Pe. Paulo Sergio Silva - Diocese de Crato - CE
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liturgia deste 28º Domingo do Tempo Comum –
Ano B, nos coloca diante de dois caminhos que podem conduzir a nossa vida e
existência: o caminho da sabedoria que nos apresenta o que é eterno, essencial
e pode dar sentido a nossa vida; e o caminho do apego àquilo que é passageiro e
efêmero. A partir do diálogo com Jesus Cristo e a escolha feita por aquele
homem, entendemos que é preciso, muitas vezes, renunciar a certos valores
perecíveis, a fim de não perder a vida verdadeira e eterna que tanto buscamos.
Na primeira
leitura (Sb 7,7-11), meditamos um hino de louvor à sabedoria,
apresentada com um dom de Deus, fruto da oração e da súplica. Como dádiva
divina, ela é superior a tudo, tornando assim o poder e as riquezas
insignificantes. Sua essência consiste em observar (obedecer) a Lei, mas
também na capacidade de discernir entre o bem e o mal e escolher sempre o bem
que conduz à verdadeira felicidade. Então o verdadeiro “sábio” é aquele que
escolheu escutar as propostas de Deus, aceitou os desafios da missão e decidiu
seguir os caminhos que Deus indica.
Na segunda
leitura (Hb 4,2-13), o autor da Carta aos Hebreus realiza um hino
de louvor a Palavra de Deus. Definida como força viva e eficaz, ela – a Palavra
– é o caminho seguro para todos aqueles que desejam alcançar a verdadeira
sabedoria e tornar-se capaz de seguir fielmente o caminho do Evangelho. Esta
Palavra Sagrada, uma vez acolhida no nosso coração, transforma-nos, renovando
nossa vocação missionária, ajudando-nos a discernir o bem e o mal e a escolher
o caminho certo para chegar à vida plena e a felicidade dos filhos de Deus. Por
isto que o caminho proposto por Jesus Cristo, no evangelho de hoje, cai como um
meteoro no coração do ouvinte. Quando o homem escuta sua proposta, ele tem
certeza de que está ouvindo o caminho pelo qual tanto almejou, no entanto, ele
não se sente livre para seguir Jesus porque a cruz não corresponde a imagem
vitoriosa de vida eterna que acalentou no coração.
No Evangelho somos
apresentados ao diálogo de Jesus com um homem obediente aos mandamentos, zeloso
e que deseja ardentemente percorrer o caminho de Deus. Ele ajoelhou-se diante
de Jesus e perguntou o que fazer para ganhar a vida eterna. Pelo ato de
ajoelhar-se percebemos que não se trata de alguém malicioso, mas alguém
realmente sincero que busca em Cristo, Palavra de Deus encarnada, a sabedoria
divina.
Este
encontro inesperado é paradigmático porque Marcos o apresenta quando Jesus está
se dirigindo a Jerusalém. Enquanto percorre o caminho físico/geográfico para
cidade Santa, ele e os discípulos percorrem também um caminho espiritual onde
Jesus apressa-se para completar a sua catequese sobre as exigências do Reino
para os discípulos o integrarem. À medida que a cruz se aproxima no horizonte
vital, os interesses ambiciosos e individualistas devem ser abandonados a fim
de que os valores do Reino cresçam e deem frutos. Deste modo, os discípulos
terão que decidir como o homem: Ir embora com suas certezas efêmeras ou seguir
com Jesus até final.
Jesus
apresenta ao homem os mandamentos como início do caminho para a vida eterna. O
homem revela que já os vive desde a mais tenra idade, todavia ainda sente
inquietação. Jesus reconhece nas suas palavras e no seu coração, sinceridade,
por isto, o convida a dar um passo decisivo no caminho que ele tanto procurou
ao longo da vida: convida-o a tornar-se parte da comunidade do Reino de Deus. O
mestre apresenta três condições essenciais para viver a sabedoria do Reino: não
centralizar o sentido da vida nos bens materiais, viver a partilha e a
solidariedade para com os mais pobres e seguir Jesus no seu caminho de amor e
de entrega que conduz a cruz e a ressurreição.
A
palavra de Jesus, manifestação encarnada da sabedoria do Pai, adentra
diretamente no coração do ouvinte e lá atua eficazmente. Conhece o seu coração,
age sobre os seus sentimentos e os pensamentos. Neste diálogo íntimo, o leva a
pesar/avaliar os seus valores, os caminhos escolhidos e as atitudes. Todavia, o
deixa livre para escolher. Diante da proposta, apesar da sua boa vontade, o
homem se afasta combalido de tristeza. Este homem nos lembra facilmente das
parábolas do Tesouro Escondido e da Pérola (cf: Mt 13,44-46).
Ele encontrou o convite para o Reino de Deus – o tesouro que tanto buscava –
todavia, foi incapaz de abandonar tudo que tinha para poder “adquiri-lo”. Ele
permanece preso às suas riquezas e não tem coragem de renunciar às seguranças
humanas que lhe escravizam o coração. Aquele homem que pensava ser dono de
muita riqueza, percebeu que na verdade, é a sua riqueza que é dona do seu
coração. Mesmo com os temores que rodam nosso coração é preciso estar disposto
a renunciar dinheiro, prestígio, sucesso, fama e status social. Pois, o Reino,
por ser partilha e solidariedade, torna-se incompatível com o egoísmo que produz
a obsessão pelos bens deste mundo. O caminho do Reino, o caminho da sabedoria
de Deus é estrado de renúncia de si, de partilha abnegada e amor.
Diante
da indagação dos discípulos que se assustam com as exigências e perguntam quem
pode ser salvo, Jesus recorda que a salvação não é algo que se compra, se
recebe em troca de algo ou se merece por ter cumprido regras. Ela é dom
gratuito, fruto da compaixão de Deus. Os discípulos devem ser conscientes de
que, apesar dos desafios e sofrimentos enfrentados na missão, a opção pelo
Reino e pelos valores do Evangelho garantirá uma vida em abundância nesta terra
e, no mundo futuro, a vida eterna e plena.
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