Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de
Brasília
“A FIGUEIRA ESTÉRIL”
N |
este terceiro domingo da Quaresma, o texto
de Lc 13, 1-9 narra a parábola da figueira estéril. Na primeira parte
(Lc 13, 1-5), por meio de dois fatos trágicos, Jesus nos exorta à
conversão. Na segunda parte do Evangelho, Jesus conta a parábola da figueira
estéril. O que esta parábola quer nos dizer? Papa Francisco, comentando esta
parábola, ensina: “O dono representa Deus Pai e o vinhateiro é a imagem de
Jesus, enquanto a figueira é o símbolo da humanidade indiferente e árida. Jesus
intercede junto ao Pai em favor da humanidade — e o faz sempre —
pedindo-Lhe para aguardar e conceder ainda mais tempo, a fim de que ela possa
produzir os frutos de amor e justiça. A figueira que o dono da parábola quer
extirpar representa uma existência estéril, incapaz de doar, incapaz de
praticar o bem. É símbolo de quem vive para si mesmo, satisfeito e tranquilo,
instalado nas próprias comodidades, incapaz de dirigir o olhar e o coração para
quantos estão ao seu lado em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade. A
esta atitude de egoísmo e de esterilidade espiritual, contrapõe-se o grande
amor do vinhateiro em relação à figueira: pede ao dono que espere, que tenha
paciência para que ele dedique a esta figueira o seu tempo e o seu trabalho.
Promete ao dono que terá um cuidado especial para com a árvore infeliz.
E nesta similitude
do vinhateiro se manifesta a misericórdia de Deus, que nos concede um tempo
para a conversão. Todos temos necessidade de nos converter, de dar um passo em
frente. E a paciência de Deus, a misericórdia, acompanha-nos nisto. Não
obstante a esterilidade, que às vezes marca a nossa existência, Deus tem
paciência e oferece-nos a possibilidade de mudar e fazer progressos no caminho
do bem. Mas a dilação implorada e concedida na expectativa de que a árvore
finalmente frutifique indica também a urgência da conversão. O vinhateiro diz
ao dono: ‘Senhor, deixa-a mais este ano’ (v. 8). A possibilidade da
conversão não é ilimitada. Por conseguinte, é necessário colhê-la
imediatamente, caso contrário, perde-se para sempre.
Podemos pensar
nesta Quaresma: o que devo fazer para me aproximar mais do Senhor, para me
converter, e ‘cortar’ o que não está bem? (…) Pensemos, hoje, cada um de nós: o
que devo fazer face esta misericórdia de Deus que me espera e me perdoa sempre?
O que devo fazer? Podemos confiar infinitamente na misericórdia de Deus, mas
sem abusar dela. Não devemos justificar a preguiça espiritual, mas aumentar o
nosso esforço para corresponder prontamente a esta misericórdia com sinceridade
de coração” (Papa Francisco, Angelus do III domingo da Quaresma, 24 de março
de 2019).
A conversão é
sempre um imperativo na nossa vida. Ela é uma exigência do nosso ser, pois o
ser humano é um ser em caminho, em contínuo progresso. Isso acontece em todos
os aspectos da nossa vida, e deve acontecer, também, na nossa vida espiritual.
O ser humano é um todo, e a dimensão espiritual é constitutiva deste todo. É
preciso olhar o todo do humano e trabalhar o todo. Quando a Campanha da
Fraternidade propõe uma educação que olhe a pessoa na sua totalidade, é porque
a educação deve trabalhar o ser humano na sua totalidade. Que não sejamos
figueiras estéreis, mas, por meio da conversão, produzamos muitos frutos.
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