EXIGÊNCIAS PARA SEGUIR JESUS COMO DISCÍPULO
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Evangelho deste domingo retrata a retomada do
caminho de Jesus para Jerusalém. Domingo passado Jesus estava na casa de um
fariseu ilustre e lá procurou ensinar a todos convidados como se comportar em
relação aos primeiros lugares. Prosseguindo sua estrada, Ele procura ensinar
agora a multidão.
Lucas nos informa que
junto com o pequeno grupo de discípulos, uma multidão tinha se formado. Estavam
próximos, mas para Jesus ainda não eram discípulos; buscavam algo junto a Ele (curas
e milagres), mas não estavam interessados em fazer parte do mesmo grupo de
discípulos. Jesus conhecia aquelas pessoas que O seguiam, por isto, lhes
apresenta a condição para deixarem de “ser povo” e de se tornarem “discípulos”;
deixarem se serem espectadores e passarem a compor o mesmo grupo de escolhidos
de Jesus; deveriam abandonar a mentalidade de “receber algo” de Jesus
(prodígios e milagres) para aprender a doar-se completamente. As palavras
de Cristo são profundas e exigentes.
A primeira exigência
de Jesus é chocante. Usando um recurso dos grandes mestre, Jesus propõe uma
ideia que chama atenção de todos para em seguida explicar seu significado. A
frase começa com uma proposta e não uma imposição: “Se alguém vier…” Não há
obrigação, mas se alguém decide ir até Jesus, é chamado a fazer uma escolha
radical, mas por outro lado, profundamente benéfica. A multidão seguia Jesus,
mas cada um com suas necessidades e exigências pessoais; Cristo apresenta suas
condições para que todos possam realmente receber muito mais que um benefício
físico (cura) ou uma diversão (ver um milagre). Prossegue Jesus
dizendo “Se alguém vier a mim e não odiar seu pai… sua própria vida, não pode
ser meu discípulo”. Não tem como não se surpreender com a condição fundamental
“odiar”, colocada por Jesus.
Lucas procura
preservar a força da “expressão semita” (jeito do povo da Bíblia pensar:
radical e sem meio termo). Este modo de pensar e de afirmar encontramos nos
profetas e nos textos da Lei que proclamam que Deus deve receber todo o amor e
não parte dele. Em outro trecho de Lucas, Jesus mesmo diz que não se pode
servir a dois senhores: ou odiará um e amará outro, ou há de aderir a um e
desprezará outro (cf. Lc 16,13). Mateus, ao retratar a mesma citação,
faz uma adaptação que nos ajuda a entender melhor a expressão em Lucas. Diz o
primeiro evangelista: “Quem ama seu pai e mãe, mais do que a mim, não é digno
de mim…” (Mt 10,37). Na lista de Lucas são seis tipos de pessoas (pai,
mãe, filhos…) mais a vida: sete é o número. Para ser discípulo de Jesus é
precisa abandonar de forma radical todos e a própria vida para segui-Lo.
Este termo é
comumente traduzido no Evangelho de Lucas por “amar menos” (ou ser capaz de
rejeitar), seguindo a forma do Evangelho de Mateus: “Se alguém vier a mim e
não ama menos seu pai…”. Parece traduzir melhor o que Jesus pretendia dizer,
pois sabemos que Nosso Senhor não era contra a família. Ele viveu com os seus
até iniciar sua vida pública; Maria, sua mãe, conviveu com Jesus e até o
acompanhou como discípula. Quando perguntado sobre os Mandamentos, lembrou o
quarto Mandamento (honrar os pais) como condição básica para a se
salvar.
Em seguida, Jesus
propõe a segunda condição, desta vez, para todos que aceitarem a primeira
condição. Jesus afirma que é preciso: “Tomar a cruz e segui-Lo”. Cruz do
compromisso vivido ao extremo até ao ponto de “desprezar a própria vida” para
que todos tenham vida. A cruz nas palavras do Jesus é aquela que Ele abraçou e
conduziu até o final de sua caminhada neste mundo. Sinal do amor extremo e
total para salvação do mundo. Neste sentido, a cruz não tem nada a ver com
sofrimento e dores (isto a vida se encarrega de nos dar). Não foram o
sofrimento e a dor que salvaram o mundo, mas o amor vivido em sua máxima
expressão.
Duas condições
fundamentais para seguir Jesus: amor maior e total a Cristo ao ponto de doar
sua vida! Mas, para isto Jesus alerta que nada deve ser feito como algo somente
para um momento da vida e sem convicção. É preciso medir suas consequências e
meditar suas exigências. Por isto, Jesus conta duas parábolas que retratam a
prudência e a seriedade para com as coisas da vida (construir uma torre e
partir para uma guerra). Seguir Jesus vivendo as condições que Ele mesmo
vivia, requer a mesma consciência e seriedade, mas de modo radical e total.
Jesus acrescenta a
terceira exigência para “ser seu discípulo” (frase que repete três vezes ao
final de cada condição): “Renunciar a tudo que lhe pertence”. O discípulo que
Jesus deseja “atrás de si” (isto é, seguindo seus passos) é aquele que
ama com toda intensidade o seu Mestre ao ponto de deixar todos e tudo em
segundo plano; ser discípulo de Cristo é assumir seus passos e fazer a mesma
caminhada vivendo o amor para com todos (e não somente para os familiares
mais próximos), uma existência plenamente aberta para a promoção da vida de
todos e não somente seus anseios pessoas; Uma vida de total doação e serviço
que tem como sinal maior a própria cruz deixada por Cristo.
As exigências são
duras e profundas, mas para amar o próximo
precisamos primeiro fazer a experiência do verdadeiro amor que é Jesus.
Para receber o melhor, precisamos ser capazes que doar tudo primeiro. Para
viver intensamente nossa vida, precisamos ser capazes que doá-la ao serviço do
bem e da vida de todos. As exigências de Jesus nada mais são que o próprio
estilo de vida que Ele mesmo viveu.
São grandes mistérios
que somente quem consegue fazer a experiência do amor de Deus consegue
entender. O amor de Deus não é egoísta e discriminatório. Jesus é a fonte do
amor e quem descobre esta água vida não se fecha em si ou somente com algumas
pessoas, mas semeia amor na vida de todos com quem convive. Fazer a experiência
de abraçar Jesus com todo seu amor, ao final, torna-se também fonte de amor
para as outras pessoas. A pessoa que faz a experiência de amar Jesus em
primeiro lugar e com toda sua vida, passa necessariamente para todos os outros
o mesmo amor: familiares, amigos e todas as pessoas com quem tiver contato.
A lógica de Deus e do
seu amor não segue os mesmos passos e caminhos que conhecemos (primeira
leitura). Somos capazes que medir e afirmar sobre muitas coisas até mesmo
muito distante de nós (universo), mas a experiência do amor conforme
Jesus viveu e nos ensinou, somente ela completa nossa existência, pois mais do
que satisfazer o nosso conhecimento, dá sentido à nossa vida. É preciso romper
com a lógica do mundo como Paulo na segunda leitura convida seu amigo Filêmon a
fazer com o seu “filho na fé” (Onésimo). Não o tratar com um escravo
fugitivo, mas como um irmão na fé. Se o universo pode ser desbravado com o
nosso conhecimento, somente o verdadeiro amor que tem sua origem em Deus pode
dar sentido a tudo e a todas as coisas. Vivemos para amar intensamente Deus e
nossos irmãos!
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