João Batista, Profeta do Advento!
Dom Paulo Cezar Costa - Arcebispo de Brasília–DF.
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Palavra de Deus, no Evangelho de
hoje, continua a falar da figura de João Batista. Ele, como profeta da espera,
encarna em si o espírito do Advento. Hoje, João Batista, dando testemunho de
si, afirma: “Eu sou a voz que clama no deserto; endireitai os caminhos do
Senhor” (Jo 1, 23).
Em todas as culturas o deserto assumiu a idéia de
lugar do vagar humano sem rumo, lugar de isolamento e de perda das condições de
vida, mas os desertos são também aqueles criados pela nossa civilização, que habitam
nossas cidades e casas. O deserto recorda a Israel e a cada um de nós, a
situação de precariedade da existência humana, de fragilidade dos projetos e
construções históricas. Ele é um convite àquilo que verdadeiramente faz viver a
pessoa humana, porque conduz ao essencial, àquela pergunta de sentido que
fazemos do início ao fim da existência. Para quem deseja uma vida cheia de
significados, buscando uma resposta às interrogações profundas, a boa notícia
do Evangelho é a voz: “Eu sou a voz que clama no deserto; endireitai os
caminhos do Senhor” (Jo 1, 23).
Parece paradoxal que a resposta à busca do homem seja
a voz. A voz nos remete aos profetas, como João Batista, mas conduz antes de
tudo à Aliança que une Deus e o seu povo no monte Horeb, quando Israel vem
reconhecido como Povo de Deus: “do céu, Ele fez com que ouvisses a sua
voz, para te instruir…” (Dt 4, 36). Aos que vivem no deserto,
que buscam a Deus, Ele não deixa faltar a sua voz. Tanto na Judeia, como também
no deserto de cada povo, de cada cidade, de cada pessoa, ressoa a voz divina
que grita, chama, consola, coloca a caminho: Jesus Cristo. Ele é a voz
de Deus que entra na história do mundo e que ressoa em meio às desolações
humanas.
Mas Israel é o povo da escuta (Sl 95). A voz
clama por escuta, como se percebe sempre na Bíblia. A escuta vem expressa pelo
verbo (shama`), que diz ao mesmo tempo escuta e obediência. É uma escuta
empenhativa, e é próprio a este empenho que se dirige o pedido: “Endireitai
o caminho do Senhor…” (Jo 1, 23). A mesma ideia de João Batista
como aquele que prepara o caminho do Senhor está presente no Benedictus: “Tu
menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás à frente do Senhor para
preparar-lhe os caminhos” (Lc 1, 76). Jesus, falando de João
Batista, o relembra com este texto de Malaquias: “Eis que eu envio o meu
mensageiro à tua frente, ele preparará o teu caminho diante de ti” (Lc
7, 27). Sabemos que no tempo de Jesus, os essênios tinham ido habitar no
deserto para preparar-lhe a estrada. Jesus não pertencia aos essênios. Para Ele
a estrada do Senhor se abre e se prepara no meio dos homens: no meio dos
seus afazeres, tragédias, doenças, hipocrisia e pecados…
João não é o Messias, ele reconhece que o Messias é
maior do que ele. O Messias vem depois, com mais autoridade e direito. Ele não
é digno nem de desamarrar as suas sandálias. O profeta tem consciência clara de
que o seu caminho é aquele de preparar e de apontar para o Messias.
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