"A busca dessa
sabedoria
é tarefa de todos"
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte/MG
H
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á um momento oportuno para cada coisa debaixo
do céu (cf. Eclesiastes 3, 1). Nesta máxima da sabedoria em Israel, fundamento
da cultura grega presente no mundo judaico, bem localizado no horizonte
cristão, vê-se o quão oportuna é a figura de um ancião que tem o intuito de
instruir os jovens.
Há uma sabedoria que não pode ser esquecida
sob pena de perder o verdadeiro sabor das coisas e dos sentidos adequados para
a existência, provocando os desvarios absurdos que têm configurado a sociedade
contemporânea. Concretizados em violência, corrupção, imoralidade, indiferença
com a dor dos outros, perversidade; e ainda no entendimento da vida como
disputa, na surdez para o grito dos pobres. Estes desvarios acontecem pela
falta de sabedoria que pode estar ausente ou ser cultivada nas estratégias da
governança moderna, nas especializações das ciências deste tempo, ou mesmo na
aprendizagem dos processos formativos.
Essa sabedoria capacita corações e
inteligências para o discernimento adequado, de modo que as escolhas configurem
condutas à altura da dignidade humana em todos os níveis e na direção de cada
pessoa, respeitada a sua singularidade.
A busca dessa sabedoria é tarefa de todos.
Não se pode delegá-la, seja na família, nas instituições, nos variados
contextos - ou eximir-se dessa missão. Os fluxos que configuram a cultura
ocidental estão comprometidos. Impedem, lamentavelmente, por atos e escolhas, o
cultivo permanente dessa sabedoria para equilibrar a vida e vivê-la dignamente
desde a fecundação até a morte com o declínio natural. A vida de todos está o
tempo todo por um fio. É resultado da falta de sabedoria de que tudo tem seu
tempo - discernimento que modula a inteligência livrando-a dos desatinos da
irracionalidade e preservando o sentido de limite, sem comprometer a liberdade
e a autonomia.
No livro do Eclesiastes, capítulo terceiro, o
ancião se empenha na tarefa de instruir os jovens. Insiste na compreensão que
não pode ser substituída nem pela ciência e nem por estratégias.
Vale retomar sempre as indicações do sábio
ancião: "Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa
debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de
arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de destruir e
tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir; tempo de lamentar e tempo
de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar, tempo de abraçar e
tempo de afastar-se dos abraços, tempo de procurar e tempo de perder, tempo de
guardar e tempo de jogar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de
calar e tempo de falar, tempo de amor e tempo de ódio, tempo de guerra e tempo
de paz". Está indicado que a vida não pode ser vivida e conduzida sem essa
sabedoria. Trata-se de um caminho longo na vivência do amor, na prática da
justiça, na assimilação de valores, no exercitar-se no gosto de ser bom e de
encantar-se com o outro.
As instituições todas, sobretudo a família,
têm tarefas fundamentais nesse processo para tecer uma cultura ancorada na
sabedoria. Se esse caminho não for percorrido, com urgência e perseverança, os
desvarios da violência, das disputas, das agressões e da perda de sentido
continuarão desfigurando instituições, culturas, modos de viver. Assim as
vítimas, e também agentes, desse processo, serão especialmente os mais jovens.
Diante da atual realidade torna-se premente
modular os corações e as culturas no horizonte dos valores que se revelam na
pessoa de Jesus Cristo. A propósito de que tudo tem seu tempo, vivenciamos o
momento propício para refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal. É preciso
sabedoria para não se curvar diante de enfeites, de Papai Noel e de outros
símbolos comerciais que parecem ofuscar Jesus Cristo, o Dom maior de Deus Pai
para a salvação da humanidade.
É tempo de cultivar símbolos como o presépio,
antiga tradição educativa que modelou corações no bem, cuja intuição sábia de
São Francisco de Assis nos deixou como herança. É tempo de reavivar o coração
na fé e nos valores que só o encontro com Cristo pode garantir.
Resgatando a inspiração de Francisco de
Assis, a Arquidiocese de Belo Horizonte convida todos a reacenderem a chama do
amor de Deus, fonte inesgotável da sabedoria que sustenta a vida.
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