terça-feira, 5 de abril de 2022

A Semana de todas a mais Santa

A

pós vivermos dois anos intensos de pandemia em que, na maioria dos lugares, o povo não pode celebrar os ritos da Semana Santa, para alguns pode-se ter a sensação de que as últimas Semanas Santas não foram tão santas assim. Para viver bem a Festa Pascal deste ano, na expectativa do retorno à Casa de Deus, faz-se necessário ter duas certezas na consciência: Para que a Semana Santa seja, de fato, santa: isso não depende de nós, pois ela é santa por si mesmo, por sua natureza.

     Entretanto, a segunda certeza que devemos ter é de que depende, sim, de nós que a santidade deste tempo se faça vida em cada um de nós. A experiência dos frutos da santidade da Semana de todas a mais santa vem da abertura de coração e da vivência pessoal de cada cristão diante daquilo que a Liturgia destes dias nos propõe, seja na vida comunitária, seja na experiência particular de oração e espiritualidade.

     Ao levantarmos os ramos no Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor e saudarmos, em nossas procissões, o Cristo Rei que entra em Jerusalém sentado no lombo de um jumentinho, qual ação interna esse sinal pode nos ajudar a refletir? Talvez, possa ser um caminho nos perguntar: como estou recebendo Jesus Cristo e sua mensagem da Boa Nova todos os dias em minha vida? Se estou sendo fiel a Sua entrada em minha vida ou se estou deixando-O entrar e depois O “expulso”, levando à condenação diante dos homens?

     Ao acorrer a Catedral onde estamos “reunidos em torno dos nossos pastores” na Missa do Crisma, minhas atitudes têm sido a minha atitude: de cantar eternamente o amor do Senhor (cf. Sl 89/90), ou de não saber minimamente a importância dessa celebração para os nossos padres que renovam suas promessas sacerdotais neste dia? Minha disposição diante da Palavra de Deus que fala dos ungidos do Senhor e de seu valor para a Santa Igreja (cf. Lc 4, 16-21), qual tem sido? Será que posso oferecer um pouco mais do que já estou fazendo, na minha vida espiritual e nas minhas orações, pelo Santo Padre, pelos Bispos, Padres e vocações? Certamente, a resposta sempre será positiva: sempre podemos oferecer mais, o nosso “óbolo da viúva” nas nossas orações pelos ministros os quais Deus confiou o pastoreio de seu rebanho.

     Depois de dois anos impedidos pela pandemia, voltaremos a ver o gesto inserido na Liturgia da Missa da Ceia do Senhor em que o padre, imitando Jesus Cristo, se debruçará aos pés de seus paroquianos para os lavar e materializar o mandamento máximo do amor. Para muitos aquela música tão tradicional em nossas liturgias “Jesus erguendo-se da ceia, jarro e bacia tomou, lavou os pés dos discípulos, este exemplo nos deixou…”, fez uma falta colossal. Pela música em si? Pode ser que não. Na verdade, nossos olhos humanos precisam – e daí a necessidade dos sacramentos – ver e tomar parte do ensinamento que escutamos. A imitação de Cristo, deste gesto, em nossas vidas, deve ser no cotidiano, levando às últimas consequências o mandamento do amor. “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei”, diz o Senhor.

     Às três horas da tarde, diante de um silêncio ensurdecedor para os nossos ouvidos tão acostumados com o barulho, os sacerdotes caminham até o altar e, diante dele, se prostram enquanto todos nós nos colocamos de joelhos. As palavras que rompem este silêncio dão o tom da Celebração da Sexta-feira da Paixão: estamos fazendo memória da morte de Nosso Senhor onde derramou seu sangue na Cruz para nos libertar da morte do pecado. O Altar desnudo, sem velas, o silêncio, o minucioso relato da Paixão e a profundidade da oração comunitária por tantas intenções, nos mostram a universalidade e completude da Paixão de Nosso Senhor.

     “Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor De que nos valeria ter nascido, se não nos resgatasse em seu amor”. Após sair da escuridão do início da Celebração, escutamos o belíssimo texto do anúncio da Páscoa que proclama a vitória de Jesus Cristo sobre a morte na Vigília Pascal. A Liturgia desta celebração enche os olhos e o coração de todo batizado – e porque não dizer, dos pagãos também – ela manifesta a grandeza do que celebramos: a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado. A luz que irradia do Círio Pascal, aceso no fogo novo, compartilha lugar com a luz que chega aos nossos corações pela leitura da história da nossa salvação na Liturgia da Palavra culminando na luz que queremos irradiar da nossa vida cristã que renovemos através das promessas batismais que repetimos do dia do nosso batismo. “Ó noite de alegria verdadeira, que une de novo o céu e a terra inteira”

     Ressuscitou verdadeiramente, aleluia, aleluia, nos saudamos ao desejar feliz Páscoa aos irmãos e irmãs. O centro da nossa fé deve ser motivo de mudança de vida para celebrar a vitória de Nosso Senhor sobre o pecado e a morte. É Ele quem nos traz a vida eterna; é Ele a quem devemos louvar e bendizer com nossas vidas, todos os dias; é Ele que precisamos testemunhar para o mundo para que sua mensagem de salvação seja conhecida e amada por toda a humanidade.

     Que celebrar a Semana de todas a mais Santa, nos ajude a caminhar e nos aproximar na estrada rumo a Pátria Celeste.

 *Artigo de formação publicado no Site da Arquidiocese de Brasília-DF.

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