sábado, 12 de outubro de 2024

REFLEXÃO LITÚRGICA PARA 0 28º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 13/10/2024

 

Pe. Paulo Sergio Silva - Diocese de Crato - CE

A

 liturgia deste 28º Domingo do Tempo Comum – Ano B, nos coloca diante de dois caminhos que podem conduzir a nossa vida e existência: o caminho da sabedoria que nos apresenta o que é eterno, essencial e pode dar sentido a nossa vida; e o caminho do apego àquilo que é passageiro e efêmero. A partir do diálogo com Jesus Cristo e a escolha feita por aquele homem, entendemos que é preciso, muitas vezes, renunciar a certos valores perecíveis, a fim de não perder a vida verdadeira e eterna que tanto buscamos.

Na primeira leitura (Sb 7,7-11), meditamos um hino de louvor à sabedoria, apresentada com um dom de Deus, fruto da oração e da súplica. Como dádiva divina, ela é superior a tudo, tornando assim o poder e as riquezas insignificantes. Sua essência consiste em observar (obedecer) a Lei, mas também na capacidade de discernir entre o bem e o mal e escolher sempre o bem que conduz à verdadeira felicidade. Então o verdadeiro “sábio” é aquele que escolheu escutar as propostas de Deus, aceitou os desafios da missão e decidiu seguir os caminhos que Deus indica.

Na segunda leitura (Hb 4,2-13), o autor da Carta aos Hebreus realiza um hino de louvor a Palavra de Deus. Definida como força viva e eficaz, ela – a Palavra – é o caminho seguro para todos aqueles que desejam alcançar a verdadeira sabedoria e tornar-se capaz de seguir fielmente o caminho do Evangelho. Esta Palavra Sagrada, uma vez acolhida no nosso coração, transforma-nos, renovando nossa vocação missionária, ajudando-nos a discernir o bem e o mal e a escolher o caminho certo para chegar à vida plena e a felicidade dos filhos de Deus. Por isto que o caminho proposto por Jesus Cristo, no evangelho de hoje, cai como um meteoro no coração do ouvinte. Quando o homem escuta sua proposta, ele tem certeza de que está ouvindo o caminho pelo qual tanto almejou, no entanto, ele não se sente livre para seguir Jesus porque a cruz não corresponde a imagem vitoriosa de vida eterna que acalentou no coração.

No Evangelho somos apresentados ao diálogo de Jesus com um homem obediente aos mandamentos, zeloso e que deseja ardentemente percorrer o caminho de Deus. Ele ajoelhou-se diante de Jesus e perguntou o que fazer para ganhar a vida eterna. Pelo ato de ajoelhar-se percebemos que não se trata de alguém malicioso, mas alguém realmente sincero que busca em Cristo, Palavra de Deus encarnada, a sabedoria divina.

Este encontro inesperado é paradigmático porque Marcos o apresenta quando Jesus está se dirigindo a Jerusalém. Enquanto percorre o caminho físico/geográfico para cidade Santa, ele e os discípulos percorrem também um caminho espiritual onde Jesus apressa-se para completar a sua catequese sobre as exigências do Reino para os discípulos o integrarem. À medida que a cruz se aproxima no horizonte vital, os interesses ambiciosos e individualistas devem ser abandonados a fim de que os valores do Reino cresçam e deem frutos. Deste modo, os discípulos terão que decidir como o homem: Ir embora com suas certezas efêmeras ou seguir com Jesus até final.

Jesus apresenta ao homem os mandamentos como início do caminho para a vida eterna. O homem revela que já os vive desde a mais tenra idade, todavia ainda sente inquietação. Jesus reconhece nas suas palavras e no seu coração, sinceridade, por isto, o convida a dar um passo decisivo no caminho que ele tanto procurou ao longo da vida: convida-o a tornar-se parte da comunidade do Reino de Deus. O mestre apresenta três condições essenciais para viver a sabedoria do Reino: não centralizar o sentido da vida nos bens materiais, viver a partilha e a solidariedade para com os mais pobres e seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega que conduz a cruz e a ressurreição.

A palavra de Jesus, manifestação encarnada da sabedoria do Pai, adentra diretamente no coração do ouvinte e lá atua eficazmente. Conhece o seu coração, age sobre os seus sentimentos e os pensamentos. Neste diálogo íntimo, o leva a pesar/avaliar os seus valores, os caminhos escolhidos e as atitudes. Todavia, o deixa livre para escolher. Diante da proposta, apesar da sua boa vontade, o homem se afasta combalido de tristeza. Este homem nos lembra facilmente das parábolas do Tesouro Escondido e da Pérola (cf: Mt 13,44-46). Ele encontrou o convite para o Reino de Deus – o tesouro que tanto buscava – todavia, foi incapaz de abandonar tudo que tinha para poder “adquiri-lo”. Ele permanece preso às suas riquezas e não tem coragem de renunciar às seguranças humanas que lhe escravizam o coração. Aquele homem que pensava ser dono de muita riqueza, percebeu que na verdade, é a sua riqueza que é dona do seu coração. Mesmo com os temores que rodam nosso coração é preciso estar disposto a renunciar dinheiro, prestígio, sucesso, fama e status social. Pois, o Reino, por ser partilha e solidariedade, torna-se incompatível com o egoísmo que produz a obsessão pelos bens deste mundo. O caminho do Reino, o caminho da sabedoria de Deus é estrado de renúncia de si, de partilha abnegada e amor.

Diante da indagação dos discípulos que se assustam com as exigências e perguntam quem pode ser salvo, Jesus recorda que a salvação não é algo que se compra, se recebe em troca de algo ou se merece por ter cumprido regras. Ela é dom gratuito, fruto da compaixão de Deus. Os discípulos devem ser conscientes de que, apesar dos desafios e sofrimentos enfrentados na missão, a opção pelo Reino e pelos valores do Evangelho garantirá uma vida em abundância nesta terra e, no mundo futuro, a vida eterna e plena.


Fonte: Site da Diocese do Crato-CE.

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