A fé que não desiste (Força Manú)

Rainey Marinho

Rainey Marinho

MFC Maceió

A

 moça, muito gentil, olhou para mim sem fitar-me nos olhos e falou rapidamente como quem tem pressa: - O senhor pode colocar a bolsa aqui e passar pelo sensor. Tem notebook? Respondi que sim, acenando com a cabeça e segui em frente. O som do alto-falante chamava insistentemente alguém que estava atrasado ou perdido, para comparecer no portão 9. Olhei meu bilhete, conferi meu vôo e dirigi-me para meu portão, a aeronave partiria em 25 minutos, por conta disso, poderia dar uma carga no celular que já avisava sonoramente o fim da bateria.

Sentei ao lado de uma senhora, cadeirante, que tinha um pano amarrado à cabeça. Olhei para ela de forma mais obliquo-a, foi então que ela percebeu minha falta de educação e disse sorrindo: - É câncer meu filho.

Fui tomado de uma vergonha perceptível à face, mas ela não se incomodou e enlanguescendo o sorriso falou: - Não fique assim, todo mundo olha.

Começamos um bate papo amigável sobre a vida, suas expectativas e o futuro. Nossa! Como ela tinha planos, bem mais sonhos que eu. Talvez por conta do atraso da aeronave nem percebemos o tempo passar. Ao fim, nos despedimos com as palavras de praxe e seguimos nossas viagens. Aprendi mais em alguns minutos que em grande parte de minha vida.

Acordei no outro dia com o encontro ainda em minha mente. Fiquei refletindo sobre o acontecido na janela de meu quarto de hotel, afinal, que força era aquela (?). Um vento suave - daqueles que não machucam ou incomodam, mas aliviam o calor e nos faz sentir vivo - me fez acordar para a verdade clara, que pairava a minha frente e que eu insistia em não enxergar: fé.

Ela não tinha medo do desconhecido, porque sabia que estar viva é uma dádiva e que a presença de Deus ao nosso lado nos momentos mais difíceis é a mesma que nos momentos alegres. O problema é que não ofertamos a devida atenção ao altíssimo, quando estamos bem. Buscamos o acalanto do todo poderoso somente nos momentos em que as angústias batem à nossa porta.

Deus existe e está em todas as coisas, sendo perceptível e permeável, até em uma brisa leve e despretensiosa em um começo de manhã ensolarada.

Basta acreditar, lançar-se, que milagres subitamente acontecem.

Ele certamente acredita mais em você que você nele.