sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CASAL: EU, TU, NÓS!

Deonira L. Viganó La Rosa
MFC/RS
Deonira L. Viganó La Rosa
Terapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia
MFC/RS

E
ste é um dos maiores desafios do casamento, hoje muito mais do que em tempos passados, já que antes quem casava se dispunha a renunciar os projetos pessoais, ainda que fossem julgados essenciais, principalmente por um dos membros do casal, quase sempre a mulher.

Casais hodiernos dizem sentir-se oprimidos entre o desejo de fusão com o outro e o desejo de ser eles mesmos, de guardar um jardim secreto irredutível onde sua liberdade possa realizar-se plenamente, sem que o outro apareça como uma sombra toda vez que um dos dois deseja alçar um voo livre.

Na verdade o desejo secreto parece ser este: Quero viver as regalias de solteiro, da independência total, da liberdade, quero crescer sem amarras, mas também quero ser casado, quero as regalias do companheirismo, dos filhos.

E são especialmente atacados por este vírus os que casam com mais idade, acostumados a não depender de ninguém. “Não depender” é relativo, pois não existe quem não dependa de alguém e de alguma coisa, somos todos interdependentes, mas aqui tratamos da condição específica do casamento.

NOSSA HISTÓRIA NOS CONDICIONA

A origem destes conflitos muitas vezes se encontra em nossa história pessoal.  Cada um de nós carrega uma mala nas costas onde se aninha tudo o que já vivemos anteriormente e agora passa a influenciar nosso comportamento, sem que estejamos sempre conscientes disto. E muitos de nossos comportamentos são apenas uma projeção daquilo que está na mala. É como quando vamos ao cinema, nunca olhamos para trás onde está rodando o filme, só olhamos a projeção do filme que está na tela, na nossa frente. Mas ali não está o filme, apenas sua projeção. Frequentemente o que vemos nos outros é só uma projeção de nós mesmos.

A capacidade de encontrar a justa medida entre ser livre e independente e ao mesmo tempo ser interdependente, ser vinculado seriamente com alguém, está relacionada com a forma como estabelecemos os vínculos com nossa mãe, desde o ventre materno, até o jeito e a intensidade com a qual fomos formando, ou não, vínculos (laços), com a mãe, o pai, irmãos, e todas as pessoas com quem fomos convivendo.

HÁ PESSOAS QUE NÃO CONSEGUEM VINCULAR-SE NO CASAMENTO

São como hóspedes dentro de casa, cumprem tarefas - até responsavelmente -, mas não criam laços, não se vinculam. Toda vez que precisam apoiar, ceder, negociar, deixar de lado caprichos, fazem disto um fogaréu, pois não sabem unir-se ao outro com afeto, sem anular-se, não sabem fazer feliz a vida comum, sem prejudicar seus projetos essenciais. Claro que a renúncia necessária nunca será aquela que fere profundamente a individualidade de cada um, respeitar este princípio é fundamental. Resta identificar o que é essencial e o que é mero capricho...

Não faz tempo, o Globo Repórter mostrou um casal, já de idade, que não vivia em comum, embora na mesma casa, os dois eram apenas hóspedes, cada um vivendo sua vida, e nem sequer conversavam um com o outro. Sabe-se que a psicologia estuda a chamada síndrome da hospedagem, uma disfunção de pessoas que não conseguem criar e manter vínculos (laços afetivos profundos).

Ser casal é aceitar a interdependência, os próprios limites, as responsabilidades de cada um e viver pela felicidade de ambos.

E isto nunca acontecerá sem que cada um dos dois tenha suas fontes saudáveis de prazer, seus projetos próprios, independentes do outro cônjuge. Sem um EU e um TU fortes e saudáveis não haverá NÓS que sobreviva feliz.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.