quinta-feira, 19 de junho de 2014

INTERNAMENTE LIVRE PARA AMAR


Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de casal e de família. Mestre em Psicologia


Amarras interiores costumam dificultar o engajamento amoroso. Acontece muitas vezes que a grande dificuldade de convivência no casamento está embutida na imaturidade emocional de um dos parceiros, mais do que na relação marital em si.

Conhecer-se e buscar tratamento, quando necessário, é condição para viver uma relação amorosa.

Parece que estamos dedicando tempo de menos para a reflexão, o autoconhecimento, a meditação, o esforço para a libertação interior e, como consequência disto, vamos facilmente buscar nos outros a responsabilidade de nosso desastre na convivência amorosa.
AMAR A SI MESMO

“Ama teu próximo como a ti mesmo”. Amar a si mesmo é ter uma justa imagem de si. É saber reconhecer lucidamente o que há de bom em nós, e isto se chama humildade. Em que sou eu maravilhoso para os outros?
Rebaixar-se ou desprezar-se não está longe do pecado de orgulho: “Estou decepcionado de não corresponder a uma imagem ideal de mim, eu gostaria de ser Lucila, Geraldo, Francisco...”. Ter um certo escrúpulo por não ser o que se idealiza ser, gera um sentimento de culpa do qual podemos até não ter consciência. Esta culpa se torna uma espécie de juiz interior que nos persegue a ponto de impedir que sejamos pessoalmente felizes. Eis aí uma das amarras que tira a liberdade interior necessária para amar.

TOMAR CONHECIMENTO DE SEUS LIMITES E QUALIDADES É O PONTO DE PARTIDA PARA UMA JUSTA ESTIMA DE SI.


É nos braços dos outros que muitas vezes encontramos a coragem para amar a nós mesmos. Pode-se até dizer que amar é ajudar o outro a descobrir suas qualidades. Entretanto, é necessário aceitar a própria finitude para chegar a dar o passo em direção ao outro. Amar a si mesmo é essencial.

Para poder amar-nos, às vezes é preciso tomar distância da própria finitude e reconhecer tudo o que há de bom em nós mesmos e só depois olhar para as próprias fraquezas. O que é certo é que o amor e o desejo do outro brotam deste encerrar-se sobre si mesmo, estudar-se e encher-se de coragem para amar aquilo que em nós reflete uma parcela de Humanidade.

O amor é relação entre duas pessoas! Não construímos esta relação sobre defeitos! Nós construímos sobre aquilo que faz nossa solidez, nossas potencialidades. De fato, quanto mais sou eu-mesmo, mais ajudo o outro a tornar-se ele mesmo. Amar a si mesmo é participar da construção do casal e é permitir ao outro de existir.

Como posso dizer  “Eu me engajo” se o “Eu” não existe? Simplesmente preciso aceitar a bela imagem de mim mesmo. Não é este um critério do amor?

O amor incondicional do outro e seu amor sem julgamentos me ajudam a desenvolver o que eu sou profundamente. Então, cada um dos dois sendo mais ele-mesmo criará a condição para o casal começar a construir um verdadeiro projeto de Vida. O projeto do “Nós”, o projeto da conjugalidade, um projeto a dois.

RECONHECER NOSSAS DÚVIDAS, NOSSOS MEDOS

Podemos ter medo de ver o outro tal qual é. Reconhecer no outro a parte que me inquieta ou me desgosta e dizer-lhe isto, é um elemento importante da construção do casal. Temos a tendência em dizer: ‘Falar do que me desagrada quando temos tanta coisa agradável para dizer, arriscando ficar mal, é realmente necessário?’ -  O risco está em esperar mudar o outro conforme meu desejo. O amor não muda o outro e não tem o poder de curá-lo. A melhora de comportamentos patológicos como o alcoolismo, a violência, a instabilidade ou outros supõe uma tomada de consciência daquilo que se espera e a partir dai vem a decisão de cuidar-se, sempre com o consentimento real do interessado.

Tentando colocar em prática o que o texto sugere, teremos a chance de uma maior libertação interior, o que nos tornará capazes de amar.


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