E |
m 1950, o Papa Pio XII definiu
como verdade de fé: “É dogma revelado por Deus que a Imaculada Mãe de Deus, a
Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, foi elevada em corpo e
alma à glória celestial”. Mas a FESTA é mais antiga. Era a “Dormição” de Maria
e a transferência de seu corpo para o paraíso. Em Jerusalém, fazia-se uma
procissão ao túmulo de Maria.
Maria, imagem da Igreja. (Ap
11,19a; 12,1-10ab). Como Maria, a Igreja gera na dor um mundo novo. Como
Maria participa na vitória de Cristo sobre o mal? A visão do “Grande Sinal”,
leva-nos a reconhecer que, no seguimento de Jesus, e na pessoa de Maria, a nova
humanidade já é acolhida junto de Deus. Maria, nova Eva (1Cor 15,20-27).
Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os
homens. O texto é uma longa demonstração da Ressurreição. A Assunção é uma
forma privilegiada de participação na Ressurreição de Cristo. O apóstolo não
evoca Maria, mas esta leitura, na Assunção, leva a reconhecer o lugar eminente
da Mãe de Deus no movimento da Ressurreição.
SINAL ESCATOLÓGICO DA IGREJA
Maria Assunta é figura e
primícia da Igreja que um dia será glorificada; é consolo e esperança do povo
ainda peregrino. É a Ponte da passagem de Israel para a Igreja. É um sinal
humano de esperança. A contemplação de Maria na glória faz-nos ver a vitória da
esperança sobre a angústia, da comunhão sobre a solidão, da vida sobre a morte.
A formulação da verdade mariana
vem diretamente vinculada ao mistério trinitário, com o cristológico e
eclesiológico, conforme definida no Concílio de Éfeso 431, ao tratar da
maternidade divina (MANELLI,2014). Nos séculos seguintes, com o
aprofundamento patrístico, a presença e a intensidade do Senus fidelium (senso
dos fiéis) do povo de Deus, e a reflexão do Magistério da Igreja,
finalmente veio a definição dogmática da Imaculada em 1854 e da Assunção em
1950.
O texto do Ap 12, 1ss, foi usado
como fundamentação para o dogma da Assunção, consciente de que inicialmente
esse dado bíblico está relacionado à comunidade. Porém, Maria está relacionada
à vida das comunidades, e, portanto, é vista como defensora da vida do
discipulado de Jesus. No entanto, por si só, o fundamento através desse texto
não é sólido. Outros estudiosos recorreram ao proto-evangelho (Gn 3, 15).
Pio XII usa para fundamentar o dogma, a Tradição Patrística na Encíclica
Munificentíssimus Deus. Porém, muito antes de ser definida como dogma, a
Assunção de Maria já fazia parte do depósito da fé da Igreja.
É importante perceber a
trajetória da revelação de Deus e como Maria se insere na História de Salvação.
Sua participação no mistério de Cristo e da Igreja refletido e experimentado
pelos fiéis ao longo dos séculos. Vale ainda perguntar sobre as consequências
do mistério da Assunção em nossa vida. Em que a ressurreição de Maria afeta
nossa existência enquanto pessoa humana, em nosso corpo? O que significa ser
elevada à glória celeste em corpo e alma? O psicanalista Karl Jung havia dito
que a Assunção de Maria no contexto de sua definição e proclamação vinha
carregado de arquétipos humanos, mas sobretudo, colocou em relevância o dogma
como expressão de renovada esperança de cumprimento das aspirações que se move
no mais profundo da alma, garantindo a paz e o equilíbrio de saúde e de vida.
A Assunção de Maria não é apenas
a plenitude da realização de Maria, mas se torna a resposta à pergunta pelo
sentido da vida, pois assunto é o Sim de Deus aos anseios mais profundos do ser
humano: mulher e homem. A glorificação de Maria no corpo é a glorificação de
toda Igreja que será cidadã da Pátria celeste. Maria goza da Páscoa total e é
modelo para a Igreja e prelúdio da Páscoa da história e do Cosmo inteiro,
destinado a recapitulação para tributar a glória ao Pai na unidade do Espírito
Santo, no dinamismo do Ressuscitado.
O corpo aparece como espaço de
Salvação, habitação da Divina Trindade, onde Maria encontrou sua habitação e
deixou-se habitar em um total descentramento de si para encontrar o tudo de sua
vida. Afirmar a Assunção de Maria é afirmar que ela já participa da realidade
em que todos participarão. O corpo não é expressão de morte, de destruição,
mas, de uma transfiguração em Cristo pela força da Ressurreição. Somos um corpo
físico e transcendente, espaço do falar, do ser, do querer, do agir, do pensar,
do sair de si, para encontrar os outros e para se relacionar, interagir no
somatório de forças e experiências de Deus e da vida em desenvolvimento e
criatividade, na harmonia e adesão ao Projeto de Deus.
Maria é a mulher da plenitude da
beleza, da bondade e da graça harmoniosa de Deus que, como mulher, vence o
dragão pisoteando-lhe a cabeça. Mulher que colocou seu corpo a serviço de Jesus
de Nazaré, que andou, que meditou sobre a Palavra de Deus e a vida da
Comunidade apostólica da qual fez parte, a serviço dos pobres.
Trazendo esses elementos para o
mundo moderno e pós-moderno, vemos que o corpo, ao mesmo tempo em que deve ser
cuidado embelezado e cultuado, é extremamente desrespeitado. Tornou-se objeto
do mercado. É configurado de acordo com os resultados financeiros. O corpo se
reveste da beleza do produto, tem valor à medida em que evidenciar tal produto
e esse, dinamizar a alma do mercado: o dinheiro. A sexualidade vem articulada
simplesmente ao prazer, às relações sexuais, minadas em sua abrangência
relacional como um todo que articula a totalidade do ser numa beleza sinfônica
e harmoniosa.
A Assunção de Maria traz, para a
mulher e para o homem, um novo e promissor futuro. É a afirmação de que uma
mulher participa integral e plenamente da glória do Deus vivo, o que significa
resgatar o corpo da humilhação que sobre ele fez pesar a civilização
Judaico-cristã. O corpo é o espaço da busca incessante da Vontade de Deus, da
esperança e do esperançar em um permanente doar-se ao Projeto de vida. O corpo
não é objeto de posse de alguém, mas a Shekináh divina, que o transforma em
expressão sempre maior da criatividade missionária do encontro que salva o
outro, que o resgata das estruturas, que o encarcera sob os arquétipos não
trabalhados e nem compreendidos. Maria é portadora da alegria daqueles e
daquelas que acreditam que o ser humano constitui um todo, criado para
exprimir-se como imagem e semelhança da Trindade Santa.
*Irmã Maria Freire da
Silva, Diretora Geral Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de
Maria; Bacharel e mestra pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da
Assunção, de São Paulo e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia
Universidade Gregoriana, Roma, Itália.
FONTES DE PESQUISA:
PAMI, L`Assunzione di Maria
Madre di Dio. 2001.
MANELLI,S,. La Mariologia nella storia dela salvezza, 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.