Dom Paulo Cezar
Costa, Arcebispo de Brasília
“TENTAÇÃO DE JESUS,
TENTAÇÃO DO
DISCÍPULO”
E |
stamos
iniciando a Quaresma, período de quarenta dias em que somos chamados a
entrar no deserto da nossa vida, da nossa existência com Jesus, sob a condução
do Espírito Santo. Diante de Jesus e seu projeto salvífico, somos chamados a
olharmos para a nossa vida, a da sociedade, a da educação de nossas crianças e
respondermos à pergunta: quais as grande tentações do nosso tempo? O texto do Evangelho (Lc 4, 1-13) nos
ajuda neste exame de consciência quaresmal.
Jesus
tinha se submetido ao rito batismal de João Batista e tinha sido ungido pelo
Espírito (Lc 3, 21-22). O Evangelista sublinha grandemente este fato: “Jesus,
pleno do Espírito Santo, voltou do Jordão; era conduzido pelo Espírito através
do deserto durante quarenta dias, e tentado pelo diabo” (Lc 4, 1-2).
O deserto rememorava a experiência de Israel que passou quarenta anos no
deserto e foi tentado. O deserto é memória, faz-nos reviver o passado e, ao
mesmo tempo, projeta-nos para o futuro, pois o Filho de Deus venceu o tentador
no deserto e na cruz. Jesus, no deserto, superou as tentações e a Sua vitória
tornou-se, para o cristão, certeza de que, conduzido pelo Espírito, nós podemos
vencer também as tentações no deserto da
vida e da história. A Quaresma deve ser este tempo forte de deixar-se
conduzir pelo Espírito.
Jesus
sofre três tentações, e nelas estão resumidas as grandes possibilidades de
tentação de cada ser humano. Jesus é tentado a um messianismo fácil, a usar de
seus poderes messiânicos em benefício próprio: “Se és Filho de Deus,
manda que esta pedra se transforme em pão”. Seu messianismo é para ser
dom, Ele é o Messias servo, que deverá servir a ponto de doar a própria vida.
Jesus rebate o diabo mostrando que o homem não vive só do pão material, das
coisas materiais, que a referência última da vida de cada ser humano deve ser a
vontade de Deus.
Na
segunda tentação, Jesus é tentado quanto ao poder: “… te darei todo este
poder com a glória destes reinos (…) se te prostrares diante de mim…”.
É a tentação do poder e da idolatria, adorando alguém que não é Deus. A resposta de Jesus será: “Adorarás ao
Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto”. Tudo aquilo que colocamos
no centro da nossa vida que não seja Deus é idolatria, que pode ser dinheiro,
ídolos, ideologias etc. A idolatria é um perigo real na vida humana e na
nossa sociedade.
A
terceira tentação se coloca no plano do messianismo espetaculoso. No pináculo
do templo, Jesus é tentado a se atirar para baixo, porque Deus mandará Seus
anjos para segurá-lo. É a tentação ao abuso de Deus, de manipular Deus, de
querer que Deus responda às nossas necessidades. Tanto que a resposta de Jesus
é: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.
Ao
contemplarmos o Salvador tentado, o ser humano entende que a tentação faz parte
da vida humana, do caminho de fé, mas que o Salvador, Jesus Cristo, venceu o
tentador e nos deu a possibilidade de vivermos na amizade de Deus e seguirmos o
projeto de Deus. Que conduzidos pelo Espírito de Deus, vençamos as tentações,
também aquela de uma educação parcial, que não leva em conta a grandeza do
mistério da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus.
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