“A SEMENTE É
A PALAVRA DE DEUS”
Dom
José Aparecido Gonçalves de Almeida
Bispo
Auxiliar de Brasília-DF
P
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ela narração de Isaías, o Espírito Santo abre a liturgia da Palavra neste XV
DOMINGO DO TEMPO COMUM dando uma consoladora certeza aos anunciadores da
Palavra de Deus: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não
voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar
semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair da minha
boca: não voltará para mim vazia; antes, realizará tudo o que for de minha
vontade e produzirá os efeitos que pretendi ao enviá-la” (Is 55,
10-11). A imagem da bem conhecida das terras áridas do Oriente regadas pela
chuva nos faz intuir a eficácia poderosa da palavra de Deus: ela realiza a
salvação que anuncia. O salmista assim canta a visita de Deus: “visitais
a nossa terra com as chuvas e transborda de fartura … tudo canta de alegria”
(Sl 64,10.14).
A fecundidade da Palavra de Deus na terra do coração humano se mostrará
ainda mais claramente com a encarnação do Verbo de Deus. O Verbo humanado não
apenas proclama, mas realiza a salvação. Do céu chove o Justo, da Cruz se
derrama o sangue da redenção.
Contudo, no Evangelho deste domingo (Mt 13,1-23), Jesus inicia a
falar sobre o Reino por meio de parábolas, suscitando interrogações no coração
dos ouvintes: por que a palavra de Jesus produz efeitos tão díspares? Deus
não havia prometido que a palavra não voltaria a ele sem ter produzido o seu
efeito?
Na parábola do semeador, Jesus mostra o paradoxo da semeadura. O mesmo
semeador lança as sementes em diversos terrenos, mas com diferentes efeitos.
Quatro versículos mostram o insucesso da semeadura e somente um mostra os
frutos. Este insucesso não depende nem da semente, nem do semeador, mas do
terreno que recebe as sementes.
Ao explicar a parábola (vv. 19-23), Jesus faz ver que o terreno é
imagem do nosso coração e de seu modo de acolher Palavra. É possível ver quem
somos se estivermos atentos aos frutos de santidade e de apostolado que a
semeadura produziu em nós. O próprio Jesus obteve uma resposta ao chamar Pedro
e outra bem diferente ao chamar o Jovem Rico.
No entanto, até os insucessos descritos na parábola produzem fruto. Eles
nos consolam ante os fracassos apostólicos. Encorajam-nos a não desistir. Há
sempre um terreno pronto para acolher a palavra semeada e a produzir “à base
de cem, sessenta e de trinta frutos por semente” (v. 8).
Voltemos, enfim, às palavras com que Jesus inicia a parábola. “O
semeador saiu para semear”. Jesus não só fala do semear, mas também do
sair. Deus conta as sementes lançadas e os passos dados para semear. “Para
quem lavra com Deus até o sair é semear” (Padre Vieira).
Apenas o bom Deus pode ver plenamente o fruto da nossa ação
evangelizadora e dar a justa mercê aos nossos passos.
Com Maria, imagem da Igreja missionária, digamos hoje: faça-se em mim
segundo a tua palavra.
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