VIGIAI!
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
Arquidiocese
de Brasília – DF.
C |
om as primeiras Vésperas deste
Domingo, começa o tempo do Advento e se abre o novo ano litúrgico. Neste ano,
os nossos domingos serão iluminados pelo Evangelista Marcos. A Liturgia deste
tempo nos coloca diante dos olhos os três adventos do Senhor. O primeiro
advento – que celebramos como memorial e com ação de graças – é a sua vinda na
humildade da carne como cumprimento de todas as promessas da Antiga Aliança. O
segundo advento – que celebramos vigilantes na esperança da plena realização –
é a parusia, o retorno de Jesus cercado da glória dos anjos. Mas também há um
terceiro advento, uma vinda que acontece sem cessar entre o primeiro e o
segundo: trata-se da quotidiana visita que o Senhor nos faz quando nos abrimos
à Sua graça. Com esta nos tornamos capazes de celebrar a presença viva do Verbo
de Deus humanado, vivendo na história como filhos da luz e aguardando
vigilantes o Senhor que virá “como um ladrão” para julgar os
vivos e os mortos.
A primeira leitura, extraída do Profeta Isaías (63,16–64,7),
reconhecendo a triste situação em que se encontra Israel como justo castigo
pelos pecados, o profeta explicita em forma de queixa coletiva a esperança do
povo. Esta esperança tem fundamento na lembrança dos imensos benefícios
realizados na história de Israel. Não foge ao profeta a impossibilidade de se
voltar a Deus se Ele mesmo não tomar a iniciativa de se voltar para o Seu povo
mediante o perdão e a misericórdia. Daí a súplica de Israel: “Ah! Se
rompesses os céus e descesses!” (Is 63,19). E aqui a profecia
aponta para a vinda do servo, do messias: “Vens ao encontro de quem
pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos!” (Is.
64,4).
A súplica do povo eleito aparece no salmo que invoca
Deus como Pastor de Israel (Sl 79): “Ó Pastor de Israel, prestai
ouvidos! Vós que sobre os querubins vos assentais, aparecei cheio de glória e
esplendor!” (Sl 79,2).
Com a vinda de Jesus na humildade da carne, no ventre
santíssimo da Virgem Maria, se realizam e superam as expectativas de Israel.
Não apenas um enviado do Senhor, mas o próprio Verbo de Deus, a segunda Pessoa
da Santíssima Trindade entra na história e passa a vida fazendo o bem. Ao
passar pelo mistério da Cruz e Ressurreição, Jesus vai ao Céu prometendo voltar
cercado de glória e esplendor para julgar os vivos e os mortos. O convite da
liturgia toda do advento é que vivamos a esperança na vigilância: “Vigiai,
portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite,
de madrugada ou ao amanhecer!” (Mc 13,35).
O Apóstolo dos gentios, escrevendo aos irmãos de
Corinto, assegura-lhes a eles e a nós que da parte do Senhor nada nos falta
para perseverarmos até a vinda do Senhor. “É ele que vos dará
perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até ao fim, até ao dia de
nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 1,8).
Confiemos nossa peregrinação neste novo ano litúrgico
àquela que diz: “Faça-se”, cumpra-se em mim segundo a tua
palavra.
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