Dom Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
N
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os Domingos do Tempo Comum deste ano, temos a oportunidade de ler e
meditar, com a Igreja, o Evangelho segundo São Lucas. Por isso, inicia-se,
hoje, a leitura do seu primeiro capítulo e, em seguida, passa-se ao capítulo
quatro, uma vez que os anteriores são proclamados nos tempos do Advento e
Natal.
Logo no início de sua obra, S. Lucas declara que para “escrever
a história dos acontecimentos” (Lc 1,1), fez um “estudo
cuidadoso”, considerando o que foi transmitido pelas “testemunhas
oculares e ministros da palavra”. Ele mesmo não foi “testemunha
ocular”, tendo sido companheiro de S. Paulo. O destinatário possui um
nome grego muito significativo, “Teófilo”, isto é, “amigo
de Deus”, o que cada um de nós deveria ser. A finalidade declarada é de
grande atualidade: “verificar a solidez dos ensinamentos recebidos” (Lc 1,4) para permanecer na
fidelidade a Cristo, pois nas comunidades cristãs começavam a surgir ideias e
atitudes que não eram condizentes com o ensinamento dos apóstolos.
A segunda parte do texto proclamado narra o início da pregação de Jesus
Cristo, em Nazaré. Jesus é aquele que vem realizar plenamente as profecias,
retomando, na sinagoga, a célebre passagem de Isaías que descreve a missão do
Messias. Ungido pelo Espírito, ele vem para anunciar a boa nova aos pobres e
sofredores, a liberdade aos oprimidos, a vista aos cegos e o ano da graça para
todos. Ao longo do Evangelho, S. Lucas nos mostra como foi que Jesus realizou
esta missão, ressaltando o seu rosto misericordioso. Assim fazendo, ele
desperta e anima a fé em Cristo não apenas naquele tempo, mas também em nossos
dias. “Hoje se cumpriu esta passagem da
Escritura que acabastes de ouvir”, afirma Jesus (Lc 4,21). Este “hoje” é permanente, pois
a missão de Cristo continua através da Igreja.
A fé em Cristo é vivida em comunidade, que é comparada por S. Paulo ao
corpo humano, ressaltando a diversidade dos membros, o valor de cada um e a
importância da unidade. Ele chama a Igreja “corpo de Cristo” (1Cor 12,27). O livro de
Neemias nos recorda o lugar especial da Palavra de Deus na comunidade. A
Palavra, proclamada e acolhida na assembleia, torna-se motivo de grande alegria
para o povo de Deus. Hoje, nós também bendizemos a Deus, rezando, com o
salmista: “Vossas palavras, Senhor, são espírito e vida!” (Sl 19).
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