Dom
Paulo Cezar Costa, Arcebispo Metropolitano de Brasília
“A ABSOLUTA
LIBERDADE DE JESUS”
S |
ão Lucas nos apresenta,
neste quarto domingo comum, a rejeição que Jesus sofre, na vila de Nazaré, onde
tinha sido criado (Lc 4, 21-30). A atitude com relação a Ele vai da
admiração por parte dos presentes na sinagoga (Lc 4, 20) até a atitude
de rejeição, de endurecimento.
Jesus
estava na sinagoga da sua vila. A primeira parte da narrativa mostra a
admiração que Jesus causa, na sinagoga, quando lê o profeta Isaías. Ao término,
“todos tinham os olhos fixos Nele” (Lc 4, 20). Porém, a
cena passa da admiração à rejeição. Jesus é o derradeiro profeta que participa
da sorte dos antigos profetas que, também, foram rejeitados: “Em verdade
vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (Lc 4,
24). Jesus cita, na sinagoga da sua cidade, o exemplo de Elias e Eliseu,
que não foram enviados à casa de Israel, mas a estrangeiros: Elias a uma viúva,
em Sarepta, na região da Sidônia; e Eliseu purificou a Naamã, que era um sírio.
Diante destas palavras, todos na sinagoga se enfurecem e O conduzem a uma
colina, com a intenção de precipitá-Lo lá de cima.
O
povo de Nazaré espera muito de Jesus, tenta quase prendê-Lo. Todos estão ali
ouvindo e procurando envolvê-Lo em suas expectativas. São as expectativas que o quadro restrito de
uma vila – um pouco de trabalho, um pouco de comércio – podia oferecer. Lendo
estas expectativas, à luz da história da Igreja primitiva, pode-se entrever a
ânsia de apoderar-se do profeta, de fazer dele objeto de glória do povoado e,
talvez, até de um pouco de ganho material: no fundo, se começar a fazer alguns
milagres, o povo virá, e se vai ganhar algum dinheiro. Talvez haja um pouco de
raiva, pois Ele não começou os milagres ali, mas em Cafarnaum. “As coisas
que fizeste em Cafarnaum faze-o também em tua pátria” (v. 23).
Jesus está sob a ameaça de uma captura, de uma tentativa de adaptar o que Ele
diz às expectativas, às necessidades, para ter sucesso e, depois, ser
rapidamente encaixado em toda aquela pequena série de interesses que formam o
tecido social da pequena aldeia.
De
outro lado, emerge a extrema liberdade de Jesus que, sem se preocupar com o
sucesso, com o que lhe poderia acontecer, com a má fama que aquele primeiro
encontro poderia espalhar pelos povoados vizinhos, sem se preocupar com as
pessoas que não irão mais procurá-Lo, fala livremente. Mais ainda: parece até
provocar as pessoas de Nazaré lembrando-lhes que existem outros confins, outros
horizontes, outros interesses do Reino de Deus muito mais vastos.
“Ele,
porém, passando pelo meio deles, prosseguia o seu caminho” (Lc
4, 30). Jesus aparece aqui como o Evangelizador dotado de
absoluta liberdade de espírito. Esta liberdade Lhe dá uma estatura profética
totalmente fora daquela de um pequeno pregador de aldeia. Ele tem a estatura de
quem conduz a Si mesmo e Sua liberdade para o mundo, porque tem diante de si os
horizontes de Deus.
Esta
absoluta liberdade de Jesus, o Filho de Deus, deve nos questionar hoje: o
seguimento a Jesus Cristo, o encontro com a Sua Palavra, está nos tornando
verdadeiramente livres?
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