Dom Paulo Cezar
Costa, Arcebispo de Brasília
SOMOS MORADA DE DEUS
O |
Evangelho deste VI DOMINGO DA PÁSCOA (Jo
14, 23-29) expressa bem a realidade que acontece na vida de cada cristão,
de cada pessoa que ama e segue Jesus Cristo: SER MORADA DA TRINDADE E SER
ENSINADO PELO ESPÍRITO SANTO.
Está
próxima a partida de Jesus e Ele percebe a angústia dos discípulos: “não se
perturbe o vosso coração” (Jo 14, 27). Jesus mostra que não os
deixará órfãos, desamparados, mas estará com os Seus discípulos de uma forma
nova. O discípulo é a pessoa que ama Jesus, mas não com um amor qualquer, é
aquele que tem um amor gratuito por Jesus. O verbo usado para expressar este
amor é ágape, que expressa o amor na sua gratuidade, o amor de Deus. O caminho
do discipulado de Jesus é aquele de ter por Ele um amor gratuito, ou seja, não
O amamos por interesse, por troca, mas O amamos porque Ele é o nosso Salvador,
o nosso Senhor.
E
quem ama Jesus, demonstra esse amor para com Ele guardando a Sua Palavra,
colocando em prática a Sua Palavra. Mas Jesus é a Palavra, o Logos. O discípulo
é aquele que vive de Jesus e, vivendo de Jesus, coloca em prática as palavras
da Palavra, que é o Logos. E então será amado pelo Pai e a Trindade fará morada
na vida desta pessoa: “meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa
morada” (Jo 14, 23). Com Jesus, que se abre intimamente aos
discípulos, também o Pai vem a eles; eles serão inseridos na comunhão de vida e
de amor com Deus. Aquela morada, que é esperada para o fim dos tempos de Deus
com o seu povo, expressa pela imagem da Jerusalém celeste (Ap 21, 10-14.
22-23), da segunda leitura, é inserida de modo espiritualizado no presente
da vida do discípulo e da comunidade. Claro que esta comunhão não é ainda a
realização última da promessa, pois haverá ainda uma comunhão eterna com a
Trindade Santa na eternidade. Mas, no hoje da história, o discípulo já vive, já
experimenta essa comunhão com o mistério Santo de Deus.
Jesus
promete aos discípulos o Espírito da verdade, o Espírito Santo (Jo 14, 26).
O Espírito ensinará tudo e recordará tudo o que Jesus ensinou para os
discípulos. O verbo recordar é clássico na teologia de são João. O Espírito
exercerá na Igreja este duplo papel: ensinar e recordar. O Espírito ensina, que
dizer, vai nos fazendo sair da nossa visão meramente humana das coisas e vai
nos mostrando, inserindo-nos na visão que Deus tem do mundo, das coisas, da
realidade. O Espírito é aquele que faz memória de Jesus Cristo, que fará com
que os discípulos entrem no mistério mais profundo das palavras de Jesus
Cristo, no sentido mais profundo dos seus ensinamentos. É o Espírito que abre
para a Igreja e para cada seguidor de Jesus Cristo o sentido mais profundo das
Palavras, dos ensinamentos de Jesus.
Que
o encontro com esta Palavra de Deus nos conscientize de que Deus habita em nós
e que nos ajude a tomarmos consciência desta realidade, conduzindo-nos a uma
abertura maior ao Espírito, permitindo que Ele nos ensine e rememore Jesus
Cristo.
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