“JESUS CAMINHA SOBRE AS ÁGUAS!”
Dom
Fernando Antônio Figueiredo, OFM
Bispo
Emérito de Santo Amaro – SP
A
|
pós despedir o povo e
enviar os discípulos para a outra margem do lago, “Jesus subiu ao monte, a
fim de orar”. Retira-se para a montanha, para perto de Deus. Silêncio e
solidão. Logo após, Ele vai ao encontro de seus discípulos, que, num barco, se
dirigiam a Cafarnaum. “Na quarta vigília da noite”, nos primeiros
albores do dia, Jesus se aproxima deles “caminhando vida e estilo sobre o
mar”. Soprava um vento forte e impetuoso, quando eles avistam, em meio às
águas encapeladas, um vulto que se aproxima. Vendo aquilo, sentiram medo e
chegaram a exclamar: “É um fantasma!”
Assustados, eles viam o
vulto se aproximar, andando sobre as águas. Mas exatamente naquele instante,
ouviu-se uma voz serena que os tranquilizava: “Não temais, sou eu!”
Imediatamente, eles reconhecem que é o Mestre, que faz menção de passar
adiante, como o fez com os discípulos em Emaús. Provocação para despertá-los à
responsabilidade da liberdade, pois Deus é aquele que passa. Assim se deu na
primeira Páscoa do Egito ou nas grandes visões de Moisés ou de Elias, como
também na sua vinda entre os homens. “Jesus não acorre logo para salvar os discípulos,
observa S. João Crisóstomo, mas os instrui, através do temor, a afrontar os
perigos e aflições”.
A resposta do Senhor: “não
temais”, recorda a promessa a Isaías: “Não temais, pois eu estou convosco”,
isto é, “crede unicamente”. Para os Apóstolos, suas palavras são um
apelo para que eles estejam abertos interiormente à presença divina, sempre
surpreendente. Nesse sentido, ao concluir: “Sou eu”, Jesus lembra as
manifestações inauditas de Deus, conduzindo o povo de Israel no deserto, como
agora Ele o faz, acompanhando de modo inefável o seu povo à Jerusalém celeste.
Do mesmo modo que o
Pai, Jesus exige dos discípulos confiança e entrega irrestrita, atitude fundamental,
graças à qual eles participarão do seu poder, significado no fato de Ele
permitir que Pedro, representante dos Doze, caminhe sobre as águas. Caso
afundem ou vacilem, não lhes
faltará sua mão
misericordiosa, que os conduzirá ao barco, onde estarão em companhia do seu Mestre
e alcançarão a serenidade (apátheia) e o repouso (hesychia). “Assim
que subiram ao barco, o vento amainou”.
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