Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
A
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passagem bíblica da Transfiguração do Senhor
ilumina a nossa vivência quaresmal. Somos chamados a responder “sim” à voz do
Pai que nos convida a escutar Jesus Cristo: “Este é o meu Filho amado, no qual
eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5).
Para
compreender bem o sentido da Transfiguração, é preciso recordar-se de que os
discípulos tinham ficado escandalizados com o anúncio da paixão feito por
Jesus, pois eles não podiam admitir que o Messias pudesse sofrer e morrer na
cruz. A contemplação de Cristo transfigurado anima a fé dos discípulos,
preparando-os para abraçarem a cruz e participarem da paixão. Necessitamos,
hoje, refazer a experiência de Pedro, Tiago e João para poder dizer: “Senhor, é
bom ficarmos aqui!” (Mt 17.4). Fazemos isso, de modo especial, por meio
da oração pessoal e comunitária, da escuta da Palavra e do encontro com Cristo
na Eucaristia. Contudo, para isso, é preciso dispor-se a subir “a alta
montanha” (Mt 17,1), conforme a expressão empregada por Mateus, o que
exige esforço e perseverança. Esta tarefa não condiz com acomodação ou preguiça
na vida espiritual.
Embora
seja necessário o empenho de cada um, o discípulo não sobe a montanha da
Transfiguração contando somente com suas forças. “Sobe”, primeiramente, porque
o Senhor o “tomou consigo”, isto pela graça de Deus que precede e acompanha a
subida. Além disso, é preciso subir juntos a alta montanha, aceitando os outros
discípulos como companheiros de caminhada. Os discípulos que vivem da oração,
da escuta da Palavra e da Eucaristia são discípulos em comunhão, pela vivência
da unidade eclesial, a começar da comunidade local.
Aqueles
que sobem a montanha, uma vez encontrando-se com o Senhor transfigurado, não
podem se instalarem comodamente, ainda que seja sincero o desejo de construir
tendas para permanecer com ele. É preciso descer a montanha para evangelizar,
contando com o Senhor Ressuscitado que acompanha e sustenta os seus discípulos
na missão. Por isso, Jesus afirma: “levantai-vos e não tenhais medo” (Mt
17,7). E eles desceram em direção à multidão, especialmente, ao encontro
dos doentes e sofredores. Ao invés do desânimo ou do medo, quem reza encontra
sempre esperança e forças para caminhar, para dar testemunho da fé, para amar e
servir.
Nesta Quaresma, a oração e a
meditação devem ocupar um lugar muito especial na nossa vida. Ao mesmo tempo, a
oração deve ser sempre acompanhada do amor fraterno e da disposição em servir
os irmãos, especialmente os que mais sofrem.
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