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belíssimo trecho de Isaías escolhido para a
liturgia deste domingo nos fala do anúncio da boa nova aos pobres, aos
sofridos, aos marginalizados. É Deus quem conduz seu profeta para acarinhar o
pequeno com a mensagem de libertação, de alegria, de vida. O profeta diz que
Deus o vestiu com as vestes da salvação e o envolveu com o manto da justiça.
Do mesmo modo Isaías tem certeza
desse carinho de Deus pelo povo sofrido e canta: “Exulto
de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus”, como fará Maria, tempos depois:
“A minha alma glorifica o
Senhor, e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador!”
As vestes a que se refere Isaías
nos indicam a união definitiva do povo com o Senhor, união que na Bíblia sempre
é identificada como um casamento, aliás é o casamento por excelência. Dentro de
nossa visão judaico-cristã, o casamento quer simbolizar a entrega e a união de
Deus com seu povo.
Para permitir que o noivo, o
Senhor venha até nós e nos despose, é necessário que antes O permitamos nos
vestir com a justiça e a salvação. O Senhor quer nos redimir, mas respeita
nossa liberdade. Nosso comportamento deve demonstrar que ardemos de desejo por
sua salvação e por isso nos convertemos mudando nosso modo de viver, de encarar
a realidade.
O final do Evangelho nos diz que
João Batista preparava as pessoas para o encontro com Deus, do outro lado do
Jordão. Isso significa que atravessar o Jordão é assumir uma vida nova como no
casamento. Popularmente falamos “casou e mudou”. Quem adere a Jesus, une-se a
ele para sempre e muda de vida.
No Evangelho a figura de João
Batista, austera e sisuda, prega a conversão e mais que qualquer outro profeta,
revela, mostra o Messias presente em meio ao povo. Maria nos deu Jesus, João
Batista o aponta.
Ao mesmo tempo, João Batista nos
dá uma lição de humildade, de honestidade, não aceitando nenhum título, por
honroso que seja, que falseie sua identidade. Ele não é o Messias, não é Elias
e nem um dos grandes profetas. Ele se autodenomina “a voz”, “a voz que clama no
deserto”.
Se pensarmos bem, a voz tem uma
missão ao mesmo tempo passageira e permanente. Passageira porque assim que leva
a mensagem, ela desaparece. Tem missão permanente enquanto a mensagem que porta
permanece para sempre na memória e no coração de quem a recebeu.
Por isso João Batista se
intitula a voz. Ele anuncia Jesus Cristo, a luz, e este assume o protagonismo,
enquanto o outro desaparece. João nos traz a luz e, cumprida a missão,
desaparece.
Também temos a missão de levar
Cristo, levar a luz a todos. Essa missão a recebemos de modo scramental quando,
no batismo, o padre nos colocou uma vela acesa em nossas mãos e nos incumbiu de
levarmos sempre conosco essa luz, a luz de Cristo e de a mantermos acesa até a
vida eterna.
Tanto Maria, como Isaías, como
João Batista foram anunciadores da chegada do Messias, dos novos tempos. Somos
convidados também a essa missão. Para executá-la, deveremos estar revestidos de
justiça e com a perspectiva da salvação. Juntamente com essas vestes, tenhamos
consciência de que somos apenas um veículo para o Messias, de que ele é o
protagonista, ele deverá aparecer e brilhar, ele é a luz!
Essa missão não é um arrogar-se
sobre si uma tarefa sublime, mas ela nos foi imposta no dia de nosso batismo,
ao recebermos a vela acesa no círio pascal.
Essa luz deverá brilhar sempre,
seja em momentos harmoniosos, seja em momentos de conflitos. Ela é a luz que
deve sempre imperar porque é a luz da Vida. Essa luz ilumina sempre e aquece
porque é a Luz de Deus.
O denominado espírito de Natal é
um clima de alegria, harmonia e paz, não porque as pessoas resolveram esquecer
problemas e conflitos, mas porque estão mais sensíveis ao sentido da
proximidade do Senhor, do Emanuel, Deus–Conosco.
Esse clima, esse espírito
deveria estar sempre presente em meio aos cristãos e em qualquer situação.
Exatamente aí onde as coisas não estão claras, onde a dúvida e dor se fazem
presentes, exatamente aí se precisa da Luz de Cristo, desse espírito de harmonia,
de paz, de lucidez.
Preparemo-nos para essa união
profunda e radical com o nosso Deus, simbolizada pelo casamento, permitindo ao
Senhor que nos vista com as vestes da salvação e nos envolva com o manto da
justiça e que em nossa vida resplandeça a Luz de Cristo.
Vem Senhor Jesus, Vem!
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