Dom
Sergio da Rocha
Cardeal
Arcebispo de Brasília
A
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mensagem do Evangelho deste 22º Domingo do
Tempo Comum pode ser resumida em duas palavras que devem nortear a vida dos
discípulos de Cristo: humildade e gratuidade. A parábola do banquete se
conclui com um convite à humildade e um alerta: “quem se eleva, será
humilhado e quem se humilha, será exaltado” (Lc 14,11). Para entender
bem esta afirmação e compreender o sentido da verdadeira humildade é preciso
olhar para o próprio Cristo “manso e humilde de coração”. Dentre outras
passagens, podemos destacar o gesto de Jesus que se abaixou para lavar os pés
dos discípulos, comportando-se como “aquele que serve”, e a doação da
sua vida na cruz. A humildade não se reduz a um bonito sentimento, mas se
expressa de modo concreto em atitudes como o desapego de si mesmo, o abaixar-se
para servir e doar-se pelo próximo, sem vangloriar-se ou buscar vantagens. Esta
atitude torna-se cada vez mais importante no mundo de hoje, pois há muitos que
querem ser mais do que os outros, menosprezando e humilhando o próximo. É
preciso ser humilde para não humilhar. Quem se faz humilde, como Jesus, jamais
humilhará os outros, pois a humildade cristã é acompanhada de uma justa
autoestima e do respeito ao próximo.
A segunda parte do
Evangelho proclamado refere-se à gratuidade. O convite para o banquete,
dirigido àqueles que não têm como retribuir, é sinal da gratuidade a ser
vivida, hoje, pelos cristãos numa época marcada pela lógica da recompensa
imediata e pelo interesse próprio. É preciso amar e servir aqueles que não
podem retribuir o bem que fazemos. A gratuidade é um traço genuíno do amor
cristão, pois os discípulos de Cristo são chamados a amar de graça, a amar
antes de serem amados e a amar mais do que serem amados. Quem vive assim é
feliz. “Então, tu serás feliz!”, afirma Jesus (Lc 14,14), que
conclui afirmando que a recompensa pelo bem que fazemos será recebida na
ressurreição dos justos. Deus nos recompensará pelo bem que tivermos praticado,
especialmente, por aquilo que não recebemos a recompensa neste mundo. Por isso,
ao invés de cobrar dos outros o reconhecimento ou a retribuição, façamos a
experiência de amar e servir de graça, como sinal de amor gratuito, como é o
amor de Deus por nós. A gratuidade, assim entendida, pressupõe a humildade.
Estamos iniciando o
mês especialmente dedicado à Bíblia. Por isso, procuremos refletir sobre como
temos escutado, acolhido e praticado a Palavra de Deus. Qual é o tempo que
dedicamos à leitura e meditação da Bíblia? Aproveite este novo mês para
organizar melhor o seu tempo, de modo a fazer a leitura orante da Bíblia e pôr
em prática a Palavra de Deus.