Pe. Cesar Augusto, SJ - Vatican News
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vida, muitas vezes, nos
prega peças! Esperamos coisas espetaculares para a solução de questões difíceis
para os mortais, só que quando entra Deus no meio do processo, as soluções são
simples e altamente discretas. Deus não precisa agir de modo fantástico e na
maioria das vezes só percebemos sua ação divina, tempos depois, quando o mal ou
a perturbação já não existe.
Essa é a história
contada no Segundo Livro dos Reis, cuja perícope 5, 9 -14, é nossa primeira
leitura. Naamã, homem importante de outro reino, com outra religião e adorando
deuses criados pelos homens, foi acometido por uma doença praticamente
incurável naquela época, a lepra. Uma de suas servas, capturada em Israel,
vendo a situação dele, disse à sua patroa que existia um grande profeta na
Samaria e que bastaria seu senhor se apresentar ao homem de Deus para que
ficasse curado. Informado desse diálogo, o rei de Naamã o enviou ao rei de
Israel, com uma carta onde pedia a cura do chefe de seu exército, além de
inúmeros presentes. O rei israelita reenvia seu hóspede ao profeta Eliseu, que
dispensando os protocolos e uma cena grandiosa de cura, mas agindo apenas como
homem de Deus, manda a Naamã o recado para se banhar sete vezes no rio Jordão.
O prócer, indignado com
a atitude do profeta, decidiu dar meia volta e retornar para sua terra, dizendo
que lá havia rios melhores que todas as águas de Israel. Mais uma vez, a
piedade e comiseração dos servos em relação ao seu senhor se faz presente e
eles pedem que Naamã reconsidere sua decisão de retornar e mostram a facilidade
em cumprir o que o profeta Eliseu havia recomendado. Do mesmo modo que a estima
dos servos pelo seu senhor não permitiu a omissão da intervenção, a altivez de
Naamã não foi tamanha a permitir uma arrogância e ele escuta os servos. Vai até
ao Jordão e se banha sete vezes. Aí, de modo bastante discreto, surge a
grandiosidade e onipotência de Javé, o Deus de Israel.
Naamã vai até Eliseu,
faz sua profissão de fé em Javé, como Deus único e verdadeiro e pede que o
Profeta aceite seus presentes, fruto da alegria e da gratidão pela cura; mas o
homem de Deus os recusa, por várias vezes. Vencido, o homem importante, pede
então levar um pouco da terra de Israel, para que, em seu país, sobre a terra
de Israel possa louvar e oferecer sacrifícios a Javé, o que o Profeta consente
e o despede em paz.
Esse trecho nos mostra
como o Deus onipotente, onisciente e onipresente dispensa o espetacular, o
fantástico e age de modo muito discreto, mas age e melhor do que pedimos ou
podemos imaginar.
No Evangelho, Marcos 1,
40 – 45 vemos Jesus curando um leproso e pedindo a ele que não falasse da cura
para ninguém, o que evidentemente não é feito e a fama de Jesus se propaga de
tal modo que passa a ter dificuldades para entrar em uma cidade. Essa
dificuldade é gerada, não tanto pela multidão que “entope” os acessos, mas
porque Jesus ao tocar no leproso se torna impuro, segundo a Lei, e, com isso,
sua entrada na cidade fica vedada. Por outro lado, pela própria Lei, o judeu
sabe que um dos sinais da presença do Messias é a cura dos leprosos; ora, ao
mesmo tempo que o povo o reconheceria como Messias, o reconheceria como o
Messias poderoso e libertador, “prometido pela tradição”, mas Jesus quer
mostrar um Messias servo, que liberta e salva doando a própria vida. Nos planos
de Jesus, sua identidade só deverá ser revelada após sua paixão, morte e
ressurreição.
Concluindo, se na
primeira leitura, Eliseu dispensa protocolos e age na simplicidade, em nome do
Senhor, no Evangelho, Jesus age também discretamente porque deseja mostrar um
libertador que apenas pensa em servir e, e se for o caso, entregando sua
própria vida.
Como Naamã, o grande general estrangeiro e como o leproso curado por Jesus, aceitamos uma ação discreta de Deus e, testemunhamos que o Senhor é Grande e Poderoso e nos tornamos pessoas humildes?
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