Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de
Brasília
“O PAI
MISERICORDIOSO”
A |
Palavra de Deus deste quarto Domingo da
Quaresma coloca diante de nós, no Evangelho, a imagem do Filho pródigo e do Pai
misericordioso (Lc 15, 1-3. 11-32). Jesus conta esta parábola para
justificar a sua atitude para com os publicanos e pecadores. Os publicanos e
pecadores se aproximavam de Jesus. Os fariseus e mestres da Lei criticavam
Jesus: “Esse homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc
15, 2). Jesus é criticado porque come com os pecadores, porque os acolhe.
Os mestres da Lei e fariseus têm uma atitude legalística: se escoram nos
preceitos da Lei judaica e na sua observância. Fazendo isso, se fecham àqueles
que estão afastados de Deus, que estão longe de Deus, que eram tidos como
pecadores diante dos preceitos da Lei mosaica. Jesus, ao contrário, tem uma
atitude de proximidade com os pecadores. Jesus codivide a mesa com eles. Essa
atitude de Jesus escandalizava esses observantes rigorosos da Lei mosaica.
Por isso, no centro da parábola está o filho mais novo, que sai de casa,
gasta a sua herança com uma vida desenfreada e quando perde tudo, quando se
encontra no fundo do poço, relembra que os empregados na casa do Pai, tem pão
com fartura e decide voltar para casa. Sair de casa implica abandonar o Pai e a
vida da comunidade, que poderia ser aqui o judaísmo e para a comunidade cristã,
a Igreja. Mas este filho volta, ele ensaia o discurso de pedido de perdão ao
Pai. Quando retorna é desarmado pela atitude do Pai, que o avista, corre
abraça-o e o cobre de beijos. Depois lhe manda colocar a melhor túnica, um anel
no dedo e sandálias nos pés e manda matar um novilho gordo para fazer festa.
Festa porque recuperou o seu filho que estava morto e voltou à vida. Esta é a
atitude de Deus para com aqueles que se encontram mortos pelo pecado, que
abandonaram a casa do Pai, a Igreja. Deus é um Pai misericordioso que sempre
quer seus filhos e filhas ao redor da sua mesa.
Papa Francisco comenta: “A figura do pai da parábola revela o coração
de Deus. Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama além de qualquer
medida, espera sempre a nossa conversão todas as vezes que erramos; aguarda a
nossa volta quando nos afastamos d’Ele pensando que O podemos dispensar; está
sempre pronto a abrir-nos os seus braços independentemente do que tiver
acontecido. Como o pai do Evangelho, também Deus continua a considerar-nos seus
filhos quando nos perdemos, e vem ao nosso encontro com ternura quando voltamos
para Ele. E fala-nos com tanta bondade quando nós pensamos que somos justos. Os
erros que cometemos, mesmo se forem grandes, não afetam a fidelidade do seu
amor. Que no sacramento da Reconciliação possamos voltar a partir sempre de
novo: Ele acolhe-nos, restitui-nos a dignidade de seus filhos e diz-nos: «Vai
em frente! Fica em paz! Levanta-te, vai em frente!»”. (Angelus, IV
domingo da quaresma de 2016).
Que o encontro com este Evangelho, neste tempo da Quaresma, nos ajude a
percebermos que a misericórdia deve fazer parte da nossa vida. Quem experimenta
o amor misericordioso de Deus deve se tornar também, homem e mulher da
misericórdia.
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