Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de Brasília
A QUEM PERDOARDES OS PECADOS,
ELES SERÃO PERDOADOS!
E |
ste tempo Pascal nos faz experimentar a força da
ressurreição de Cristo na história, na vida e existência das pessoas. Às vezes
quando nos deparamos com os horrores da guerra, da violência, da fome, das
injustiças somos tentados a pensar que seja o mal a prevalecer, mas é o amor de
Cristo que vence. Basta olharmos, mesmo nos horrores da guerra, quanta
solidariedade, quantas pessoas acolhendo os refugiados, quanta gente
comprometida com o bem, com a justiça e a verdade no anonimato da história. O
direcionamento da liberdade para o bem é fruto da ação da graça de Deus que
trabalha no escondimento dos corações, das consciências.
Estamos
celebrando este segundo domingo da Páscoa, domingo da Divina Misericórdia. A
misericórdia é o amor que vem das entranhas de Deus, do coração de Deus que
quer perdoar, restaurar as vidas feridas pelo pecado, pelo mal. O Evangelho de
hoje (Jo 20, 19-31) nos apresenta uma aparição de Jesus aos discípulos
primeiro sem Tomé e depois, com Tomé. Há uma continuidade entre o crucificado e
o ressuscitado, por isso, ele mostra para os discípulos, as mãos e o lado. Suas
mãos traziam as marcas das chagas, agora gloriosas e também o seu lado.
Depois ele lhes deseja, de novo, o dom da Paz. A paz é um dom que nasce
do coração do ressuscitado que tinha reconciliado à terra com o céu. Ele
construiu com seu sangue a paz, agora ele doa a paz. Ele quer que os seus sejam
portadores da Paz. Por isso, os discípulos de Jesus não podem ser construtores
de guerras, injustiças, mas de Paz.
Jesus dá a
missão aos discípulos. Jesus foi enviado pelo Pai e agora ele envia os
discípulos. Estes devem continuar, na história, a obra do ressuscitado. A
Igreja é continuadora, na história, da missão de Cristo. Depois, Jesus sopra
sobre os discípulos, lhes dá o Espírito Santo. O ressuscitado é o doador do
Espírito para os seus, para a sua Igreja. Em seguida Jesus aos discípulos o
poder de perdoar os pecados: “A quem perdoardes os pecados eles serão
perdoados; a quem os não perdoardes, eles serão retidos” (Jo 20, 23).
Este poder expresso, neste versículo, é a manifestação de um poder muito
maior, isto é, o poder de isolar, de repelir e anular o mal e o pecado, um
poder dado pelo Pai a Jesus em sua missão e, por sua vez, dado por Jesus,
através do Espírito, àqueles a quem ele comissiona (R. Brown, Comentário ao
Evangelho Segundo João, 2, 1531). Jesus deu este poder aos discípulos e
através destes, a sua Igreja. É o que a Igreja continua e continuará a fazer,
em nome de Jesus, até o final dos tempos.
Na parte final
do Evangelho tem-se o encontro do ressuscitado com Tomé (Jo 20, 24-30).
Tomé foi chamado a ser o primeiro a crer sem ver, mas não foi capaz de dar esse
passo, precisou ver, tocar para crer. Ver, tocar representa a fragilidade no
caminho de fé. Talvez, na fragilidade da fé de Tomé nos sintamos contemplados,
consolados, mas somos chamados, sempre, a um crescimento maior no caminho da
fé. Que o encontro com este Evangelho nos ajude a uma maturidade maior na nossa
fé e a termos sempre consciência que através da Igreja, do sacramento da
reconciliação o Senhor, através do sacerdote, nos concede o perdão e a paz.
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