Pe. Paulo Sérgio Silva
Diocese de Crato – CE.
A |
liturgia deste 29º Domingo do Tempo Comum,
continuando a catequese que visa formar os discípulos nos valores do Reino de
Deus, reafirma que o serviço e a doação de si mesmo são a essência da missão de
Jesus e que por isto são também exigências e urgências indispensáveis para os
cristãos de todos os tempos.
Na
primeira leitura (Is. 53,10-11), o profeta Isaías apresenta, ao povo
escravizado no exílio, um misterioso “Servo de Deus”. Trata-se de alguém
considerado insignificante e rejeitado, mas cuja vida e sofrimento revelam-se
como a salvação de Deus. Aqui não se trata de fazer apologia ao sofrimento em
si. Mas sim nos fazer entender que sofrer pelos outros, carregando seus
aflições e angústias, é exemplo de serviço e doação, como percebemos na própria
vida de Jesus. Dirá, São Paulo, séculos depois: “o que, porém, para o mundo é
loucura, Deus o escolheu para envergonhar os sábios; e o que para o mundo é
fraqueza, Deus o escolheu para envergonhar o que é forte.” (1Cor. 1,27)
Por isto, este “Servo” se tornou o anúncio da vida e a missão de Cristo.
Na
segunda leitura (Hb. 4,14-16), a Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus
íntimo a humanidade e que, por isso, rebaixa-se partilhando nossa frágil
condição para nos fazer participar da sua condição divina. Dirá são Paulo:
“Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer por
sua pobreza” (2Cor. 8, 9). Ele não ostenta seu poder e sua omnipotência,
pelo contrário, tendo assumido a condição humana em plenitude, passou pelo
sofrimento e pela morte, tornando-se a expressão de serviço, doação,
misericórdia e compaixão. Mediante a sua vida, Jesus Cristo, que é ao mesmo
tempo Sacerdote, Altar e Cordeiro sacrifical, constitui os seus discípulos, a
comunidade cristã de todas as eras, em um Povo Sacerdotal enquanto permanece
nos convidando a fazer da própria vida, analogamente a sua, um contínuo
sacrifício de louvor, de entrega e de amor.
No
Evangelho (Mc. 10,35-45), continuamos a percorrer, com Jesus e os
discípulos, o caminho em direção a Jerusalém. João e Tiago reivindicam para si
um privilégio que desperta a raiva dos demais discípulos porque provavelmente
estes queriam pedir a mesma regalia. Todos os discípulos demonstram que ainda
não compreenderam o coração do Mestre, não aceitam um Messias sofredor e
alimentam uma visão imperialista do Reino de Deus com expectativas de um
Messias glorioso, violento e autoritário. Jesus os convida a não usar o Reino
de Deus como objeto para alcançar seus sonhos e planos pessoais de ambição, de
grandeza, de poder e dominação, mas a converter suas vidas em serviço e doação
de amor. Ao mencionar o batismo como início da missão, e o cálice como símbolo
da paixão/conclusão da missão, Ele nos faz compreender que para permanecer com
o messias glorioso na ressurreição é necessário acompanhá-lo em todos os
momentos de sua missão, inclusive na doação da própria vida na Cruz.
O
desejo de grandeza gera ambição, causa rivalidade e divisão da comunidade.
Quando colocamos nossos projetos pessoais acima dos planos de Deus, a unidade
deixa de existir. Em um mundo cada vez mais contaminado por uma falsa teologia
da prosperidade, os cristãos precisam reaprender que a decisão de acolher o
discipulado de Jesus e assumir suas consequências não pode depender de
promessas de recompensas. Os lugares na glória futura são um dom gratuito de
Deus Pai e não fruto da conquista pessoal.
Embora
reprovemos, automática e veementemente, as atitudes de João, Tiago e dos demais
discípulos neste episódio, esquecemos quão semelhantes são as nossas próprias
condutas. Isto porque facilmente
esquecemos que para o Reino em nada frutifica as nossas vãs e risíveis guerras
pelo poder ou pelo protagonismo, a nossa insaciável sede por honras e títulos,
as nossas ambições mesquinhas que nos levam a querer impor nossa mediocridade
sobre os outros.
O
modelo de vida a ser seguida será sempre a do próprio Jesus Cristo. Nele, com
Ele e por Ele nasce uma comunidade de “irmãos/servos”, não um império de
generais e reis. Somos convidados a repensar a forma como vivemos diante da
família, na escola, no trabalho e na sociedade como um todo. É preciso vigiar e
orar para não transformarmos nossa missão em uma corrida onde usamos o
Evangelho para alcançar poder e domínio sobre aqueles a quem nós devemos
servir. É no amor e na entrega de quem serve humildemente aos irmãos que Deus
oferece a vida eterna e verdadeira.
Somos discípulos de Jesus Cristo e, portanto, testemunhas e semente de
um novo mundo “onde habitará a justiça.” (2Pd. 3,13)
Fonte: Site da Diocese
de Crato - Ceará
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.