Dom Paulo Cezar Costa, Arcebispo de
Brasília
“O
CORAÇÃO, FONTE DAS AÇÕES”
A |
Palavra
de Deus deste oitavo domingo, no Evangelho (Lc 6, 39-45), traz vários
ensinamentos de Jesus, que nos fazem olhar para nós mesmos, para a nossa
realidade humana e espiritual e respondermos as perguntas: que caminho
fizemos no nosso crescimento interior e que caminho deveremos ainda trilhar no
nosso crescimento? Jesus inicia com um provérbio que expressa a realidade
da cegueira espiritual: “Pode um cego guiar outro cego?” A
cegueira é a incapacidade de ver, aqui ela expressa a falta de crescimento
espiritual, humano. Alguém que não cresceu espiritualmente, humanamente, pode
formar outra pessoa? Pode ser mestre de outro? Jesus mostra que não. Jesus
continua mostrando que o caminho do discipulado é seguir o mestre. Ele é o
nosso mestre. Quem quer ser perfeito deve se espelhar em Jesus, deve buscar se
identificar com Jesus. A perfeição cristã não é um caminho de conformação ao
mundo, às últimas ideias do mundo, mas sim,
a Jesus Cristo, ao seu Evangelho: esse é o caminho do discípulo.
Em
seguida, Jesus usa a imagem do cisco no olho. Para tirar o cisco do olho do
irmão, do outro, é preciso estar com o olho limpo, sem uma trave. Quem tem uma
trave no olho, não consegue ver para tirar o cisco do olho do irmão. É a
realidade de cada um de nós que deve analisar-se, conhecer seus pontos fortes e
suas debilidades, seus defeitos e virtudes. Quem se conhece, é capaz de,
verdadeiramente, ajudar os irmãos. Pouco tempo faz se tinha o hábito, nos
seminários e casas religiosas, de antes da oração da noite, se fazer o exame de
consciência. Infelizmente é um hábito que parece que foi perdido. O exame de
consciência nos ajuda a nos encontrarmos, todos os dias, com as nossas virtudes
e com os nossos defeitos. Conhecer- se a si mesmo é um princípio de sabedoria e
a condição para ajudarmos os outros a crescer. Por isso, Sócrates já dizia: “Conhece-te
a ti mesmo”.
Por
fim, Jesus usa a imagem da árvore boa que dá bons frutos e a árvore má, que dá
frutos ruins. Essa imagem da natureza nos ajuda a olharmos para a nossa
interioridade, para o nosso coração. É da nossa forma de pensar, de conceber,
da nossa interioridade, que provem as nossas ações. A nossa exterioridade
revela a nossa interioridade, o nosso coração. Por isso, Jesus conclui: “O
homem bom, do bom tesouro do seu coração tira coisas boas, mas o mau, de seu
mal tira o que é mau: por que a boca fala daquilo que o coração está cheio” (Lc
6, 45). O Evangelho remete para a interioridade, para o coração. É dali que
sai o bem e o mal. Se o coração é bom, sairá coisas boas, se o coração é mal,
sairá coisas ruins. Este Evangelho deve nos conduzir à reflexão sobre a
educação na nossa sociedade hoje. Vive-se num mundo da exterioridade, da
cultura da aparência, e a formação da interioridade, da consciência, onde fica?
Se quisermos uma cultura de valores, pautada pela ética, pelo bem, é preciso
formar o coração e a consciência das pessoas. Nossas ações externas revelam
aquilo que vai dentro de nós. Que o grande educador, Jesus de Nazaré, nos ajude
a uma educação integral, a uma educação que forme o coração, a consciência para
o bem, para os valores.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Informe sempre no final do seu comentário o seu nome e a sua Cidade.