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eralmente, apesar de nossa fé no
Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em que julgamos o Todo
Poderoso nos solicitar sacrifícios desumanos. Assim pensamos que para Deus é
agradável penitências dolorosas, difíceis e até para falar com Ele são
necessários procedimentos artificiais e fora de nossa realidade.
Tudo isso mostra que raízes
pagãs ancestrais estão arraigadas em nossa cultura como estava na de Abraão,
marcada por forte politeísmo cujo culto se expressava com inúmeros sacrifícios
às divindades.
Abraão que aos poucos conhece o
Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem sua fé colocada à prova com
o sacrifício de seu filho Isaque. Tendo Abraão provado sua fé, Deus poupa-lhe o
sacrifício revelando sua bondade e generosidade. O que passa pela cabeça de
Abraão, passa também pela nossa.
Julgamos que Deus se satisfaz
com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente não é o
que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no Evangelho.
O que Abraão desejava e agradou
a Deus foi sua atitude de desacomodação em deixar sua casa paterna, sua pátria
e ir para o desconhecido, apenas confiando na Palavra do Senhor. A atitude de
matar seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso, mas mostrou que também renunciava
a seu futuro e só esperava em Deus.
O sacrifício que agrada ao
Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua
Palavra e de confiança absoluta n’Ele.
No Evangelho temos o relato da
Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro. Ele priva,
juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o Senhor e
lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto Jesus
busca prepará-los para o momento decisivo de sua luta contra o mal, Pedro fica
fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a
estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de
perenizar o passageiro.
O Pai lhe chama a atenção
dizendo para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a
teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário em nossa vida é
ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada,
a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo
como o absoluto de nossa vida.
Tudo o que a vida me oferece,
seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser relativizado:
família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos esses valores deverão
ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.
A santidade do relacionamento
entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele mesmo, mas enquanto
são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar. Sendo assim eles se
tornam sagrados.
Meus irmãos, minhas irmãs, as
cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar, profissional, na comunidade
eclesial, e em tantos outros lugares, foram anunciadas na transfiguração de
Jesus e fazem parte dessa vida de entrega, de renúncia, de abnegação, de
penitência, de amor.
E neste tempo de penitência não
nos esqueçamos o jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas
injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com
qualquer escravidão”.
Sigamos o Mestre e, como Ele,
sejamos generosos em amar.
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