Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte
O
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diálogo, amplo e permanente, tem força para
fazer a vida resplandecer com toda a sua potencialidade. A promoção da
dignidade depende, determinantemente, da competência dialogal. Exercício que
gera lucidez, o diálogo é fundamental na construção da cidadania. Infelizmente,
na contramão de tantos avanços e conquistas da contemporaneidade, observa-se
generalizada incompetência dialogal. Situação preocupante, por comprometer as
relações que definem a sociedade, limitando a incidência dos avanços obtidos no
cotidiano das pessoas. Seja, pois, resgatada a capacidade humana de falar e
ouvir, reconhecendo o outro como semelhante, caminho rumo à autêntica força
construtiva, a partir do diálogo.
Para
dialogar, é preciso reconhecer um pressuposto básico: a igualdade entre as
pessoas, a partir do respeito às singularidades. Esse princípio permite a
difícil conjugação das diferenças e da liberdade de escolha, o que é direito de
cada um, sem comprometer a busca por entendimentos. Um caminho a ser trilhado, para que a pluralidade
de perspectivas e opiniões se tornem riquezas, com resultados benéficos para
todos.
É preciso
identificar as causas que inviabilizam o diálogo em muitos contextos. E merecem
especial atenção as redes sociais que, no ambiente digital, trouxeram muitas
possiblidades para a interação humana, mas também abrigam muitos fenômenos
ameaçadores. Nesse ambiente, verifica-se com frequência a presença de pessoas
que se apresentam como detentoras de opinião com “peso absoluto”.
Surpreendentemente, conseguem convencer um amplo público a respeito de
determinada perspectiva, não permitindo a abertura para possíveis contrapontos
ou debates.
As
pessoas, inclusive, por considerarem a própria opinião verdade incontestável,
têm dificuldade para se avaliar, pois não concedem abertura ao “outro lado”. Evitam o necessário confronto de ideias,
imprescindível para que duas ou mais pessoas, via diálogo, aproximem-se mais do
conhecimento a respeito da realidade. A ilusão de se achar “dono da verdade”, emitindo juízos, é grande risco, pois
atrofia a qualidade necessária para promover o entendimento. Cada vez mais,
neste tempo marcado pela acelerada velocidade, não se ouve o outro lado.
Consequentemente, perde-se a condição necessária para compreender o semelhante,
em suas singularidades. Apega-se ao próprio modo de pensar, um completo
enrijecimento que gera preocupante esclerose, obstáculo para avanços e conquistas.
É
terrível o estreitamento de mentalidades que ocorre neste momento, quando são
exigidos novos passos para solucionar graves problemas. Em vez de novas
propostas, tende-se a repetir, de modo estéril, velhas práticas, incapazes de
conduzir a sociedade às soluções necessárias. Sem os parâmetros humanísticos, o
diálogo é empobrecido pelas mediocridades, justificadas por perspectivas
ideológicas que se consideram absolutas. Consequentemente, não é alcançado o
desenvolvimento integral tão almejado por todos.
A vida se
constrói a partir de qualificados diálogos, estabelecidos por indivíduos que
buscam, verdadeiramente, o entendimento. Pessoas hábeis na capacidade para
escutar o outro, a partir de preciosa competência humanística. Cidadãos que
buscam defender pontos de vista não simplesmente para fazer prevalecer
interesses questionáveis, muitos relacionados simplesmente ao acúmulo do poder
e do dinheiro. É preciso investir na competência dialogal que leva ao bem e à
verdade, impulsionando os entendimentos e as intuições capazes de salvar
contextos diversos da sociedade. Assim, todos crescem e conquistam o sentido
nobre de viver em fraternidade solidária, pois se reconhece a importância
inegociável de cada pessoa.
A
capacidade para dialogar é, ao mesmo tempo, dom e tarefa, promove a formação e
a correção de perspectivas. Antídoto para ignorâncias e mediocridades, livrando
a cidadania de graves prejuízos. A nova etapa civilizatória que a humanidade
busca só pode ser alcançada quando se promove a vida no horizonte dos diálogos.
Fonte: CNBB
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