Dom
Sergio da Rocha
Cardeal
Arcebispo de Brasília
O
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4º Domingo da Quaresma é denominado Laetare,
palavra latina correspondente ao início da antífona de entrada da missa: “Alegra-te!”,
conforme anuncia o profeta Isaías: “Alegra-te Jerusalém! Reuni-vos, vós
todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Sacia-vos com a
abundância de suas consolações” (Is 66,10s).
A cura do cego de
nascença, narrada pelo Evangelho segundo João (9,1-41), ocorre no
contexto da festa das Tendas ou dos Tabernáculos, uma das maiores festas em que
o povo peregrinava para Jerusalém, recordando o modo como Israel viveu no
deserto após a libertação da escravidão no Egito. Durante a festa, os
sacerdotes tiravam a água da piscina de Siloé para derramá-la sobre o altar e
durante a noite Jerusalém era iluminada por tochas acesas, especialmente no
átrio do templo.
A narrativa joanina
ressalta a água e a luz, que são símbolos batismais. O homem cego foi lavar-se
nas águas da piscina de Siloé, cujo nome significa “Enviado”, um dos
títulos messiânicos de Jesus. Na fonte batismal, somos lavados e recebemos a
vida nova em Cristo. Para curar aquele homem, Jesus utiliza a terra e a saliva,
formando o barro, que nos recorda a criação do ser humano, descrita pelo
Gênesis. Mediante o batismo, somos recriados, pois nele ocorre um novo
nascimento, uma nova criação.
Na figura do cego
está representado cada um de nós. Somos levados à fonte batismal; nela, somos
purificados e passamos a enxergar com a luz da fé, ao aceitar Jesus como “a
luz do mundo” (Jo 8,12). O que foi curado da cegueira, ao
encontrar-se com Jesus, exclamou: “Eu creio, Senhor!” (Jo 9,38).
O texto nos mostra que para chegar a esta atitude, ele percorreu um itinerário
de crescimento e purificação na fé, que se repete na vida de quem é conduzido à
fonte batismal. Quando questionado sobre quem o havia curado, ele se referiu
primeiramente “àquele homem chamado Jesus”, chamando-o depois de “profeta”,
para finalmente prostrar-se diante de Jesus, numa atitude de fé e adoração,
reconhecendo-o como o “Senhor”.
O que se passa na
celebração do batismo se estende ao longo da vida batismal. Renascidos pelo
batismo e iluminados por Cristo, somos chamados a viver como “luz no Senhor”,
como “filhos da luz”, renunciando às “obras das trevas” e
produzindo os “frutos da luz” indicados por São Paulo: “bondade,
justiça e verdade” (Ef 5,8-9).
Aproveite
esta Quaresma para acolher a luz, que é Cristo, dedicando-se mais à oração e à
escuta da Palavra. Busque o perdão e a reconciliação pelo sacramento da
Penitência.
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