,
mais que a Regra, foram a santidade e o espírito de seu Fundador que deram à
Ordem Beneditina a estabilidade, a força de expansão e a eficácia da sua ação
civilizadora. Inspirados pela busca da perfeição na obediência, no esplendor da
liturgia, no primor do canto gregoriano e no amor à beleza posta a serviço de
Deus, os filhos de São Bento exerceram um papel fundamental na cultura, nos
costumes e nas instituições das nações que formaram a Cristandade medieval.
A
Ordem de São Bento teve um extraordinário surto de desenvolvimento a partir do
século X, com a fundação da Abadia de Cluny.
No
seu apogeu, 17 mil mosteiros estavam subordinados a ela. Nações inteiras foram
convertidas à Fé cristã pelos discípulos do santo Patriarca. Muitas famosas
universidades - Paris, Cambridge, Bolonha, Oviedo, Salamanca, Salzburgo -
nasceram como desdobramentos de colégios beneditinos. Inúmeros mártires deram
valorosamente a vida pronunciando o nome de seu Fundador.
Plêiades
de cardeais, bispos e santos doutores tinham-no por mestre. Mais de 30 papas
seguiram sua inspirada Regra. Finalmente, há 1500 anos, incontáveis almas se
consagram a Deus sob a égide de sua santa Instituição.
Pode-se,
pois, com toda propriedade, comparar ao grão de mostarda da parábola do Divino
Mestre a Obra do Pai do Monaquismo Ocidental: "É esta a menor de todas as
sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as
hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos" (Mt
13,32).
MORREU
DE PÉ, COMO VALENTE GUERREIRO
O santo Abade anunciou
com meses de antecedência a data de sua morte. Seis dias antes, mandou preparar
a sepultura. Logo foi atacado por violenta febre. Como a enfermidade se
agravava cada vez mais, no dia anunciado fez-se conduzir ao oratório onde, fortalecido
pela recepção da Santíssima Eucaristia e apoiado nos braços de seus discípulos,
morreu de pé com as mãos levantadas aos Céus e os lábios pronunciando a última
oração.
Era
o dia 21 de março de 547. Foi enterrado no local onde havia outrora edificado o
oratório de São João Batista, em Monte Cassino.
Com informações da GaudiumPress
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