Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB)
M
|
uitas são as respostas possíveis diante desta questão: QUEM HÁ DE
MUDAR O BRASIL? Mas é preciso encontrar a indicação capaz de efetivamente
levar à superação dos descompassos que conduzem todos ao caos. Buscar a solução
assertiva é desafio exigente. Tarefa a ser assumida por todos. Se houver
resposta adequada a essa interrogação-chave, a solução pode desencadear
transformações profundas, vencer cenários que ameaçam a vida. O primeiro passo
é superar o entendimento de que apenas uma pessoa tem o poder de transformar o
Brasil. O contexto contemporâneo, tão complexo, necessita muito mais que a ação
de um indivíduo para promover a virada civilizatória almejada por todos.
Transformar o Brasil exige agregação, integração. Dos líderes, espera-se
competência para gerar harmonia, qualidade humana e espiritual que é vetor de
mudanças. Não existe lugar para pessoas com perfis que investem nas submissões
ditatoriais, lideranças fanáticas que fazem promessas impossíveis de cumprir. A
realidade é complexa e as propostas são simplórias, revelando as limitações de
seus autores, que agem como “marinheiros de primeira viagem”. Os “barcos”
são as muitas instituições nas quais exercem a liderança.
Escolhas ultrapassadas, ancoradas em um tempo que já passou, podem ser
sinal de covardia, ou falta de competência humana e espiritual. Em vez de se optar pelos caminhos ditatoriais
e absolutistas, é imprescindível investir no entendimento e na agregação, a
partir de parâmetros humanísticos límpidos. Essa é a via que leva a
transformações necessárias e a respostas novas, impossíveis de serem
encontradas por quem simplesmente ocupa uma cadeira, possui título ou é
considerado “a bola da vez”. É preciso investir em processos
educativos, para além dos parâmetros formais de ensino. Processos relacionados
a uma profunda transformação cultural, com impactos nos modos de ver e de agir
de cada cidadão.
Sem esse investimento, as instituições permanecem enjauladas na
mediocridade de indivíduos. Lamentavelmente, prevalece o personalismo que
sacrifica diferentes organizações, submetendo-as à irracionalidade,
desfigurando-as, tornando-as cenários de vaidades. Um risco que ameaça também
os poderes da República e as instituições religiosas. É preciso superar esse
quadro com inovações capazes de libertar a sociedade das amarras ideológicas
que prometem soluções fáceis para problemas complexos. No mundo do
empreendedorismo, por exemplo, prevalece a submissão à idolatria do dinheiro,
que se desdobra em uma economia da exclusão. A todo custo, busca-se a riqueza,
mesmo que isso signifique mais desigualdade social, sacrifícios à Casa Comum e
aos mais pobres. O dinheiro passa a ser o deus que tudo conduz.
E assim se perpetua a injustiça social, que gera violência, impedindo
avanços civilizatórios. No campo político, os ideais republicanos deixam de ser
parâmetros para projetos e ações. E a autoridade política ignora a sua real
missão: servir a comunidade, o povo a
quem deveria representar. Configura-se, assim, a necessidade inadiável de
uma ampla qualificação, em diferentes segmentos, para reformular os
funcionamentos institucionais e fortalecer a esperança em um tempo melhor. A
qualificação que requer investimentos urgentes deve contemplar o
desenvolvimento da capacidade de conviver civilizadamente, cultivando a fraternidade
nas relações.
Essa mudança que todos esperam é um processo que não se efetiva da “noite
para o dia”. Assim, para responder à questão “quem pode mudar o
Brasil?”, é fundamental ter a clareza de que as transformações
almejadas pedem o compromisso de todos para encontrar e trilhar novos caminhos.
Não se chega a lugares diferentes pelas mesmas estradas. Por isso, cada pessoa
deve assumir novas posturas a serem vividas e testemunhadas, na construção de
transformações sociais profundas. Definitivamente, não está, pois, nas mãos de
um indivíduo, mas nas atitudes de todos os brasileiros, a força para mudar o
Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.