Pe. Leomar Antonio Montagna
Maringá – PR
N
|
a Liturgia deste XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM, veremos, na 1ª Leitura (Gn 2, 18-24), que o ser humano não se realiza somente no “ter” (cai numa solidão
profunda), mas na abertura para acolher o dom do outro. Deus oferece ajuda
ao ser humano: homem e mulher se
completam em companhia, isto é, na vivência do amor. Na partilha deste projeto
de vida comum estará a realização plena; homem e mulher - mesma dignidade,
unidade, aliança. Nasce, assim, a missão humana de cuidar de toda a criação.
O Papa Bento XVI, na Caritas
in veritate, dizia: “Uma das
pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão. Vistas bem
as coisas, as outras pobrezas, incluindo a material, também nascem do
isolamento, de não ser amado ou da dificuldade de amar... O desenvolvimento dos
povos depende sobretudo do reconhecimento de que são uma só família, a qual
colabora em verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a
viver uns ao lado dos outros” (CiV, 53).
Na 2ª Leitura (Hb 2, 9-11), vemos que a encarnação de Jesus é em prol da solidariedade com o
gênero humano. “A fidelidade a
Deus exige rompimento com as facilidades enganosas que nos desviam do caminho
da perfeição. A plena realização somente se dá na obediência a Deus, a qual se
concretiza no amor solidário. Na cruz de Jesus, morremos para o egoísmo e
passamos a viver na condição divina. Aí reside nossa honra e glória de irmãos
de Jesus” (Revista Vida Pastoral, nº 305, p. 53).
No Evangelho, texto
de Mc 10, 2-16, mas vou acrescentar um texto paralelo de Mt, 19,3-12, que fala
das duas vocações: casamento e vida
consagrada que, no fundo, refletem um mesmo projeto de fidelidade a Deus. O
texto, a seguir, já trabalhei em um retiro direcionado aos sacerdotes.
Afetividade, Sexualidade e Celibato:
Um Projeto de Fidelidade
Deus faz Aliança com o povo de
Israel, faz História de Salvação. Hoje, Deus faz aliança com os celibatários e
com os cônjuges pelos sacramentos da Ordem e do Matrimônio: Aliança de amor expressa em gestos, sinais
etc.
A Infidelidade (adultério) do povo ao Deus verdadeiro leva-o seguir deuses, ídolos
(ter, poder, prazer). Por causa da
infidelidade de alguns, todos pagavam um alto preço: privação da liberdade, corrupção, escravidão, violência, vida sem
horizontes. Por causa de nossa infidelidade (desamor) muitos pagam um alto preço: são muitas as
consequências. “Quem não ama carrega dentro de si um germe
homicida” (1Jo 3,15).
O papel do profeta, do celibatário: transmitir, instruir o povo, conscientizar,
comunicar que Deus não desiste, que está sempre pronto a nos perdoar. Deus
quer resgatar a aliança. Quem muito ama, muito perdoa, muito se comunica, toma
a iniciativa.
Como Deus se comunica? Pela sua Igreja, Corpo Místico de
Cristo, pelos sacramentos que comunicam a ternura de Deus, que são seus
‘afagos’, toques...
Diante de nossas infidelidades, Deus
não nos dá carta de divórcio, ao contrário, é na cruz-sacrifício que Ele sela a
Aliança de amor-salvação.
Em Mateus 19,3-12, vemos que, na
atitude de uma sociedade para com o sexo e o matrimônio, transparece a ideia de
pessoa, a ideia de vida. Jesus contesta a sociedade permissivista, injusta, que
permitia o divórcio. Ele vê o matrimônio, o celibato, como aliança de amor,
abençoada por Deus. O matrimônio e o celibato têm uma finalidade: ambos são vocação para a eternidade,
perpetuada nos filhos e na comunidade. Para o matrimônio, é a realização
dos cônjuges e a procriação. Aliança de amor: “Encontro de dois seres eternamente apaixonados”.
Natureza do amor conjugal: bem dos filhos e o bem da sociedade. “Construir o futuro é acreditar na
família”.
Natureza do amor celibatário: o bem comum, construir o Reino de Deus.
Viver esses compromissos exige
consciência da vocação. É Dom de Deus. Sem Deus, tudo é permitido. Tanto o
matrimônio como o celibato são um chamado para ser feliz, para santificar-se no
cumprimento de todos os deveres deste chamado: educação, respeito, serviço, otimismo, fidelidade.
Matrimônio e Celibato são dois
carismas diferentes com vistas à santificação. Como ver e
viver o celibato a partir da Bíblia e da Igreja?
1º) Como vocação: obra do
Espírito Santo, chamado interior a partir da fé, Deus chama e inicia o diálogo
com a pessoa, a partir do que ela é. Resposta = Aliança = fato: expresso
diante de toda Igreja (fora dos perigos
do subjetivismo, tem um método, é canalizado para um fim) por meio dos
votos ou ordenação.
2º) Como opção livre: escolha por
obediência ao chamado. Opção para ser feliz na entrega total
a Deus e aos outros. Não será mais um solteiro, será um eunuco, fará uma opção
definitiva, com impossibilidade de casar-se.
3º) Como Dom: concedido para
utilidade da Igreja, Bem Comum. Bem da Humanidade. Não é para
grandeza de si. Sem ele, a mensagem estaria em perigo.
4º) Como significado escatológico:
Anunciar o Reino que vem, retorno a Cristo = não haverá mais homem ou
mulher, todas as coisas desaparecerão, unidade perfeita em Cristo = Deus tudo
em todos. Celibato = chamado a amar, esperar o Reino vigilante. Vida de amor,
unido de modo único e total a Cristo (diálogo,
oração, serviço, palavra). Celibato para gerar Cristo = Ser Cristo,
sacrifício. “Quando Cristo for tudo em todos, então será o fim, o
Reino de Deus” (Col 3, 1-11).
5º) Como opção política: ocupar-se das
coisas do Senhor, formar comunidade.
6º) Como fato revelador: o mundo
passa brevemente - O Reino é eminente - viver a loucura evangélica tão
próxima ao mistério da cruz.
CELIBATO = é o alto preço da
graça, tal como a fidelidade conjugal. Se é possível viver o celibato, é
possível viver o casamento monogâmico fielmente. O perigo da
infidelidade não está fora de nós (entre
mil opções, fazemos uma escolha). Viver o celibato é viver no
desprendimento, no abandono e com gratidão.
a) Como viver o celibato em relação à
sexualidade? Quando uma pessoa é machucada na área afetiva, ela geralmente
expressa na sexualidade (genitalidade):
masturbação descontrolada, homofobia, fantasias, agressividade, pessoa
defensiva, vícios etc. Busca compensar o prazer que não teve em alguma área:
família, trabalho, estudos etc.
O campo afetivo atinge todo um
sentir, um relacionar-se: rezar,
estudar, conversar, pensar.
b) Motivações que levam à
cura/mudança:
- Sentir prazer nos valores da vida;
- Integrar-se na comunidade;
- Perdoar os
outros;
- Abrir-se para a verdade;
- Ajudar os outros (é ajudar-se a si mesmo = psicoterapia);
- Recuperar o passado, ver o positivo
que ficou e não transferir experiências negativas para hoje.
Renovemos nosso compromisso de amor
para que Deus colha sempre mais frutos para seu Reino.
Boa reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.